Recomeços escrita por Sophia Snape


Capítulo 19
O som de um lar no Natal


Notas iniciais do capítulo

Ai, Deus! Que delícia estar aqui de novo postando mais um capítulo dessa história que tem mudado tanta coisa em mim. A sua cor e Recomeços estão sendo divisores de água na minha vida, me permitindo ter mais coragem de mostrar a minha escrita, me desafiando a sempre melhorar mais e mais.

Fico grata além de qualquer medida pelos comentários e recomendações, além de todo o incentivo que tem chegado para mim das mais variadas formas. Tenho muitas pessoas para agradecer sempre, mas desta vez vou dedicar à Leilane que fez uma verdadeira corrida de comentários para me deixar inspirada a escrever este capítulo. Sério, você arrasa ♥ Também queria agradecer à Julia que além de minha beta fez uma recomendação linda que me fez chorar. E a Carolina que me enviou quatro áudios que vários minutos tecendo elogios sobre as minhas fanfics (chorei enquanto tomava chá e até engasguei, juro). O que eu posso dizer? Estou cercada de amor. Quem eu não citei nas notas hoje pode ter certeza que está no meu coração ♥.

Sobre este capítulo: puro puro e puro fluff. Todo mundo que me segue sabe que eu adoro momentos ternos e doces entre eles, recheados de muita tensão sexual. É o que tentei passar neste capítulo, mas com um tom mais doce e poético, que é como enxergo a relação deles. Espero que gostem. Cada capítulo é um desafio a parte para mim.

Também gostaria de sugerir que lessem escutando River, da Joni Mitchell, ou qualquer outra música de Natal, bem no embalo dos filmes Mensagem para Você, Simplesmente Amor e do primeiro episódio da série Dash & Lily na Netflix.

Também acho que esqueci de falar que além de uma playlist no spotify, Recomeços também ganhou um tumblr: http://recomecosfanfic.tumblr.com/. Lá eu posto os trechos mais comentados com imagens que seguem mais ou menos a estética que penso da história.

Então, é isso. Obrigada por tudo e boa leitura!



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Severo acordou com uma sensação de calor no peito e cócegas no nariz. Ele abriu os olhos lentamente e sentiu o braço direito dormente, mas por algum motivo não se incomodou. Demorou alguns segundos até que ele abrisse os olhos completamente e entendesse de onde vinha aquela sensação de paz absoluta: havia uma mulher em seus braços. E não qualquer mulher, mas a que dominou completamente os seus pensamentos nos últimos meses.

Hermione dormia no seu peito, com uma das mãos descansando onde o seu coração batia rápido. Severo fez o mínimo de movimentos possíveis para não acordá-la e a observou no seu momento tranquilo. Seu cabelo, cheio e ondulado, caía em cascatas pelos ombros e parte do rosto. Seus cílios tremulavam suavemente à medida que ela respirava, e Severo sorriu fascinado quando percebera que ela enrugava levemente o nariz de tempos em tempos, provavelmente sendo tão ativa nos sonhos como era acordada. As sardas espalhadas pelo nariz e maçãs do rosto só evidenciavam mais a sua beleza, como se ela fosse uma ninfa saída de algum conto de fadas trouxa.

Mas o que mais o fascinou foi a sensação dos seus pés delicados entrelaçados na sua panturrilha. Em algum ponto da madrugada ela provavelmente buscara calor para os seus pés frios e levantara inconscientemente a calça dele. A sensação de intimidade do ato era indescritível, e Severo temeu que estivesse sonhando. Mas então toda a noite passada viera à tona e ele sentiu o corpo reagir com as lembranças do primeiro beijo deles.

Era tudo tão novo para ele. A primeira vez que ele beijava alguém que realmente importava e a primeira vez que ele acordava com ela. Nunca houve tempo para ninguém em sua vida. Não era seguro. Qualquer pessoa que ele pudesse se envolver poderia estar colocando em risco. E depois... bem, simplesmente não parecia certo. Então, o que ele diria? O que aconteceria a partir dali? E se ele estragasse tudo? E se ela-

— Posso ouvir os seus pensamentos daqui. – uma voz sonolenta interrompeu o fluxo de pensamentos confusos dele, fazendo-o voltar para a Terra e sorrir. Ela inclinou a cabeça para trás e sorriu de volta, a centímetros da boca dele. – Bom dia.

Seu coração pulou ao som da voz dela, que ele descobriu se tornar ainda mais suave logo que acordava. – Bom dia, pequena feiticeira.

O termo carinhoso escorregou da sua língua antes que ele pudesse se conter, e ele congelou. De onde vinha esse lado carinhoso? Nem ele mesmo conhecia.

— Pequena feiticeira? – Hermione perguntou, mas tinha um sorriso adorável em seu rosto e isso o relaxou.

— Você me enfeitiçou. – ele sussurrou, tocando a bochecha dela e a olhando com paixão.

Não havia nenhum sinal de sol do lado de fora, e o dia parecia frio e nublado. Algumas gotas de chuva insistiam em cair, batendo na janela. Normalmente, seria um dia péssimo para o seu humor, mas estando acompanhado a sensação era deliciosamente diferente.  A vontade que ele tinha era de aconchegá-la ainda mais perto dele, sentindo o perfume do seu cabelo e o seu calor.

