A New Order escrita por TiiaMeddy


Capítulo 22
Admissão Para a Classe Combatente: Parte 02




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O primeiro dia se encerrou tão rapidamente como começou, embora para os participantes tenha durado uma eternidade. O primeiro a retornar com sua esfera de alma foi Akira por motivos óbvios, seu alvo estava nos arredores da escola. Estava ainda nas mãos de uma das irmãs Mizune, percebendo apenas ao chegar e entregar a esfera para Angela. Desculpou-se com a família de bruxas logo depois de “devolver” o corpo emprestado. Pouco depois os outros alunos foram chegando, lentamente, até Akira ver seu irmão. Erwin parecia um pouco envergonhado e não queria falar sobre o resultado de seu combate, mas por acabar sendo um sucesso, a youtou não se incomodou com isso.

Próximo do fim da tarde, Ártemis e Tsuki chegam na escola, a arma com o peito estufado e a artesã incomodada com tanta atenção com as orelhas mexendo pela vergonha, acompanhadas por Mifune. Ao ver a morena a entregar a “alma” forte de Mifune, Angela estava surpresa, as parabenizando e repetindo o que Mifune as havia dito, confirmando sua imediata entrada à EAT de frente para os demais aprovados pela primeira fase. Ao ouvir aquelas palavras, um BlackStar que apenas estava de passagem em um corredor próximo quase atropela filha e bruxa, quase sufocando-as em um abraço de quebrar ossos e logo após acompanhando-as até os irmãos, também cumprimentando os amigos de longa data Mifune e Angela, praticamente parte da família.

Mas à medida que o céu escurecia, não viam sinal de Erin. O céu quase se tingia de negro naquela tarde de sábado, faltando poucos minutos para o fim do prazo, e milagrosamente a garota disparava em direção à bruxa camaleão, entregando a “alma” de bruxa pertencente a Free ainda dentro do saquinho, recuperando o ar por ter corrido por um terço de Death City além da escadaria. Aparentemente até a bateria de carro que Oliver chamava de parceira possuía um limite. Mas conhecendo-a, aquilo seria um limite temporário. Após Angela anunciar o fim do primeiro dia, Oliver a questiona sobre mais cedo, que a esfera havia brilhado em suas mãos quando a recebera de Free, ela a dizendo que questionaria a Mabaa-sama sobre isso e lhe daria uma resposta em breve.

Com isso, estavam liberados, Erwin levando a albina até sua casa enquanto o grupo saía do território da Shibusen. Porém, mais distantes, podia-se ver um grupo de alunos veteranos os encarando curiosos, tendo a certeza de que seriam interessantes. Um deles, que apenas podia-se ver seus olhos escarlates e parte dos cabelos verde-acinzentados, vira-se para a parceira para também voltarem para casa, mas já não a via, a baixinha de curtos cabelos ruivos já estava próxima a Akira e chamando por ele.

 

—Hey! – Akira vira-se, encontrando a garota com sardas com as mãos na cintura, encarando-o motivada como se facilmente pudesse nocauteá-lo. – Você é o garoto que derrotou cinco bruxas ao mesmo tempo e sozinho, não?

—Bem, não foi bem isso. – Ele ri, seus irmãos ou o restante dos companheiros não reparando que ele havia ficado pra trás. – Eu apenas tive sorte de achar a Mizune certa, já que não tenho um parceiro.

—E ainda sozinho!? Impressionante, realmente você merece ser um EAT. – Ela parecia ter ignorado a parte mais importante da conversa, mas Akira não ligava. – Então lute comigo! Se eu vencer, você vira meu namorado!

 

Naquele exato segundo Akira sentiu que ela seria a mulher que apresentaria para os pais como sua futura noiva.

E minutos depois ele realmente o fez. Na ida, descobrindo que a garota se chamava Tamura, percebeu também que tinham mais coisa em comum do que esperavam, e felizmente foi bem aceita pela família, apenas Tsubaki e Erwin chocados com a velocidade daquele relacionamento. Bem, contanto que Akira esteja feliz, apoiariam ele sempre que possível.


******

 

—Então, o número de aprovados pela primeira fase foi menos da metade do de inscritos...

—Foi muito cedo. Alguns deles estão na Shibusen a menos de seis meses.

—Em compensação, outros estão quase se formando. Talvez simplesmente não possuam o talento para a classe EAT.

—Mas sobre os aprovados... o que acham deles?

—Tsuki e Ártemis foram realmente surpreendentes em me pegar desprevenido, definitivamente merecem sua aprovação. Quero vê-las se desenvolver mais e mais no futuro.

—Erwin estava um tanto perdido, mas soube contornar bem a situação com a ajuda de seus parceiros. É esse tipo de flexibilidade em momentos difíceis que precisamos na EAT, então espero que ele passe pela segunda fase.

—Akira precisa ser aprovado, sem mais nem menos. Seguiu perfeitamente os ensinamentos de um assassino passados de Sid para BlackStar e em seguida para ele, e conseguiu vencer pacificamente sem derramar uma gota de sangue ou suor. Além de também ser a youtou, uma arma como essa precisa estar sempre de olho, mais ainda por ele não possuir um artesão.

—Concordo plenamente. É capaz desse garoto superar até mesmo Justin no futuro.

—E com relação a... garota problema...?

 

Um breve silêncio se instala naquela sala.

