Some Kind Of Disaster escrita por Mavelle


Capítulo 38
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Oii!!!
Feliz que vocês gostaram das reações da família hahahahaha
Hoje vamos resolver uma das últimas pontas soltas da história e eu já tô com saudade. Sério. Acho que já faz mais de um mês que eu terminei de escrever tudo e, como eu estava com essa história na cabeça há dois anos, é estranho ela não estar mais na minha cabeça e estar praticamente toda publicada aqui. Agora só falta o próximo capítulo e o epílogo.
(E, sim, eu fiquei segurando os capítulos, porque vocês não iam me aguentar mais que duas vezes na semana e eu precisava adiantar a Benophie e estudar)
Enfim, espero que gostem!

Beijos,
Mavelle



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Cerca de uma hora depois, os dois foram buscar Lottie na escola. Só um deles podia ir buscá-la na sala, então Kate deixou que Anthony fosse, enquanto ela ficava sentada no banco do pátio. Por ela, teria ficado em pé depois de passar o dia inteiro sentada na sua sala, mas ele estava sendo um pouquinho superprotetor (e, sim, ele tinha conseguido provar isso em uma hora), então ficaria sentada porque sabia que ele reclamaria se a visse em pé e, bom, não era um dia para discussões, por menores que fossem.

Ela ficou lá vendo enquanto Charlotte saía correndo da sala para dar um abraço nele, que estava perceptivelmente emocionado. E Kate não conseguiu não se emocionar quando viu a filha limpando as lágrimas do pai e dizendo alguma coisa antes de abraçar o pescoço dele de novo. Ela vai ser uma excelente irmã mais velha, ela pensava enquanto via os dois se aproximando.

— Oi, meu amor. - Kate disse olhando para a filha, que agora estava na sua frente.

— Por que vocês tão chorando? - Charlotte perguntou.

— Nós só estamos felizes de te ver depois de passar o dia longe. Nós te amamos muito.

Ela estreitou os olhos. Havia algo de estranho na forma que os dois estavam agindo.

— Tá. A gente pode ir pra casa?

Kate riu.

— Podemos sim.

Assim, os três foram para o carro e, antes que Kate pudesse fazer qualquer coisa, Anthony já tinha colocado Charlotte na cadeirinha e o material dela no banco de trás. Ela ficou em silêncio e respirou fundo algumas vezes antes de entrar no carro, e, quando terminou na parte de trás e ocupou seu lugar no banco do motorista, Anthony apenas olhou para ela, esperando que ela dissesse alguma coisa. Quando pareceu que não diria, ele simplesmente ligou o carro e saiu dali.

— Você sabe que eu poderia ter ajudado pelo menos com o material, né? - ela por fim disse, menos de um minuto depois de saírem.

Ele sorriu de lado e pegou a mão dela, beijando-a.

— Eu estava esperando para ver até que ponto você ia fingir que estava bem com não fazer nada. E parabéns. Você durou uma hora e meia e eu honestamente pensei que não ia passar de meia hora.

— Parabéns, mamãe! - Charlotte disse, batendo palminhas.

— Não... - Kate começou e parou. - Quer dizer... - ela parou de novo. - Isso não é... - ela simplesmente respirou fundo. - Obrigada, Lottie. E você - ela disse, virando para o marido -, tá colocando muito pouca fé em mim.

— Mas não era algo ruim que você só passasse a meia hora. É só mais uma parte da sua personalidade.

— Impaciência?

— Não necessariamente. Seria mais a inabilidade de ficar parada. E eu amo isso sobre você.

— Bom saber. - ela aproveitou que estavam parados no trânsito e virou para a filha. - Como foi seu dia?

— Normal. - a menina deu de ombros. - Eu brinquei, pintei e dormi depois do almoço. E o seu?

— Muito legal. - ela disse com um sorriso. - Eu almocei com a tia Penny e depois recebi duas notícias muito boas. Né, amor?

— Duas notícias excelentes. - Anthony concordou.

— Sobre o que? - Charlotte perguntou.

— Sobre o trabalho. - ele logo respondeu. - Mas acho que você não quer me ouvir falar sobre máquinas novas e dedução de impostos e garantia estendida. Ou quer?

Ela estreitou os olhos.

— Não parece divertido.

— Também não acho, mas foi uma notícia bem legal de receber hoje. - Kate disse. Então respirou fundo e tomou uma decisão. Virou-se para trás de novo para poder olhar para ela e simplesmente perguntou: - Lottie, o que você acha de ter um irmãozinho ou irmãzinha?

