−O que é isso?

A pergunta soou deveras desconfiada. Nicaise estava em seus aposentos refrescando-se. Os dias em Vere ficavam cada vez mais quentes, embora, as noites, a temperatura caísse drasticamente. Não esperava a visita de Laurent. Em especial, por vossa alteza ter acabado de voltar da viagem forçada que fizera a Akielos e ainda não ter passado em seu próprio quarto. Imaginou, que a priori, a peste veretiana não quisesse ver algo, ou alguém, que lhe fizesse se lembrar do tio, visto que, o regente o obrigou a visitar o país de bárbaros (segundo palavras dele mesmo) nas semanas que antecederam sua excursão.

Laurent lhe dirigiu um sorriso fraternal antes de dizer qualquer coisa.

−Um presente que trouxe de Akielos para você.

O escravo preferido do regente estranhou. Jamais o viu sorrir daquele modo, principalmente para ele. Havia carinho e algo a mais na forma como era observado pelo herdeiro do trono, porém Nicaise não conhecia aquele tipo de sentimento. Já estava acostumado a ser olhado com desejo pela realeza, mas aquele tipo de olhar... aquele tipo de olhar era novo para si.

O que estaria passando por aquela cabecinha loira?

−Por que me traria um presente? Ainda mais, sendo de um lugar que tanto detesta? Não quero!

Laurent nada disse em sua defesa, pelo contrário, fez algo que o outro julgou ainda mais inesperado. Aproximou-se da cama, deixou o pacote a seu lado, e por fim, fez uma leve carícia em seus cabelos.

− Boa tarde, Nicaise – Laurent lhe deu as costas.

−Que bicho akielon te mordeu durante a viagem? – gritou ao vê-lo se distanciar, no entanto, o príncipe não caiu na provocação.

Assim que Laurent deixou seus aposentos, analisou o embrulho. O invólucro singelo era diferente de tudo que já havia visto em anos de sua estada no palácio. Nicaise nunca vira uma embalagem tão bonita. Teve pena de rasgar o papel, por esse motivo, desembrulhou com o máximo de cuidado que sua ansiedade infante permitiu. Após desamarrar o laço de fita, ergueu o delicado papel manteiga que envolvia seu valioso presente. Com o pacote aberto foi impossível conter as lágrimas e o imenso sorriso que revelava a bela criança que o pequeno ainda era. Acostumado a ser presenteado com as mais finas joias e as mais deliciosas fragrâncias, o garoto não esperava por um presente tão gracioso.

Do lado de fora do quarto Laurent suspirou. Sabia que o pequeno escravo jamais havia recebido algo de tão pouco valor desde sua chegada a corte. Desejou ardentemente que ele de gostasse daquele singelo presente, pois em akielos havia um outro menino, um escravo como ele, que passou dias costurando aquele belo boneco de pano somente para presenteá-lo.