 

—A pirralha... – Todos voltam a atenção para Free, o único que a vira lutar com toda a força entre os presentes. – Parece uma bomba prestes a explodir e aparenta ser potencialmente perigosa. Também senti um arrepio estranho quando a enfrentei, como se pudesse perder minha vida a qualquer segundo. E isso é impossível, como sabem. Ela deve ter sido treinada arduamente, e provavelmente almeja a EAT mais que qualquer outro aluno. Ela não vai desistir se não passar.

—Você apenas disse pontos negativos até agora, Free.

—Mas... ela também é naturalmente talentosa. Em apenas dois anos, não, alguns meses, visto que sua arma apenas conseguiu se transformar por inteiro recentemente, ela conseguiu chegar mais próximo de uma ressonância que qualquer outro aluno.

—Está sugerindo que devemos aprová-la?

—Estou afirmando que devemos permitir que ela continue tendo essa chance. Ela vai passar da segunda fase, tenho certeza. Apostaria o meu olho mágico nisso.

—Mas e então, Kid? O que fará sobre a fase dois? – O shinigami permanece calado por longos minutos, aumentando a tensão daquela sala. Ele então suspira, continuando.

—Se conseguiram derrotar um EAT, estão prontos para um teste real. Distribuam as missões de uma estrela entre os aprovados.


******

 

No dia seguinte, aqueles que tiveram sucesso em entregar suas esferas de alma aguardavam em uma das salas da Shibusen. Um número bastante reduzido em comparação com o começo, mas ainda assim bastante, não havendo espaço para todos sentarem. De longe, parecia um mar de cabeças, e mesmo Tsuki e Ártemis estavam entre eles. Aparentemente, precisavam falar com elas após a luta contra Mifune. Isso atraia olhares dos demais alunos que aguardavam instruções, ainda deixando a bruxa incomodada com tanta atenção. Por mais que Tsuki e os demais Star naquela sala tentassem fazê-los parar, era como se fosse uma tarefa inútil. Afinal, o único que conseguira fazer aquele homem cair foi o pai daquela que era sua parceira.

Tentando ajudar a dupla, Erin sem mais nem menos soca uma dessas pessoas que insistiam em atrair atenção desnecessária para a bruxa coelho, chamando outros para mais. Oliver questionava os métodos usados pela garota, mas definitivamente funcionavam. Com a confusão formada, não demorara para a porta abrir, fazendo os presentes magicamente pararem o que estavam fazendo e se fingirem de santos, como sua sala depois que a professora voltava. Dela entraram pai e filha, a loira de cabelos soltos e o ruivo antes conhecido como deathscythe mais poderosa. Spirit estava plenamente feliz de apresentar o segundo dia de testes, e Maka ao seu lado o deixou de mais bom humor ainda.

 

—Antes do pap... digo, Deathscythe-san iniciar, gostaria de chamar alguns de vocês para me acompanhar até o Shinigami-sama.

 

A loira chama alguns poucos nomes pedindo para se dirigirem ao lado de fora da sala, incluso os nomes de Akira, Tsuki e Ártemis. O simples fato de Maka os dizer que os levariam ao Shinigami já os enchia de nervosismo, e logo sai da sala pouco depois do último passar, deixando os demais curiosos e entre cochichos. Limpando a garganta, Spirit continua, esperando que os outros prestassem atenção em suas instruções.

 

—Bem, bem... antes de tudo, meus parabéns aos que conseguiram passar. Mais ainda aos que conseguiram derrotar bruxas experientes. Sobre a segunda fase para a admissão à classe EAT, antes de começar, se acharem que ainda não estão prontos então desistam e saiam da sala. Sempre haverá outras oportunidades. – Spirit vai até a porta e a abre, a tia das missões adentrando-a enquanto empurrava um carrinho cheio de papéis. – O Shinigami-sama modificou o teste. De acordo com a alma que coletaram na fase um, vocês enfrentarão um perigo real desta vez: receberão sua primeira aula externa de uma estrela. – Cochichos novamente se instalaram na sala, alguns ansiosos, outros apreensivos. – Novamente, sintam-se livres para desistir. Aos que conseguiram uma alma humana, ou seja, uma esfera azul, poderão ter o acompanhamento de uma dupla EAT experiente de sua escolha. Os que enfrentaram bruxas irão sozinhos. E sim, ao conseguirem a alma, suas armas podem absorvê-la. Ao contrário de um “certo caso” a parte, dessa vez são missões oficiais aprovadas tanto pela tia que está aqui conosco como pelo próprio Shinigami-sama. – Erin sente a “direta” de Spirit, rindo sem graça.

 

Ao que parecia, cada aluno possuía uma missão específica, provavelmente escolhida por aquele que enfrentou na fase um. Era compreensível, seus adversários conheceram bem sua força, então sabiam o quanto cada um poderia enfrentar. Pelos comentários paralelos, as missões dos que enfrentaram “humanos” eram bem mais difíceis já que poderiam levar uma companhia, porém boa parte dos novatos mal conhecia um aluno da EAT, estando perdidos entre as fichas que a tia também levava no carrinho.

Erin logo é chamada, visto que seguiam a ordem de chamada dos artesãos. Sua missão parecia mais simples que o normal, ao menos lendo por cima seu conteúdo. Porém, por ter sido Free a escolher a tarefa de ambos, sabiam que poderia haver algo por trás. Um esconderijo da ReBirth havia sido destruído pela Shibusen, porém ainda haviam suspeitas de cobaias perigosas presentes. Precisavam investiga-lo e, se encontrarem algo que julgassem perigoso, coletar sua alma ou destruir. A cidade: Beelitz, na Alemanha. Oliver estava feliz, voltaria pra “casa” depois de tanto tempo, embora fosse um tanto distante de Rothenburg. Bem, teriam tempo para isso, e como conseguiram uma alma de bruxa ao enfrentarem Free, logo se retiraram para partir diretamente para o local da missão. De longe, Spirit os via deixar a sala, encarando a garota sorridente. Agora entendia porque sua filha estava preocupada sobre ela.