Apesar de não poder virar para trás, Anthony também a observava pelo retrovisor, esperançoso. Já estavam na rua do condomínio em que moravam e levaria menos de 10 minutos até que chegassem em casa.

Tinham combinado que não contariam para ninguém por enquanto e que esperariam até fazer a ultrassom para começar a dizer, mas queriam sondar o terreno. Charlotte nunca tinha pedido por um irmão mais novo, então achavam importante ver como ela se sentia sobre o assunto e, caso fosse uma opinião desfavorável, tentariam mudar enquanto ainda havia tempo.

— Ia ser legal! - ela disse, animada. - Sempre ia ter quem brincasse comigo, mesmo que eu tivesse que ficar em casa. Posso ter? - ela tinha um olhar pidão e os dois relaxaram.

— Pode sim. - Kate disse, com um sorriso.

— Hoje?

Os adultos trocaram um olhar. Tecnicamente ela tinha um irmão naquele momento, mas não era isso que ela queria dizer.

— Bom, antes de você ter um irmão ou irmã, ele ou ela vai passar um bom tempo na barriga da mamãe. - Anthony disse. - Então não tem como ser agora.

— Mas o que você acha das férias do ano que vem? - Kate perguntou.

— Tá muito longe. - ela respondeu.

— Acho que nós três vamos precisar exercitar um pouquinho a paciência então. - Anthony disse.

— Mas eu sou paciente. - Charlotte disse.

— Com certeza. - Kate disse, ironicamente. - Você não queria nem esperar seu pai trocar de roupa para descer com você pra ver a árvore no ano novo.

Anthony olhou rapidamente para ela. Fazia menos de um ano que aquilo tinha acontecido e, ainda assim, parecia que tinha sido há uma eternidade. Tinha sido a primeira vez que ele havia pensado, mesmo que inconscientemente, no papel que ocuparia na vida de Charlotte. Não imaginava que estariam ali naquele momento, muito menos que estaria ocupando o lugar que sempre deveria ter sido seu.

— Era diferente. Papai não era papai ainda. - Charlotte disse.

— Na verdade, eu sempre fui seu pai. - Anthony respondeu, tentando abordar o assunto com naturalidade. - A gente só não sabia naquela época.

Ela ficou em silêncio um momento.

— Ainda bem. Se eu tivesse outro pai antes, eu não ia gostar dele tanto quanto amo você.

Aquela não era bem a resposta que estava esperando, mas era ainda melhor.

— E eu te amo. - ele disse, piscando para afastar as lágrimas dos olhos. Já tinham chegado no condomínio, então não havia mais um risco tão grande de um acidente, mas, ainda assim, elas atrapalhavam a visibilidade. - Te amava antes de saber que você era minha filha esse tempo todo e te amo agora que sei disso também.

Kate simplesmente colocou sua mão na coxa dele, demonstrando apoio, e fizeram o resto do curto caminho até chegar em casa. Ela logo começou a pensar que talvez fosse interessante mover o quarto de hóspedes do primeiro andar para o térreo e transformar o quarto em uma suíte abrindo uma porta no quarto para o banheiro e fechando o acesso a ele pelo corredor. Mas isso podia esperar, já que a razão para fazer isso era evitar ciúmes entre os dois e, bem, o “desfavorecido” da situação demoraria bastante a perceber que tinha um banheiro no quarto da irmã e no dele não.

Calma, Katharine, ela pensou, com um sorriso. Ainda tem muito tempo pra pensar nisso, você literalmente acabou de descobrir, espera algum tempo antes de começar a pensar em colocar a casa de cabeça pra baixo.

***

Três semanas depois, Anthony estava na reunião do conselho e ele estava ansioso, para dizer o mínimo. Finalmente descobriria se podia continuar no seu cargo ou não. Hoje marca um ano do dia que descobri que iriam virar minha vida do avesso e, numa tentativa de parecer melhor, eu fiz o mesmo, ele pensou. Melhor decisão precipitada de todas.

Como esperava, Araminta tinha colocado esse como último tópico da reunião, só para poder torturá-lo por mais tempo.

Mas ele também tinha uma surpresa para ela.

Era infantil da parte dele e provavelmente não o que qualquer um esperasse de um homem de 31 anos que estava à frente de um negócio gigantesco pelos últimos 13 anos. Ok, os três primeiros anos tinham sido muito mais administrados por sua mãe, mas, ainda assim, ele estava à frente da empresa há mais de 10 anos e provavelmente essa não era a atitude que esperariam dele.

