Deixe Os Sonhos Morrerem escrita por Skadi


Capítulo 4
Capítulo IV




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Seu pai costumava fumar cigarros japoneses importados e Klaus odiava o cheiro daqueles cigarros, era como não fumar nada e sentir seus pulmões queimarem. O cheiro deles 

faziam o olhos de Klaus lacrimejarem.

Ele estava fumando um daqueles cigarros naquela noite, sua mão agarrada ao cabelo de Klaus e os olhos procurando os seus.

Klaus mal conseguia respirar, deitado de bruços no chão, suas costelas doendo tanto que começou a se perguntar se estavam quebradas; suas pernas estavam doloridas os músculos latejando, e ele sabia com certeza que seu pulso esquerdo estava deslocado. Havia sangue escorrendo de um corte em sua boca. E seu pai mantinha a mão em punhos em seu cabelo, mantendo a cabeça erguida do chão, olhando para ele.

"Você sabe por que eu fiz isso, certo?" Ele perguntou, fumaça saindo de sua boca em direção ao rosto de seu filho.

Klaus tentou respirar, ignorando o fedor e a dor em suas costelas. Ele desviou o olhar de seu pai, seus olhos pousando em Lisbeth que estava sentada em um canto da sala, os olhos arregalados, abraçando os joelhos enquanto seu corpo todo tremia, a bochecha esquerda machucada.

"Olhe para mim." Seu pai puxou seu cabelo, forçando-o a se concentrar nele. "Você sabe por que eu fiz isso, não é?"

Klaus o queria morto. Tinha fantasiado com seu pai morto mais de uma vez, mas essa era a primeira vez que queria mata-lo com as próprias mãos.

"Sim," Respondeu finalmente.

"Você sabia que eu iria puni-la."

"Não toque nela." Klaus sibilou, o som saindo estranho por causa do sangue na boca. "Você não toca nela."

Seu pai não era um homem expressivo. Seu rosto continuava frio como a pedra enquanto ele arqueava a sobrancelha e dava uma tragada naquele maldito cigarro.

"Eu toco em quem eu quiser, seu pirralho. Ela cometeu um erro e precisa ser disciplinada."

"Não toque nela porra!" Klaus sabia que estava tremendo tanto quanto Lisbeth. "Ela é minha. Você deu ela para mim, ela é minha responsabilidade. Você não toca nela."

Lisbeth fez um pequeno som ao fundo, imediatamente cobrindo a boca e se encolhendo ainda mais.

“Sim, eu dei ela a você portanto ela é tanto sua quanto minha.”

“Não!”

“Você não faz as regras aqui, você não passa de um pirralho.”

“Não!” Klaus engoliu seco, tentando colocar algum peso no braço bom para se levantar. “Minha. O erro dela eu disciplino, não você.”

“Você?Você disciplinando alguém?” Seu pai zombou. “Como um garoto como você vai disciplinar uma coisa assim?”

“Ela não é uma coisa!”

“E o que você vai fazer, huh?Vai receber a punição de agora em diante quando seu brinquedinho fizer alguma merda como hoje?”

Porra.

“Sim.” Klaus sibilou. “Sim.”

Seu pai suspirou antes de soltar seu cabelo, Klaus caindo pateticamente no chão.

“A preocupação, Klaus, é uma fraqueza,” Disse o homem, se levantando. “Você não deve se importar com as pessoas. Caso contrário isso vai só fazer com que acabe morto numa vala.”

No momento que ele deixou o quarto, Lisbeth rastejou até ele, seu rosto uma mistura de dor e tristeza, dedos magros acariciando os longos cabelos loiros de Klaus com cuidado.

“K-Klaus,” Lisbeth sussurrou, sua voz vacilando, os olhos cheios de lágrimas que desciam por seu rosto e estragavam a maquiagem preta ao redor dos olhos. Mas o choro não era nada além disso. “Me desculpe, e-eu sinto m-muito.”

“Não.” Klaus respirou fundo, sentindo suas costelas protestarem de dor. “Não é sua culpa. Nunca vai ser sua culpa.”

“Você não devia ter intervido, o que você estava pensando?”

Sim, o que ele estava pensando?

“Nada, Lis.” Klaus lentamente se ergueu, agarrando as costelas com uma das mãos até conseguir ficar de joelhos. Olhou para Lisbeth por um momento antes de recostar sua cabeça no ombro dela. “Eu não estava pensando.

Com o tempo Klaus percebeu que seu pai estava certo. Preocupação é uma fraqueza.

Mas essa fraqueza não iria pará-lo.

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Ele estacionou o carro e rapidamente saiu, o coração martelando de ansiedade desde a ligação de Johnny; atravessou o jardim do prédio, praticamente se jogando contra a porta da frente e correndo para o elevador. Dentro do elevador com as portas fechadas, tirou um momento para apenas respirar e se acalmar. A situação continuava escapando de seu controle e ele começava a se perguntar o que mais poderia acontecer.

Seu pé batia impacientemente contra o chão, seus olhos na tela que mostrava os andares passando. Ao abrir as portas no oitavo andar, Klaus saiu correndo até a porta de madeira em frente a dele, batendo duas vezes.

Johnny a abriu, rapidamente se afastando para o lado para que Klaus pudesse entrar.

"Primeira pergunta," Klaus começou. "Como ele está?"

"Não está ferido." Johnny deu de ombros. "Eu verifiquei, nada."

Observou a aparência de Johnny, a camisa manchada de vermelho, o sangue ainda molhado no tecido, as mangas arregaçadas, as mãos cobertas por luvas de couro — ele já devia ter movido o corpo.

"Segunda pergunta," Klaus lambeu os lábios. "eu te dou a porra de um trabalho de impedir que ninguém entre nessa porra de casa, então me deixe perguntar: como alguém entrou?"

Johnny soltou um suspiro, embora soasse mais como um gemido.

"Escute, eu não tenho ideia, sério. Tudo estava bem, então o Laurent me ligou e disse que precisava sair e comprar alguma coisa, eu o levei a uma farmácia e voltamos. A única vez que alguém poderia ter entrado  seria quando estávamos fora." Johnny mordeu o lábio. "Você sabe o que isso significa."

Alguém sabia que Johnny estava de guarda na casa. E alguém estava de olho esperando uma chance de invadir a casa.

"Quem?"

"O cara tem uma tatuagem, mandei uma foto para Ryland, ele vai me dizer de que gangue é ou que família. Ser for uma familia—"

"Se for uma família estamos mergulhados até o pescoço em merda. Ok, o que mais?"

Johnny se inclinou contra a parede e cruzou os braços sobre o peito. "Laurent me ligou. Ele disse que alguém entrou e nada mais. Eu só…" Ele balançou a cabeça. "Merda, Klaus, eu corri pensando que ele estava sendo mantido como refém ou algo assim e ao invés disso encontrei um banho de sangue. Perguntei o que aconteceu mas ele não falou nada. Eu movi o corpo mas o Laurent ainda está sentado onde eu o encontrei. 

"O que?"

"Não consigo fazer com que ele se levante. Ele me deixou toca-lo para verificar se havia ferimentos, mas não saiu do lugar."

"Merda."

"Ele está na cozinha. Vamos, não estou mentindo quando digo que estou preocupado."

"Sim, sem brincadeira." Klaus murmurou antes de seguir Johnny para dentro de casa.

Depois da entrada, o loft se estendia grande e espaçoso, com paredes altas de madeira levemente avermelhada, polida e lisa. Klaus notou o corpo que Johnny moveu no corredor principal, coberto com um lençol azul, sangue já escorrendo pelo tecido. Os sapatos de Klaus clicavam a cada passo no piso de madeira e ele percebeu que, por mais que o lugar seja grande, não haviam muitos móveis, apenas o essencial.

Uma cama estava no canto mais distante, os lençóis bagunçados, havia um sofá de couro contra a parede e uma TV na frente dele, uma biblioteca do outro lado da sala, cheia de livros até a borda e no chão ao redor. Mas tirando isso e alguns travesseiros espalhados pelo lugar, não haviam móveis. Apenas um monte de lixo de aparência estranha, lâmpadas extravagantes e uma vaidade que parecia extremamente antiga com todos os tipos de jóias. Havia também uma área elevada que poderia ser alcançada por uma escada em espiral de ferro forjado. Mas de onde ele estava, Klaus podia ver apenas um armário e um espelho lá em cima.

Há uma janela enorme em uma parede, tão alta que chega ao teto, molduras de madeira brancas rachadas, mas ainda sólidas. Uma clarabóia operável acima da área do loft, ligeiramente aberta, o ar frio entrando sorrateiramente na casa.

Johnny parou de andar e acenou com a cabeça em direção à cozinha aberta, a um balcão e Klaus pôde adivinhar quem estava por trás dele.

Ele respirou fundo antes, lentamente, de contornar o balcão.

Observou a cena de Laurent sentando no chão, um dos braços apoiado em no joelho levantado, os olhos no chão. A madeira do balcão estava manchada de vermelho, mesmo que Johnny talvez tivesse tentado ao menos secar o sangue fresco. Ele limpou a voz e se ajoelhou na frente de Laurent, tentando capturar seus olhos mas falhando. As mãos pálidas estavam completamente manchadas de sangue ainda fresco.

"Laurent?" Klaus chamou. "Você pode me ouvir?O que acha de levantar e sentar em outro lugar, huh?"

Laurent continuou olhando para o chão, a respiração lenta e estável, a pele pálida de uma forma que Klaus poderia comprar com um cadáver. 

"Laurent, foi o Lange?"

Sem resposta.

"Ok." Klaus suspirou e se levantou, olhando ao redor da cozinha até encontrar um pano jogado ao lado da pia. Foi até ele e o agarrou, abrindo a água quente da pia e colocou o pano sob a água por alguns segundos. Fechou então a torneira e apertou o pano, se livrando do excesso de líquido, então voltou a se ajoelhar em frente a Laurent.

"Johnny disse tudo bem se eu tocar você então vou limpar suas mãos, ok?" Disse ele, esperando por uma reação e, ao não recebê-la, gentilmente pegou o pão esquerdo de Laurent e começou a esfregar o pano molhado em sua pele. Havia sangue nas mãos e no peito dele, a maior parte ainda não estava nem seca.

Ouviu passos atrás, provavelmente Johnny, mas continuou passando o pano úmido nas mãos de Laurent, apertando-o entre os dedos para se livrar das manchas vermelhas. Laurent continuava olhando para baixo, sem resposta.

Sabia muito bem o que estava acontecendo. Envolveu o pano ao redor do pulso de Laurent e o limpou também, certificando-se de esfregar a pele o mais suavemente possível e então passou para a outra mão manchada. Por mais que odiasse admitir, Klaus era muito familiarizado com o choque e como ele funciona. A apatia que se segue. Então logo haveria outra coisa: ou raiva, horror, tristeza, ele não sabia mas estava esperando por um deles, talvez até mais. Em algum ponto, Laurent iria quebrar e Klaus teria que lidar com os danos.

"Vai ficar tudo bem." Murmurou, movendo o pano para o antebraço de Laurent, a parte mais suja, o sangue ainda pingando ao longo de sua pele. "Eu estou aqui. Vai ficar tudo bem."

Atrás dele, Johnny respirou fundo e Klaus levantou os olhos da mão de Laurent para encontrar um par de olhos verdes olhando para ele. Os olhos de Laurent estavam secos e frios, como se um véu tivesse se estendido sobre eles, sem brilho nem foco.

"Ei," Klaus tentou, apertando sua mão um pouco mais forte. "Laurent."

