Geisterfahrer - a Menina do Tempo escrita por seethehalo


Capítulo 27
Sober


Notas iniciais do capítulo

Acabaram meus capítulos prontos de novo /Ok, se eu esquecer as folhas de almaço amanhã de novo e me declarar como DEFINITIVAMENTE FERRADA eu digito mais, senão o faço na quinta e na sexta.



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Estou segura

Aqui em cima

Nada pode me atingir

Mas por que sinto que a festa acabou?

Não sinto dor

Aqui dentro

Você é minha proteção

Então como vou me sentir bem, estando sóbria?

Sober - Pink  

*-*-*-*-*

 

     Uma semana depois, voltamos para a escola. Só realmente não esperávamos que esse retorno fosse tão... conturbado.

     Como se já não fosse suficiente o que passávamos nos anos passados, a última manchete na escola era que “aqueles irmãos gêmeos disturbiados eram comunistas”. Beleza, descobriram que somos de Leipzig, que somos do outro lado de onde era o muro. Que legal. O resultado? Fomos agredidos, instantaneamente.

     Tom e eu já estávamos separados, então era impossível protegermos um ao outro. Percebi isso ao encaminhar-me para a aula de Educação Física, andando devagar e sozinho, recebendo insultos e agressões leves durante o trajeto.

     Quando adentrei o ginásio, Maria já estava lá. Olhei para ela, que me olhou de volta. Algo nela estava diferente, estranho. Com mais gente caindo em cima de mim, a perdi de vista; quando consegui me livrar do povo, fiquei escondido.

     Ah... O que foi que nós fizemos pra esse povo pra merecer essa perseguição? E depois disso ainda tem gente que enche a boca pra falar de liberdade de expressão. Mas isso vai acabar... Eu sei que vai. E em pouco tempo.

     Fiquei com certo medo de sair de onde estava e voltar pra sala quando o sinal bateu. Mas voltei, com a cabeça erguida. É só o primeiro dia, isso vai acabar.

     Voltei a ver a Maria na segunda aula. Durante as férias, devido ao trabalho com a banda, me esqueci quase completamente dela. E agora, voltei a lembrar. Eu olhava para ela toda hora, sua presença não deixava eu me concentrar. Mas sem retorno. Para ela, era como se eu não estivesse ali.

     BILL OFF

     Volta às aulas. E lá estava eu, mais sozinha do que nunca. Ou talvez nem tanto, e não que eu não esteja acostumada com isso. É que as coisas... as coisas mudaram, e eu sou obrigada a aceitar. Passei os últimos meses fugindo da verdade e posso continuar fazendo isso por quando tempo for preciso. Evitei ao máximo não sair de casa, para não ter que fugir de quem vem me seguindo. Evitei atender o telefone, para não precisar passar por nenhuma situação delicada.

     Até agora eu consegui. Mas então eu o vi – entrando no ginásio fugindo do povo, e olhou diretamente para mim. E mais uma vez lembrei a mim mesma de que Bill sabe de tudo. E que me odeia por eu não ter contado. E que se coça de vontade de cair em cima de mim pra tirar satisfação. E eu sabia disso, porque durante o resto do dia ele ficou olhando pra mim daquele jeito. Ele acha que eu tô numa boa nessa situação. Não é assim que a coisa funciona, mas talvez seja bem melhor deixá-lo pensando desse jeito.

     Lembrar dele só faz eu me sentir pior. As paredes escorrem, as imagens se misturam, forma-se um campo de força ao meu redor que me sufoca... Eu tenho vontade de gritar e faço isso quando posso; se não eu me encolho e me deixo chorar até que passe. Já tem um bom tempo que a cartela dos “pontos” calmantes que a irmã da Jacque me deu, e confesso que o remédio não ajudou muito. E até com ela eu tenho falado pouco.

     A única coisa da qual eu tenho certeza hoje é que a minha vida de mentira acabou tomando o mesmo rumo da minha vida de verdade: a solidão. O Deus-dará. Aquela situação em que não se pode contar com ninguém; nem com a própria sombra, porque ela também sabe do seu segredo e do jeito que a coisa vai é bem capaz de ela te deixar na mão também.