— Você está realmente aqui. Não foi um sonho. – ela murmurou, sonolenta, abraçando-o com mais força.

O coração dele parou ao ouvir essas palavras, e ele fechou os olhos para tentar conter o fluxo de emoções. Seus braços ficaram estáticos antes de envolvê-la mais profundamente no seu abraço. – Estou aqui, Hermione. Não é um sonho.

Ela pareceu cantarolar em resposta, com um murmúrio satisfeito e ininteligível. Severo sentiu seu coração encher no peito, e a percepção de que os seus sentimentos estavam correndo por ele sem controle o apavorou e o maravilhou ao mesmo tempo.

Se Severo fosse totalmente honesto consigo mesmo, ele sempre fora uma pessoa passional. Ele não fazia nada pela metade, e sentia tudo com a intensidade de um vulcão. O que ele sabia era deixar contido, naquele limiar entre o borbulhar e a explosão completa, mas sempre estaria ali, guardado no seu peito. Ele tinha sede e fome de sentimento, de vida, de amor, mas nunca tivera onde extravasar isso. E o assustava o que poderia acontecer agora.

E se ele a magoasse? E se ele não soubesse o que dizer? E se ele não fosse o suficiente?

— Severo, pare de pensar. Nós vamos lidar com isso depois.

Ele piscou, assustado por ter sido pego com os próprios fantasmas. Ele deu um beijo carinhoso na testa dela, e sorriu. – Só estou pensando no que você gostaria de comer no café da manhã.

Hermione finalmente saiu do torpor do sono para olhar para ele, um brilho malicioso nos olhos e a sombra de um sorriso no canto da boca. – Eu sei o que gostaria.

Severo a encarou ligeiramente em choque quando a percepção o atingiu, e ele corou. – Hermione Granger!

Hermione inclinou a cabeça, uma falsa expressão de ingenuidade no rosto. – O que? – ela sussurrou no ouvido dele, mordiscando levemente, enquanto a mão esquerda deslizava pelo peito dele até parar perigosamente no elástico da calça.

— Você brinca com fogo, minha querida. Estou tentando ser um cavalheiro. – ele ofegou quando a mão dela deslizou ainda mais para o sul, mas a impediu de seguir adiante quando inverteu as posições e a girou para ficar debaixo dele, prendendo-a entre o seu corpo e o colchão.

Hermione suspirou com a posição prazerosa, abrindo as pernas para poder puxá-lo contra si. Eles estremeceram com o contato mais íntimo, podendo sentir mais um do outro mesmo com a barreira das roupas.

— Me beija. – ela sussurrou, deslizando os dedos pelo cabelo dele. Foi tão prazeroso e carinhoso ao mesmo tempo que Severo reivindicou a boca dela como um homem faminto. Mas diferente do primeiro beijo, que havia sido frenético e exultante, apressado, este era lânguido, suave, intenso na sua calmaria. Seus lábios se tocaram como se reverenciassem um ao outro, e ele pode sentir o seu corpo inteiro vibrar de excitação quando a língua dela deslizou sobre a dele.

Então era este o beijo que falavam os poetas, Severo pensou em algum lugar muito distante da sua mente. Era esse o tipo de sensação que inspirava Petrarca e Camões e todos os tolos brilhantes que fizeram odes ao amor por séculos e séculos.

E quando ela entrelaçou os dedos com mais força no cabelo dele e cruzou as pernas nas costas, trazendo-o mais para perto, que Severo abandonou de vez todos os seus sentidos. Ele tentara, até então, esconder a ereção persistente, mas naquele momento ele não poderia se importar menos. Ambos gemeram com o contato, e Severo mostrou o quanto ele a desejava, deslizando uma das mãos pela coxa dela, sentindo como era suave. Seus dedos subiram passando pelo tecido da calcinha, e brincaram com a barra da blusa branca de algodão, sentindo a extensão de pele próximo ao umbigo. Hermione sorriu dentro da boca dele, se contorcendo com uma mistura inebriante de prazer e cócegas, e Severo mordeu o lábio inferior dela. Seria tão fácil subir a blusa até a altura dos seios e prová-los... mas ele se conteve, prendendo as duas mãos dela acima da cabeça.

— Severo... – ela reclamou, subindo os quadris para ter mais contato.

— Vamos com calma, bruxa. – ele sorriu, beijando-a para espantar a adorável carranca. Esse beijo foi ainda mais lento que o anterior, e ele se sentiu mais confiante em explorar, sugando o lábio inferior com a sua boca, mordiscando, brincando com a língua, conhecendo o que mais a afetava.

Em algum momento eles tiveram que parar para respirar, e Severo se sentiu tonto em vê-la tão ofegante. Havia algo de muito primitivo no sentimento que se apoderou dele naquele momento, por saber que ela estava assim por desejá-lo. Os olhos cor de mel estavam ligeiramente embaçados de desejo, a boca entreaberta pela respiração rápida e as bochechas coradas. Seu cabelo, então, era uma bagunça: os cachos estavam espalhados pelo travesseiro como se ela fosse Afrodite. Ela estava deslumbrante.