"Spencer."

Klaus franziu a testa. "Spencer?"

"Ele disse–" Laurent piscou. "Ele disse que Spencer seria o próximo."

Klaus sentiu o medo tomando conta dele, se instalando em suas veias como gelo. Se virou para Johnny, que o encarava de volta com o mesmo pânico nos olhos.

"Ligue para o August." Klaus ordenou. "Diga a ele para ir a casa de Spencer, explicar a situação e que ele está em perigo, agora."

Johnny acenou com a cabeça, já pegando seu telefone e saindo da família, cruzando a sala de estar para fora.

"Ele vai ficar bem, ok?"Klaus se virou para Laurent. "August o manterá seguro, ele sabe o que fazer."

"Seguro." Laurent repetiu, uma carranca leve em seu rosto. "Estou seguro?"

Klaus apertou a mandíbula, sabendo muito bem o Laurent estava sentindo.

"Comigo aqui, você está." Klaus acabou dizendo. Dizendo o que teria gostado de ouvir quando estava na mesma posição.

Laurent assentiu com uma respiração trêmula. Klaus continuou o trabalho de limpar a mão com o pano molhado.  "Eu não sei quem ele é. Era."

"Não era o Lange?"

Laurent balançou a cabeça. "Não. Não faço ideia de quem seja."

"Ok." Klaus moveu o pano para o pescoço de Laurent, começando a limpa-lo também. "O que aconteceu?"

"Ele me acordou." Laurent respondeu." Ouvi algo andando na casa, mas eu tinha acabado de acordar e vim até aqui verificar. Ele simplesmente entrou e me agarrou por trás."

Klaus esfregou o pano um pouco mais forte, fazendo Laurent se encolher. "Desculpe. Então o que?"

"Ele queria as coordenadas, achava que eu conhecia. Mas eu disse a ele que não sabia." Laurent franziu a testa, piscando rapidamente por alguns segundos. "Ele ficava me ameaçando, dizendo que tinha balas de prata na arma e que se eu fizesse alguma coisa ele iria atirar. Ele não acreditou em mim quando disse que não sabia. Ele estava me tocando."

Merda.

"Laurent, é o suficiente."

"Eu queria que ele parasse, mas ele não parou, ele dizia que eu era sujo e que...ele disse coisas horríveis.

"Ei, pare. É o suficiente."

"Ele me curvou sobre o balcão. Eu queria que ele parasse e ele era burro e me deu uma abertura. Então eu me virei e o matei." Laurent apertou os olhos. "Rasguei ele ao meio como um animal. Minhas mãos passando pela carne e músculo como se não fosse nada, quebrando os ossos como se fossem gravetos. Tinha tanto sangue do buraco que eu fiz no peito dele, podia jurar que o coração dele ainda batia quando o peguei nas mãos…"

"Chega!" Klaus sibilou, segurando o rosto de Laurent com mais força do que pretendia mas o suficiente para fazê-lo olhar nos olhos. "Olhe para mim é o bastante. Pare de pensar nisso." Ele passou os polegares nas bochechas de Laurent, sentindo a pele mais fria do que esperava. "Você se defendeu, isso é tudo. Foi um acidente, Laurent, então–"

"Não foi acidente."

"O que?"

"Não foi acidente, Klaus." Laurent disse, olhando para Klaus nos olhos, o rosto vazio de qualquer emoção. "Eu o queria morto. Eu queria arrancar o coração dele e esmaga-lo nas minhas mãos."

Oh.

Agora isso era familiar.

"Porra," Klaus inalou profundamente, sentindo o coração martelando no peito. "Eu sinto muito."

Laurent não disse nada, mas continuou olhando para ele com a ferocidade de um animal selvagem acuado em seus olhos. Era a primeira vez que Klaus via algo assim.

Atrás deles, Johnny pigarreou.

"Falei com o August, ele deve estar na casa do Spencer a qualquer momento e vai me avisar quando tiver notícias." Ele declarou com um suspiro. "Klaus, Laurent não pode ficar aqui. Eles sabem onde ele mora, precisamos levá-lo para um lugar seguro."

Klaus soltou um suspiro profundo. Já sabia disso, foi o primeiro pensamento que veio a sua mente assim que recebeu a ligação de Johnny.

"Ok." Ele se virou para Laurent que ainda o encarava. "Pegue algumas roupas, dinheiro, o que você precisar. Não muito, só o essencial, e mais tarde vou mandar alguém vir pegar o resto das suas coisas. Você vai ficar comigo a partir de agora. Ei, você me ouviu?"

"Sim." Laurent suspirou, então começou a se levantar lentamente.

Klaus agarrou seu braço e o ajudou a se levantar, segurando-o até ter certeza de que ele estivesse firme o suficiente. Laurent acenou com a cabeça e Klaus o soltou, olhando para o ruivo caminhando para a escada principal e subindo.

Klaus então se virou para Johnny. "E quanto ao corpo?"

"Eu cuido disso." Johnny deu de ombros. "Vou mandar amostras de sangue para o Ryland, se esse cara for registrado saberemos quem ele é em breve. Mandei fotos da tatuagem também para ajudar nas pesquisas."

"E se for uma tatuagem de família?"

"Se for uma tatuagem de família, prepare-se para tirar muito dinheiro e preencher uma porrada de papelada."

"Vou deixar a papelada para você."

"Oh novidade." Johnny rolou os olhos. "Sabe, quando eu disse que deveríamos mudar Laurent para outro lugar eu quis dizer um hotel ou algo assim, não sua casa."

"Oh certo, porque ele estaria muito mais seguro em uma porra de quarto de hotel."

"Ia colocar alguém para protegê-lo."

"Porque isso funcionou tão bem antes."

"Klaus," Johnny balançou a cabeça. "Você sabe o que eu quis dizer."

"Sei, e decidi ignorar." Klaus se inclinou contra o balcão. "Eu mesmo cuido dele."

"Por que?"

Essa era uma pergunta muito boa.

E, verdade seja dita, Klaus tinha muitas respostas. O fato de que ele queria cuidar de Laurent, que estava se sentindo protetor de uma forma que realmente não deveria estar mexendo tanto com ele, ou talvez seja porque sentia que não tinha escolha.

Em vez disso, escolheu o mais simples.

"Porque ele confia em mim."

Johnny olhou para ele por alguns segundos, uma sobrancelha levantada e um olhar que meio que claramente dizia que ele não acreditava nem um pouco em Klaus, mas ele não disse nada. Ele apenas balançou a cabeça e pressionou os lábios.

"Se você diz, chefe."

~•~

Durante todo o trajeto até a casa de Klaus, Laurent não disse uma palavra. Mesmo agora, enquanto o elevador subia para a cobertura, ele continuava quieto, os olhos fixos nas portas a sua frente.

O elevador parou e as portas se abriram, e, com o braço ao redor da cintura de Laurent, Klaus o guiou para dentro do apartamento, a mochila de couro pendurada no ombro. Ele não havia levado muito, apenas algumas mudas de roupa.

"O quarto que você dormiu da última vez é seu." Klaus disse enquanto caminhavam até a sala. "Tudo bem com você?" Laurent concordou. "Ok então. Porque você não vai tomar banho? Pode descansar depois."

Inferno, estava quase amanhecendo. A noite inteira pareceu passar num flash.

Laurent olhou ao redor da sala por alguns momentos, piscando lentamente e observando o corredor quase como se não o reconhecesse. No fim, ele limpou a garganta e girou sobre os calcanhares, subindo as escadas para o segundo andar lenta e cuidadosamente, com a mão apertada ao redor do corrimão. Klaus manteve os olhos nele até que ele desaparecesse de vista e o som de uma porta se fechando fosse ouvido.

Com uma respiração cansada, Klaus tirou a jaqueta e o suéter e os jogou no sofá, ficando apenas de camiseta preta. Tirou os sapatos e as meias enquanto caminhava até a varanda.

O ar frio da madrugada se instalou em sua pele assim que atravessou as portas da varando, arrepios subindo por sua pele e fazendo-o estremecer por um segundo. 

Precisava disso, do frio. Mesmo que apenas por um segundo, precisava do ar gelado penetrando sua pele apenas para que sua cabeça parasse de doer. Parecia que ia explodir, como se sua cabeça estivesse pegando fogo, muito mais forte que suas dores habituais. Suas temporas estavam latejando e sua visão quase turva depois de passar horas tentando ignorar a dor e o zumbido em seus ouvidos.

Mas agora estava lá fora, a cidade completamente silenciosa nas primeiras horas da manhã, o sol ainda por nascer, e Klaus podia sentir que estava diminuindo lentamente, deixando espaço para nada mais do que uma dor latejante e surda, algo que podia suportar sem colocar muita energia nisso.

Se inclinou com as costas contra a parede, estremecendo mais uma vez ao sentir como a superfície estava fria. Com um suspiro trêmulo, pegou a caixa de cigarros no bolso de trás da calça jeans, e o acendeu rapidamente. Logo, exalou a fumaça lentamente, o vento levando-se embora em um segundo.

Sentia suas mãos ainda sujas de sangue, embora estivessem limpas.

O telefone vibrou em seu bolo e Klaus gemeu irritado, agarrando-o com força e apenas suavizando seu aperto quando viu o nome brilhando na tela.

"August, ele está bem?"

Houve um segundo de silêncio depois de uma respiração instável do outro lado. "Sim." Respondeu August. "Ele está bem."

"Alguém mais estava aí?"

"Não, não. Só ele."

Klaus franziu a testa. "O que há com a sua voz, parece que você chorou, o que—"

Oh.

Klaus fechou os olhos por um momento, engolindo seco. "August—"

"Não, não importa. Ele está bem, é isso que importa."

Você me disse que iria embora se tivesse muito o que lidar, Klaus pensou. Por que você ainda está aí?"

"Ok," Klaus levou o cigarro aos lábios. "Onde você está agora?"

"Na minha casa, ele vai ficar hospedado aqui."

Klaus gemeu. "Essa é uma ideia horrível."

"Ué, o Laurent não está ficando na sua casa? Johnny me contou."

Porra Johnny.

"Sim, mas não é a mesma coisa."

"Explique."

 Bem, Klaus gostaria de dizer, primeiro que não sou um idiota feito de emoções e sentimentos e tudo mais. Em segundo lugar, não estou apaixonado pelo cara que estou protegendo."

Mas ficou quieto.

"O importante é que os dois estão seguros." Disse Klaus no final. "Basta ficar de olho nele.

"Laurent está bem?"

Klaus estalou a língua. "Não."

"Não?Ele está ferido?"

"Oh então Johnny fofocou que estou cuidando dele, mas não a coisa mais importante?"

"Do que você está falando?"

"Ele matou o cara. Praticamente o rasgou ao meio, arrancou o coração e tudo."

Um longo silêncio se estendeu depois disso.

"Ele fez o que?" Não era a voz de August, essa nova voz era muito mais profunda e as palavras não foram ditas com tanta nitidez.

"Isso é o Spencer?Esperei eu estava no viva voz?" Klaus perguntou com uma sobrancelha arqueada.

"Você estava." Spencer respondeu. "Laurent fez o que?"

"O pedaço de merda perguntou a ele algo que Laurent não sabia, e como não ficou satisfeito com a resposta ele tentou–"

Estuprá-lo,” Spencer terminou. "Ele tentou estuprá-lo, porra."

"Isso não aconteceu."