Entretanto, Araminta era mais de 20 anos mais velha que ele e estava fazendo quase a mesma coisa, então...

— E agora, vamos para o último tópico da reunião. - Mary disse. Tinha sido a escolhida para dizer o resultado da investigação porque sabia ser imparcial quando era necessário. - Sr. Bridgerton, nós passamos os últimos 6 meses analisando o que você tem fez pela empresa e como levou sua vida privada ao longo dos últimos anos e, depois de bastante discussão - ela olhou para Araminta, que tentava manter o rosto impassível -, decidimos não te afastar da sua posição como CEO. - ele assentiu. - Você cometeu alguns erros, mas conseguiu consertá-los e nenhum deles prejudicou a empresa e ninguém que não você próprio. - Isso não é verdade, ele pensou, mas logo afastou isso da cabeça. Toda vez que se sentia mal por isso, lembrava de Kate reclamando com ele e dizendo que a culpa era dos dois, não só dele, e tentava parar de pensar no assunto. Depois que descobriram, não tentaram esconder de ninguém o fato de que ele era o pai da Lottie, apesar de ele achar que esse seria um fator que influenciaria negativamente na decisão do conselho. Ele estava conformado com qualquer decisão que fosse tomada e acreditava que merecia algum tipo de punição pelos dois anos (três, se contasse o período da gravidez de Kate) em que não foi uma presença constante na vida da filha. Kate, prática como sempre, acreditava que a maior punição era dos momentos que ele tinha perdido e que isso já era mais que o suficiente, que deviam aceitar e seguir em frente. - De qualquer forma, a empresa cresceu bastante nos últimos 4 anos e não temos intenção de afastá-lo da função.

— Obrigado. - Anthony respondeu.

— Não encontramos razões fortes o suficiente para te afastar. - Araminta disse. - Mas não ache que está completamente seguro.

— Está insinuando que eu estava me comportando bem para poder manter meu emprego?

— Longe disso. - ela deu um sorriso completamente falso que gritava que era exatamente aquilo que ela pensava, apesar de não poder dizer em voz alta. - Só quis dizer que às vezes, quando vemos que as atenções não estão mais em nós, voltamos a velhos hábitos que tentávamos esconder.

— Mas que inferno você está dizendo? Pelo amor de Deus, olha o que você está insinuando, sua bruxa. - Peter Bennet disse, bufando. Todos viraram para ele, chocados. Peter era sempre calado e nunca tinha deixado totalmente claro a sua repulsa por ela, então, apesar de todos acharem que eles não se gostavam, nunca tinha sido colocado de forma tão explícita. - Bom, muito obrigado pela convivência durante esses anos todos, mas acho que chegou minha hora de ir embora em definitivo. Mary, Martin, Anthony e Daphne, espero vê-los em outra vida. Adeus.

E então, pela última vez, Peter se levantou e simplesmente saiu. Araminta olhava para a porta, claramente confusa e um pouco irritada.

— O que aconteceu? - Roman perguntou, ecoando a pergunta explícita no rosto de Araminta.

— Peter Bennet acabou de deixar o conselho. - Daphne disse com uma máscara de profissionalismo no rosto, enquanto por dentro ela sorria.

— Ele não pode sair. - Araminta disse. - Era necessário ter avisado com pelo menos 15 dias de antecedência a três outros membros do conselho e... - ela olhou para a frente e percebeu que as únicas pessoas surpresas eram ela e Roman. Ela simplesmente ajeitou a postura, se sentando de forma mais ereta do que antes. - Eu gostaria de ter sido informada antes para poder juntar os recursos e colocar minha oferta pelas ações dele.

— Sinto muito, mas você está um pouco atrasada para isso. - Anthony disse. - Já foram compradas.

Os irmãos tinham conversado entre si e, como previsto, Benedict, Colin e Francesca não queriam uma porção maior, então ele, Daphne, Eloise, Gregory e Hyacinth tinham comprado 2% cada. Os rendimentos dos seus 2% iriam para uma conta no nome de Kate, mas o objetivo era fazer uma reserva para Charlotte e o bebê. Pensou seriamente em colocar as ações no nome de Charlotte, mas, quando firmaram a compra duas semanas antes, ainda estavam no processo para refazer os documentos dela e a burocracia tanto para que reconhecessem Charlotte como parte da família antes da emissão dos documentos quanto para alterar o nome depois os desencorajou.