— Não é justo me distrair de uma discussão com um beijo como esse. – ela reclamou, embora toda a sua expressão fosse de puro contentamento. Severo aproveitou a deixa para deitar de lado, aliviando-a do peso dele. Eles deitaram um de frente para o outro, dividindo o mesmo travesseiro, seus narizes quase se tocando.

— Um sonserino usa todas as armas que pode. – ele disse simplesmente, tocando o nariz dela com a ponta do dedo indicador.

Você é adorável.

Seus pés se tocaram embaixo das cobertas, e eles mergulharam num silêncio confortável. Eles ficaram olhando um para o outro, trocando carícias, aproveitando o momento que eles tanto desejaram em segredo. Era tão perfeito que Severo teve medo de dizer qualquer coisa que pudesse quebrar a delicada harmonia em volta deles. Ele sabia que não era inconstante, e Hermione muito menos, mas ainda era tudo muito novo e ele não era conhecido pelo seu tato. Severo nunca havia dormido com uma mulher nos braços, e ele queria muito não arruinar tudo.

Hermione pareceu perceber os seus receios e os tomou para si, poupando-o da necessidade de preencher o silêncio com as perguntas que muito provavelmente ambos compartilhavam. - Quando começou para você? Quando você parou de ver a Hermione Granger para a mulher que está aqui hoje, dividindo a sua cama?

Severo estremeceu com as últimas palavras. Dividindo a sua cama. Como palavras tão simples poderiam conter tanto significado? Mas ele se esforçou para concentrar na pergunta dela e ponderou. Quando, de fato? A sensação estranha que o assaltava era a de que já a conhecia muito antes dela chegar na vila, mas não de Hogwarts, não dos agonizantes anos de ensino. Não. Essa imagem dela, como aluna, quase não o ocorria mais. Era de outro lugar... de um que ele tentava, sem sucesso, acessar. Estava ali, em algum lugar da sua mente, mas nunca vinha.

— Severo? – ela a chamou suavemente, contornando uma linha de preocupação na testa dele com a ponta dos dedos – Você estava a milhas de distância.

— Sinto muito. – ele tocou o rosto dela com as costas dos dedos, sentindo a sua pele macia – Estava apenas pensando na sua pergunta. Estava com tanta raiva quando chegou.

A expressão dela caiu, mas ela sabia que precisava continuar escutando. – Estava profundamente tomado pelo rancor. Achei que tivesse enterrado aqueles anos, mas quando eu a vi, parada na botica, tudo voltou e eu... – ele parou, tentando encontrar as palavras certas para não magoá-la.

— Você canalizou tudo em mim. – ela completou por ele, e Severo a olhou espantado. Ele esperava encontrar raiva e ressentimento, mas só encontrou entendimento no olhar dela. – É totalmente compreensível, Severo. Me culpei muito por estragar a sua paz. Eu não queria bagunçar a sua vida e-

Ele balançou a cabeça, silenciando-a com o polegar. – Mas você bagunçou, Hermione, e foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Não se culpe por eu ser um velho ranzinza.  

— Queria ter ido embora naquele dia no café, quando o Sr. Bernard praticamente me empurrou para a sua mesa. Vi como te deixei desconfortável e não era justo. Você passou todos aqueles anos nos protegendo, e quando finalmente poderia ter uma vida só sua, eu apareci.

— E por que você ficou? – a pergunta escapou dele antes que pudesse pensar sobre isso, mas ele não recuou.

— Porque quanto mais eu ficava, mais difícil era te deixar.

A resposta dela fluiu tão rápido no ar entre eles que pousou no coração de Severo como uma carícia suave, espantando pelo menos uma década da falta de carinho e amor que marcaram a sua vida.

Ele ficou sem palavras, e isso era raro para alguém como ele, sempre com uma resposta na ponta da língua.

— No dia em que o caldeirão explodiu – ela continuou, poupando-o de conseguir pensar em algo para dizer quando o seu coração batia tão rápido – eu estava preparada para ir embora. Tinha até escrito para a Gina sobre a demissão. Mas depois de dormir aqui, na sua casa, nesta cama, de ter o privilégio de conhecer o seu lado mais íntimo, eu simplesmente não poderia... Não conseguiria te deixar.

— Hermione. – ele praticamente venerou o nome dela uma, duas, três vezes, enquanto pontuava cada palavra com um beijo.

Ela riu da urgência carinhosa dele, e Severo se pegou desejando ouvir esse som suave e alegre para sempre.

— E você, senhor, não é velho. Talvez um pouco ranzinza, sim, mas ninguém é perfeito.

Seus olhos brilharam divertidos. – Tenho o dobro da sua idade. Isso não te incomoda?

— Não. – ela sequer pensou nisso – Não me incomoda nem um pouco. Incomoda você que eu seja mais jovem?

Ele parou por um momento. Não o incomodava, exatamente, mas o preocupava. – Não, não me incomoda. Eu só pensei que talvez você pudesse- ele se interrompeu, dando de ombros.

— Que eu pudesse querer alguém mais jovem como o Isaac?