Mas quase.E agora o Laurent está com as mãos sujas,” Spencer sibilou, alto o suficiente para quase soar como um rosnado."Você disse que o teria protegido, você deu a ele a porra da sua palavra! Você disse isso a ele, que o manteria seguro e agora—"

"Estou tentando, porra!" Klaus rosnou de volta, uma onda de irritação tomando conta dele.“Que porra você pensa que estou fazendo,uh?! Estou tentando o meu melhor, seu merdinha, ele estará seguro aqui comigo!"

Assim como ele estava seguro com aquele outro cara guardando sua casa?!Porque foi um bom trabalho pra caralho, seu maldito- "

"CHEGA!" August gritou, interrompendo a discussão. “Spencer, cale sua boca, porra. Klaus, ligo para você amanhã, sinto muito. ”

“Está tudo bem, apenas diga a ele para se acalmar,” Klaus murmurou antes de encerrar a ligação e colocar o telefone no bolso.

Malditos yuureis e sua atitude de merda, sempre pensando que são mais espertos do que todos os outros.

Klaus inalou mais fumaça antes de jogar o cigarro pela varanda, o ar frio demais para aguentar por muito mais tempo, antes de caminhar de volta para dentro fechando a porta de vidro atrás de si. Caminhou até o sofá e caiu pesadamente sobre ele, sua cabeça jogada para trás e seu corpo parecendo mais pesado que o normal. Deus, estava cansado. Queria dormir mas o amanhecer se aproximava, então fechar os olhos agora significaria apenas perder boa parte do dia.

Não poderia se dar esse luxo, não agora que a situação escorregou tão facilmente por entre seus dedos. Não estava mais no controle e, talvez, nunca tenha realmente estado. Estava perseguindo uma sombra, agarrando-se a cada pequena peça do quebra cabeça como se fossem sua salvação, mas na verdade não tinha nada além de um relógio, um colar e vozes, sussurros. Não tinha ideia do que estava fazendo. Seu pai iria rir dele, o olharia com desprezo e riria, com aquele sorriso presunçoso que tinha toda vez que Klaus não sabia o que fazer.

Ele riria dele.

“Deixe-o rir.” Klaus sussurrou para si mesmo, tão silenciosamente que o som se espalhou pela sala vazia. “Ele está se revirando no túmulo de qualquer maneira.”

Klaus abriu os olhos com o som de passos e viu Laurent descendo as escadas, vestindo um suéter que ele reconheceu vagamente, calças pretas aparecendo debaixo do tecido superior. Laurent não retribuiu o olhar mas caminhou até o sofá, se sentando ao lado de Klaus, puxando as pernas para cima e as segurando contra o peito como de costume, o queixo apoiado em seus joelhos dobrados — como uma criança, inocente, um garoto que ele não era. Klaus olhou para ele por um longo momento antes de pegar um cigarro do maço e entregando-o a Laurent. O ruivo piscou, surpreso, antes de pegar o cigarro.

“Então agora você não rouba apenas meus cigarros, mas também minhas roupas.” Klaus disse enquanto acendia o cigarro com seu isqueiro prateado. “Mas então, fui eu quem disse para você ficar com ele.”

Laurent ficou em silencio, apenas franzindo os labios em volta do pedaço de tabaco, puxando longas baforadas de fumaça, exalando pelo nariz. Há algo ritmico na maneira como ele fuma, seu peito inchando a cada respiração e seus ombros caindo a cada expiração, olhos desfocados enquanto ele encarava a nuvem cinza se formando na frente de seu rosto.

Klaus já havia notado esse padrão. Laurent se baseava em ações quando algo o perturbava.

Seu cabelo ainda estava molhado do banho, úmido e com gotas escorrendo pela testa. Klaus pegou o cinzeiro da mesinha de centro e o levantou para Laurent bater as cinzas nele, depois o abaixou.

“Você disse que pretendia matar,” Klaus disse, sentindo Laurent soltar um suspiro ao seu lado, o corpo tão tenso quanto a corda de um violino. Era a primeira vez que se sentavam tão próximos um do outro. “É bom que você fez. Ele mereceu. Ele estava tocando em algo que nunca mereceu.”

Ouviu Laurent engolir seco, mas sequer se moveu para responder. Klaus estava bem com o silêncio.

Não estava bem com o fato de Laurent permanecer sem reação.

Nunca soube muito sobre vampiros, além das páginas de alguns livros que seu pai o forçava a ler — coisas mortas, predadores sem escrúpulos, mestres do disfarce e de se esconder entre os humanos, sem laços e sem identidade definida. A possibilidade de encontrar um vampiro era pequena, de acordo com os livros, ou talvez simplesmente não viveram para contar. Mas agora, olhando para Laurent sentado ao seu lado, Klaus podia ver que havia muito mais do que aquelas definições, algo humano ainda lá dentro...Um vampiro com uma alma humana.

“Há algo que aprendi quando matei pela primeira vez.” Klaus disse, ignorando o repentino tremor de sua mão esquerda. “Não existe um Deus. Não sei se Deus já existiu, mas ele com certeza não está aqui. A única entidade que pode nos julgar somos nós mesmos.” Klaus tentou se lembrar das palavras exatas que Ryland sussurrou em seu cabelo naquela noite enquanto o segurava firme e forte. “Não deixe seu próprio coração julga-lo por coisas assim. Talvez haja um inferno para isso mas ainda não estamos lá.”

Laurent suspirou.

“Sinto muito, Laurent.” Ele murmurou. “Isso não é justo. Eu prometi a você segurança e ao invés—”

Klaus parou, sem encontrar a palavras certas.

"Mon chérie?"

Se assustou com Laurent falando do nada. Se virou para ele, que continuava encarando o nada. "O que foi?"

Laurent pressionou os lábios, a mandíbula cerrada. "Somos ambos monstros não somos?"

Klaus sentiu aquelas palavras simplesmente se entalharem em seu peito dolorosamente como uma queimadura. Conhecia muito bem esse medo.

Cuidadosamente para não deixá-lo desconfortável, Klaus alcançou a cabeça de Laurent recostada no encostos do sofá e gentilmente passou seus dedos pelos cabelos úmidos. Laurent se retraiu e ficou tenso por um segundo, mas então relaxou e deixou Klaus acariciar seu cabelo, torcer as mechas entre seus dedos, bagunça-los gentilmente como sua mãe costumava fazer.

"Eu sei." Klaus sussurrou. "Eu sei, słoneczko."

Os olhos de Laurent se fecharam e ele respirou lentamente.

Humano. Era tudo no que Klaus conseguia pensar ao ver Laurent ali, parecendo relaxado pela primeira vez em dias. Ele era assim quando já foi humano? Klaus não tinha certeza, mas esperava que sim.

Após alguns minutos, Laurent abriu os olhos e se endireitou, limpando a garganta. Klaus deixou cair a mão enquanto Laurent jogava o cigarro no cinzeiro.

"Vou dormir." Disse ele, se levantando do sofá. "O sol vai nascer em alguns minutos, estou cansado."

Klaus assentiu. "Ok, te vejo a noite quando você acordar. Se a casa estiver vazia, faça como se fosse sua casa."

Laurent se virou para ele com um meio sorriso. "Obrigado, Klaus."

"Pare de me agradecer." Klaus acenou com a mão. "Não fiz nada para você me agradecer."

"Bondade é algo pelo qual alguém deve ser grato. E eu sou grato."

Klaus sentiu vontade de discutir, simplesmente porque gentileza não é realmente o que ele estava dando, mas quando viu a forma exausta de Laurent, ele decidiu deixar o argumento morrer.

“Tudo bem então,” Ele acenou rigidamente. "De nada."

Laurent não disse mais nada. Ele apenas pressionou os lábios e se afastou dele, voltando para a escada e sumindo no andar de cima.

Klaus, mais uma vez deixado sozinho, não pôde fazer muito exceto respirar fundo e expirar lentamente, sentindo seus pulmões esvaziarem do ar que ele acabou de inspirar.

Isto é ruim.

Słoneczko ,ele pensou, o que diabos isso significa? Sua mãe o chamava assim, de 'luz do sol'.

Klaus gemeu e esfregou a mão no rosto, apenas para parar e abrir os olhos assim que sentiu o cheiro. Havia o cheiro doce persistentes em sua pele, entre seus dedos, perto de seu pulso, cada parte que tocou o cabelo de Laurent estava com o cheiro de perfume. 

 

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Uma vez Hanzo lhe disse uma coisa que não conseguia tirar da cabeça.

Era verão, o ar pegajoso e úmido, agarrando-se implacavelmente a seus corpos suados. Klaus tinha os lençóis mal cobrindo suas pernas, sentado nu na cama enquanto a cabeça de Hanzo descansava em sua coxa coberta. Klaus estava fumando, cinzas caindo na taça vazia que Aiko havia deixado na mesinha de cabeceira, e ele deixou Hanzo tirar o cigarro de seus dedos para que ele também pudesse fumar, tragadas lentas e exalações rápidas.

Aiko estava lá fora na varanda, completamente nua e sem vergonha como sempre, o cabelo longo ainda úmido de suor grudado no pescoço.

"Como você a encontrou?" Klaus perguntou, olhando para Hanzo.

O homem suspirou, pressionando a língua contra o interior da bochecha e devolveu o cigarro a Klaus. "Curioso, é?"

"Muito. Ela é bonita demais para você."

Hanzo riu, olhos fechados e dentes a mostra. Klaus sentiu uma onda de carinho tomar conta, mas ele rapidamente a afastou.

"Ela é tão bonita e perigosa quanto uma cobra. Mas você está certo, ela é bonita demais para nós dois."

Klaus zombou, sacudindo o polegar sobre o filtro do cigarro. "Fale por si mesmo, eu sou uma visão do caralho."

"Um menino tão bonito, sim." Hanzo abriu os olhos, o olhar intenso mesmo que parecesse tão exausto. "Como você acha que eu a encontrei?"

Klaus encolheu os ombros. "Se você quer que eu seja honesto, às vezes acho que você paga para ela estar aqui."

Hanzo revirou os olhos, os lábios curvados em um sorriso divertido. "Eu nunca dei a ela um centavo para ficar comigo. E eu não a encontrei, apenas nos conhecemos no cassino. Foi ela quem se aproximou de mim, quer saber por quê?"

"Por que?"

O sorriso de Hanzo suavizou. "Ela foi enviada lá para me matar."

Às sobrancelhas de Klaus se ergueram em surpresa. "Então ela é uma assassina."

"Era. Não é mais." Hanzo se mexeu, se virando de lado e se aninhando contra sua coxa. Klaus sabia o que isso significava, então começou a passar os dedos pelo cabelo preto de Hanzo. "Ela me disse que não tinha vontade de me matar. Que ela se sentiria mal por arruinar um rosto tão bonito."

Klaus bufou e sentiu Hanzo tremendo com uma risada silenciosa também.

"Oh, ela era tão linda, meu querido. Ela é, mas — foda-se, eu nunca vou esquecer aquela noite, sabe?Ela cheirava a flores e parecia puro pecado. Eu soube o que ela era imediatamente, ela simplesmente brilhava de uma maneira que humanos não fazem. E então ofereci a ela minha proteção. Disse a ela que se ela quisesse sair daquele mundo, ela poderia ser parte do meu. E ela disse sim. Bem desse jeito."

"Por quê?"

"Acho que ela estava entediada." Hanzo agarrou o pulso de Klaus, puxou-o para mais perto de seu rosto, acariciando suas bochechas. "Eu não me importei. Eu só a queria para mim."

Klaus deixou Hanzo roçar seus lábios nos nós dos dedos. "E ela queria você?"

