vejo ídolos espalhados pelo templo da minha alma

estátuas pequenas, que emanam auras temíveis

lembro o nome que deram a todas elas

"Deus"

mas vendo-o ao meu lado, percebo que nenhuma delas é Ele.

e nenhuma delas poderia ser Ele -- pois nenhuma delas tem vida.

encarando aquelas imagens pequenas e aterrorizadoras

com rostos malignos de acusação e arrogância

vejo que daí vieram aquelas estranhas correntes que me ataram no pescoço

os medos que cegavam meus olhos e sufocavam minha alma:

ídolos.

aproximando-me das estátuas vejo nelas as mãos humanas:

cada traçado de opinião, detalhes de preconceito, formas de orgulho.

são ídolos feitos por gente.

são pessoas que diziam serem deuses

e julgavam como se não fossem humanos.

pegando os ídolos nas mãos, sinto como se pegasse o medo que queriam que eu tivesse.

parto o objeto em dois -- e lá se vão os meus medos.

e meus ombros relaxam.

e minha mente se acalma.

diante de tamanha prisão, sinto vontade de xingar.

de odiá-los, de debater com os artesãos dos ídolos por horas.

mas não posso voltar no tempo.

diante das partes quebradas do ídolo, piso nele para que vire pó.

tenho ódio, mas não deixo que isso me motive.

jogo os ídolos fora.

perdoo o que fizeram comigo.

todos os dias, perdoarei o que fizeram comigo.

e ao invés de moldar ídolos de medo, de ódio e de arrogância,

planto sementes de amor e bondade.

sempre de amor e bondade.

pois sou humana, viva.

e não um ídolo de pedra.