Manhãs de Lua Cheia escrita por Lady Anna


Capítulo 1
Sobre manhãs de lua cheia, Lily e James


Notas iniciais do capítulo

Oie gente!
É a primeira vez que eu posto uma fanfic em um desses projetos e eu tava super ansiosa por isso!
Atenção com as datas na fic porque elas são importantes (o calendário lunar é o do final de 2019 e início de 2020)
Enfim, espero que gostem!
Beijoos!
P.s.: a maior parte dos fatos da fic são HEADCANONS, ok?



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15 de Setembro de 1977

A primeira vez que Lily viu James após uma noite de lua cheia ela sentiu um bolo em sua garganta e teve que segurar o choro. Ela sempre gostara de andar pelo castelo de manhã, afinal lhe ajudava a refletir e a se concentrar mais nas aulas matinais. Seu sexto ano em Hogwarts acabara de começar e o ar matinal a acalmava em relação ao futuro fora dos muros da escola. Porém, naquele dia, assim que virou em um dos corredores da ala leste do castelo, encontrou James Potter sentado no chão com a cabeça encostada em uma pilastra e ressonando baixo.

A primeira coisa que pensou, foi que o maroto a sua frente fora atacado por alguma coisa. As roupas estavam rasgadas e sujas, o nariz estava em uma posição estranha para a direita e vários arranhões lhe cobriam os braços e o pescoço. Então, lembrou-se que a noite anterior fora de lua cheia e, como descobrira há poucos meses, os marotos se transformavam junto com Remus para ajudá-lo.

Há quase um ano, Lily descobrira que Remus era um lobisomem e, desde então, fazia tudo que possível para deixá-lo o mais a vontade possível com o “probleminha peludo". Ela não via problema nenhum naquilo, afinal ele era o mesmo garoto gentil e inteligente que se tornara seu amigo, mas, infelizmente, nem todos pensavam assim. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao se lembrar de todo o preconceito que estava os cercando. Tempos sombrios estavam vindo.

Agachando ao lado de James, ela tocou a lateral do rosto dele, o que o fez abrir os olhos.

—Lily? –Ele a olhou, confuso. –Isso é um sonho?

Mesmo sem querer, ela abriu um sorriso.

—Não, mas você estava dormindo aí.

Os olhos dele focaram-se em seu pijama, o que a fez corar. Rapidamente, James desviou os olhos e olhou para a própria roupa. Em um pulo, ele se levantou e arregalou os olhos, parecendo-se com um animal encurralado.

—Lily...Evans, você está aqui mesmo? Que idiotice, é claro que você está aqui! –James passou as mãos no cabelo, bagunçando-o ainda mais e tentou concertar os óculos no rosto. –Aliás, o que você está fazendo aqui?

—Eu é que deveria perguntar isso. –Lily percebeu que James empalideceu alguns tons enquanto abria a boca para dizer algo, mas ela levantou a mão, parando-o. –Mas eu não quero nenhuma explicação, não é da minha conta.

James balançou a cabeça afirmamente e soltou um baixo “obrigado". Um silêncio constrangedor recaiu sobre eles e Lily limpou a garganta, sentindo a necessidade de dizer algo.

—Você deveria ir à ala hospitalar.

—Eu prefiro não ir. –Ele coçou a nuca, constrangido. –Madame Pomfrey pode estar ocupada.

Lily avaliou os machucados dele, constatando que estavam realmente feios. Se aproximando um pouco, ela tocou na ponta do nariz de James, o que o fez soltar um gemido de dor. A ruiva crispou os lábios, afinal de maneira nenhuma ela poderia deixá-lo ficar sem cuidados médicos adequados.

—Eu vou até a enfermaria pegar uma caixa de primeiros socorros para dar uma olhada nesses machucados. –Ele abriu a boca para falar algo, mas Lily já estava a caminho da ala hospitalar. –E nem tente me impedir.

—Eu jamais pensaria nisso. –Lily não conseguia ver a expressão de James, mas poderia jurar que ele estava sorrindo.