"Depois de um tempo," Hanzo olhou para ele, os olhos mais escuros do que antes, a língua disparando para lamber a pele de Klaus. "Sabe, meu querido Klaus, o amor é uma coisa perigosa. Faz você se esquecer de seus limites. Os limites que você estabeleceu para si mesmo."

Klaus engoliu seco com a maneira como a mão de Hanzo subiu por sua coxa, apertando a carne. "Não sei nada sobre amor."

"Sim." Hanzo disse. "É melhor assim. Não aprenda sobre o amor, Klaus. Você passou muitos anos construindo esses seus limites e eles são altos e fortes como paredes. Não os deixe quebrar por algo tão terrível como o amor."

Klaus queria perguntar mais, mas antes que pudesse fazer, Hanzo envolveu os lábios em torno de seu dedo indicador, sugando o dedo e olhando para ele com aqueles olhos escuros.

"Você não teve o suficiente?" Klaus perguntou, a mão de Hanzo apertando sua perna.

"Nunca de você, meu querido." Hanzo murmurou em torno de seu dedo antes de deixar Klaus deslizar um segundo em sua boca, um zumbido satisfeito baixo em sua garganta.

Aiko voltou para o quarto, olhos azuis em Klaus e um sorriso malicioso nos lábios. Enquanto ela se ajoelhava no colchão ao lado de Hanzo e se abaixava para morder-lhe o pescoço, ela olhou para Klaus.

Klaus lembrava de ver algo feroz em seu olhar, algo que o fez estremecer de medo e antecipação. E assim ele entendeu o que Hanzo quis dizer.

O amor realmente é uma coisa terrível. Faz você querer mais e mais, faz você querer possuir e reivindicar, torna-o tão perigoso quanto o torna fraco.

O amor é um monstro.

⸎⸺⸺⸺⳹۩᪥۩⳼⸺⸺⸺⸎

Klaus viu Laurent novamente após um dia.

Quando saiu de seu estúdio, com uma dor de cabeça crescente depois de passar mais de dez horas lidando com papelada, ouviu um barulho vindo da cozinha.

Franziu a testa e fez seu caminho para o corredor principal, do espaço aberto ele pôde ver Laurent atrás do balcão, cortando legumes em uma tábua de cortar, segurando a faca com força.

Klaus contornou o balcão e ficou ao lado de Laurent, espiando a refeição. "O que está cozinhando?"

Laurent não respondeu, apenas continuou trabalhando no que estava fazendo.

"Ei Laurent, estou falando com você."

Ainda sem resposta, Klaus percebeu que algo estava muito errado. A faca de Laurent continuava cortando no mesmo lugar, a mesma pimenta verde que agora foi reduzida a nada além de picadinho, até mesmo  a tábua de corte branca já tinha numerosos amassados da ponta afiada da lâmina, cortes na superfície do plástico.

"Largue essa coisa." Klaus tentou. "Você pode me ouvir?'

Laurent nem mesmo estava olhando para a tábua, ele estava apenas olhando entorpecido, lábios entreabertos, seu braço movendo-se sozinho. Então antes que realmente pensasse no que estava fazendo, Klaus agarrou seu braço.

A reação imediata pegou Klaus de surpresa. Todo o corpo de Laurent ficou tenso e antes que Klaus pudesse piscar, Laurent o prendeu contra a parede do outro lado da cozinha, sua mão pressionada com força em seu peito e a faca contra a garganta de Klaus, a lâmina pressionada dolorosamente mas não forte o suficiente para tirar sangue. Os olhos de Laurent estavam escuros, sua respiração saindo irregular e Klaus tinha certeza que um movimento em falso iria fazê-lo sangrar. Ele engoliu seco e tentou se mover, mas Laurent apenas se pressionou contra ele, corpo rente ao dele, o aperto na faca mais forte.

Klaus lambeu os lábios. "Tire essa faca da minha cara, Laurent."

Laurent piscou, seus olhos lentamente ganhando foco. "O que—"

"Laurent," Klaus sibilou. Entre a lâmina cravando em sua garganta e a proximidade de Laurent, ele não conseguia respirar. "Saia de perto de mim!"

Só então Laurent percebeu o que estava acontecendo. Como se queimado, ele recuou para o mais longe possível de Klaus, as costas pressionadas contra o balcão.

"Eu–"Ele engoliu seco. "Sinto muito, não sei o que aconteceu, e–eu não queria, sinto muito."

"Ok," Klaus finalmente respirou fundo, seus pulmões quase queimando. "Ok, tudo bem, acalme-se."

"Não." Laurent murmurou, sua mão ainda segurando a faca. "Não, não está bem, e-eu não estou bem."

"Laurent, ouça, você – não foi sua culpa." Klaus limpou a voz e massageou seu pescoço, a pele particularmente sensível onde a lâmina cravou, mas sem sangue. "Eu não deveria ter tocado em você, não é sua culpa."

"Não!" Laurent exclamou, imobilizando Klaus com um único olhar, olhos cheios de algo que o fez tremer. "Não me diga que isso não é minha culpa porque é! Tudo o que está acontecendo é minha culpa porque eu sou um idiota que não consigo me proteger e preciso ficar me escondendo atrás de você!"

Por alguma razão, Klaus sentiu irritação crescendo em seu peito.

"Bem, porra,perdoe-me se estou tentando mantê-lo vivo."

"Eu não sou a porra de uma coisa frágil que você tem que esconder em uma caixa de vidro!Eu não sou sua boneca bonita!"

Klaus franziu a testa. "O que?Nunca pensei em você dessa maneira."

Laurent bufou, seus lábios tremendo. "Todo mundo pensa assim, eu sou a boneca de todo mundo, burra demais para saber o que está acontecendo e fácil demais de quebrar."

"Você está falando sobre mim nesse momento ou você está falando sobre o Lange?" Klaus respirou fundo. "Você não é uma boneca e não vou trata-lo como tal. Mas você precisa se acalmar ou—"

O aperto de Laurent na faca aumentou e sob os olhos de Klaus, ele levantou o braço e enfiou a faca com força na tábua, deixando-a presa ali, perfeitamente reta.

"Me acalmar?"

"Lau–"

"É melhor você cuidar da porra da sua boca, chérie." Disse ele com dentes cerrados. "Eu não vou me acalmar. Você quer saber por que?Estou cansado, mas não consigo dormir. Estou faminto, mas não posso me alimentar. Existe alguém tentando me matar e não posso fazer nada a respeito. Eu não consigo me acalmar!"

Klaus ficou quieto enquanto a voz de Laurent ecoava na cozinha antes que ele respirasse fundo e se afastasse do balcão.

"Sinto muito." Laurent sussurrou, dando a volta no balcão e saindo rapidamente para as escadas.

Klaus não pode fazer nada além de encarar a faca, a lâmina cortando profundamente a tábua, ainda tremendo fracamente com a força do impacto. Esfregou a pele sensível do pescoço, bem na garganta, sentindo-a latejando sob seu toque e soltou a respiração que estava prendendo.

O toque de Laurent ainda queimava em sua pele.

~•~

Ryland apareceu de repente.

Klaus se lembrava muito claramente do dia que Ryland simplesmente apareceu em sua vida, um ato tão natural que ele se perguntou se Ryland sempre estivera lá sem ele perceber.

Ele estava sentado no escritório de seu pai, mexendo em uma papelada.

"Quem é você e o que está fazendo aqui?"

Ryland se virou com isso. Ele parecia muito mais jovem na época, bonito e maduro, seus ombros retos e largos.

"Você deve ser o filho do chefe." Ele sorriu levemente, levantou-se da cadeira e fez uma reverência. "Meu nome é Ryland Adams, agora sou encarregado de cuidar dos casos sujos, eu acho."

Klaus arqueou uma sobrancelha e entrou na sala. "O que aconteceu com o Mike?"

O sorriso de Ryland não vacilou. "Seu pai decidiu que Mike era melhor ser removido do cargo."

"Então ele está morto em algum buraco." Klaus assentiu. "Anotado."

Ryland inclinou a cabeça para o lado, os olhos semicerrados. "O que aconteceu com seu rosto, senhor?"

Klaus quase se esqueceu disso mas com a menção do corte em sua bochecha ele começou a doer de novo.

"Não me chame de senhor, você não trabalha para mim, trabalha para o meu pai."

"Vou trabalhar para você assim que assumir as rédeas, senhor. Eu já trabalho para você, de certa forma.” Ryland deu um passo à frente. “Posso verificar seu ferimento, senhor? Parece bastante profundo. ”

"Você também é médico?"

Ryland sorriu e balançou a cabeça. “Eu queria ser médico uma vez. Mas não, não sou médico. Eu ainda posso ter certeza de que ele não infeccionará."

“Já tratei, não é nada.”

"Seu pai fez isso com você?"

Klaus apertou a mandíbula. “Se você quer sobreviver neste mundo, Ryland,sugiro que não fale sobre essas coisas tão levianamente.”

"Isso não responde à minha pergunta."

"Você acha que alguém, exceto meu pai, teria a coragem de me tocar?"

Ryland cantarolou e caminhou até ele, mantendo uma distância discreta entre eles enquanto olhava para o corte em seu rosto. "Um anel?"

"Estilete."

“Ah, sim,” Ryland acenou com a cabeça, então seu sorriso caiu e ele olhou para Klaus, seu olhar sério e imóvel. “Eu trabalho para seu pai, senhor. Mas também posso fingir que o faço.”

Klaus ficou quieto, sabendo bem as implicações do que Ryland estava dizendo a ele.

Jurar lealdade, às vezes, tem a ver com saber o que dizer.

"Por que você faria isso?"

“Porque, senhor,” Ryland murmurou. “Eu não trabalho para covardes. E você não é covarde.”

"Ou talvez seja porque você sabe que eu te expulsaria no momento em que meu velho mordesse a poeira se eu não te considerasse útil o suficiente."

Ryland sorriu brilhantemente com isso. "Agora, senhor, por que você diria uma coisa tão grosseira?"

Klaus soube imediatamente que Ryland era perigoso.

Ele não estava segurando nenhuma arma, Klaus não conseguia ver o suporte de uma arma sob a jaqueta perfeitamente ajustada. Ele não precisava de armas, Klaus percebeu, não quando ele tinha suas palavras.

"Pare de me chamar de senhor e você será meu."

“Bem então, Klaus,” Ryland curvou-se novamente, apenas um leve aceno de cabeça. "Sou seu."

O fato é que Ryland pode ter dito tal coisa, que ele pertencia a Klaus e, talvez, isso fosse verdade naquela época.

Mas Klaus sabia bem que em algum momento - não, na verdade, aconteceu uma noite. Klaus sabia bem que uma noite, sua lealdade mudou e que ele decidiu pertencer a outra pessoa.

É uma coisa boa que a pessoa a quem Ryland pertence também pertença a Klaus de qualquer maneira.

~•~

Klaus levantou os olhos dos documentos em sua mão ao ouvir batidas na porta de seu estúdio. Colocou os papéis de volta na mesa, franzindo a testa, pois não esperava que Laurent  realmente deixasse seu quarto por mais de dez minutos.

"Sim?"

A porta se abre e, para sua surpresa, era Ryland quem entrou na sala.

“Eu me convidei”, disse o homem enquanto fechava a porta atrás de si e se sentava na cadeira oposta à de Klaus. "Feliz em me ver?"

"Não."

"Então, da próxima vez, não me dê as chaves da sua maldita casa e não me convide para vir aqui."

“Dar a você as chaves não significa que você pode simplesmente vir e agir com todo o poder.”

"Estou agindo de forma poderosa?"

Klaus arqueou uma sobrancelha. "Você já não agia assim?"