     E assim os meus dias se arrastam, um atrás do outro, esperando que a hora de acabar com tudo isso chegue logo. Enquanto isso, eu tento dormir.

     Terça-feira. Primeira aula, Alemão. Entrei na sala com meu habitual aspecto condenado e achei um papel dobrado em cima da mesa. “Você está um caco, hein”, dizia o conteúdo. E começou. As letras pularam do papel, que se dissolveu na minha mão.

     - De quem... de quem é... era isso?... – perguntei em voz alta, com a cabeça rodando.

     - Não reconhece mais a minha letras? – Sabine, eu devia ter adivinhado.

     Aquele campo de força se formou em volta de mim por um segundo e quando sumiu a imagem dela tinha se multiplicado. Dei dois passos pra trás e caí no chão.

     - Sai... – pedi – Sai, sai da minha frente! – gritei – Sai da minha cabeça, pelo amor de Deus! Eu não te fiz nada, por favor me deixa em paz!...

     POV BILL

     Era a Maria gritando, a sala toda desviou a atenção.

     - Eu não te fiz nada – ela dizia chorando caída no chão -, então me deixa... Sai daqui... sai!...

     - Maria, aquiete-se – a Srta. Frank pediu. – O que está havendo?

     - Pede pra ela sair daqui... por favor, Srta. Frank, peça-a que saia da minha cabeça...

     - Maria, você tá bem?

     - Não... Eu só quero que ela me deixe...

     Tomei coragem e me aproximei.

     - Você quer ir tomar um gole d’água? – a prô tentou acalmá-la.

     - Eu não quero ficar sozinha...

     - Vá tomar um ar... e beba um pouco de água. O Kaulitz pode ir com você. Venha, levante-se.

     - Não! Bill não... O Bill não.

     - Então a Gabi. Vá com ela.

     - T-tá...

     Gabi Jungblutt saiu da sala acompanhando a Maria. E eu, perplexo, ali parado.

     - O que aprontou, Kaulitz? O que a deixou desse jeito? – Srta. Frank me perguntou.

     - E-eu?! Como é que eu vou saber?!

     - Ela ficou alterada quando eu falei de você. E que eu saiba, até o ano passado vocês dois eram amiguinhos.

     - Eu acho que ÉRAMOS, né... E ela começou a dar chilique quando a Sabine chegou perto. Eu tava ali sentado, quieto.

     - Você acha que eu vou engolir isso?

     - Pense como quiser. – pus as mãos nos bolsos e voltei ao meu lugar.

     Aqui, no meu canto... O que aconteceu com a Maria?

     Era impossível não notar. Quando eu achava que não tinha mais como a Maria piorar, e depois do ataque que ela deu há dez dias, ainda tem mais algo. Ela aparenta passar mal frequentemente; às vezes a vejo andar pela escola se apoiando nas paredes. Circula como se estivesse sendo seguida por alguém. E dorme na sala. Na verdade, eu acho que ela deita a cabeça por tontura, mas acaba chorando (não sei por que motivo) e então dorme.

     Há muito queria perguntar-lhe o que está acontecendo, mas talvez seja melhor não.

     - Ela anda muito nervosa, eu acho – comentei com Tom no intervalo.

     - Talvez ela tenha medo de alguma coisa... sei lá.

     - É o que parece. Mas o quê? Não há nenhum motivo pra ter tanto pavor que chegue a esse ponto. Você tinha que ver como ela ficou na semana passada, Tom. Me assustei.

     - Você ainda gosta dela, né?

     Abaixei a cabeça e suspirei.

     - É. Feliz ou infelizmente. E apesar da impressão que eu tenho de que ela me evita a todo custo, isso me preocupa. Porque... e a Maria que andava com a gente pra cima e pra baixo? Com quem a gente se divertia?

     - Que o Georg cantava...

     - Ah, cala a boca.

     - Mas não cantava?

     - Cantava, mas isso não vem ao caso. Queria ela de volta, Tom. Mas eu sinto que nem ela mesma possa trazê-la de volta, quanto mais a nós dois querermos fazer algo.

     - Talvez ela realmente precise de alguém que a ajude!

     - Ou não. Capaz. E do jeito que a coisa vai, Tom... eu aposto as minhas fichas no “ou não”.