Ela era muito perspicaz, Severo pensou. Mas ele não conseguiu pensar muito sobre isso porque a mera menção do nome daquele bruxo o enchia de algo que ele estava tentando não nomear. – Não mencione esse idiota.

Hermione deixou a cabeça cair no travesseiro, rindo. Sua risada preencheu todo o quarto e Severo ficou hipnotizado pela visão. – Fico feliz em saber que eu a divirto.

— Oh, Severo. – ela deu uma última risadinha, apoiando a cabeça na mão enquanto olhava para ele – Você não estava com ciúmes, estava?

— Ciúmes. – ele bufou, cruzando os braços no peito enquanto olhava para o teto. Hermione teve que fechar os lábios para não rir.

— Não se preocupe – ela sussurrou no ouvido dele, deixando as mãos vagarem pelo peito coberto pela camisa de algodão – você é o único homem que eu quero.

Severo queria perguntar mais. Queria dizer mais... queria poder sussurrar palavras doces no seu ouvido que antes só viviam nos seus pensamentos. Mas o que ele poderia dizer depois disso? Severo se sentia, pela primeira vez, o homem mais sortudo do mundo. E quando ele achou que poderia viver para sempre dentro daquele momento, seu estômago roncou.

Hermione levantou a cabeça do peito dele e o olhou, sorrindo. Ele corou, envergonhado, e ela beijou a sua bochecha para espantar seu constrangimento. – Vou preparar o café da manhã para você.

Você?

Hermione o empurrou levemente, rindo. – Uma regra importante: não irrite quem vai fazer a sua comida.

Ele sorriu quando ela praticamente saltou da cama depois de roubar um beijo doce dos seus lábios, e ele teve uma visão privilegiada da sua bunda enquanto ela se abaixava para pegar a varinha que estava caída em algum lugar.

— Gosta do que vê, monsieur?

— Granger. – ele avisou, tentando dar o seu olhar mais intimidante.

— Não vai funcionar, você sabe. – Hermione simplesmente piscou para ele do batente da porta, saindo numa bagunça de cachos e vislumbres das suas pernas esguias e bonitas. Ele se apoiou no cotovelo para ter uma visão mais ampla, e depois caiu com a cabeça no travesseiro, passando a mão pelo rosto enquanto tentava controlar a sua vontade de aparatar direto na cozinha e continuar o que ele quase fizera na noite passada: preenchê-la, profunda e completamente.

— Controle-se, Severo. – disse para si mesmo, jogando as cobertas de lado. Seus pés tocaram o chão frio e ele suspirou. Ele mal se sentia no próprio corpo. Tudo parecia muito diferente, quase como se ele estivesse num sonho. Mas ele jamais poderia ter imaginado a sensação da pele dela na sua, ou dos lábios macios dela nos seus. Não. Era tudo real e ele não deixaria escorrer por entre os dedos. Da cozinha, ele podia ouvir os sons de talheres e xícaras sendo tiradas e colocadas, e isso o agradou imensamente.

Parecia o som de um lar.

...

Severo cruzou os braços e apoiou o ombro esquerdo no batente da porta, observando-a se mover de um lado para o outro enquanto preparava o café da manhã. Ocorreu a ele que é curioso o quanto ela era talentosa em poções e um desastre absoluto na cozinha.

Hermione tagarelou por vários minutos sobre algo que ele não estava realmente ouvindo, muito concentrado em tentar se manter de pé diante sentimentos que eram muito novos para ele. Porque enquanto ela queimava a torrada e xingava de maneira adorável, ele pensava que não havia mais barreiras em torno do seu coração. Hermione derrubara todas elas. E se ainda restava algum concreto, ela certamente chutara para longe naquele momento, enquanto corria de um lado para o outro na cozinha que parecia não mais existir sem ela, tentando consertar o café da manhã.

— Eu sinto muito, Severo. Mas o chá está ótimo.

Ele olhou para a mesa feita com tanto carinho, e a torrada que ele tinha certeza que quebraria o vidro se ele a jogasse, e quase teve que se segurar na cadeira com o peso dos seus sentimentos. Merlin.

— Aqui, coloque um pouco de geleia.

Ele aceitou a faca enquanto se sentava, e tentou comer. Tinha gosto de queimado com uma pitada de morango. – Uma delícia, obrigado.

— Eles ensinam a mentir na sonserina? – ela brincou depois de tentar morder um pedaço e Severo riu, espantado com a naturalidade de tudo. Era como se eles se conhecessem a anos, como se nunca tivessem se separado. Tê-la ali, com ele, parecia tão natural quanto respirar e ele não entendia como uma noite poderia mudar tudo. Ele se sentia um homem totalmente novo.

A próxima hora foi passada no sofá da sala, de frente a lareira, com uma chaleira cheia do chá especial que o Severo mantinha para os momentos únicos. Hermione se recostou sobre ele, as costas apoiadas no seu peito, enquanto contemplavam a companhia um do outro num silêncio confortável. Havia tanto a ser dito... Mas naquele momento, não importava. Severo sabia que ela teria que sair em breve, e não queria desperdiçar um único segundo com uma conversa que poderia fazê-la perceber o erro que estava cometendo perdendo a sua vida com um homem amargo e inexperiente nos assuntos do coração como ele.

— Você não vai montar uma árvore?