Ryland apontou o dedo para ele. "Você me pegou."

Oh, meu Deus.

“Estou ocupado, Ry,” Klaus murmurou, apontando para os papéis à sua frente.

“Escute, venho em paz. Eu juro, ”Ryland então suspirou. "Ok, vou até deixar você fumar na minha frente para mostrar como minhas intenções são pacíficas."

Bem então.

Sem nem mesmo tentar esconder sua expressão presunçosa, Klaus rapidamente pegou seu maço de cigarros. Ele acendeu um deles, deu uma longa tragada e então, lentamente, soprou a fumaça diretamente no rosto de Ryland.

O homem fechou os olhos, os lábios apertados e Klaus sorriu antes de se recostar na poltrona.

“Muito pacífico”, disse ele.

“Você é mesquinho, porra,” Rylando afastou a fumaça de seu rosto, sorrindo também. “Ouça, Klaus, vim pedir desculpas. Sinto muito pelo que disse da última vez, eu sei disso- bem, você não é assim. Você nunca foi. ”

"Então por que você disse o que disse?"

"Você acha que é o único que está nervoso, Klaus?" Ryland cruzou os braços sobre o peito, um dedo tocando em seu cotovelo. “Eu sou o encarregado de manter os bairros limpos. E, no entanto, não consigo fazer isso agora. Você está certo, essa é a sua cocaína nas ruas e não consigo encontrar a fonte. Estou nervoso. Não estou fazendo um trabalho bom o suficiente, foi isso que me fez explodir. Isso, e- ”

“Sim,” Klaus clareou sua voz. “Eu também sinto muito. Eu não deveria fazer comentários sobre você e o Johnny. ”

Ryland deixou alguns momentos de silêncio passarem, seu rosto uma máscara de aço.

“Sim,” ele disse no final. "Você realmente não deveria."

Klaus tinha certeza de que, se fosse qualquer outra ocasião, ele teria estremecido com a maneira como Ryland o olhava, um aviso muito sutil em seu olhar que ainda conseguia soar incrivelmente alto.

"Eu não vou fazer isso de novo."

"Boa." Ryland sorriu novamente. “Bem, eu não vim aqui apenas para me desculpar. Minha alma não é tão pura. ”

"Diga-me algo que eu não sei."

"Eu tenho algumas informações para você, algo que você ficará feliz em ouvir."

Klaus arqueou uma sobrancelha. "É sobre o Lange?"

“É sobre o homem que atacou seu vampiro”, Ryland respondeu e Klaus ficou tenso em antecipação. “O homem que ele abateu como um maldito porco. Não pensei que ele tivesse isso nele. "

“Tem muitas coisas que não sabemos sobre ele,” Klaus suspirou. “Mas isso não vem ao caso. O que você tem?"

Ryland concordou. “Johnny me mandou uma foto da tatuagem, do rosto daquele homem e amostra de sangue para fazer testes. Os resultados de sangue foram inúteis e não deram resultado, então não acho que ele esteja registrado. E se estava, ele fez um ótimo trabalho em transformar o sistema em fantasma. Mas- ”Ryland levantou a mão quando viu Klaus abrindo a boca para dizer algo. “Essa tatuagem pertence a uma certa gangue.”

"Que gangue?"

“Cardinal Company. ”, Ryland respondeu. “Eles são uma gangue antiga, maior do que a maioria. Eles começaram com pequenos crimes há cerca de vinte anos, mas cresceram. Principalmente drogas e prostitutas nos distritos neutros, mas sua maior renda vem de suas armas. ”

Klaus apertou os olhos e deu uma tragada na fumaça. "Eles são contrabandistas?"

“A melhor entre todas as outras gangues, aparentemente.” Ryland esfregou a palma da mão sob o queixo. “Seus principais clientes vêm da Tailândia, mas eles têm uma grande rede. Eles estão operando em todo o continente, eles são bons.”

“Mas eles estão na nossa cidade.”

“Eles com certeza estão,” Ryland sorriu. “Eles operam no setor sul da cidade.”

Ah não.

"Você sabe o que isso significa, certo?"

Oh não .

Klaus soltou um suspiro profundo e esfregou a ponte do nariz antes de exalar uma nuvem de fumaça. "Você poderia, por favor, ligar para ela e marcar uma consulta para mim?"

“Já fiz,” Ryland sorriu de orelha a orelha. "Amanhã, duas da tarde, você sabe que ela odeia se você se atrasar."

“Sim, foda, eu sei,” Klaus gemeu. "Terminamos?"

“Certamente terminamos os negócios, sim.” Ryland relaxou em seu assento. "Então."

Klaus fechou os olhos. "Então?"

"Johnny me disse que Laurent vai ficar aqui agora."

“Vejo que a boca enorme de Johnny não está lá apenas pela estética.”

“Klaus.”

“Ele está aqui, sim. Ele provavelmente está dormindo agora. Ou se afogando em auto-aversão, quem sabe, um dos dois, a escolha é sua. Talvez ambos." Klaus envolveu os lábios em torno do cigarro.

"Então, perguntar como ele está se sentindo é um tanto inútil, hein?" Ryland ficou em silêncio por um momento. "O que aconteceu com o seu pescoço?"

Ah sim.

Klaus esfregou a mão na marca vermelha em sua garganta. Não estava particularmente sensível agora, mas sua pele é clara e marca facilmente. Havia uma linha rosada lá agora

“Ele fez isso,” Klaus respondeu, abrindo os olhos para julgar a reação de Ryland, mas o homem permaneceu neutro. “Ele estourou ontem. Mas ele não era realmente ele mesmo naquele momento. ”

Ryland se inclinou para frente, os olhos semicerrados em concentração enquanto ele olhava para a marca. “Uh. Faca?"

"Sim."

"Bem, merda."

“Não é culpa dele,” Klaus respondeu.

Não era nem ele.

Klaus não podia dizer que conhecia Laurent. Ele não conhecia, ele sabe apenas o que Laurent o deixou saber, o resto era baseado em suposições. Mas Klaus se lembrava do vazio de tudo exceto do medo nos olhos de Laurent quando ele apontou a faca para seu pescoço, as mãos trêmulas que o seguraram.

Isso não era Laurent.

“Ele mal sai do quarto, acho que não se alimentou desde que veio para cá. Ele tem muita coisa na cabeça.” Klaus olhou para o cigarro em sua mão antes de dar uma última tragada na fumaça, então o jogou no cinzeiro. “E ele está traumatizado. Não sou bom em confortar as pessoas, então ele está se sentindo uma merda. Em algum ponto, ele vai parar de se sentir assim. ”

Ryland olhou para ele por vários segundos, os olhos focados em seu rosto, então descruzou os braços e apoiou o cotovelo esquerdo na mesa.

“Klaus,” Ele começou e sua voz é cuidadosa. "Eu preciso te perguntar uma coisa e eu preciso que você seja absolutamente honesto comigo."

Klaus já sabia o que Ryland queria perguntar a ele, mas, por causa disso, ele respondeu: “Vá em frente”.

"Você tem sentimentos por ele?"

Sim, isso é exatamente o que Klaus pensou que ele iria perguntar.

“Não,” Klaus respondeu. "Não gosto disso."

Ryland concordou. "Então como?"

“Eu sinto- eu não sei, Ry. Protetor é uma palavra para isso, ”Klaus respirou lentamente. “Mais do que gostaria de admitir, eu acho. Eu quero saber porque."

"Fraqueza?"

“Ele não é fraco,” Klaus balançou a cabeça. “Ele é um monte de coisas, mas não é fraco. Talvez seja porque ele me lembra de mim mesmo. ”

Ryland franziu a testa. "Você mesmo."

“Você não acha que somos parecidos? Ou- não, não é semelhante agora. Ele é semelhante ao que eu era anos atrás. ”

“Oh,” Ryland piscou,inclinando o queixo para cima. "Entendo."

"Você concorda, não é?" Klaus sorriu para o homem. “Ele tem sangue nas mãos, mesmo quando não quer sujá-las. Mas ele também matou porque queria matar. ”

“É por isso que você é protetor? Você não quer que ele acabe como você? "

Klaus zombou. “Porra, eu não quero que uma única alma termine como eu. Nem uma merda de alma. ”

Ryland acenou com a cabeça, recostando-se na cadeira novamente. “Sim, compreensível. Mas ainda assim, sobre Laurent, você não acha que ele precisa ver um rosto amigável? "

"Você está dizendo que meu rosto não é amigável?"

"Você se olhou em um espelho ultimamente, ou-?"

“Foda-se,” Klaus massageou sua têmpora. "Cara amigável, você diz."

Ryland acenou com a cabeça, já sorrindo para si mesmo.

"Te odeio." Klaus murmura. “Ligue para o August e diga a ele para trazer o querido dele aqui amanhã. Para que ele não fique sozinho enquanto eu estiver fora. ”

"Vou fazer." Ryland se levantou da cadeira e endireitou sua jaqueta, consertando-a com um puxão forte. “Bem, vou me despedir agora. Eu tenho Johnny esperando por mim em casa e ele é alguém que eu realmente gosto de ver, então- ”

"Você disse que veio aqui para se desculpar, você só veio para me insultar."

Ryland revirou os olhos. "Obviamente, isso é parte da diversão." ele então deu um sorriso para Klaus. “Apenas relaxe, Klaus. Chamar o garoto é uma boa ideia, vai ajudá-lo. ”

"Uma boa ideia, hein?"

“Sim,” Ryland se virou e acenou para ele. "Uma ideia muito boa."





Acontece que não é uma boa ideia.

Klaus se lembrava das palavras de August, o que ele disse sobre Spencer. Que ele era perigoso. No momento em que a Spencer saiu do elevador e entrou na cobertura, Klaus pensou a mesma coisa.

Havia algo na maneira como Spencer se conduz, ombros retos e passadas largas, que grita confiança. Klaus aprendeu que a confiança não vem do nada, há algo para sustentá-la. No caso de Spencer, deve ser poder.

É quase como se ele o irradiasse, no brilho de sua pele e no fogo em seus olhos. O ar fica mais denso quando Spencer caminha até ele, quase como se estivesse cheio de eletricidade.

Spencer parou na frente dele, prendendo-o com um único olhar, mais alto que Klaus de uma forma que não o fazia se sentir pequeno, mas, bem, amargo.

“Spencer,” August avisou de onde ele estava.

“Não se preocupe, não vou encostar um dedo nele,” Spencer respondeu, com uma fala arrastada e uma voz mais profunda do que Klaus esperava.

Ele conheceu Spencer antes, naquela noite no Nightshade, mas vê-lo calmo e confiante mudou completamente a ideia que Klaus tinha sobre ele.

“Não estou preocupado com ele”, suspirou August. "Estou preocupado com você."

“Não vou encostar um dedo nesse aqui se ele se comportar”, disse Klaus, ouvindo August gemer e Spencer arqueou uma sobrancelha perfeita.

“Serei rápido,” Spencer estreitou os olhos. "Se, por qualquer motivo, Laurent estiver em perigo novamente, eu vou esfolar você vivo."

Klaus, por mais que não queira admitir, podia sentir que essa ameaça não era vazia.

Spencer olhou para ele, sua expressão ilegível, esperando por uma resposta.

Klaus estalou a língua. “Em primeiro lugar, garoto ,” ele pressionou sua mão no peito de Spencer e o empurrou para longe, não com força, mas ainda com firmeza. "fique calminhos aí. Em segundo lugar, ele não estará em perigo novamente. Ele está seguro. ”

Spencer zombou. "Sim, isso é o que Laurent me disse um dia antes de decidir arrancar o coração de um cara."