Quando chegara a vez de Erwin logo depois da garota, ele nem ao menos leu a missão para pensar em um parceiro adequado para o que enfrentaria, revirou os papéis em busca de um bastante específico: Masamune Star e Mason Evans. Se não fosse com seu irmão, Masamune provavelmente choraria por dias e ficaria chateado com ele o resto do mês. Era um irmão extremamente coruja, e parabenizou bastante não apenas ele mas também os gêmeos na noite anterior, parecia até mesmo final de Copa. Na verdade, parabenizou Akira em dobro, pela nova namorada. Ao encontrá-lo em meio a tantas parcerias­, teve sorte de ninguém ainda o ter escolhido, mostrando sua ficha a Spirit e o ruivo acenando como se entendesse o que ele estava pensando. Afinal, a foice em sua frente também era extremamente coruja em relação a sua filha e seus netos.

Com aula externa entregue e parceiro escolhido, o loiro segue para procurar seu irmão. Mas como o nome dele estava na lista, deveria estar em uma sala próxima. Indo na direção da saída e entrando na primeira que encontrara, lá estavam alguns alunos da EAT, seu irmão incluso. E Hito, também presente, logo o cumprimentou. Entregando a ele a ficha de Masamune, ele sorri, chamando pela dupla em questão e ambos comemorando com um high five, saindo ao lado do loiro e seus parceiros. Os agora cinco se dirigiram à sala indicada no folheto que apenas agora liam, mostrando sua missão:

“Turistas avistam suposto “fantasma” em hotel indonésio abandonado. Investigar o “Pl Bedugul Taman Rekreasi Hotel and Resort” (ou “Ghost Palace Hotel”) em busca de ovos de kishin ou bruxas que possam ser a causa desses avistamentos. Seguranças locais guardando o edifício o guiarão até a entrada e impedirão a entrada de turistas durante a missão até assegurar que é seguro. Para se dirigir ao local da missão, vá até a sala de Mabaa-sama para serem teleportados.”

O grupo ainda da NOT estava um pouco receoso, dois deles nunca nem pensaram que acabariam podendo ser teleportados para outro país, quanto mais um do outro lado do mundo. Erwin naquele ponto depois de conviver por anos com membros próximos da Shibusen duvidava que existisse alguma coisa que poderia ser o exato significado da palavra “impossível”, apenas se deixando levar. Embora a missão em si o preocupasse.

Voltando para a sala onde os alunos NOT aguardavam por suas missões, uma dupla acabava de chegar no local, um tanto atrasada, e atraindo olhares não apenas por esse feito. LianYu foi a primeira artesã a se juntar à Shibusen na fase um, e a segunda a entregar sua alma, com o primeiro sendo Akira. Com a graça de uma dama e sem sequer ter um único fio de cabelo fora do lugar, sendo seguida de perto pela ruiva a que chamava de parceira, perguntavam-se que tipo de monstro seria aquela mulher de uma aura tão doce. Em especial pela sua parceira, uma arma de fogo que frequentemente era usada por gangsters a anos atrás. Não Erika, claro, mas sim o tipo de arma que tinha em seus genes.

Ao ouvir Spirit chamar seu nome, a morena se levanta e caminha como se flutuasse para pegar sua missão, e mesmo tendo enfrentado Kilik Rung, um membro poderoso da Spartoi e artesão (portanto uma alma azul), não desejou ter acompanhantes em sua tarefa da segunda fase. Tratava-se de uma missão no Djibuti, um país no nordeste africano, que passava por problemas bastante específicos. O lago salgado Assal parecia ter virado um ninho de ovos de kishin, estes sequestrando aqueles que se aproximavam para coletar o sal do local. Suspeitava-se de serem kishins artificiais criados pela ReBirth para a coleta de novas cobaias visto que a expectativa de vida do país era bastante baixa e sua população era em maior parte de jovens, e por isso precisavam de ajuda urgente. Era bastante doce da parte de Kilik nomeá-la para essa missão, e agradecendo ao deathscythe, se retirou da sala ao lado de sua parceira, dirigindo-se até a saída.


******

 

Ambas artesã e arma já estavam na região de Tadjourah, dez minutos depois de conseguirem sua missão. De fato, a magia de Mabaa-sama era impressionante, e após serem recepcionadas pelos membros da Shibusen locais, foram guiadas até as proximidades do lago Assal. Como o local da missão é alvo de diversos conflitos internos do país, a Shibusen focava-se na proteção dos civis, findando por não conseguirem artesãos o suficiente para analisar precisamente a situação do lago, pedindo por ajuda da “central”. O que eles não esperavam era que o Shinigami-sama enviasse uma dupla da classe NOT ainda em transição para a classe EAT. Mas já dizia o ditado, “quem não tem cão, caça com gato”. Só esperava que a jovem que aparentava ser tão delicada sobrevivesse a tudo aquilo.