—×-

21 de Outubro de 1977

James sentia-se inquieto. Ele poderia culpar a adrenalina que ainda estava em suas veias, mas, sendo sincero, tudo aquilo era por causa de Lily. Ele sempre soube que se sentia diferente em relação a ela, tinha certeza que seus sentimentos eram verdadeiros, mas nunca conseguira convencê-la disso. Então, há algum tempo, o Potter amadurecera um pouco e parara de chamá-la para sair incessantemente, diminuíra as pegadinhas e até mesmo deixara de azarar sonserinos preconceituosos. Entretanto, nenhuma daquelas atitudes a convencera das boas intenções do garoto e o máximo que James conseguira foi um cortês “Bom dia, Potter” vez ou outra.  Até o mês anterior. Ele não sabia ao certo o que, mas algo mudara desde que eles se encontraram naquela manhã de lua cheia.

Por mais cansado que estivesse, James conseguia se lembrar perfeitamente de cada pequeno detalhe. Lembrava-se como os cabelos de Lily estavam bagunçados e as bochechas rubras, confirmando que ela acabara de acordar. O fofo pijama vermelho a deixava com um aspecto inocente e infantil que contrastava com os energéticos olhos verdes. Ele se lembrava de manter um sorriso no rosto durante todo o tempo que a ruiva levou para cuidar de seus machucados e nem mesmo a dor exorbitante de ter o nariz concertado foi capaz de tirar a alegria de suas feições.

Entretanto, desde aquele dia ele não se encontrara com Lily nas manhãs de lua cheia. Ele sabia que ela gostava de caminhar pelo castelo na parte da manhã, mas no restante daquela semana e nesse mês não a vira. Provavelmente o sorriso patético dele a assustara. Droga! Se ele tivesse sido menos idiota talvez tivesse alguma chance de convencê-la que não era um completo babaca.

James seguiu o caminho até a torre da Grifinória com a cabeça baixa e em silêncio. Na noite anterior, Remus estava mais calmo, o que resultou em menos machucados para todos eles, inclusive para o Lupin. Isso deixava James muito feliz, afinal odiava ver o amigo sofrer. Um barulho em suas costas despertou a atenção do maroto, que se virou com a varinha em punho.

Um sorriso tomou conta do rosto de James ao perceber que Lily Evans estava ali, com o mesmo pijama vermelho, o cabelo bagunçado e os olhos brilhantes. O sorriso dele se alargou ao perceber que ela trazia consigo uma pequena caixa branca com uma cruz vermelha em cima.

—Oi. –O rosto dela se coloriu de um bonito tom de vermelho. –Achei que você poderia precisar de ajuda.

Por mais idiota que pudesse parecer, naquele momento James queria ter se machucado mais. Talvez ter o nariz quebrado igual ao mês passado ou, pelo menos, um olho roxo. A verdade era que, além das roupas sujas, a única coisa que comprovava que ele realmente estivera ajudando Remus, era o cansaço que cobria o seu corpo. Obviamente, Lily não poderia curar isso com uma caixa de primeiros socorros.

—Na verdade, eu estou bem. –Ela levantou uma sobrancelha, irônica. –É sério. Na última noite de lua cheia do mês a transformação é mais branda, assim como no primeiro dia é pior.  

Lily olhou-o por algum tempo, avaliando os machucados. Por fim, abriu um pequeno sorriso.

—Fico feliz que vocês estão melhores hoje. –Ela parecia um pouco desconfortável. –Humm...já que você está bem, eu vou voltar para o meu dormitório.

Ela deu meia volta e já andava a passos largos.

—Espera! –James não planejara nada para dizer após isso, afinal não acreditava realmente que Lily pararia, mas, surpreendendo-o, ela parou e olhou fixamente para ele. –Posso te acompanhar?

Com certeza essa era a coisa mais idiota a se dizer, porém era a única que lhe vinha à cabeça. E se isso lhe permitiria ficar mais tempo junto com Lily, James não se importava em parecer um idiota.

—Claro. –Lily abriu um sorriso singelo e o maroto correu para acompanhá-la.