A pergunta o tirou das suas incursões sombrias, e parecia tão inocente diante de toda a escuridão dos seus pensamentos e inseguranças que ele riu. Profundamente. Ele não se lembrava de ter rido assim algum dia, e quanto mais ele pensava sobre isso, mais engraçado era.

— O que foi? – ela o olhou divertida, girando parcialmente o corpo para encará-lo. – O que é tão engraçado?

Severo levou um cacho para trás da orelha, deixando sua mão descansar no rosto dela enquanto a observava com um sorriso nos lábios. – Você é deslumbrante, Hermione Granger.

Deixe-me amar você com tudo o que sou, com tudo o que eu tenho.

— Hoje é véspera de Natal. – ela continuou, e ele revirou os olhos, divertido.

— Vamos ter a conversa sobre decorações natalinas de novo?

— Só uma árvore. – ela insistiu, mudando de posição para deitar sobre ele no sofá estreito, apoiando o queixo no seu peito. – Essa sala é tão aconchegante. Ficaria lindo.

Tudo que você quiser.

Severo queria dizer a ela que se vestiria de verde e vermelho se ela quisesse. Ele não poderia se importar menos se a casa inteira cheirasse a pinho e brilhasse com luzes de Natal se ela estivesse ali, com ele.

E foi por isso que em pouco tempo eles estavam devidamente agasalhados no meio de uma fazenda ecológica de Noël vivants – Hermione se certificou de que elas fossem devidamente replantadas depois – caminhando por entre as várias opções enquanto dezenas de outros turistas e locais faziam o mesmo. Crianças corriam por entre as árvores, escorregando na neve que começava a cair, ao mesmo tempo em que vendedores explicavam o processo de replantio.

Se qualquer pessoa dissesse a Severo que ele estaria comprando uma árvore natural para colocar no seu chalé na França ao lado de ninguém menos que Hermione Granger, ele a mandaria se internar. Ou talvez ele internasse o seu eu do futuro. Mas ali estava ele, e Severo não trocaria aquele momento por nada.

Ele a seguiu, se sentindo um pouco fora de lugar, enquanto ela avaliava cada pinheiro com seu olhar atento. Severo nunca tinha feito isso antes, e nunca imaginou que pudesse fazer. Mas quando a mão dela escorregou na dele, quente no frio, macio e suave no áspero e calejado, ele se sentiu tão em casa como jamais esteve. Era só... certo.

E enquanto ela olhava e descartava uma a uma, Severo se pegou completamente estático, olhando boquiaberto para aquela mulher (aquela mulher deslumbrante, amável, gentil) que o convenceu a sair no frio para procurar uma árvore que deixará vestígios por toda a sala e fará a sua casa cheirar a floresta por dias.

Mas o que mais o chocou era o fato dele pensar ‘que se dane’, e de bom grado a seguir enquanto ela decidia que nenhuma era bonita o suficiente. E ele a seguiria até onde ela o quisesse.

— O que acha dessa aqui? – eles finalmente pararam na frente de uma árvore que se estendia por três metros acima, de um verde escuro tão bonito que Severo fora imediatamente transportado para o salão da sonserina em Hogwarts. E mais do que isso, ele ficou espantado que a lembrança em si não foi ruim, mas o preencheu por um inédito sentimento de saudosismo pelos raros momentos de paz que ele tivera no passado.

Ele se forçou a dizer alguma coisa, embora ainda fosse muito difícil se concentrar quando suas mãos estavam entrelaçadas como se eles fossem... Não. Ele não iria pensar sobre isso. – É adequada. Sim, vai servir.

Sua risada mais uma vez ecoou entre eles, trazendo todo o tipo de sensações para o seu corpo a muito adormecido. Ele sentiu os lábios gelados pelo frio na sua bochecha, e resistiu ao impulso de tocar a pele que formigava pela sensação do beijo. Ela continuou tagarelando sem parar sobre decorações e enfeites natalinos, mas ele honestamente não conseguia se concentrar. Severo só conseguia pensar no quanto amava a voz dela, e a sensação de sua mão pequena dentro da dele.

Com um pouco de ajuda discreta da magia eles colocaram a árvore em cima da velha picape e voltaram para o chalé quando passava um pouco da hora do almoço. Ele a deixou na sala parecendo uma criança animada com uma enorme árvore que, sim, se encaixava perfeitamente na sala, e uma caixa misteriosa que ela fez questão de manter escondida dele.

E enquanto preparava um almoço simples: croque monsieur acompanhando de vinho branco, e adiantava a sobremesa de Natal, com a canção da Joni Mitchell chegando em ondas suaves da sala e o cantarolar doce da voz melodiosa de bruxa que capturara o seu coração, que ele se perguntou como, por Merlin, havia ficado tanto tempo sem ela.

...

A árvore era deslumbrante. Hermione, claro, estava certa: as luzes natalinas davam uma sensação de paz e aconchego ao ambiente, e como ela fizera tudo aquilo nos cinquenta minutos em que ele estivera na cozinha o escapava.

— Como... – ele tentou perguntar, mas sabia que era inútil. Aquela mulher incrível na frente dele poderia fazer o quisesse.