Já bem próxima do local, o homem que as acompanhava as permitiu irem sozinhas, ambas artesã e arma aproximando-se com cuidado até poderem ver o lago rodeado de pedras de sal. Cerca de oito ovos de kishin estavam nas proximidades, parecendo lobisomens magros e compridos, porém mais semelhantes a hienas que lobos em si. Uns deles estavam mais adentro da água que outros, alguns civis amarrados e presos no que parecia ser uma jaula mágica feita de terra com cerca de doze pessoas. Era aberta no topo, porém parecia responder aos ovos de kishin presentes, como se de alguma forma a proximidade de outra pessoa fosse desencadear um “mecanismo de emergência”. Felizmente, sem sinais de bruxas.

Obviamente ambas estavam nervosas, era a primeira vez que enfrentariam um perigo real e com risco de morte, mais ainda em uma quantidade tão grande e com civis. Erika aproxima-se mais de sua parceira, LianYu segurando a mão da ruiva para lhe passar conforto, acompanhado do sorriso angelical que ela tanto amava. Porém o sussurro da artesã chinesa a surpreendeu, não esperando aquilo nem em seus mais distantes pensamentos fantasiosos.

 

—Soul Protect... dispell...

 

A alma de sua amada se expande, expondo sua real força que pode ser sentida até mesmo por aqueles sem a capacidade de ver almas, chamando a atenção dos oito seres mais afastados. Aquela alma assustadoramente poderosa de uma bruxa somado ao perigo de suas vidas estarem em jogo e o sorriso convidativo de LianYu... este simples momento foi eternizado na mente de Erika, entregando sua mão e sua vida para sua parceira, assumindo a forma de sub metralhadora. Com isso, a artesã chinesa dispara na direção de seus alvos, estes igualmente indo em sua direção desejando sua alma.

Diversas borboletas começam então a sair da artesã de longos cabelos escuros, disparando como balas na direção das “hienas” monstro, ainda não tendo disparado as balas literais de sua parceira. Pouco a pouco aqueles seres começavam a agonizar de dor, Erika não percebendo a princípio pela distância. Mas ao se aproximarem, no segundo em que LianYu a posicionou na nuca de um dos seres, reparou em um generoso pedaço de carne pendurado no que parecia ser a boca do animal mágico. E antes que percebesse, ela havia puxado o gatilho, explodindo a cabeça dele em questão de segundos e o fazendo resumir-se à sua alma avermelhada.

Em meio àquela chuva de sangue e borboletas, as poucas balas disparadas por Erika ecoavam no lago silencioso, LianYu parecendo dançar extremamente feliz. Em poucos minutos, mais da metade dos ovos de kishin presentes estavam resumidos a almas escarlates fortemente guardadas pelas borboletas devoradoras de carne. Com isso, os três restantes se tornaram mais cautelosos, observando cuidadosamente os movimentos da artesã portando uma arma de fogo. Porém mesmo assim estavam gravemente feridos. Mesmo se conseguissem derrota-la, o próprio tempo os reduziria a pilhas de carne. Mas não poderiam permitir que ela libertasse aqueles que sua mestra os ordenara guardar até seu retorno.

LianYu já estava cansada, apenas queria voltar pra casa e tomar um bom banho, e como compartilhavam pensamentos, a artesã sentiu sua parceira esquentar, soltando um breve riso. Dando breves tapinhas em sua arma, LianYu desviou de uma hiena furiosa com um pulo, já disparando o suficiente para arrancar uma das patas da criatura. Respirou fundo, as borboletas reunindo-se ao seu redor como se aguardasse seu comando. LianYu novamente riu, apontando a arma na direção dos três restantes, e ao puxar o gatilho para uma nova saraivada de tiros, o redemoinho de insetos mágicos acompanha os disparos de alma, a soma de ambos retalhando-os como um picador de papéis, restando apenas suas almas.

Ao soltar sua parceira, Erika retorna à forma humana, vendo-a recuperar as borboletas carnívoras e agradar uma delas como se a parabenizasse pelo bom trabalho. Erika também desejava aquilo, mas não tinham tempo para aquilo agora. Precisavam coletar as almas e libertar os civis. Uma a uma as oito borboletas restantes traziam para perto de si as almas obtidas por ambos, porém no final apenas oito delas estavam próximas a ambos.

O ovo de kishin restante grita com a força que lhe restava, um rugido alto que assustou até mesmo a dupla presente da Shibusen. O chão começou a tremer, e a jaula de terra se fechou em um cubo. LianYu corre na direção dele, tentando impedi-lo de afundar com suas borboletas, porém de nada adiantava. Erika, após destruir o restante, corre para ajudar sua amada, no automático, mesmo sabendo que de nada adiantaria. Seus tiros nem ao menos rachavam a pedra que os cercava, ouvindo os pobres moradores locais gritar pedindo por ajuda. Não entendiam a língua local, mas tinham a certeza de que se tratava disso. E após longos minutos de tentativas inúteis, o cubo afunda completamente, não restando nenhum rastro dos civis restantes.

A ruiva desaba, sentia que agora perderia sua parceira. Qualquer outra arma poderia ter ajudado mais que balas falsas que nem ao menos causavam dano o suficiente em uma mísera pedra. Estavam tão perto... tão perto de terem uma vida perfeita como alunas da classe EAT... aquilo significava que sua missão havia fracassado? Não se importava, sua vida parecia ter terminado lá. Tentava pensar em qualquer outra coisa, mas a imagem mental da bela bruxa chinesa a deixando não desaparecia de sua mente.

