Forget me not escrita por Lua Chan


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desculpem a demora a postar. Passei as últimas semanas fazendo provas e seminários, mas finalmente esyou de férias :)

Sem mais delongas, temham uma boa leitura e até o próximo capítulo!



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"UMA ALMA EM TROCA de outra"

Era a promessa que Luke mantinha consolidada no fundo de sua mente, assim como o acordo que conferiria sua tão almejada liberdade. "Uma resolução pragmática", dissera Ossário com todas as letras e uma coleção de dentes perfeitamente brancos escancarados num sorriso malicioso bastante recorrente. O garoto odiava aquilo com todas suas moléculas fantasmas, mas até conseguir sua liberdade ele sabia que estaria preso àquela visão perturbadora "Pegue o que eu preciso, meu garoto, e sua dívida comigo estará paga pela eternidade".

Seria uma oferta irrecusável se o Mestre Fantasma não estivesse inserindo mais almas em seu jogo. Afinal, Luke não poderia esquecer que agora havia Julie e até mesmo seus melhores amigos que, assim como ele, já foram obrigados a conviver sob as ordens dolorosas do dono do infame Hollywood Ghost Club. Ele sequer conseguia imaginar como a corpórea teria sido capaz de convencê-los a participar de um impasse tão ardiloso como aquele, muito menos como a própria Molina teria aceitado sem hesitações a participar do plano.

Que grande idiota.

Foi o que restou em sua mente para praguejar – ele dizia aquilo tanto para si mesmo quanto para Ossário. Agora não havia retorno e Julie estaria definitivamente certa do que queria fazer. Uma alma pelo sacrifício de outra.

— Foi uma ideia estúpida, sabia? — Luke ouve o som inigualável das baquetas de Alex chocando-se uma contra a outra enquanto o baterista murmurava coisas inaudíveis sentado no chão — Quer dizer, foi até bem poética essa coisa da gente se sacrificar pra salvar um amigo... mas ainda é bem estúpido.

Sob ralos flagelos de uma lua escondida por nuvens espessas, o mar loiro no cume de sua cabeça brilhava em tons prateados sublimes, perdendo apenas para a luminosidade que tingia as ruas eletrizantes e movimentadas da Sunset Boulevard. Naquele momento, um grupo de turistas corpóreos com pescoços torneados por crachás de várias agências de viagens aéreas aproveitava para registrar suas férias em frente a infame Calçada da Fama, ostentando sorrisos e gargalhadas genuínas ao saltitarem sobre as estrelas de Christina Aguilera e Louis Armstrong. Alex os invejava, tinha que admitir. Ao menos eles não precisariam surtar por estarem prestes a entrar num clube repleto de fantasmas famintos por almas inocentes. 

O próprio garoto não conseguiu evitar de surtar quando Julie havia anunciado a ele e Reggie sobre a ótima terrível ideia de se unirem ao clube de Caleb pela segunda vez. Mesmo sendo para salvar Luke – fosse lá de que forma possível –, Alex continuou em colapso, tendo fim apenas quando decidiu que o motivo não poderia ser mais digno. Luke era seu irmão e ele não poderia simplesmente abandoná-lo.

Luke solta um suspiro desdenhoso para o ar, quase como se pudesse atirar todo seu descontentamento daquela forma. Mas seria necessário muito fôlego para tal feito.

— Eu falei isso pra Julie. — diz ele, lembrando da conversa no ginásio, quando uma sensação de paz anestesiou seus membros assim que a Molina tocara suas mãos frias. Pensando bem, até que ele não forçou tanto para convencê-la do contrário — Mas ela parece ser muito teimosa com as ideias dela. Sempre foi assim, maluca demais?

— Ela topou fazer parte de uma banda de fantasmas sem nem hesitar, cara. Acho que é o suficiente.

— Acho que é.

Ambos compartilharam uma breve risada, agora observando um garotinho chorar aos prantos ao lado dos pais, que apenas se importavam em tirar fotos sobre a estrela dos Backstreet Boys. Era até engraçado pensar em como nem mesmo aqueles pequenos empecilhos irritantes conseguiam estragar a beleza exótica de Hollywood, com mistos de sons de jazz de um lado e do outro uma música eletrônica contagiante. 

Luke odiava aquilo.

Talvez apenas porque trazia à tona as memórias amargas de sua morte, que ocorrera há 25 anos e alguns quarteirões de distância dali. Talvez porque os anúncios explosivos em cores vibrantes de neon o faziam recordar as extravagâncias do clube de Caleb Covington, assim como os carimbos de choque anexados nos pulsos de seus subordinados. Ou talvez fosse porque, a cada minuto que se passava, o guitarrista sentia os pelos do antebraço eriçarem com uma sensação nauseante de culpa e medo – afinal, agora Julie e os garotos não estavam tão longe de se encontrarem naquele mesmo estado de latência.

O arrepio se dissipa para longe de seus braços quando sente a mão nervosa de Alex apertando-lhe no ombro. Embora a situação não fosse boa para nenhum deles, Luke sentiu-se satisfeito pelo sorriso no canto da boca oferecido pelo amigo. De repente nem tudo parecia tão terrível.