— Magia. – ela sorriu brilhantemente, dando de ombros. – Se você não gostar eu posso tirar. Na verdade, nem sei porque insisti tanto nisso. Só achei que ficaria bom e- Mas se você não quiser, ou não gostar, nós tiramos. Mesmo, eu não-

Enquanto ela estava lá, balbuciando coisas sem sentido, ele percebeu uma coisa extraordinária. E assustadora. Ela estava, talvez, igual ou até mais nervosa com todas aquelas mudanças do que ele. Hermione parecia ainda mais ansiosa em sua vontade de agradá-lo, e então ele lembrou do quanto ela sofrera buscando incessantemente a aprovação dos outros e a culpa disso, dessa insegurança, era em boa parte dele mesmo.

Então Severo fez a única coisa que conseguira pensar. Ele a beijou. Completa e profundamente. Tanto que em algum ponto ele a tirou do chão, sentindo as pernas dela cruzarem nas suas costas enquanto se entregavam a um novo tipo de beijo. Não era frenético como o primeiro, e nem tão lento como os carinhos da manhã. Era algo entre um e outro, ardendo de paixão e mais alguma coisa, que ele tinha tanto medo de nomear agora que parecia real que Severo decidiu que o melhor era aproveitar essas novas descobertas com calma, desnudando e aproveitando cada nova sensação com toda a reverência que Hermione merecia.

Estou me apaixonando por você.

Severo a soltou lentamente, deixando o corpo dela deslizar pelo seu até que os seus pés alcançassem o chão. – Você, como sempre, estava certa. Ficou excelente, minha pequena feiticeira.

Ela sorriu, e de alguma forma parecia brilhar mais que a árvore de Natal. – Diga isso de novo.

— Pequena feiticeira. – ele repetiu, beijando a sua testa.

— Não, a outra palavra. – Hermione insistiu, escondendo o rosto na curvatura do seu pescoço.

Severo fechou os olhos, agradecendo à Merlin por ela não poder ver a expressão em seu rosto quando ele repetiu a palavra que ela tanto queria ouvir. – Minha. Minha pequena feiticeira.

Severo descansou o queixo na cabeça dela, sentindo o perfume suave do seu cabelo, enquanto olhava para a árvore enfeitada na frente da janela. Ele não fazia ideia de como ela havia conseguido aqueles enfeites, porque mesmo com a magia não seria tão fácil. Mas, no final, Hermione era uma bruxa talentosa para além das obviedades, e ele ficava ansioso para descobrir quais novas surpresas ela guardava para si.

As luzes eram de um amarelo morno, preguiçoso, e seguiam em fios finos e dourados que se misturavam com os galhos verdes. Nas pontas, enfeites de madeira foram pendurados e pareciam delicados e bem feitos. Tinham minúsculas renas, pequenos trens vermelhos, alguns trenós verdes, quebra-nozes com os seus chapéus engraçados, estrelas, sinos, bolas e até... Não poderia ser, ele sorriu, se aproximando para ver melhor. – Bruxa, como você conseguiu esses enfeites?

Hermione mordeu o lábio, divertida, mas se recusou a falar. – Tenho as minhas maneiras.

No meio dos vários enfeites que eram comuns tanto para os bruxos quanto para os trouxas, haviam várias referências mágicas: corujas, chaves voadoras, algumas fênix, pomos de ouro e alguns frascos de poções em miniatura. Severo ficou tocado com o gesto, e percebeu que poderia ficar horas deitado debaixo daquela árvore, como se fosse a criança que ele nunca pudera ser.

E quando ele olhou para a base da árvore algo chamou a sua atenção: dois presentes, um embrulhado no que parecia uma folha de seda verde musgo de muita qualidade, e o outro em uma sacola preta que ele reconheceu vagamente, embora não pudesse lembrar de onde. Severo olhou para ela com a sobrancelha arqueada, em dúvida. – Hermione?

— São para você.

— Você não-

— Independente do que acontecesse ontem, eu queria presenteá-lo. Comprei há algum tempo, na verdade.

— Eu-

Severo ficou sem palavras. E não pela primeira vez em menos de 24 horas. O que essa mulher fazia com ele? Na sua total inaptidão ele a viu se abaixar para pegar um dos embrulhos e entregá-lo. Parecia pesado, e ele ficou ainda mais curioso.

— Feliz Natal, Severo.

Ele finalmente olhou para a sacola preta e elegante em suas mãos, abrindo-a com cuidado. Dentro, havia uma caixa de couro marrom com uma etiqueta mágica. Severo estava fazendo o possível para que os seus dedos parassem de tremer, porque ele não suportaria a vergonha de parecer tão patético para ela. A última vez que ele recebera um presente – desconsiderando as meias e doces que o Dumbledore insistia em deixar nos seus aposentos – fora de Lílian, e ele era apenas uma criança. Tantos anos... E agora, ele mal sabia como reagir. Qual era a etiqueta correta para isso?

O que ele poderia dizer? Ela havia comprado um presente para ele! Severo queria gritar como uma criança animada. E quando ele abriu... – O caldeirão de titânio.

Sua expressão estava envergonhada quando ela disse: - Fiquei muito mortificada por ter estragado o seu. Você confiou em mim, e me distraí. Sinto muito.