     BILL OFF

     Dez semanas se passaram. Mais parece que foram dez anos. Eu queria ir embora. Mas eu não posso. Tenho que permanecer aqui até o fim de agosto... começo de setembro... mais cinco meses.

     Ah! Em casa, numa hora como essa, eu só guardaria essa angústia até a hora de dormir. Ao apagar as luzes, eu desabafaria com a minha prima e as mágoas seriam engolidas pelo escuro. Luana é praticamente minha irmã. Ou era, antes de começarmos a nos afastar dessa forma. Mas aqui, longe de tudo o que eu conheço, só o que eu posso fazer é tentar expulsar a tristeza e o medo por meio de suspiros e lágrimas.

     Foi por isso que eu decidi... por um fim nisso tudo. Eu não aguento mais. E o único jeito de passar por isso é por cima. Vou atrás de mais uma cartela daquele calmante que ganhei da irmã de Jacqueline uma vez, pra ver se eu consigo me manter calma.

     A fim de procurar mais informações sobre o tal remédio, no domingo fui numa lan-house. Ao digitar “dietilamina do ácido lisérgico” num site de busca, acabei por encontrar um mar de informações assustadoras.  

     Mais conhecido como LSD, as primeiras notícias de uso vêm do final da década de 30 e inicialmente foi utilizado no tratamento de doenças psíquicas, como a esquizofrenia. Como se mostrou ineficiente, a droga caiu em desuso medicinal, mas ainda há indícios de médicos que receitem o LSD clandestinamente para tratar de depressão. Alucinógeno, produz distorções no funcionamento do cérebro. Os efeitos variam de acordo com o organismo que está ingerindo a droga e até com o ambiente em que está sendo consumida. O usuário pode sentir euforia e excitação ou pânico e ilusões assustadoras. A droga dá uma sensação de que tudo ao redor está sendo distorcido. Formas, cheiros, cores e situações, para a pessoa que está sob o efeito da droga, se alteram, criando ilusões e delírios, como paredes que escorrem, cores que podem ser ouvidas e mania de grandeza ou perseguição. Além disso, uma pessoa sob o efeito do LSD perde o juízo da realidade e com isso a capacidade de avaliar corretamente uma situação qualquer, por mais simples que possa ser. Fora que um usuário pode se julgar capaz de fazer coisas impossíveis.

     O LSD também causa um fenômeno chamado “flashback”: o usuário, semanas ou meses sem consumir a droga, começa a sentir os efeitos da mesma, como se tivesse acabado de consumi-la; e podem acontecer a qualquer momento. No corpo, os efeitos do LSD são relativamente leves: aceleração de batimentos cardíacos, pupilas dilatadas e aumento do suor. O maior perigo do consumo dessa droga não é, mesmo em doses mais fortes, de intoxicação física, mas suas consequências psíquicas.

     Entendi instantaneamente. Uma droga. Eu estive me drogando sem saber. Logo eu, que sempre me achei tão segura... Ah, o que é que importa? Eu só queria sári correndo. Sumir, desaparecer, virar pó e deixar livres todas as pessoas a quem causei problemas. E assim fiz. Abandonei o computador e me deixei correr sem rumo pela cidade.

     - Como eu cheguei aqui? Isso tinha que acontecer? – balbuciei para mim mesma, fazendo um esforço enorme para não cair no choro no meio da rua. Me sentei no banco de uma praça e ali fiquei por um bom tempo. Já se aproximava a hora do poente quando me levantei decidida, e fui pra casa.

     - Isso vai acabar... Eu não sei como, mas vai acabar.


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Notas finais do capítulo

Caaaaara, esse capítulo deu uma utilidade a três anos de aula de Saúde e Qualidade de Vida!
O conteúdo sobre o LSD tirei da matéria que copiei na 8ª série :B É tudo verídico, a única parte fictícia é a que diz que "ainda hpa indícios de médicos que receitem o LSD clandestinamente para tratar de depressão". Aliás isso entra no assunto do motivo de a irmã da Jacqueline ter dado pilulinhas à Mari. A história dela é muito complicada, merecia uma side-history alheia, mas não sei se vou escrever. Caso eu me anime, eu aviso quando postar; senão explico a bagaça até o capítulo 30.