Desejo e Reparação escrita por natkimberly


Capítulo 6
Chess




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Caminhando para o outro lado do grande salão, Emma Dashwood avistou Gerald Knightley sentado em uma pequena mesa jogando xadrez contra si mesmo, a garota se sentou na sua frente e deu um longo suspiro de cansaço.

— Parece que alguém estava se divertindo muito - ele disse, sem tirar os olhos azuis da peça do bispo preto.

— Está enganado - a morena respondeu tomando posse da partida e jogando pelas peças brancas. Pegou a torre e a fez comer o cavalo negro dele: - Era óbvio que, com esse espaço que você deixou, o seu cavalo iria morrer - ele não a respondeu e continuou a fitar o jogo pensativo, Emma continuou: - Essa noite começou bem, mas agora parece que toda minha empolgação foi embora. Será que estou ficando velha e não aguento mais as festas como antes?

— Olhando para você, sugiro que não tem mais de vinte anos - ele matou a torre dela com seu outro bispo. - Então, não, você não está velha, apenas está socializando com más companhias.

— Talvez esteja certo, mas lembre-se que a última pessoa que tive a chance de trocar palavras foi seu irmão mais velho, então - ela olhou para o tabuleiro, mas não estava concentrada o suficiente para raciocinar, logo, matou o seu bispo branco com sua rainha -, como dizia, essa deve ser a razão para o meu mau humor inesperado. Mas, pode ter certeza que eu estaria me sentindo pior se não o tivesse recusado a dança.

— Como disse? - Pela primeira vez, Gerald tirou os olhos do jogo e a olhou nos olhos com expressão de surpresa e um sorriso de canto, Emma, sem saber o porquê, sentiu seu coração dar um salto. Agora, que tinha sua atenção, ela prosseguiu:

— Isso mesmo que você ouviu, não sou obrigada a aguentar aquele homem intragável. Sem ofensa, Sr. Knightley.

— Não me ofender em momento algum - ele disse, parecia que tinha se desvirtuado da partida -, muito pelo contrário, não sei como lhe agradecer por agora ter um motivo para zombar da cara dele toda vez que o vir, vai ver assim ele se torna mais amigável à meu favor. Meu Deus, o temido Fitzwilliam foi rejeitado, eu nasci para ver isso.

Emma ficou feliz em ver que ele não era tão desumilde como o outro, seguiram a conversar pelos próximos quinze minutos. A srta. Dashwood descobriu que o grupo não tinha interesse em continuar em Meryton, seu objetivo principal era partir para Rosings o mais rápido possível, também soube que o Sir Collins estava a desesperadamente tentar encontrar uma futura Lady Collins. Estavam a discutir sobre qual eram os cavalheiros e damas mais bonitos da festa quando, de repente, Emma foi pega de surpresa pela figura loira e alta que apareceu do seu lado, Jane estava com o rosto mais rosado do que o normal, dava para ver que tinha andado muito. 

— Emma, eu preciso de você - ela dizia, ofegante.

— O que aconteceu? 

— É o papai, ele está desesperadamente tentando me fazer conversar com o Sir Collins, eu não aguento. 

— Jane, você deve estar exagerando, é só você o dizer que não quer ou inventar que tem que tomar conta da Anne.

— Emma, por favor, você sabe que não estou.

Emma não sabia o que fazer, por um lado, queria ficar com o Sr. Knightley, pois aquela seria sua última vez com ele, já que iria abandonar Meryton, mas por outro, sua irmã estava em apuros e o único jeito de se livrar da insistência do pai, era inventando alguma mentira.

— Jane, sente junto da Anne, eu e o Mr. Knightley estamos no meio de uma partida de xadrez. Quando terminar, prometo que vou correndo lhe socorrer.

Jane a encarou com seu olhos verdes quase saltando de raiva, ou seria desespero? Quando tudo parecia perdido para a irmã mais velha, Mr. Knightley se solidariza e diz:

— Na verdade, não estamos numa partida - o loiro segura a sua rainha e desliza na direção do rei que Emma havia deixado completamente desamparado sem perceber - Xeque-mate. - Ele dá um sorriso cínico para a Emma, que estava chocada com sua própria incompetência. - Bom, já que não estamos mais jogando, acho que posso fazer um favor para vocês.

As irmãs ficaram estupefatas. Mr. Knightley ofereceu sua carruagem para as duas irem para casa em segurança, pois, apesar delas serem vizinhas do Mr. Preston em algumas milhas, não seria seguro para as moças irem andando à noite, e ainda por cima chovendo. Elas não souberam como agradecer, a felicidade de Jane de ir embora era absurda. Os três caminharam até o chanceleiro do grupo de Gerald e ele o deu todas as informações do simples caminho. 

Emma subiu na, então, carruagem que Sir. Collins havia usado para chegar em Meryton. Estava na carruagem de um Duque! Gerald Knightley assegurou que iria contar para o pai das meninas, Sir Dashwood, de que Emma havia passado mal e estava se sentindo indisposta de continuar em um evento com tantas pessoas, por isso, ele ofereceu sua carruagem para as levarem em segurança para casa.

Emma se despediu de Gerald com formalidade, ele beijou sua mão e ela o desejou uma boa viagem até Rosings.