— Você é um doido, Luke Patterson, — afirma, ainda ostentando o sorriso apertado — mas que bom que sua insanidade nunca foi motivo da gente não acreditar em você. Quando isso tudo acabar e aquele cretino do seu chefe te libertar, é bom que me pague uma pizza.

— Só se ela não estiver estragada.

— Hmmm... fechado. 

O loiro recebe um soco de leve, ficando um pouco surpreso com o gesto. Luke sentia falta da cumplicidade de Alex e Reggie, embora suas lembranças ainda estivessem misturadas como uma sopa reforçada. Eram eles quem o faziam se manter convicto de suas escolhas, assim como eram os mesmos que estapeavam sua nuca quando tinha uma ideia idiota demais para ser executada. Eram seu porto seguro e agora, possivelmente mais do que nunca, Luke precisava estar ali por eles.

— Vou dar o meu melhor por todos vocês, Alex. — ele sussurra um pouco para si mesmo, um pouco para o baterista assustado — Já que estamos juntos nessa, prometo não abandoná-los. Nem mesmo Julie.

Alex sorri. Com vontade, pela primeira vez daquela noite conturbada.

— Acho bom. — diz ele, espremendo os olhos para admirar alguma coisa por trás do ombro de Luke, que sequer conseguiu identificar — Porque vamos precisar de toda a sorte do mundo agora.

Só então, quando Alex continuou a encarar o ponto específico na esquina da calçada onde estavam, Luke se obstinou a procurar a origem de tamanha curiosidade. Em meio a névoa espessa que se formava com a umidade da noite, o garoto também sentiu a necessidade de apertar os olhos para conseguir distinguir um grupo de pelo menos 4 silhuetas sombrias, pairando distante de sua visão. Não tarda muito até concluir que se tratava de Reggie, Ophelia, Julie e Flynn, a "amiga-boxeadora". O garoto sente o estômago despencar quando observa em poucos segundos as figuras espectrais e as duas corpóreas sumirem.

Estava na hora, ele adiciona mentalmente, fazendo um breve sinal para Alex, que no mesmo instante compreendeu o que aquilo significava: agora não tinha mais volta.

— É isso, não é? — o loiro ainda questiona, recebendo mais um olhar de concordância do guitarrista. Seus ossos pareciam ter virado pasta, de repente — Próxima parada: o clube da serpente.

Com a pouca coragem que os dois precisaram adquirir naquele pequeno espaço de tempo, Alex e Luke se teletransportam juntos na direção que os 4 amigos apareceram, seus corpos imediatamente se fundindo à neblina noturna. A partir de agora, um mar de incertezas e solavancos no estômago embargavam seus sentidos. 

 

 

. . .

 

As luzes em neon do enorme letreiro do Hollywood Ghost Club eram tão nocivas que chegavam a cegar, provavelmente possíveis de serem vistas a vários metros de distância do estabelecimento. Luke quase teria esquecido do estilo e luxo bastante questionáveis de Caleb Covington, mas logo lembrou-se que, quando ainda conseguia respirar, o homem teria sido um mágico renomado repleto de regalias conquistadas com anos de shows bem sucedidos. Até os mínimos detalhes da fachada do prédio combinavam com a estética do dono do clube, com tons vivos de roxo casando grandiosamente com tons gritantes de rosa, vermelho e verde. Era, com certeza, um caos policrômico tão chamativo quanto o próprio fantasma.

Julie e Flynn pareciam mais intrigadas, pelo que Luke observou. Enquanto ele e Alex repetiam as ordens do plano com os mínimos detalhes possíveis, as duas corpóreas não conseguiam tirar os olhos dos largos cartazes estampados na frente do clube, fazendo o nariz de Caleb parecer bem maior do que o normal. Era como se, a cada segundo que se sucedia, aquela noite se tornasse mais real e prestes a consumir todas as esperanças da garota. A Molina já estava nervosa demais só pelo fato de Reggie e Ophelia terem se oferecido a entrarem no clube para analisarem como tudo estava lá por dentro. 15 minutos teriam se passado e nenhuma notícia dos dois.

— Ainda pode voltar a trás, Julie. — Luke retém a atenção da garota, apesar de não ter a mínima confiança de que pudesse convencê-la a desistir daquela insanidade — As coisas só vão ficar complicadas quando Caleb vir a Julie and the Phantoms aos seus pés, pedindo pra servi-lo. Com toda a certeza ele não vai recusar sua banda de tocar aqui.

A rápida troca de olhares entre a garota e sua melhor amiga fez uma linha de pensamentos positivos se dissipar no cérebro de Luke, ansioso demais para sequer prestar atenção em seja lá o que fosse que Alex estivesse falando em seu ouvido. Talvez ela ainda estivesse disposta a mudar de ideia. 