Claro que dois dias depois de firmarem a compra, os novos documentos de Lottie chegaram, porque é exatamente assim que a vida funciona, mas não importava. Estavam felizes demais porque agora ela era oficialmente Charlotte Mary Sheffield Bridgerton, filha de Katharine Grace Sheffield Bridgerton e Anthony Bridgerton, para se importar com uma pequena oportunidade perdida.

— Acho que perdi a chance, então. - ela disse, forçando um sorriso. As ações dos Bridgertons agora chegavam a 70%. Ainda não era suficiente para a dissolução do conselho, então ainda poderia tentar ganhar algum controle.

— Sim, você perdeu. - Daphne disse, falso pesar em seu rosto ao dizer aquela frase com tamanho duplo sentido. Anthony olhou de lado para ela. Não sabia que a irmã tinha aquele lado maldoso e era algo interessante de ver.

— Aproveitando que estamos falando de despedidas, acho que esse é o momento de eu ir embora também. - Mary disse. - Os 8 anos que eu passei aqui foram muito proveitosos, mas é hora de fazer algo diferente com a minha vida.

— Que pena que está saindo, querida. - Araminta disse, mas o que se passava pela cabeça dela era algo no sentido de “obrigada, crise de meia idade”.

Mary sorriu para ela de uma forma doce.

— Pode parar com a falsidade, querida. Já está tudo acertado.

— Você já vendeu suas ações também?

— Para falar a verdade, não vendi, mas também não estão mais no meu controle.

— Kate lhe enviou uma garrafa de vinho, inclusive. - Anthony disse, abrindo um sorriso. - Precisamos fazer um brinde quando você abrir sua loja.

— Você repassou suas ações para a esposa dele? - Araminta perguntou a Mary, incrédula demais para conseguir manter qualquer traço de falsa simpatia. Com certeza, tinha que ter sido isso que ele quis dizer com aquelas poucas palavras.

— Sim. - Mary respondeu. - Ela é minha afilhada e, além de querer me desfazer das minhas ações, acho que não teria alguém melhor para ficar com elas. - Araminta abriu a boca, mas Mary retrucou antes que ela pudesse dizer algo. - E mesmo que você quisesse me pagar o dobro do que valem, eu prefiro não ganhar nada do que deixar você ter o gosto de poder reivindicar um cargo.

— Isso é um absurdo!

— Absurdo é eu ter aguentado 20 anos de você aqui sem reclamar. - Martin Holmes disse. - Eu disse para o Victor que devíamos ter comprado suas ações logo no começo, quando você era desinteressada, mas ele acreditou que era melhor deixar você ter isso para se ocupar depois da morte do seu marido. Eu realmente gostava de vir para essas reuniões porque não tem tanta coisa que um homem de 80 anos possa fazer para se sentir útil, mas, se for para nunca mais olhar na sua cara, eu aceito perder isso. - ele recolheu suas coisas e se levantou. - Sr. Bridgerton e sra. Basset - ele começou, virando para Anthony e Daphne -, parabéns pelos 76%. Era o objetivo de Victor e de Edmund depois dele, e tenho certeza que os dois estão olhando para vocês agora e se sentindo orgulhosos.

— Obrigada, Martin. - Daphne disse. - Sinta-se confortável para vir quando tiver vontade.

— Muito obrigado. Passei quase 50 anos nesse conselho e é definitivamente o fim de uma era para mim.

— Para todos nós também, sr. Holmes. - Anthony disse. - O senhor é a única peça constante desde o princípio e eu agradeço por todos os seus anos de dedicação à empresa e à nossa família.

— Adeus. - Martin disse e saiu da sala.

Fez-se um momento de silêncio.

— Então é isso? - Roman perguntou. - O conselho está dissolvido?

— Sim. - Daphne respondeu. - Vocês mantém as ações e os rendimentos, mas não vão ter mais controle direto sobre as decisões da empresa.

— E se eu quiser questionar alguma decisão?

— Então pode vir conversar comigo. - Anthony respondeu. - Ficarei mais que feliz em responder qualquer pergunta que você possa ter.

— Ok. Adeus então. Vamos, Araminta. Não tem mais nada que possamos fazer.

Araminta olhou para cada uma das outras pessoas da sala.

— Vocês tiveram uma vitória significativa hoje. - ela disse. - Mas não achem que eu desisti da guerra.

— Boa sorte, então. - Anthony disse. - Esse é um negócio familiar e, até onde eu saiba, não tem nada mais forte do que a união de uma família.

— Veremos. - ela disse e foi embora, deixando Anthony e Daphne sozinhos com Mary.