Mas para sua surpresa, sentiu uma gentil mão a consolando, movendo-se gentilmente. Uma outra mão ergue seu rosto, o polegar delicadamente agradando-a, fazendo os olhos acinzentados encararem LianYu, seu cérebro pifando de vez ao sentir os lábios macios dela em sua testa. Estava confusa de vez, e o raciocínio ainda mais lento, sentindo os braços de LianYu a cercarem em um abraço caloroso.

 

—Na próxima conseguiremos, Erika! – Ela sorria, um sorriso gentil que tentava responder a todas as dúvidas da ruiva, isso apenas a deixando com mais dúvidas. – Mas conseguimos as almas, os moradores locais terão paz, então só nos resta acreditar que a Shibusen vá encontrar os civis que foram levados.

—Você... não vai me deixar...?

—Que pergunta idiota. – Ela ri, encostando-a em seu peito e a confortando. – Eu apenas cheguei até aqui por sua causa. E eu não desejaria qualquer outra arma ao meu lado. Por que pensou isso? Me diga um único motivo para isso.

—Eu ter permitido eles escaparem? Ou não ter percebido que aquele último estava vivo? Ou... – A mão da artesã desce verticalmente na cabeça dela, simulando o “shinigami chop” do antecessor de Death the Kid.

—Pare de falar besteiras. Missões fracassam vez ou outra. Vamos ficar mais fortes para isso não acontecer novamente. Juntas.

 

Ela não a deixaria. Não perderia sua parceira incrível por ter nascido como uma arma de fogo com má fama. A confiança de Erika foi restaurada, lançando-se na garota em sua frente. Estava plenamente feliz, esquecendo em questão de segundos tudo o que estava sentindo a pouco tempo. Porém estava confiante demais, e ao sentir os braços da parceira apertando-a, findou por beija-la como a tanto desejava desde o dia em que se conheceram. Mas percebeu tarde demais que havia passado dos limites, afastando-se envergonhada e buscando pelas almas que deveria coletar.

LianYu estava um tanto envergonhada, mas nada mais que o esperado. Apenas se aproximou de sua arma, retribuindo com mais um beijo em seu rosto. Teriam tempo mais tarde, agora o mais importante era retornar com notícias para o Shinigami-sama.


******

 

Ao cruzarem os portões do “Ghost Palace Hotel”, Keith parecia ser o único que estava focado na missão. Erwin estava sendo sufocado pelos abraços de seu irmão mais velho, e Mason, ficando de vela na relação familiar, acompanhou Katherine no que parecia ser uma “viagem turística” para ambos. Sua mente repetia em loop a famosa frase de Scar: “estou cercado de idiotas”. Por sorte veio armado para esta missão, então poderia completa-la sozinho e notificar ao Shinigami que os demais nada fizeram. Assim, ao menos ele seria um EAT.

Mas uma coisa que Keith e Erwin agradeciam é pelo local ser extremamente calmo. Completamente isolado e cercado pela natureza, o silêncio era o soberano daquele local, o único som ouvido sendo o dos animais próximos e o vento movendo as folhas. A espada pensava seriamente em como comprar aquele hotel e lucrar com um hotel assombrado. Ou ao menos em transformá-lo em seu refúgio para passar o resto da vida.

De frente para uma das entradas, o moreno de óculos chama a atenção dos artesãos presentes, Masamune rindo sem jeito e segurando a mão de Mason, o albino assumindo a forma de arma logo em seguida. Erwin, ainda com o par de bainhas improvisadas, põe seus parceiros em ambas para ter mais mobilidade, elas agora em suas costas dando aos irmãos Hamilton uma boa visão do local. Seja lá o que estivesse causando os avistamentos de “fantasmas”, esperavam que fosse apenas um dos muitos morcegos do local. Mas de fato, havia mais algo voando no Ghost Palace, algo que já havia percebido a presença dos membros da Shibusen.

Felizmente, Masamune agora parecia bem mais concentrado que a poucos instantes atrás, como se Mason tivesse apertado um botão ao se transformar em foice que o mantivesse focado em seu objetivo. Sua experiência como EAT fizeram Erwin aprender bastante em tão pouco tempo, isso quando ele não contava suas experiências com aulas externas quando estavam em casa. Estava feliz que sua primeira missão fosse com seu irmão que tanto o apoia.

Então, Kath grita, fazendo o loiro empurrar o irmão a tempo de evitar um forte golpe, ambos caindo e vendo a figura negra em sua frente. Um pequeno ser reptiliano estava de frente a ambos, pouco menor que a Erin, com longas extensões saindo das laterais de seu tronco como asas. Mas aquelas “asas” pareciam estranhas, olhando ao lado da criatura e vendo um grande corte na parede de concreto. De alguma forma, aquilo era terrivelmente afiado.

Erwin então segura suas armas, Masamune levantando-se junto a ele e ambos os Star se pondo em posição de combate. O pequeno lagarto humanoide agora estava sobre as quatro patas, constantes rosnados saindo de si. Com a proximidade de Masamune, que movia-se lentamente em sua direção, ele solta um rugido agudo e ensurdecedor, fazendo dezenas de morcegos voarem em sua direção atrapalhando a visão de ambos, o ataque do lagarto voador fazendo um corte em um dos braços de Masamune. Não desejando ferir os animais inocentes, acabam correndo seguindo o fluxo, indo para uma ampla sala do hotel que nunca sequer recebeu hóspedes onde os morcegos se dispersaram.