Durante todo o curto trajeto, James fez piadinhas, falou sobre assuntos que ela se interessava e até mesmo tentara reproduzir um feitiço que haviam aprendido na semana anterior, conseguindo quebrar um dos quadros do corredor e fazer uma confusão entre as pessoas dentro dele. Ao ouvir a gargalhada calorosa dela, James sentiu-se feliz e preenchido, mesmo sabendo que mais tarde McGonagall, provavelmente, lhe daria uma bela detenção.

—×-

12 de Dezembro de 1977

Lily retorcia a mão em seu colo, nervosa. Ela acordara há mais de uma hora e ainda não se decidira ser iria ou não encontrar James. Quer dizer, aquilo que eles tinham não era um encontro, apenas era...aquilo. Há três meses, ela o encontrara acidentalmente após uma lua cheia e o ajudara com os machucados, afinal, cabeça dura como era, James se recusava a ir à ala hospitalar. No mês seguinte, Lily o encontrou após a última noite de lua cheia e descobriu que aquele dia em especial era mais fácil para Remus, afinal a lua já estava quase mudando de fase. Como James não precisava de ajuda naquela manhã, eles apenas conversaram até chegar à torre da Grifinória. No pouco tempo que passou com ele, a ruiva se convenceu de que o maroto não era tão ruim como ela sempre pensara. Isso a confundira, principalmente os seus sentimentos.

No mês anterior, a ruiva não tivera coragem de andar pelo castelo nas manhãs de lua cheia, com medo de encontrá-lo, o que era uma grande vergonha para uma grifinória. Como ela honraria sua casa se não conseguia ao menos ajudar um amigo sem quase entrar em um colapso nervoso? E o pior, ou melhor, ela não sabia definir, era que não podia culpar James por isso, afinal a conduta do maroto era praticamente impecável. No tempo que passaram sozinhos, ele não a cantou ou chamou para sair, o que já não fazia há algum tempo, apenas fez algumas piadinhas e permaneceu com um sorriso que a deixava incomodada. James Potter ficava bonito sorrindo e Lily Evans nunca admitiria isso.

Entretanto, hoje era o primeiro dia de lua cheia daquele mês e, pelo que James dissera, o pior dia da transformação. Lily sentia nervosa em relação a tudo que aqueles encontros matinais poderiam significar, mas sentia-se ainda pior ao pensar que ele poderia precisar de ajuda e que ela não estaria lá para ajudá-lo. Em um impulso de coragem, a ruiva pegou a caixa de primeiros socorros que ela pegara na enfermaria, colocou a varinha na cintura e desceu para o salão da não Grifinória pulando de dois em dois degraus. Assim que a porta do salão se abriu, sentiu um corpo se chocar contra o seu e mãos ampararem sua cintura.

—Potter! –Arfou. James respondeu com um baixo resmungo, o que a fez perceber que havia algo muito errado. Os olhos castanhos, sempre tão brilhantes e espertos, estavam desfocados e quase fechados. –O que aconteceu?

Ele não respondeu, apenas levou a mão à nuca e mostrou-a a Lily, coberta de sangue. Rapidamente ela o virou e prendeu a respiração ao ver um profundo corte na nuca inchada do garoto. Aquilo ela não poderia curar apenas com alguns gases e pomadas, era sério. James precisava ser atendido por uma curandeira. Sem lhe dizer uma única palavra, Lily o puxou pela mão e ajudou-o a andar até a enfermaria. Algumas vezes, teve que sustentá-lo para que não tropeçasse nos próprios pés e caísse.

Assim que chegaram à enfermaria, Madame Pomfrey começou a atender o maroto sem dizer uma única palavra. Lily estava sentada em uma cadeira ao lado da cama em que James estava e de lá conseguia ver os outros marotos: Remus estava no fundo da sala com uma série de poções e ungrentos ao seu lado; Peter, o qual aparentava não ter muitos machucados, cochilava em um pequeno sofá ao lado da cama em que Sirius estava. Ele jogava pequenos feixes de luz da ponta da varinha e tinha uma das pernas enfaixada.

—Black, já falei pra você não fazer magia aqui dentro! –Ralhou a curandeira, o que atraiu a atenção do maroto na direção deles. O olhar irônico e malicioso que ele lhe lançou fez Lily corar.