“A vida funciona de maneiras peculiares.”

“Oh, é verdade. Mas se a vida decidir agir de forma estranha novamente, você será aquele com seu sangue pintando as paredes desta linda casa, então- ”

August limpou sua voz e Spencer se virou para ele, seu olhar se transformando em algo mais suave e menos ameaçador quando seus olhos pousaram em August.

“Gosto de competir com o dimensionamento de pênis tanto quanto qualquer ser humano na Terra”, disse ele, com a voz neutra. “Mas você está aqui por Laurent, não para ameaçar o homem a quem devo minha vida. Então, talvez se quisermos começar esse show? "

Spencer revirou os olhos dramaticamente antes de voltar a olhar para Klaus. "Onde ele está?"

"Lá em cima, primeiro quarto à esquerda."

Spencer saiu imediatamente, correndo para as escadas e então subindo e desaparecendo da linha de visão de Klaus.

Ele se virou para August com uma sobrancelha levantada. "Você dorme com aquela porra de cobra?"

“Ele não quis dizer isso,” August murmurou, as orelhas ficando em um tom de vermelho brilhante.

“Oh, não, ele quis dizer isso. E eu estou bem com isso, de verdade, ”Klaus pegou sua jaqueta de couro do cabide e a vestiu. “De qualquer maneira, estou fora. Fique de olho neles, não quebre nenhum copo, não use drogas pesadas no corredor principal e não mije nas minhas paredes. ”

"Que tipo de-"

“Seu namorado ali, mantenha-os na linha. Por despeito. "

“Apenas vá,” August gemeu. "Vou ficar de olho neles, basta ir embora."

Klaus não conseguiu conter um sorriso satisfeito enquanto dava um tapinha no ombro de August, apertando-o brevemente antes de entrar no elevador.

“Olhos abertos, garoto,” ele disse. "Aqueles dois podem comer você vivo."

~•~

Johnny deixou Klaus na frente da casa com nada mais do que um olhar desconfiado e um murmúrio "Boa sorte,amigo.”

Klaus sabe que vai precisar.

Enquanto o elevador antigo subia, barras de ferro forjado ao redor dele que ficam borradas nos cantos dos olhos de Klaus, ele respirou fundo e tentou relaxar. Não, relaxar não é a palavra certa. Ele tentou construir uma fachada de confiança que não tinha no momento, mas ela não precisa saber. Ela provavelmente iria ver através disso, mas ainda assim - não custa pelo menos tentar.

O elevador parou com um barulho metálico quando atingiu o andar mais alto e Klaus saiu, olhando por um segundo para a porta vermelha escura na frente dele. Ele deu os dois passos finais e depois bateu, recuando assim que o fez e esperou. A porta se abriu depois de alguns segundos e, por mais que Klaus esperasse não ser saudado por ela, ainda acontece.

"Uh", Cassie piscou, claramente surpresa ao vê-lo e cruzou os braços. "Bem, não faz muito tempo, Klaus."

"Cass," Klaus limpou a voz. "Estou aqui para ver-"

“Eu sei porque você está aqui,” Cassie disse, a voz plana e os olhos duros. Ela ainda deu um passo para o lado e fez um gesto para que ele entrasse.

Imediatamente, Klaus foi atingido pelo cheiro de incenso e velas perfumadas, o som de seus calcanhares abafado pelos ricos tapetes que cobriam o chão. Cassie fechou a porta atrás dele e passou a frente, fazendo um gesto para que ele a seguisse.

“Bem, vamos então,” ela disse, virando as costas para ele e se movendo em direção ao que Klaus sabia ser o corredor principal. "Ela está tomando banho, terminará em um segundo."

"Bom saber."

Klaus seguiu Cassie até a sala maior, as luzes diminuídas como sempre, um sofá no meio dela sobre outro tapete indiano, as velas ali eram menores, mas o cheiro do incenso ainda é muito forte.

"Quer alguma coisa para beber?" Cassie perguntou a ele antes de gesticular para que ele se sentasse no sofá.

"Não, obrigado Cass."

"Bom, porque eu tenho algo para te contar."

Ah não.

Klaus suspirou e caiu no sofá, muito macio e confortável para ser realmente confortável, mas Klaus não pôde fazer nada a respeito.

Cassie estava na frente dele, elevando-se com aquele olhar escuro dela, dedos delgados batendo nervosamente em seus braços nus.

"Você não deveria estar no trabalho a esta hora, Cass?"

"Onde estão meus garotos, Klaus?" Ela perguntou, seus lábios em uma linha reta.

"Eu não sei, você perdeu algum?"

"Klaus, onde estão Laurent e Spencer?" A mulher mudou seu peso na outra perna, seu vestido mal alcançando o meio de sua coxa para cobri-lo. "E já que estamos nisso, por que você está aqui?"

“Por que estou aqui não é da sua conta. E Laurent e Spencer estão bem. No momento eles estão na minha cobertura, na verdade, provavelmente no processo de pichar nas minhas paredes. "

Uma carranca marcava suas feições. "O que?"

"Não pergunte."

Cassie deu um suspiro. “Ouça, estou perdendo meus dois melhores queridinhos, ok? As pessoas não estão felizes. ”

“As pessoas podem ir se foder.”

Cassie zombou. "Sim, é isso que eles estão tentando fazer."

“Temos outros, eles podem passar um tempo com eles. Não posso mandar Spencer e Laurent de volta agora, não é seguro. ”

"Você está aqui por causa deles?" Cassie perguntou então, sua voz quase um sussurro, os olhos se arregalando de preocupação. “Você está, não é? Oh, Deus, o que eles fizeram? O que-"

"Cassie," Klaus apertou o punho sobre o joelho, ficando tenso no sofá. "Eles estão bem. Estou mantendo-os seguros, os dois. Eles permanecerão seguros. ”

Cassie abriu a boca para dizer algo, mas de repente houve passos frenéticos ficando mais altos com o barulho e, antes que Klaus tivesse tempo de piscar, houve um peso em seu colo, cabelo branco mascarando sua visão e pelo maldito pelo fazendo cócegas em seu nariz.

"Klaus!" Suli se afastou do abraço esmagador, sorrindo para ele com o rosto e os cabelos ainda molhados do banho, seu rabo balançando descontroladamente atrás dela. "Oh, meu doce, eu senti tanto sua falta!"

"Suli", Klaus sorriu para ela, colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. "Eu também senti sua falta."

"Você raramente vem mais visitar!" Ela fez beicinho e se virou para Cassie. “Não é? Ele é um malvado! "

Cassie suspirou, sorrindo para Suli. “Ele é, não é? Mas talvez agora você deva sair de cima dele e colocar algumas roupas, linda.

Klaus olhou para Suli e gemeu no momento em que percebeu que ela estava completamente nua, absolutamente sem vergonha e encharcando seu jeans com água.

“Não quero,” Suli respondeu, voltando-se para Klaus. "Você quer que eu me vista?"

“Eu não me importo se você se vestir ou não, apenas saia de cima de mim. Você é mais pesada do que parece. ”

Suli revirou os olhos, suas orelhas sacudindo em aborrecimento acima de sua cabeça, mas ela ainda saiu de seu colo e se sentou no sofá ao lado dele. Ela pegou um travesseiro e o colocou no colo enquanto cruzava as pernas.

“Grande malvado. Quando eu senti tanto sua falta, você não deveria me tratar assim. "

"Quando você começar a usar roupas ou pelo menos se secar antes de se sentar em cima de mim, vou começar a tratá-la bem." Klaus olhou para Cassie com uma sobrancelha levantada. "Você não deveria estar no trabalho, Cass?"

Cassie estalou a língua, mas então deixou seus braços caírem para os lados. "Bem, já vou indo."

"Beijo!" Suli exclamou de repente, sorrindo amplamente.

Cassie assentiu e caminhou até ela antes de se inclinar e deixar um beijo casto nos lábios de Suli, sorrindo ao fazê-lo.

“Vejo você de manhã,meu amor,” Cassie disse enquanto se endireitava. "E Klaus, conversaremos mais tarde."

Oh, ótimo.

Ela não esperou por uma resposta (o que realmente significa que ela não iria aceitar nenhuma resposta além de não), ela apenas enviou um último sorriso para Suli e então se afastou e os deixou sozinhos.

Klaus se virou para Suli e a encontrou sorrindo calorosamente, sua bochecha pressionada contra o encosto do sofá.

"Por que você está tão feliz, hein?"

“Estou feliz em ver você de novo, anjo. Isso é tudo,”Seu rabo se enrolou sobre seu colo e ela distraidamente começou a acariciar o pelo branco macio. "Mesmo que eu desejasse que as circunstâncias fossem mais felizes."

Klaus assentiu enquanto tirava a jaqueta,se inclinando sobre Suli e a colocando sobre os ombros dela. “Uma pessoa que merecia morrer está morta. Não diria que as circunstâncias não são felizes. ”

Suli riu, o som cristalino e familiar para Klaus, que se pegou sorrindo para ela enquanto a kitsune deslizava seus braços nas mangas. Ele fechou o zíper da jaqueta para ela, ajustando-o em seu pequeno corpo.

“Sempre tão mórbido, Klaus.”

"Estou apenas sendo honesto."

“Devemos ir direto ao assunto? Só para que possamos ter mais tempo depois para bate-papo, ”Suli começou a brincar com uma mecha de cabelo úmido, suas orelhas sacudindo e se contorcendo enquanto ela falava. “Ryland me enviou as fotos do homem.”

Klaus acenou com a cabeça e se acomodou em seu lugar. "E?"

"Você o matou, Klaus?"

"Não fui eu."

"Então quem?"

"Isso importa?"

Suli franziu os lábios, os olhos semicerrados enquanto pensava sobre isso. “Talvez não, mas você me conhece: estou curiosa.”

“Ou-” Klaus sorri. “Talvez você só queira ter certeza de que não está dando boas informações de graça.”

A kitsune olhou para ele por alguns segundos antes de seus lábios se abrirem em um grande sorriso, os olhos brilhando com diversão.

“Você nos conhece, as raposas, Klaus, somos inteligentes.”

"Você é, sim." Klaus esfregou a nuca, seu nariz coçando por causa do incenso, mas ele não ligava para isso, sabia que Suli realmente adorava esses cheiros. “Eu tenho alguém sob minha proteção. Um vampiro.”

Os olhos de Suli se arregalaram, mas ela não o interrompeu.

“Foi ele quem matou aquele homem depois que o pedaço de merda o atacou. Preciso saber se ele é de uma gangue só para entender exatamente com quem estou começando uma guerra, se é que estou começando uma. ”

A língua de Suli pressionou contra o interior de sua bochecha. "E como é que este vampiro em particular acabou sob sua proteção, hein? Eles não são de se envolver com assuntos humanos."

“Não, Suli. Você conhece as regras. ”

“Certo, certo,” Suli revirou os olhos. “Você e suas regras estúpidas. Eles tornam tudo tão chato. ”

As regras de Klaus existiam para que ele não se metesse ainda mais fundo na merda que sua vida tem sido ultimamente, mas ele não respondeu nada.

“Bem, este homem é realmente parte de uma gangue. Cardinal Company. ” Suli disse. "Mas você já sabe disso, não é?"

"Ryland investigou, sim."

“Bem, eles são uma grande gangue. Velha, mais poderoso do que eles deixam transparecer. Eles não possuem nenhum distrito, mas são eles que você procura quando se trata de armas. ”

"Quão grande?"