— Hermione, deve ter custado uma fortuna.

— Não importa. Eu estraguei e deveria repor.

Severo negou com a cabeça, insistindo. – Não fiquei furioso pelo caldeirão. Fiquei furioso porque você se feriu e eu não poderia... não poderia suportar isso.

— Você cuidou de mim aquele dia, Severo. Me carregou, me alimentou, medicou. Pedir demissão foi uma das coisas mais difíceis que tive que fazer nos últimos anos.

A mente dele imediatamente voltou para aquela tarde terrível. Ele ficou com tanto medo que algo acontecesse a ela que simplesmente se jogou para protegê-la, sem nenhum segundo pensamento. E depois, para a maneira como ele a carregara, sentindo como o corpo dela se encaixava no seu. 

— Mesmo assim, não precisava.

— Por favor, aceite. É um presente, não é só uma reparação. Além do mais – ela sorriu – que tipo de mestre de poções rejeita um presente como esse?

Severo riu suavemente. – Você está certa, é claro. E esse foi um argumento muito sonserino.

Ela deu de ombros. – Convivência. E acredite, estou falando da Gina e não de você.

Suas sobrancelhas se ergueram. – Agora me senti ultrajado.

— Não se preocupe, você ainda é meu sonserino favorito.

Ele bufou, guardando o caldeirão cuidadosamente de volta na caixa enquanto o seu olhar caía sobre o outro embrulho.

— O outro também é seu. – Hermione indicou o outro embrulho, dando um olhar encorajador. Ele queria dizer que não precisava e todas as coisas equivalentes, mas a verdade é que ele estava muito empolgado para fingir. – Não sei se vai gostar. E se não gostar, bem... eu posso fazer outro, claro. Eu não sabia se você gostava, mas queria dar algo que pudesse usar e, bem-

Severo ficou espantado com o quão nervosa ela parecia. Hermione temia que ele não gostasse? Ele teve vontade de rir com o absurdo disso, mas apenas a silenciou com um beijo. – Encontrei uma ótima maneira de silenciar você.

Hermione bateu no peito dele de leve, sorrindo. – Muito engraçado. Agora vá! Abra! Estou mais ansiosa que você.

Severo achava difícil. A diferença era que ele sabia esconder melhor. Anos de prática e uma natureza um tanto quanto reservada. Enquanto ela praticamente transbordava seus sentimentos para fora.

Ele se abaixou novamente para pegar o embrulho e sentiu que era leve e macio. O papel deslizava por entre os dedos, e o bruxo taciturno ficou emocionado em perceber que o embrulho parecia ter sido feito em casa, e só então o ocorreu que ela dissera eu posso fazer outro. Fazer outro?

Sua curiosidade o venceu e ele abriu rapidamente, tomando o cuidado de não rasgar o papel. Era o seu primeiro presente em anos, e ele não estragaria nada. Hermione pareceu achar aquilo estranhamente cativante, mas não comentou.

Ele deixou a fita e o papel no braço do sofá e estendeu o cachecol. Era tão macio... De um verde tão elegante e bonito que ele queria imediatamente colocar, mas ao contrário disso Severo ficou parado em choque.

— Se você não gostar posso pensar em outra coisa. Ou fazer em uma cor diferente. Você costumava usar um preto em Hogwarts, e aqui sempre tem um vento frio vindo do mar. Pode ajudar com... Bem.

As cicatrizes. Severo completou por ela em pensamento. Foi a primeira vez que eles tocaram no assunto daquela noite em que Nagini quase o matou, e apesar de saber que não era o momento para se aprofundarem neste tema delicado, ele sabia que era só uma questão de tempo.

E as feridas o incomodavam às vezes. Ele nunca conseguiu curar totalmente, e costumava disfarçar com um glamour para não levantar perguntar desnecessárias. E o presente dela era tão atencioso...

— Você odeia isso?

Severo finalmente olhou para ela, e sussurrou, balançando a cabeça. – Eu adoro isso.

— Oh, bem... – ele notou pelo canto dos olhos que ela exalou um suspiro aliviado, embora ainda estivesse claramente envergonhada. Era possível que o seu coração inchasse mais no seu peito?

— Também tenho algo para você. – sua língua escorregou antes que pudesse parar. Ele de fato tinha um presente para ela, só não sabia que seria capaz de presenteá-la tão cedo.

— Severo, não precisava. Não esperava nada em-

Severo saiu da sala sem dizer uma única palavra, e com o cachecol em uma das mãos subiu os degraus em direção ao quarto com uma resolução imbatível. Ela o acharia presunçoso? Pensaria que ele estava tentando se intrometer na sua vida? Tantas perguntas o dominavam de medo, mas Hermione fora tão corajosa que tudo que ele podia fazer era ser igualmente corajoso em mostrar o seu coração na mesma intensidade que ela mostrava o dela.

Ele puxou a última gaveta da cômoda e tirou um envelope que estava guardado embaixo das roupas. Com o coração batendo rápido ele voltou para a sala e o entregou, mal conseguindo encará-la.

— O que é isso? – Hermione perguntou antes de abrir.