Nela, para a surpresa de ambos, podiam-se ver muitos outros. Não conseguiam saber com exatidão a quantidade, mas facilmente passavam de dez, além daquele que logo os alcançou, fazendo ambos abaixarem-se para desviar das asas. Ao contrário daquele que os levara até lá, a grande parte daqueles que estavam presentes na sala pareciam entristecidos, desmotivados, como se precisassem de algo para acabar com sua dor. Aquele que os seguira parecia ser o líder, e em uma voz agora humana em uma língua que desconheciam, parecia ordená-los a atacar. Cerca de outros quatro pareciam motivados a destroçar os membros da Shibusen, porém todos os demais apenas estavam de pé, esperando-os virem até eles.

 

—Akira seria útil agora... – Masamune ri sem graça. – Eles parecem estar relacionados com o local.

—Talvez por que esse lugar foi erguido com dinheiro corrupto. – Keith, nas mãos de Erwin, continua. O grupo estranha o conhecimento da arma, mas ele apenas continua. – Fiz minhas pesquisas antes de vir. Não levou a muita coisa, mas basicamente é isso. Devem ter sido aqueles que trabalharam na construção, mas foram influenciados por bruxas a devorar almas humanas e se tornarem ovos de kishin.

—Por que saberia isso, Keith? – Katherine agora prossegue, ambos os irmãos tendo uma conversa quase tranquila enquanto os artesãos tentavam sobreviver naquela sala que mais parecia um coliseu.

—Tinha pensado em restaurar este hotel, daria um bom lucro. Mas não consegui achar o atual responsável, talvez os seguranças lá fora possam dizer.

—Hey, sei que isso pode nos ajudar, mas por favor deixem a conversa para depois... – Erwin agora, um tanto desconfortável e limpando o sangue que escorria de um pequeno corte em seu rosto. – Foquem em pensar em um plano.

—Lento demais, “muscle boy”. – Keith novamente. – Hey, irmão coruja, acha que consegue atrasar os cinco mais estressados?

—Eu sou um Star, mas não exagere! Mesmo assim, posso tentar. – Masamune sorri, abrindo caminho para Erwin lidar com os restantes.

 

Erwin, agora livre de distrações, concentra-se. Em sua alma, na alma de seus parceiros, de seu irmão e de seu cunhado, dos lagartos “gigantes” ao seu redor... sentia-as como se fosse extensão de seus demais sentidos. Por mais que não conseguisse vê-las. Naquele momento, o trio compartilhou do mesmo pensamento de livrar os pobres ovos de kishin de seu sofrimento, confiando um no outro e sentindo-se mais leves por isso. Sua ressonância estava avançando para se tornar quase perfeita, Erwin sentindo ambas as lâminas em suas mãos se tornarem ainda mais leves, como se possuísse uma espada de isopor em mãos.

Ambas as espadas então emanam um brilho que, mesmo fraco, trazia um calor acolhedor aos mais próximos. Até mesmo Masamune mais distante parecia descrente, tendo finalmente partido um deles em dois, a alma avermelhada flutuando perto de ambos. Então, Erwin dispara, retalhando um a um e os trazendo a tão desejada paz, muitos deles partindo com um sorriso na face enquanto pareciam dizer um “obrigado” em sua língua nativa. Dois... cinco... oito... treze... por fim, todos os quinze estavam descansando, indo na direção de Masamune para lhe servir como apoio. Os mais agressivos revidavam ferozmente, como se ainda estivessem sob controle de alguma magia, porém um a um também caíram, totalizando vinte almas para serem recolhidas.

As armas voltam à forma humana, seus artesãos respondendo um ao outro com um high five, seguido de um gemido de dor pela difícil luta do começo. Missão cumprida, e com a divisão de almas sendo feita, Mason disse que ficaria apenas com quatro delas, como um presente de “bem vindo à EAT” e para seus parceiros terem um mesmo número de almas. Almas absorvidas, retornaram para a saída, ansiando o retorno para casa. E Keith esperando encontrar o responsável pelo tão curioso hotel.


******

 

Chegando à Alemanha, Oliver estava plenamente feliz em ouvir seu idioma nativo mais uma vez. Queria acabar logo essa missão para ir a Rothenburg Ob Der Tauber, queria apresentar sua parceira a seus pais e também devorar quantas schneeballen¹ pudesse. Era estranho que em um refeitório com comidas de todo o mundo não preparassem elas. Mas Beelitz não era de todo ruim. Era uma cidade tranquila e agradável, sem um pouco da loucura e misturas de Death City, e pelo Shinigami-sama como sentia falta da culinária local. Com certeza arrastaria a garota para algum lugar quando acabassem. Era sua motivação para voltar vivo. E provavelmente a dela também.

De frente para o Beelitz-Heilstätten Hospital, ou ao menos do que sobrara dele, foram “recepcionados” por um segurança. Com isso, Oliver se explica para ele, o homem compreendendo e os passando o que sabia sobre o caso em questão. Ele e outros três foram contratados a pouco tempo, após a Shibusen ter desfeito o esconderijo de bruxas. Algumas tiveram suas almas coletadas, outras fugiram, mas todos os guardas ainda ouviam ruídos vindos de dentro. Esperavam que fosse o vento, mas este em questão enviou o pedido de ajuda para a Shibusen.

 

Não se preocupe! Eu e Oliver iremos acabar com isso rapidinho e depois ir para a classe EAT! – Erin o responde, também em alemão, mas Oliver não questionaria isso.

Muito obrigado, senhorita. Tomem cuidado. – Ele os responde, permitindo-os adentrar o hospital abandonado.