“Eles têm os russos beijando a sola dos sapatos italianos e boa parte do Leste Asiático também. O chefe deles é inteligente, ”Suli colocou as pernas no colo de Klaus enquanto continuava acariciando seu rabo. “Mas é velho. Ele está perto dos 70 anos, correm boatos de que alguns de seus homens estão contra ele. Tentando matá-lo para que outra pessoa pudesse tomar seu lugar.”

"E?"

“Eles não terão sucesso. Santiago Ricci é muito inteligente para ter algumas crianças o matando." Sulli começou a olhar para suas garras, bonitas e bem cuidadas, embora possam facilmente rasgar a garganta de Klaus. “Eles são respeitados, no entanto. Com o contrabando de armas em escala tão grande, vem o status.”

Klaus assentiu. "E quanto ao homem que foi morto?"

“Não é particularmente importante, mas também não é ninguém. Ele é... 

bem, o Ryland deles, se quisermos colocar dessa maneira. "

Klaus arqueou uma sobrancelha. “Então é ele quem suja as mãos quando algo está no caminho.”

"Sim." Suli sorriu. “O nome dele era Antônio Jordano. E Klaus, deixe-me dizer a você, todos aqui no distrito sul sabem que ele está morto. O Cardinal sabe. ”

“Eu quero falar com o chefe deles. Com Santiago. ”

“Não vai ser fácil,” Ela acenou para ele. “Ele não é um tolo e é um pouco paranóico. Ele vai pensar que é uma armadilha, ele nunca vai concordar em conhecê-lo. ”

“Em um espaço público, escolha dele, eu irei sozinho.”

“Ainda não será fácil.”

“Suli,” Klaus murmurou, os olhos da kitsune piscando para seu rosto. "Você conversa com Santiago Ricci e diz a ele que ele vai me encontrar, goste ou não." Ele fez uma pausa, esperando por uma resposta que não obteve. Klaus lambeu os lábios. “Você diz àquele filho da puta que um de seus brinquedos colocou as mãos em um dos meus e que eu não deixo essa merda passar. Tenho certeza que ele sabe que eu não deixo essa merda passar. ”

Lentamente, um sorriso assumiu as feições de Suli, fazendo sua pele brilhar e seus olhos brilharem de excitação.

Klaus conhecia bem sua amiga raposa. Em todos esses anos durante os quais Suli trabalhou para ele como sua informante, ela nunca recuou diante da perspectiva de um derramamento de sangue.

"Vou marcar uma reunião, então."

Klaus expirou lentamente. "Ótimo, obrigado."

Suli começou a tamborilar com os dedos no travesseiro que tinha entre as pernas, os dedos dos pés se contorcendo. “Agora podemos apenas conversar um pouco? Por favor?"

Klaus, que sempre é tão fraco quando se trata de Suli, mesmo que ele gostasse de agir como se tivesse tudo sob controle perto dela, disse: "Sim, claro que podemos."

"Bem, a primeira pergunta que tenho é: você tem um amante?"

Klaus arqueou uma sobrancelha. "Eu pareço ter um?"

"Não. Você está tão tenso, anjo, você precisa transar. ”

"Nem todo mundo tem sorte como você e Cassie."

"Mas-" Suli lambeu os lábios, suas orelhas se contorcendo. “Esta jaqueta cheira a flores, Klaus. Você não pode enganar o nariz de uma raposa, mesmo que o cheiro seja incrivelmente fraco. ”

Klaus achou que, talvez, o cheiro poderia ter sido mais forte se Laurent tivesse feito alguma coisa ultimamente. Seu perfume ainda era fraco, quase como rosas murchas.

"O vampiro cheira assim." Klaus responde. "Ainda sem amante, Suli."

"Ele está hospedado na sua casa?"

“Não era mais seguro onde ele morava.”

“E quanto ao Gustie? Ele está bem? "

Bem, essa é uma pergunta muito boa.

"Eu acho. Ele diz que está.” Klaus encolheu os ombros. "Você sabe como August é, ele é uma bagunça."

Suli riu, ela parecia relaxada e contente, seu cabelo secando lentamente e descansando em seus ombros em cachos macios.

“Ouvi dizer que meu lindo pássaro estava importunando você sobre seus queridinhos,” Suli então disse. "Como está o Spencer?"

Klaus franziu a testa, os nós dos dedos roçando em círculos lentos sobre o joelho de Suli. "Você o conhece?"

"Claro que o conheço, fui eu que o encontrei." O sorriso de Suli suavizou em algo gentil. “Oh, ele era tão jovem naquela época. Um yuukai trêmulo e desnutrido, demoniozinho sozinho sob a chuva em um beco escuro. Mas tão bonito, Klaus. O mais bonito, mesmo quando tão indefeso. ”

"Você o acolheu?"

Suli acenou com a cabeça. “Você me conhece, não resisto a coisas bonitas. Cassie e eu cuidamos dele por mais de dois anos. ”

"E então o que você fez, você apenas o jogou em um dos meus bordéis?"

Suli zombou. "Por favor. Como se pudéssemos fazer Spencer fazer algo que ele não gosta. Ele foi lá sozinho, não tínhamos ideia. Ele não estava mais morando conosco. Ele está bem agora, não está? "

Klaus encolheu os ombros. “Eu não o conheço e, francamente, eu não me importo. Ele parece estar bem enquanto fode com a vida de August, então- "

"Espere." Suli franziu a testa, seu sorriso desapareceu. “Augustie? O que ele tem a ver com o Spencer? "

"Você não sabe?" Klaus balançou a cabeça. “Eles estão brincando ou algo assim, mas tenho certeza de que August está apaixonado pelo cara ou apenas completamente obcecado. Sua escolha. ”

Suli ficou quieta em seus olhos dourados encarando Klaus atentamente, quase como se medindo por uma reação ou mais. No final, ela soltou um suspiro e inclinou a cabeça para o lado, o cabelo caindo sobre sua bochecha.

“Tenha cuidado com o Spencer, Klaus,” ela disse, sua voz baixa e palavras ditas com cuidado. "Ele é mais perigoso do que parece."

Klaus pensou em Spencer, sobre o que viu dele até agora e, por mais que sejam apenas pequenas coisas, podia concordar com Suli. Seja o fogo em seus olhos ou a confiança que carregava consigo como se estivesse usando um terno caro, Spencer pode não parecer perigoso, mas ele se sentia perigoso. Talvez até letal de uma forma que Klaus não tinha certeza se entendia.

"Como?" Klaus perguntou, Suli mordiscando o lábio inferior por um segundo.

"Ele é esperto. Mais do que outros. Ele entende as pessoas, sabe? " Ela se inclinou para frente e começou a brincar com o cabelo de Klaus, torcendo mechas loiras entre os dedos. “Ele entende os humanos, mas como um demônio ele não pode mentir. Então, o que você faz quando sabe o que os humanos querem, mas não consegue mentir para conseguir isso?"

Klaus encolheu os ombros. "Você aparentemente começa a trabalhar em bordéis."

Suli revirou os olhos, seu rabo balançando brevemente, quase como se a resposta a irritasse. O que provavelmente fazia, mas Klaus há muito parou de tentar não irritá-la.

“Você manipula as pessoas”, ela disse no final. “Você distorce a verdade para que ela se adeque aos seus propósitos, mas nunca mente de verdade. Você dá a eles tudo que você quer porque, no final das contas, os humanos são coisinhas frágeis e quebram com muita facilidade. Especialmente se você os tratar da maneira como eles querem ser tratados. É tudo uma questão de confiança, Klaus, ”Suli sorriu. “Spencer sabe como ganhar sua confiança. Você não confiaria em alguém que não pode mentir? "

Klaus inclinou a cabeça contra o encosto do sofá, sua mão apertando o joelho de Suli. “Quando você coloca assim-”

"É a única maneira de colocar isso,meu anjo."

"Então você está me dizendo que ele está manipulando August?"

“Eu não disse isso. Eu disse que se ele quiser, ele pode.”Suli roçou sua bochecha com os nós dos dedos, sua pele quente e incrivelmente macia. “Spencer é perigoso, mas ele também é gentil. Tão gentil, Klaus, você não acreditaria. E o Gustie, ele é gentil também.” A mulher se mexeu, as pernas retas e tensas por um segundo antes de seus membros tremerem e ela relaxar novamente, um som semelhante a um ronronado deixando seu peito enquanto ela fazia isso. “Talvez ele seja o único que pode ficar com o Spencer, sabe? Eles não são tão diferentes. ”

O que é talvez o que realmente preocupa Klaus.

Ele tinha a sensação de que Spender e August eram semelhantes de maneiras que ele ainda não conseguia compreender verdadeiramente, mas agora que ele pensava sobre isso com mais clareza, podia ver. Ambos são gentis, se ele tiver que confiar nas palavras de Suli, os dois parecem bonitos como bonecos quando na realidade são mais perigosos do que uma cobra venenosa.

Ou pelo menos, August é.

“Não se preocupe com a reunião,” Suli disse de repente. “Vou providenciar isso e, com sorte, você terá respostas para suas perguntas. Santiago é um homem inteligente, eu te disse, há uma razão para ele ser o chefe daquela gangue por tanto tempo. Certifique-se de fazer as perguntas certas. ”

Klaus assentiu. “Para isso, preciso das informações certas”.

"Tudo bem",Ela gemeu. "Vou te enviar um arquivo com algo mais sobre ele, feliz agora?"

“Muito,” Klaus sorriu e então deu um tapinha na perna dela. Ela as tirou de seu colo e os colocou mais perto de seu peito. “Eu tenho que ir agora, Suli. Johnny está esperando por mim no carro. ”

"Sabe, é hora de você realmente começar a dirigir por aí."

“Por que eu faria isso quando tenho pessoas que podem fazer isso por mim? Eu odeio dirigir, você sabe disso,”Klaus se levantou do sofá e estendeu a mão.

Suli abriu o zíper da jaqueta e deu de ombros, mais uma vez despreocupada com sua nudez, e devolveu para Klaus.

“Venha me ver com mais frequência, Klaus. Cassie pode não dizer isso em voz alta, mas ela sente sua falta também. Ela sente falta de nossos jantares juntos. ”

"Eu irei com mais frequência."

"Traga seu vampiro também, adoraria conhecê-lo."

Klaus zombou. "Ah não,estou mantendo-o o mais longe possível de você."

“Malvado,” ela fez beicinho e Klaus não conseguiu evitar de se inclinar e beijar sua testa, a sentindo suspirando feliz. "Te vejo em breve?"

“Sim,” Klaus se afastou dela, sorrindo. "Vejo você em breve."

 

 

 

 

 

"Como foi?"

Klaus bateu a porta do carro e mandou um olhar para Johnny. "Eu tenho a maior parte do que preciso e ela vai me enviar o resto quando tiver."

Johnny acenou com a cabeça, já ligando o motor. "Então tudo correu bem."

“Sim,” Klaus colocou o cinto de segurança e pegou seu maço de cigarros, acendendo um rapidamente e inalando lentamente. "Que horas são?"

“Espera aí,” Johnny se afastou do meio-fio e entrou no tráfego, os carros diminuindo a velocidade porque há um semáforo a apenas alguns metros de distância. Ele pegou o telefone do bolso da calça e olhou para ele. "Sete e meia."

Não é tarde, Spencer e August estão em sua casa há pouco menos de duas horas. Talvez ele devesse dar a eles mais tempo, deixá-los sozinhos pelo tempo que puder.

