Hinata quase pulou de felicidade quando viu os portões de Konoha à alguns metros dela. Kiba ainda estava se coçando por causa da areia de Suna e Shino não parecia se importar com muita coisa, mas também parecia aliviado de voltar para casa. De longe, ela olhou para o relógio da Torre e já marcava oito da noite. Era uma grande sorte ter chegado a tempo, mas precisaria correr para conseguir um bolo a tempo.

— ‘Nata, nós vamos reportar ao Hokage. - disse Kiba após espirrar. - Você ainda tem seu namoradinho pra ver. 

— Kiba-kun, - disse corando. - ele não é meu namorado.

— Bom, azar o dele. Depois vá direto para casa. Você sabe do que Hyuuga Hiashi é capaz. 

Ela riu e apenas assentiu. Após observar os companheiros se despedirem, ela correu pelas ruas de Konoha até chegar a sua confeitaria preferida. Os melhores rolinhos de canela estavam ali, e também os bolos, mas estes eram uma exclusividade para a Princesa do Byakugan. Atrapalhada, ela entrou na loja e sorriu para Hiromi-san, uma senhora muito doce e simpática. A mais velha sorriu de volta e ergue uma caixa retangular branca para o alívio de Hinata. 

— Hinata-chan, pensei que você não chegaria.

— Eu também. - ela disse, rindo. - Mas conseguimos diminuir o tempo de viagem pela metade. Que alívio…

— Aqui, querida. Daqui a pouco o expediente dele acaba. 

A Hyuuga rapidamente pagou pelo bolo e novamente disparou pela vila, agora mais cuidadosa para não derrubar a caixa, em direção ao Ichiraku, um de seus lugares favoritos em toda a Konoha. Lá eles servem o melhor ramen e também possuem o melhor chef do país, Uzumaki Naruto - e também o grande crush de Hinata. Ela se lembra da primeira vez que viu Naruto, ainda com 10 anos comendo ramen sozinho. E como ele a defendeu de alguns garotos cruéis. E também do primeiro dia dele no Ichiraku, porque sim, ela estava lá. Eles eram amigos, melhores amigos, e apesar da grande diferença em suas vidas, sempre estavam juntos. 

Sorrindo, ela acelerou o passo um pouco mais e finalmente chegou ao restaurante. As luzes estavam acesas e um jazz tocava muito levemente ao fundo, quase suprimida pelas conversas dos clientes. Puxou a lona que cobria a entrada e lá estava ele: alto, loiro, sorridente e cozinhando como sempre. A visão a fez corar pensando em seus sonhos mais profundos de como gostaria de ser recebida assim todos os dias, em casa, aquele sorriso só para ela. Era bobagem. 

— Tadaima, Naruto-kun. - disse se aproximando do balcão.

Naruto desviou a atenção da comida e seus olhos azuis se arregalaram e, em seguida, relaxaram ao ver que era Hinata, de volta após uma semana em missão. E uma caixa na mão. Não conseguiu suprimir a confusão no rosto, mas antes precisava respondê-la. 

— Okaerinasai, ‘Nata! - disse alto, sorrindo. - Você voltou, finalmente! Tudo bem? Como foi a missão? Uau, aposto que foi difícil, você ‘tá cheia de areia.

Apesar da risada de Naruto, e saber que ele estava preocupado, ela corou pensando que estava suja e nada apresentável. De repente pareceu uma péssima ideia ir direto da missão para vê-lo, mesmo que fosse o aniversário dele. Era algo tão natural para ela que seria estranho fazer diferente. E no fundo sua aparência não deveria importar tanto assim - ela só queria parecer bonita para ele, de vez em quando. 

— Tudo bem, Naruto-kun. Foi uma missão cansativa. Suna é longe e seca e deu um bom trabalho para Kiba-kun. - riu.

— Aquele idiota. Já disse para tomar cuidado. - bufou. - Ele acha que pode fazer o que quiser, não é?

Hinata riu e para ele foi um alívio após uma semana sem vê-la. O som mais gostoso de ouvir, automático para que ele risse também. Até que ela parou e pareceu se lembrar de algo. Com cuidado, colocou a caixa sobre o balcão e tirou um bolo de dentro. O bolo era redondo, médio e tinha um Happy Birthday! laranja. Era simples, mas parecia ótimo, e de repente ele queria chorar. Por que ela era tão incrível? E ele nem merecia tudo aquilo. 

Ela, então, colocou uma vela no bolo e acendeu com um fósforo. Tímida, cantou parabéns para ele e finalizou com um “faça um desejo”. Naruto queria muitas coisas na vida, tinha muitos sonhos, mas se fosse desejar alguma coisa… ele desejaria este momento, assim, com Hinata e um bolo no dia de seu aniversário. Se ele pudesse, então pararia o tempo e jamais deixaria que Hinata saísse dali. Assoprou a vela e sorriu quando ela bateu palmas. 