Daphne simplesmente se jogou nos braços do irmão e o abraçou com força.

— Eu não disse que não iam encontrar nada de errado? - ela perguntou, com um sorriso gigante no rosto.

— Disse. - ele teve que sorrir. - Obrigado por acreditar em mim.

— Sempre. - ela o soltou. - Ok, preciso correr. Tenho uma reunião com o setor de relações internacionais.

— Vá lá, irmãzinha.

Daphne saiu da sala, deixando Anthony e Mary sozinhos.

— Muito obrigado, Mary. - ele disse. - Tenho certeza que você foi uma das principais razões para eu ter mantido o trabalho.

— Bem, você não tinha feito nada de muito errado e tentou consertar os erros que cometeu. - ela respondeu. - Eu apenas reiterei isso algumas vezes.

— Muito obrigado mesmo assim. Se não por isso, então pelas ações.

— Eu não tinha nada melhor para fazer com elas. - ela pigarreou. - Falando nisso, como está Kate?

— Ela está bem. Um pouco indisposta, mas acho que é o esperado.

Mary parecia confusa.

— Como assim o esperado?

Anthony não soube o que o levou a dizer aquilo, já que ainda não tinham dito a ninguém, nem mesmo para sua mãe ou para a filha, mas resolveu compartilhar ao invés de inventar uma desculpa qualquer.

— Ela está grávida. Nosso segundo filho nasce em julho.

Ela pareceu se emocionar um pouco.

— Eu não sabia. Parabéns.

— Obrigado. Ainda não tornamos público, já que ainda está bem no começo.

— É realmente um momento bastante delicado, mas definitivamente emocionante.

Pelo jeito que ela disse aquilo, parecia que falava por experiência.

— Você tem filhos? - ele perguntou. Sabia que ela nunca tinha se casado (a chamavam de senhora por questão de respeito), e, nos muitos anos que a conhecia, ela nunca tinha mencionado ter filhos.

— Eu tive uma filha, mas nunca fui uma mãe para ela. Eu tinha muitos planos e não queria ter filhos, então a deixei com o pai dela e sua esposa. Nunca tinha sido nada sério entre nós dois e ele a conheceu duas semanas depois da última vez que ficamos juntos. E, desde aquele momento, eu soube que nunca haveria mais ninguém para ele. Engraçado que o nome dela também era Mary. - Anthony sentiu um frio na barriga e quase desejou ter uma cadeira atrás dele para que pudesse se sentar. Mary Houston. Houston, NASA, espaço, lua, ele pensou, sua cabeça rodando enquanto se apoiava na mesa atrás dele. - Eu só contei a Miles que o filho que estava esperando era dele depois do casamento deles, que aconteceu seis meses depois que eles se conheceram. Quando eu disse que estava pensando em dar o bebê para a adoção, Mary disse que eles ficariam com ele. Nem falou com Miles antes, só disse que não deixaria que um filho dele pudesse ficar desassistido em um orfanato. Ela tinha um coração de ouro e eu sabia que meu filho teria muita sorte de crescer com ela como mãe. Não mantive contato com eles, mas, quando soube do incêndio, senti uma grande necessidade de ver como a criança de quem eu tinha aberto mão estava. Continuava e continuo sem intenções de ocupar a posição de ser a mãe dela, mas precisava me certificar de que ela estava bem. E é o que eu tenho tentado fazer discretamente nesses últimos 6 anos.

— Até resolver passar suas ações para ela.

— É. Eu queria fazer algo bom por ela uma vez na vida. Dar a perspectiva de algumas centenas de milhares de libras pareceu um bom presente de despedida, já que ela não precisa mais de mim para olhar por ela.

E nunca precisou, ele pensou. Assim como ela não precisa de mim.

E então ela sorriu. Seu sorriso era tão parecido com o de Kate e, por consequência, de Charlotte que ele quase não conseguia acreditar como não tinha percebido antes.

— Acho que sei o que você está pensando e, bem, você está certo. Ela nunca precisou de mim. Tenha uma boa vida, Anthony. E cuide bem da minha filha e dos meus netos.

— Eu já faço isso.

— E não tenho dúvidas disso. Adeus.

— Adeus, Lua.

Anthony observou enquanto ela saía e ficou refletindo em tudo o que tinha acontecido. Enfim, respirou fundo, apagou a luz e saiu da sala.

Aquele capítulo de sua vida estava oficialmente encerrado e ele mal podia esperar para continuar com o próximo.


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