“Vamos comer alguma coisa,” Klaus declarou. “Estou morrendo de fome, não comi nada antes de vir aqui. Você conhece alguns lugares decentes por aqui? "

Johnny pensou por alguns segundos. “Tenho certeza de que há um restaurante chinês neste distrito. Ouvi dizer que seus bolinhos são bons. ”

"Vamos lá então."

Johnny acenou com a cabeça e eles dirigem em silêncio por um tempo depois disso, o carro movendo-se nas ruas tranquilamente. Klaus raramente visitava essa parte da cidade, não quando ele tinha Suli que ficava de olho para ele. Mas ele sempre gostou desta parte da cidade. Parecia mais tranquilo, embora houvesse uma alta porcentagem de gangues menores e famílias que têm suas bases no setor, as ruas estavam sempre limpas e havia lojas e clubes de todo tipo.

Seu pai, ele sempre tentou colocar as mãos em um dos bairros do setor sul mas, no final, falhou. Suli sempre foi a governante deste setor por trinta e sete anos agora, e ela não iria abrir mão de sua coroa, especialmente agora que ela tinha Cassie.

“Klaus.”

Klaus se virou para Johnny. "Sim?"

O homem lambeu os lábios, as mãos apertadas ao redor do volante. "Ryland me contou sobre a briga."

Ah.

Klaus abaixou a janela e bateu seu cigarro do lado de fora, as cinzas voando com o vento. “É mesmo?”

“Ele não está bravo. Bem, ”Johnny pressionou os lábios. "Ele não está mais."

"Em minha defesa, ele começou."

"Quantos anos você tem, cinco?"

“Eu já pedi desculpas a ele, também posso me desculpar com você,” Klaus limpou a voz. “Sinto muito, Johnny. Isso foi golpe baixo, eu não deveria simplesmente cuspir besteiras assim. "

Johnny assentiu,virando o carro para a esquerda, entrando em uma estrada mais apertada, cada lado da rua repleto de cafés e bistrôs. "Você não estava errado, no entanto."

Klaus suspirou, seus dedos se fechando ao redor do cigarro. Ele olhou para Johnny e o encontrou absolutamente sereno, seus lábios ligeiramente franzidos em concentração enquanto ele dirige.

"Johnny, você sabe que eu não quis dizer isso."

“Nah, você quis dizer isso. Mas está tudo bem, ”Johnny concordou. "Você apenas disse a verdade."

“Não toda a verdade,” Klaus murmurou, seu coração pesado de culpa em seu peito.

Johnny apenas riu. “Bem, a maior parte da verdade,” ele olhou para Klaus com os lábios esticados em um sorriso. “Klaus, você sabe que não tenho vergonha de como o Ry e eu começamos. Sim, pode ser a razão pela qual me encontrei neste mundo, mas ainda estou fazendo um trabalho muito bom. Não tenho vergonha de nós. Preocupado pra caralho? Sim claro. Está ciente de que Ryland e eu estamos ferrados? Obviamente. Mas não tenho vergonha. ”

“Bem,” Klaus soltou uma nuvem de fumaça. "Você pode concordar com o que eu disse, mas Ruland com certeza não ficou feliz."

Johnny soltou um suspiro. "Sim. Eu sei. Mas... bem, é o Ry. Você sabe como ele é quando se trata de nós dois, ele fica um pouco... ”

"Super-protetor?"

"Cuidadoso. Ele é cuidadoso com o que temos.” Johnny encontrou um local vazio onde estacionar o carro e levou o carro para lá. “Ele sempre é cuidadoso com coisas frágeis.”

Klaus sabia de tudo isso.

Ele sabia como Ryland e Johnny funcionavam ou, pelo menos, ele sabia o que podia entender. Ryland sempre foi cauteloso em deixar as coisas muito claras e Johnny nunca foi do tipo que fala sobre seus sentimentos ou sua vida. Então Klaus entendia, realmente, o que Johnny estava dizendo a ele.

"Tudo bem", disse ele. "Vou parar de me desculpar, então."

"Sim," Johnny sorriu e conseguiu estacionar o carro no local apertado, mal cabendo entre os outros dois veículos. Ele desligou o motor e libera o cinto de segurança. "Vamos, então. Também estou com fome e posso sentir o cheiro desses malditos bolinhos mesmo desta distância."

 ~•~

Quando Klaus voltou para casa e saiu do elevador, ele congelou no local.

A casa estava quieta, tudo parecia perfeitamente normal, mas-

Klaus começou a andar novamente, seus passos apressados ​​enquanto ele ia para o corredor principal. Encontrou Laurent sentado no sofá, um travesseiro sobre as pernas cruzadas, ele estava curvado sobre e seus dedos estavam passando através de pelo preto, algum tipo de bolinha? Klaus não consegue distinguir à distância, mas esse não é o problema.

Laurent se animou e se virou, piscando quando seus olhos se fixaram em Klaus.

"Você está de volta", disse ele, sorrindo. "Spencer e Gus saíram há cerca de uma hora. A reunião foi bem?"

Klaus balançou a cabeça lentamente, seus olhos arregalados enquanto olhava para Laurent. Ele ainda parecia cansado, seus olhos vermelhos de irritação e a pele ao redor deles avermelhada, mas ele parecia contente e mais animado do que Klaus o vira em dias.

"Correu tudo bem," Klaus murmurou, tirando a jaqueta. "Como você está se sentindo?"

"Com fome pra caralho," Laurent murmurou antes de se concentrar novamente no que quer que ele tenha no travesseiro. "Mas vou sobreviver."

O fato de ele estar com fome é algo que consegue acalmar Klaus imensamente. Laurent não comeu nada nos últimos dias e por sorte Klaus já havia providenciado uma solução temporária..

"Consegui sangue do hospital, tem bolsas na geladeira para você agora," Klaus disse, entrando mais no quarto. "Não é comparado ao fresco mas é melhor que nada "

Quando seus olhos pousam naquele pelo preto novamente, sua mente meio que apresenta um mau funcionamento por alguns segundos.

"Laurent."

"Sim chérie?"

"Isso é a porra de um gato?"

Laurent olhou para ele, com um sorriso largo e os olhos brilhando.

"Sim!" ele exclamou, claramente encantado. Com cuidado, ele envolveu as mãos em volta do pequeno pedaço de pelo e o levantou, mostrando o filhotinho a Klaus. É incrivelmente pequeno, olhos amarelos grandes e, o nariz amassado e as orelhas se contraindo. "Eu o encontrei no jardim! Ele estava tão perdido e confuso. Acho que ele conseguiu escalar a cerca ou se espremer entre eles. Dei um banho nele, ele estava tão sujo. Mas agora ele está todo limpo,mh? "

Klaus sabia que sua boca estava aberta e sua incredulidade devia ser óbvia em suas feições, mas Laurent não parecia se importar. Ele riu quando o gatinho começou a se contorcer e ele o segurou perto do peito, o nariz pressionando a cabeça do animal, esfregando-se contra ele.

Oh Deus.

"Laurent-"

"Eu o chamei de Marius!"

Porra.

"Você-" Klaus respirou fundo. "Você deu um nome a ele."

Laurent franziu a testa. "Sim, claro que sim."

Ele quer ficar com o maldito gato.

Klaus não queria, de fato, ficar com o maldito gato.

"Ouça-"

"Ah!" Laurent deitou cuidadosamente o gatinho no travesseiro novamente, esfregando sua barriga. "Eu também encomendei com o Spencer um monte de coisas para ele! Deve ser entregue amanhã, eu cuido disso! Ele vai ficar no quarto que eu durmo, hein? Ele pode comer na cozinha, eu cuido da tigela dele. "

Ah não. Isso não é bom.

Klaus olhou para as bochechas de Laurent, a maneira como seus olhos brilham de uma forma que não existia desde que ele o encontrou ajoelhado em sangue em sua casa. Suas mãos se moviam cuidadosamente no corpo do gatinho, ele estava sorrindo e Klaus percebeu que não seria capaz de dizer não. Porque Laurent precisava de algo para cuidar. Algo que não é ele mesmo.

Klaus suspirou e caminha até o sofá, olhando para o gatinho ronronando. "Bem, já que você já cuidou de tudo."

Laurent olhou para ele, mordendo seu lábio inferior. "Você está bem com isso, certo? Ele é tão pequeno, ele não vai te incomodar, eu vou me certificar de que ele não vai."

"Sim," Klaus concordou. "Sim, estou bem com isso. Ele é fofo. Eu acho."

"Ele é, não é ?!" Laurent riu e olhou para o animal novamente. "Ele é tão fofo."

Klaus esfregou a mão no rosto, perguntando-se mais uma vez em que tipo de confusão ele se meteu. "Eu vou- eu vou pedir a comida para esta noite, hein? Você está bem com o sangue na geladeira?"

Laurent deu de ombros. "Já vivi de coisa muito pior. Tipo ratos, então tudo bem."

"Se você diz."

Klaus se afastou, indo para a cozinha para encontrar o panfleto com o número do restaurante e se virou para lançar um olhar para Laurent mais uma vez. Ele estava sorrindo suavemente para o gato, os dedos correndo pelos pelos e pressionando suavemente a barriga do animal enquanto ele fazia carinho.

Sim, Klaus não seria capaz de dizer não.

 

 

 

 

Já era tarde da noite quando Klaus se lembrou de algo enquanto estava deitado em sua cama, o quarto escuro.

Sabia o que era cuidar de algo, algo mais fraco do que ele mesmo. Depois que sua mãe foi embora, Klaus encontrou um pássaro no jardim da mansão.

Era uma coisa pequena, penas pretas na cabeça e nas costas, peito branco, cauda cinza. Sua asa esquerda estava quebrada e ele mancava no chão, tentando voar novamente, pulando para cima e para baixo.

Klaus pensou consigo mesmo que, talvez, se ele pudesse cuidar do pássaro e fazê-lo voar novamente, sua mãe teria voltado. Era um pensamento ingênuo, mas ele não passava de uma criança.

Então ele pegou o pássaro e o alimentou, colocou-o em uma caixa com um pouco de água em uma tigela pequena e um pano macio no fundo da caixa de sapatos. O pássaro cantava quando estava com fome e quando Klaus acariciava sua cabeça com a ponta do dedo, sempre cuidadoso e gentil, mal aplicando pressão. O pássaro demorou três semanas antes que pudesse voar novamente, Klaus observou-o deixar o solo e voltar para o galho da árvore sob o qual o encontrou. Durante aquelas três semanas, Klaus entendeu que tinha sido uma boa ideia cuidar daquela pequena criatura. Isso o manteve ocupado durante o dia, sua mente completamente engolida pela necessidade de cuidar e proteger o passarinho.

Isso manteve a solidão longe.

Mas quando já era noite e a caixa era coberta com um cobertor macio para que o pássaro pudesse dormir, Klaus estava sozinho novamente.

Os pensamentos sobre sua mãe o mantinham acordado ou povoavam seus sonhos, transformando-os em pesadelos que o deixavam sem fôlego e encharcado de suor frio.

Então Klaus percebeu que, no final do dia, o pássaro não passava de uma distração. E as distrações não duram muito.

Laurent provavelmente não sabia que as paredes que dividem as salas não são tão grossas. 

Klaus ficou acordado naquela noite, os olhos fixos no teto, se acostumando com a escuridão, enquanto ouvia o choro de Laurent. Talvez o fato de estar sozinho o quebrou, talvez ele simplesmente tenha pensado no sangue em suas mãos e no peso do coração do homem em suas mãos. Mas Klaus ficou acordado e ouviu cada soluço irregular e os gritos que Laurent tentava abafar.

Ele ouviu todos eles.


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