— É uma pena não encontrar pessoas como você em Rosings.

— Bonitas, educadas e com classe, você que dizer? 

— Não, pessoas que percam pra mim no xadrez. Precisa ser muito ruim para conseguir perder de mim. 

Emma ficou de boca aberta, mas soltou uma risada. Quando a carruagem começou a andar ela disse ao amigo:

— Garanto que quando tivermos outra oportunidade de duelar e eu não estiver cansada, ganharei de você facilmente. 

Ela acenou se despedindo até que começou a ver o rapaz cada vez mais pequeno, até o perder de vista. Não havia sido uma noite tão ruim, afinal.



 

Ao sentir os raios do sol encontrarem seu rosto adormecido, Jane se ergueu e levantou da cama. Teria dormido três, seis ou oito horas? Não tinha como saber, pois o cansaço era o mesmo da noite passada. Colocou seu roupão e desceu as escadas para tomar seu café, encontrou na mesa seu pai, Anne, Charles e Noah Russell. Jane se sentiu constrangida, pois esquecerá que o último estava dormindo na sua casa e não tinha penteado o cabelo. Sentou-se do lado de seu irmão.

“Será que Mr. Russell ainda está bravo comigo?”, pensou. Olhou para os lados e começou a sentir falta da presença de alguém, perguntou:

— Onde está Emma? 

— Mr. Gerald Knightley me avisou o que se passou ontem - disse seu pai, lendo o jornal enquanto esperava seu chá esfriar. - Resolvi deixar ela dormir a manhã toda para se recuperar.

“Ah, que sortuda!”, pensou Jane, tudo que queria era poder ficar na cama o dia inteiro também. A mesa estava em um silêncio agonizante, todos pareciam ainda estar processando o baile. Jane tomou coragem e falou:

— Charles, eu mal te vi ontem, onde esteve?

— Eu? - Ele parecia surpreso com o questionamento, e pensou antes de responder. - Estive junto com os oficiais que preferiam não dançar, um pequeno grupo, mas tivemos muito o que conversar.

 Jane não engoliu sua resposta, mas estava sem paciência para lidar com isso. Estava esperando Emma dar as caras para poder perguntar o que era o segredo que Mr. Russell havia lhe contado, mas pelo visto a irmã só acordaria às duas horas da tarde. Para não deixar morrer o assunto, Jane se virou para Mr. Russell e perguntou:

— E você, Mr. Russell? Se divertiu muito? Os bailes de Meryton são do jeito que você gosta? - O garoto pareceu surpreso, comeu uma mordida de sua maçã e a respondeu:

— Foi uma noite interessante. - Jane ficou tão impressionada com seu desinteresse, que se reprimiu em seu canto. Com certeza,  havia o magoado.

Ao ver um vulto se passando pelo lado da mesa, achava que sua irmã tinha acordado, mas estava enganada. Era o criado indo na direção do seu pai, segurando uma carta:

— De Mansfield Park, Sir Dashwood.

Todos da mesa, com exceção de Noah, levantaram a cabeça e encararam uns aos outros. 

— Mansfield Park foi alugada? - Anne indagou. - Achava que aquela mansão nunca mais viria novos donos.

Mansfield Park era uma enorme residência, com campos imensos, jardim luxuoso e altas mobílias. Um dos lugares mais caros de se alugar na Inglaterra e que ficava há uma distância não tão absurda de Meryton. Como assim havia sido alugada sem ninguèm saber? E, porque os novos donos escolheram os Dashwood para contar a notícia de primeira mão?

Todos fitavam o Sir Dashwood com curiosidade. O pai após ler a carta inúmeras vezes para ver se o que estava lendo era verídico, se levantou da mesa e esboçou um sorriso de orelha à orelha:

— O que aconteceu? - Jane era a mais curiosa da casa, estava querendo roubar a carta e ler ela mesma.

— Mansfield Park foi alugada! Aí meu Deus.

— Tá, pai, essa parte já entendemos, mas por quem? 

— Pelo Sir Collins, óbvio! Ele e seus amigos vão ficar lá por muito tempo, e está nos convidando para almoçar lá amanhã. Eu... Pisando em Mansfield Park? Não consigo nem imaginar isso nos meus melhores sonhos!

Toda o emoção de Jane pareceu murchar como folhas no Outono. Ela se voltou para sua sopa e preferiu se calar.

— Ah, e minha querida Jane, olhe aqui! - Sir Dashwood caminhou para o seu lado e mostrou-lhe o pedaço de papel. - O Sir Collins mandou te dizer que adorou sua companhia ontem à noite e que espera que possam se relacionar mais enquanto estiver em Mansfield. Eu sou o homem mais feliz do mundo! O Duque da Inglaterra com interesse na minha amada Jane. Ah, se sua mãe estivesse viva para ver isso!

Ele disse se retirando da sala de refeições e indo para o seu escritório. Jane se perguntou o que tinha feito em vidas passadas para merecer uma semana tão odiosa como essa que estava por vir, olhou para Mr. Russell e parecia sentir que ele não estava animado com a novidade, na verdade, ninguém na mesa demonstrava felicidade. A única pessoa que sentiria agrado com a notícia estava deitada na cama no seu sono pesado.


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