— Feliz aniversário, Naruto-kun! Eu estou feliz que deu tempo de voltar a Konoha. - disse sorrindo.

— Obrigado, ‘Nata. - sorriu de volta. - Vem, vamos comer o bolo.

— Mas você está trabalhando…

— Vamos. 

Naruto não esperou resposta e apenas pegou o bolo e seguiu pelos fundos do restaurante até estar do lado de fora. Havia um pequeno jardim com algumas mesas, onde ele costumava almoçar. Hinata vinha logo atrás, correndo um pouco para alcançá-lo. Quando finalmente se sentiu, Naruto já tinha ido e voltado com pratos, talheres e sakê. Ele também serviu. Ela sempre ficava admirada com os movimentos dele quando se tratava de comida. Num geral, Naruto era o cara mais atrapalhado do mundo e tinha um costume horrível de quebrar coisas, porque elas deslizavam de suas mãos (na verdade era por causa das mãos grandes mesmo). Mas assim, servindo, cozinhando, ele era delicado, preciso e paciente. 

— Agora, você imagina só, ‘Nata. Falta pouco e eu posso abrir o meu restaurante! - disse empolgado. - Eu já organizei algumas coisas, só preciso juntar um pouco mais de dinheiro.

— Sério? - perguntou, surpresa. - Já? Naruto-kun, isso é incrível.

Ele apenas sorriu, achando fofa a empolgação de Hinata. Ele quem iria abrir o restaurante, mas ela era quem estava feliz com isso, talvez ainda mais do que ele já estava. Naruto sempre pensou em Hinata como uma amiga especial, que além de talentosa, era atenciosa, prestativa e humilde. Quem precisasse, ela estaria ali para ajudar no que fosse preciso. Mesmo nos piores momentos, nos dias em que ele queria explodir o mundo, ela era a calmaria que ele tanto precisava. E além disso ele sempre se vangloriava que sua melhor amiga era uma kunoichi do clã mais importante de Konoha, então ele já sabia o que dizer quando um cliente chato mexesse com ele. Afinal de contas, o Time 8 era o queridinho da vila e ninguém se atreveria a fazer algo contra eles. 

Mas mais do que isso… ele a amava verdadeiramente. Ela era a luz que o guiava, o calor que o aquecia e o eterno lembrete de que, não, ele não estava sozinho. Nunca estaria. Naruto nunca tentou se declarar a ela, mas desde que ela começou a receber muitos pedidos de casamento, um alarme começou a soar forte em sua cabeça. Ou ele agia ou a perderia. Quando ela apareceu naquela noite, toda suja e descabelada - e absurdamente linda -, ele teve certeza de que era o momento certo.

— Bom, espero que você tenha usado o seu desejo para isso. - completou ela.

— Que nada. - ele riu do choque dela. - Eu desejei outra coisa.

— Por quê?

— Não por quê. E sim quem. 

Hinata arqueou uma sobrancelha, sem entender o que ele estava dizendo. Naruto apenas sorriu e apoiou o queixo nas mãos, aproximando-se dela. O efeito foi imediato e ela começou a corar, tão forte, que ele pensou que talvez tivessem voltado no tempo, quando eram crianças. Mas pelo jeito alguns hábitos não mudam nunca. 

— Quem eu desejei, Hinata, foi você. 

— O q-quê?

— Por que eu iria querer qualquer coisa se você não estiver comigo? Não valeria a pena. 

A Hyuuga sentiu o ar escapando dos pulmões e as lágrimas queimando para cair, mas ela não queria chorar. Na verdade, queria sorrir, porque estava ali o tanto que ela era importante para Naruto, tanto que ela nunca havia imaginado. Como era importante para ela que ele a considerasse assim. Meu Deus, eu quero beijá-lo. 

— Mas eu não recebi o meu presente. E eu espero que você não tenha esquecido.

Ela arregalou os olhos e lembrou-se que, realmente, não tinha comprado nada além do bolo. Realmente, dessa vez ela falhou. Quando abriu a boca para se desculpar, Naruto a puxou delicadamente pelo pescoço e a beijou. Na boca. Foi rápido e ela tentou corresponder da melhor forma possível, porque estava em choque. Ele se afastou e o olhar intenso a deixou ainda mais com vontade de desmaiar, mesmo sabendo que não deveria fazer isso. Ouviu a risadinha de Naruto e viu como ele estava aliviado e feliz. 

— Agora, esse sim é o melhor presente que eu já recebi. - sorriu e fez uma pausa antes de continuar. - Sabe, ‘Nata, eu te amo.

— E-eu também te amo, Naruto-kun. - ela disse e dessa vez não segurou o choro, lágrimas que Naruto fez questão de secar.

— Feliz aniversário para mim!