 

Como uma resposta automática, Oliver transforma-se em foice ao ver a mão estendida de Erin, ela disparando ruínas adentro ao sentir o cabo de seu parceiro em suas mãos. O terreno acidentado não parecia ser um grande desafio para a garota, aproveitando-se de sua arma longa e usando-a como apoio para pular diversos obstáculos. E logo encontraram a criatura responsável pelos ruídos. Era extremamente alto e esquelético, trajava algo semelhante a roupas médicas esfarrapadas e muito antigas. Seu rosto parecia o de um louva-a-deus, e no lugar dos antebraços estavam longas lâminas semelhantes a uma transformação parcial em arma. Suas roupas estavam manchadas de vermelho, supondo que ele havia matado e devorado qualquer outro ser vivo que estivesse dentro das ruínas.

A garota logo sai de sua posição para ataca-lo, o ovo de kishin fazendo o mesmo. Suas agilidades eram equivalentes, o que fazia dele um adversário mais difícil que Free. Faíscas saiam do encontro de ambas as lâminas, a pouca estatura da garota indo de uma vantagem para um empecilho, as longas pernas da criatura a impedindo de acertá-la decentemente. Erin não podia ver claramente, mas sentia que até mesmo Oliver estava se ferindo com os golpes daquele treco. Isso a fez distrair-se, recebendo um golpe da criatura, causando um ferimento em seu rosto, que ia do centro ao lado esquerdo.

Agora não apenas sua altura era um problema, mas também sua visão estava debilitada: o sangue escorria da sua testa até seus olhos, e como se isso não bastasse, seus óculos foram destruídos com este último ataque. Sua concentração se esvaia a cada desvio dado por ela, aquele louva-a-deus esquisito já acabando com a sua paciência quase infinita. Ao vê-lo aplicar mais um golpe, ela gira o corpo na força do ódio, cravando a lâmina de Oliver na perna de seu adversário, e como era extremamente fina, foi facilmente partida em dois. A garota agora sorria, finalmente descontaria sua raiva, e a partir deste segundo, a memória seletiva de Oliver preferiu não registrar os detalhes, tudo o que lembrava era que minutos depois a alma avermelhada flutuava em uma poça de farrapos e um líquido vermelho.

Com a missão cem por cento completa, Oliver guarda a alma que agora era de ambos em sua mochila, saindo com a garota para cuidar de seus ferimentos e notificarem à Shibusen que ficariam um pouco mais na Alemanha antes de voltarem. Os membros presentes em Berlim, ao ouvirem ao pedido de Oliver, fizeram uma coisa curiosa que o garoto nunca havia visto antes: simplesmente desenharam alguns números em uma janela próxima enquanto cantarolavam uma música no que parecia ser japonês, a imagem do próprio Shinigami-sama refletindo no vidro. A princípio ele estava assustado, mas logo se recompôs, falando pessoalmente com o deus quando o outro membro o havia chamado.

 

—Olá Oliver. Algum problema?

—Nenhum. – Era um pouco estranho falar com uma janela, mas ele fingia ser apenas uma chamada de vídeo comum. – Apenas gostaria de notificar que cumprimos nossa missão. – Kid estava surpreso, vendo o homem mais velho ao lado do moreno acenar positivamente. – Erin se feriu no combate, mas já estão cuidando dela.

—Oh, isso é incrível. Espero que ela se recupere logo. Mas isso poderia ser dito em seu retorno, houve algum imprevisto?

—Não, apenas gostaria de ficar um pouco mais na Alemanha. Estou tão perto de casa, queria passar a noite com meus pais. Algum problema, Shinigami-sama?

—Não, nenhum. Apenas me notifiquem se ocorrer algo. Basta repetir o que ele fez em algum pedaço de vidro ou em um espelho. 42-42-564, lembrem-se desse número, ok?

—Claro. Obrigado, Shinigami-sama. – Oliver sorri, Kid suspirando ao pensar que precisaria falar para Free sobre o resultado da missão. – Ah, nós... já somos EAT? Acho que Erin gostaria de saber.

—Paciência. Os resultados sairão em poucos dias. Até breve, Oliver.

 

Já sentia que a garota o irritaria por horas por receberem uma resposta tão vaga.

Por sorte, após a garota receber alta, ele a encheu de comida, assim comprando seu silêncio.

Ao terminarem, rumaram a Rothenburg, que era consideravelmente distante da capital Berlim. Não pensou que se sentiria tão nostálgico ao pisar naquela cidade novamente, sentindo-se como se não a visse a cinquenta anos. A garota também havia gostado bastante do local, aquelas casinhas ao estilo medieval quase a fizeram se sentir dentro de um RPG, perguntando-se como era quando nevava. Oliver, ao passar em frente a uma padaria, corre para seu interior e pega as prometidas Schneeballen, o máximo que pode, saindo com algumas caixas em sacolas e entregando uma das que carregava nas mãos para Erin. A albina devora em questão de segundos a esfera no tamanho de um punho, feliz em ver seu parceiro tão animado por estar de volta em casa.

Mas então...

Ao finalmente estarem na rua de onde seus pais moravam, a felicidade do garoto foi convertida em desespero ao ver as cinzas do que uma vez foi a casa em que havia crescido, entregando a sacola que carregava para a garota sem nem ao menos pensar, correndo até os destroços. Não conseguia acreditar no que seus olhos viam, mas a verdade o atravessava como uma lâmina em brasa, desabando em lágrimas no que um dia foi sua casa. Erin logo estava ao lado dele, confortando-o naquele momento de dor de seu parceiro. Compreendia seus pensamentos, mais que o moreno pensava. Mas antes de qualquer investigação, precisavam de um lugar para passarem a noite.