Severo suspirou, sentando no braço do sofá. O cachecol nunca deixando as suas mãos. – Espero que não me acha presunçoso, Hermione. Muito menos intrometido. Mas quando você mencionou o curso de medribruxaria eu, bem- Severo hesitou, indicando o envelope, e Hermione abriu.

Ele ficou ansioso enquanto via as emoções passando pelo rosto dela. E se ela odiasse? Severo queria pegar o envelope de volta. Foi um presente tolo e ela-

— Severo-

— Se eu estiver sendo intrometido, por favor, apenas esqueça. Não quis forçá-la a nada, é só que... Quando a vi fazendo aquele parto, Hermione, você foi magnifica. Você deve voltar a estudar, é o que você ama.

— Mas, e a Botica?

— Eu já pensei em tudo. As aulas só recomeçam em setembro, até lá você só vai fazer algumas aulas para compensar a diferença de carga horária. Marselha está apenas a quarenta minutos daqui, e você pode tranquilamente tirar um dia da semana para viajar. – no minuto em que as palavras saíram da sua boca Severo quis colocá-las de volta. E se ela nem estivesse se planejando ficar tanto tempo?

— E como você conseguiu isso?

— Os processos bruxos são diferentes dos trouxas, Hermione. Basta uma boa recomendação de um Mestre de Poções e de uma Medribruxa-chefe e eles consideram como inscrição. Mas agora é com você, claro. Você entra em contato e sua prova é marcada. Se tudo der certo, até o final do ano você está matriculada para terminar o curso que começou na Austrália.

— Quem me indicou como medibruxa?

Severo sorriu. – A Madame Pomfrey, claro. Ela disse, e cito, que seria um grande prazer, e que nada a faria mais feliz do que vê-la formada.

Hermione o olhou por vários segundos, atordoada, e Severo começou a entrar em pânico. Parabéns, Snape, em menos de 24 horas e você conseguiu estragar tudo.— Diga alguma coisa, bruxa, ou eu ficarei louco.

Ele finalmente sussurrou, tentando se preparar para o momento em que ela terminaria tudo que mal começara entre eles, quando ela pulou no seu colo, abraçando-o e beijando-o. Severo, claramente desacostumado com tamanha demonstração de afeto, ficou imóvel enquanto ela distribuía beijos doces pelo seu rosto: testa, nariz, bochechas, boca. – Então você gostou?

— Severo, é o melhor presente de Natal que eu já recebi. Eu nem sei o que dizer, estou atordoada e animada. Ansiosa. Assustada. Tudo! – ela segurou o rosto dele nas mãos, fazendo-o questão de olhá-lo bem no fundo dos olhos enquanto se posicionava entre as pernas dele que se esticavam para além do sofá. Severo soltou o ar que mal tinha percebido que estava segurando, e sentiu mais alguns pedaços do seu coração sendo restaurados de volta ao sentir o carinho dela.

— Você foi a melhor aluna que Hogwarts já viu, e agora vai ser a melhor medibruxa.

— Obrigada. – ela sussurrou, encostando a testa na dele – Não tem nada que eu queira mais do que ficar aqui, com você.

Severo sentiu a respiração dela nos seus lábios. Eles estavam tão perto que pareciam um só, dois seres que se procuraram por toda a vida e agora que se encontraram não poderiam suportar ficar distantes. Severo queria sentir mais dela, queria deitá-la no tapete persa e amá-la, vê-la se contorcer de prazer, ouvir os seus gemidos, sentir o seu gosto.

Mas ainda não era o momento. Ele queria amá-la por um dia e uma noite inteiros, de todas as maneiras e em todos os lugares do chalé.

— Eu tenho que ir. – ela sussurrou, e Severo não se arrependeu de sentir uma pontada de felicidade quando percebeu que ela parecia lamentar sua partida profundamente.

— Que horas é a chave de portal?

— Às 18h.

Severo assentiu, nunca deixando de tocá-la. - Vou deixá-la na pousada depois que comermos.

Hermione sorriu. – A Sra. Janet vai ter muito o que comentar na vila nos próximos dias, você sabe.

Ele bufou. – Mulher fofoqueira.

Ele queria pedir que ela não fosse. Que passasse a véspera do Natal com ele. Mas não seria justo, claro. Ele estava sendo bobo, e sabia disso, mas um medo profundo tomou conta dele porque ela voltaria para a Inglaterra pela primeira vez em muitos meses, e ele pensou que talvez...

— Volto amanhã no fim da tarde. – ela disse simplesmente, parecendo captar os seus medos. E foi então que Severo percebeu que estava com a cabeça tão envolvida nas próprias inseguranças que não considerou as dela, nem a pergunta implícita na sua frase.

Severo assentiu, tentando acalmar o próprio coração enquanto beijava a testa dela com carinho. E então a respondeu da única maneira que poderia. – Vou preparar o jantar.

E o sorriso que ela deu, tão brilhante, é o melhor presente de Natal que ele poderia pedir.

...


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Notas finais do capítulo

Imagem retirada do pinterest: https://i.pinimg.com/564x/e1/4d/a4/e14da4a1e8bacd710080d446d87c4613.jpg

Música: https://www.youtube.com/watch?v=F8MqF7xEGhs



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