— Em primeiro lugar, — diz a Molina, empurrando uma mecha volumosa de cabelo para trás da orelha — nossa banda. Você pode ter perdido meses de lembranças, mas nada no mundo conseguiria apagar o fato que você também é minha família, Luke, e que a Julie and the Phantoms é tão sua quanto minha, ou de Reggie ou Alex. E em segundo... é isso o que eu mais quero agora. — ela retorna o olhar tanto para uma Flynn quieta em seu lugar, como para um Alex nervoso — É isso o que todos nós queremos. Ninguém aqui vai abandonar ninguém.

— Mesmo tremendo de medo e com péssimas previsões sobre hoje. — Alex acrescentou, retirando um sorriso trêmulo dos lábios da Molina — Você deve ser muito idiota se ainda acredita que a gente vai deixar alguém da família sozinho nessa.

Família.

Luke ainda gostava de saborear aquela palavra. Uma pequena centelha de paz amorna seu peito, tornando o peso da flecha de Ossário cravada em sua pele menos brando que o comum.

Sem nem pensar duas vezes, a mão do garoto é atraída pela de Julie, repleta de pulseiras coloridas e fitas de amizade cravejadas com o nome de Flynn. Aquilo foi mais forte que ele, assim como a sensação quente proporcionada pelo seu toque – um perfeito complemento para a sua pele, presa ao frio eterno que só um fantasma em anos de morte poderia compreender. Pela primeira vez o garoto sentiu-se agradecido por algo que Ossário lhe teria presenteado após meses em seu cativeiro: a capacidade de ser tangível a um corpóreo.

— Que o céu desabe nas minhas costas se Caleb te fizer algum mal. — diz ele, com o pensamento disperso em fantasmas do passado enquanto admirava os olhos castanhos da garota. Ele poderia observá-los por horas, se pudesse — Eu preferia viver pelo resto da vida num novo limbo do que saber que arruinei sua vida, Julie Molina. Nunca conseguiria me perdoar por isso.

— Guarde seu drama pra outro dia, Patterson. — ela ri, sentindo o compasso do coração ecoar em seus ouvidos — Temos trabalho a fazer agora.

Em meio a um conjunto contagiante de sorrisos, os dois fantasmas e as duas corpóreas uniram as mãos num círculo, sussurrando palavras de conforto um para o outro até que a tempestade em suas mentes estivesse mais calma. Era o que precisavam urgentemente naquele momento, que não durou muito para ter seu fim. Ao passo que todos recostavam suas testas uma nas outras para desejar mais uma palavra de sorte, uma porção da atmosfera tremeluziu nas proximidades da escadaria da lateral do clube, obrigando-os a se desvencilharem um dos outros.

Foi quando Reggie e Ophelia se materializaram num súbito, contorcidos em ângulos estranhos no chão frio.

Sem pensar duas vezes, assim como há pouco tempo em relação a Julie, Luke se teletransportou para perto deles num êxtase que não havia experimentado desde hoje mais cedo, quando fora surpreendido por um ataque de pânico repentino. Embora as vozes desesperadas de Molina, Alex e Flynn atrapalhassem seus pensamentos, felizmente ele conseguiu manter-se firme em analisar Reggie e Ophelia como se fossem crianças que acabaram de sofrer um acidente grave. 

Suas entranhas se enovelaram umas nas outras quando sentiu a mão frenética de Reggie lhe agarrar no antebraço.

— Tarde demais.

Foram as únicas palavras que saíram da boca do baixista, que continuou apertando Luke com todas as forças que ainda restavam em seu corpo lânguido. Patterson ficara sem compreender por alguns segundos, além de vestir uma expressão de terror semelhante as de quando o Mestre Fantasma deliberadamente tomava controle de seus movimentos. As dúvidas persistiram até o garoto admirar uma curiosa mancha exposta no pulso de Reggie.

Por mais que Luke desejasse se negar, ele estava perfeitamente ciente de algo que fez a desordem em seu intestino aumentar: não era uma marca qualquer. O círculo repleto de linhas roxas exibindo evidentemente as iniciais HGC só pertencia a um homem.

Tarde demais. 

Tarde demais para voltar atrás. 

Porque Reggie e Ophelia já haviam sido carimbados pelo dono do Hollywood Ghost Club.

— Eu pensei que sua experiência com o clube tivesse lhe ensinado algo, Luke Patterson. Não sabia que iria retornar tão cedo aos meus domínios. — a voz melódica que o garoto conhecia muito bem se sobressai diante dos murmúrios noturnos de Hollywood, quase parecendo como se fosse a única a se manifestar naquele espaço. O arrepio trilhou sua espinha sem piedade — Que bom que eu estava errado, não é?

Com um sobretudo vinho elegante e sob medida, um sorriso tenebroso rasgava o rosto do sujeito sombrio de lado a lado com vigor, perdendo apenas para Ossário no quesito "assustador". Luke não pôde ver as meninas e Alex já que estava de costas para eles, mas conseguiu sentir o mesmo nervosismo transcorrendo em suas auras de longe.

— Sejam bem-vindos de volta ao clube, meninos e meninas. — Caleb Covington anuncia maliciosamente, tornando todos os músculos fantasmas de Luke estáticos sem muito esforço — Será uma honra tê-los comigo pela eternidade.

 

 


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