Oliver foi praticamente arrastado até o quarto do hotel que passariam a noite, um quarto simples e pequeno com um par de camas, uma janela dando uma bela vista da cidade. O lugar perfeito para quem apenas deseja passar a noite. O moreno ainda estava muito abalado, encarando a alma escarlate que coletaram mais cedo. Queria saber se seus pais estavam bem, e se fosse preciso, leva-los a força para Death City, ao menos assim poderia cuidar deles. Ou tentar. Ainda era muito fraco, sua força vinha completamente da técnica de Erin. Se essa coisa estranha fosse lhe dar poder... que assim seja.

E assim, Oliver engoliu de uma vez a alma, e mesmo que não tivesse gosto de nada, parecia gelatina descendo por sua garganta.

Instalados e com menos peso sobre seus ombros, a dupla sai para investigar o ocorrido. Aparentemente, aquilo ocorrera a quase uma semana atrás, e não foram encontrados corpos no local. A causa do incêndio foi uma explosão causada por gás de cozinha, ocorrida durante uma madrugada. Mas ainda, sem pistas do paradeiro dos pais de Oliver. Já quase anoitecendo e tendo todo o seu ânimo esgotado, Oliver vê uma silhueta conhecida adentrar uma rua, puxando Erin para segui-la. Vendo aquilo, o coração de Oliver se tranquiliza, vendo sua mãe viva e bem, ela o encarando descrente. Podia-se ver bem que eram parentes, os cabelos negros e olhos heterocrômicos os faziam quase gêmeos, sendo os do garoto mais compridos e volumosos que os da mulher em sua frente.

Oliver caminha na direção daquela mulher, ela sorrindo ao ver como seu garotinho havia crescido nos anos que ele estava distante, porém reparou na garota que o acompanhava, e seu semblante mudou por completo. Não... entre tantas pessoas no mundo, por que a filha deles tinha que ser a parceira de Oliver? As chamas da raiva queimavam em si, fazendo Oliver estranhar tal atitude e se afastar um passo quando já estava a ponto de abraça-la. Tinha algo estranho naquilo.

De trás da mulher, saem um par de raposas tão brancas quanto a mais pura neve que demoraria meses para cair naquela cidade, visando a garota como alvo, felizmente desviadas por ela antes que Oliver pudesse fazer algo. Com aquilo, as bandagens do rosto de Erin caem pelo movimento repentino, mostrando a recém costurada nova cicatriz da garota. Com o ataque evitado, Erin puxa Oliver para trás dela, temendo qualquer nova investida daquela mulher.

 

—Oliver, o que houve? Com medo de sua mãe? – A morena prossegue, seus olhos indo dele para a garota.

—Quem você realmente é? – Erin agora. Ela não acreditava nas palavras dela, mesmo que tudo o que soubesse dos pais de Oliver fossem apenas histórias contadas por ele.

—Que cruel sua parceira. Venha querido, seu pai também está esperando. – Oliver se sentia na cena final de um RPG Maker, dividido entre duas pessoas importantes de sua vida.

—Eu li sobre você nos arquivos da Shibusen! É uma bruxa que lida com ilusões, Yui Volpe! Não confie nela, Oliver.

—Bem, você está certa, querida. Eu lido com ilusões, mas não menti sobre o Oliver. Sobre o pai dele em compensação... bem... já estava meses antes dele nascer. – O mundo de Oliver desaba de vez. Toda a vida dele na Alemanha era uma mentira, uma brincadeira de casinha criada pelas bruxas. A mão sobre o ombro de Erin a aperta, era muito para absorver, e Oliver não sabia lidar com tudo aquilo. – Bem, vejo que ainda não sabe o que fazer, então o deixarei brincar de arma e artesão por enquanto. Eu voltarei para te buscar, meu pequeno. Mas lhe deixo um aviso... cuidado com essa garota, Oliver.

 

Erin dispara em sua direção, as mãos faiscando devido a sua alma, porém a bruxa em sua frente se dissolve em uma névoa acinzentada, deixando apenas artesã e arma plantados no local ainda mais confusos. A garota conseguia sentir a alma dela, não estava tão longe, mas Oliver... Oliver não estava em condições de fazer nada no momento. Ignorou-a por hora, tendo seu parceiro como prioridade e retornando para o hotel.


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Notas finais do capítulo

1- Schneeball: doce redondo e frito, semelhante a um biscoito, popular na região de Rothenburg. Os ingredientes principais são farinha, ovos, açúcar, manteiga, creme e aguardente de ameixa. Para dar a forma característica, a massa é estendida e cortada em tiras iguais com um cortador de massa. As tiras são então dispostas alternadamente por cima e por baixo de um graveto ou no cabo de uma colher de pau. Eventualmente, o bastão é levantado e removido lentamente enquanto as tiras de massa são formadas em uma bola solta. Usando um suporte redondo especial chamado Schneeballeneisen para manter a forma, a bola é frita em gordura fervente até dourar e finalmente polvilhada com açúcar de confeiteiro enquanto quente. (Fonte: Wikipédia https://pt.wikipedia.org/wiki/Schneeball )

Curiosidade adicional: Yui é uma OC antiga minha que fiz para uma outra fanfic. Apenas anos depois, percebi que ela era quase idêntica ao Oliver visualmente, então me aproveitei disso para o plot de A New Order



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