—Desculpe, Poppy. Eu faço magia em qualquer lugar, é mais forte do que eu. –O duplo sentido da frase fez Lily soltar um pequeno riso, que atraiu a atenção do maroto. –Hey, Evans. Estou surpreso em encontrar você por aqui.

Lily não sabia o que responder. Teoricamente, não havia nenhum motivo para ela estar ali, afinal, além das manhãs de lua cheia, ela e James não tinham nenhum contato amigável. Por fim, decidiu usar sua ironia, com a qual o Black com certeza já estava acostumado:

—E eu não me surpreendo nada em te encontrar por aqui. –Ela se levantou e obrigou seus pés a andarem em direção a saída da enfermaria. –E avise o seu amigo para tomar mais cuidado, Black.

—x-

12 de Dezembro de 1977

James estava ansioso. Mais do que devido à lua cheia, ele sentia-se ansioso para ver Lily na manhã seguinte. A vira pela última vez de manhã, quando a ruiva o levou para a enfermaria e, na ocasião, ele nem conseguira conversar com ela. Sirius o importunara durante todo o dia, perguntando se ele e Lily finalmente haviam saído do zero a zero e escolhendo nomes para o casal, os quais eram horríveis. Enquanto iam até a Casa dos Gritos, Sirius continuava importunando-o:

—Jura que você não gostou de Lames? –Sirius fez um biquinho diante do olhar fulminante de James. –Tá bom, a gente escolhe outro. Que tal...Jily? Isso! É ótimo! O que você achou, Remus?

—Com certeza é melhor que Lames. –Apesar das grandes olheiras e de alguns machucados ainda não cicatrizados, ele parecia melhor. Aparentemente discutir sua inexistente relação amorosa com Lily Evans divertia os amigos. –Mas eu ainda prefiro Pottevans. O que você acha, Peter?

—Que a Lily tá vindo em nossa direção e parece assustadora.

James parou de andar imediatamente e olhou na direção em que Peter apontava, vendo que Lily andava rapidamente até eles.

—Ela sempre parece assustadora para você. –Zombou Sirius. –Te esperamos na floresta, Pontas.

Lily parou em sua frente e olhou-o por alguns minutos antes de dizer qualquer coisa. Como sempre fazia quando estava nervoso, James começou a tagarelar:

—Obrigado por me levar na ala hospitalar, Li...Evans. Obrigado, Evans. Fiquei muito feliz de você me levar. –Ele sentiu as bochechas corando. –Quer dizer, eu não fiquei feliz em ir para a enfermaria e sim com você me levar. Não, eu fiquei feliz em saber que você se preocupa. Não que eu achasse que você não se preocupava. Na verdade...

James parou de falar quando sentiu os braços finos da ruiva rodeando a sua cintura. Lily o apertou como se garantisse que ele estava realmente ali. Quando James pensou em fazer algo, talvez retribuir o abraço ou fazer alguma piada para deixá-la mais a vontade, a ruiva já havia se afastado.

—Pode me chamar de Lily. –Ela também estava com as bochechas coradas, o que fez James abrir um sorriso. Aquilo era tão...Lily. –Mas não precisa ficar com esse sorriso idiota no rosto, James. Boa sorte!

—x-

10 de Janeiro de 1978

Lily sentou-se no chão, encostada na pilastra. Sabia que James sempre usava aquele caminho para chegar a Torre da Grifinória e estava esperando-o há alguns minutos. Naquela semana, eles haviam feito um contrato silencioso no qual quem chegasse primeiro naquele corredor esperaria o outro. A ruiva não entendia direito o que era aquilo que eles tinham e tentava não pensar muito nisso. Porém, enquanto o esperava, não conseguia deixar de pensar no que aquela aproximação repentina significava.

Durante o recesso de Natal, ela lhe enviara uma carta perguntando sobre o machucado na cabeça e isso desencadeou uma série de correspondências trocadas. Além disso, eles haviam conversado muito durante aquele mês, o que a fizera descobrir que James era inteligente, leal, corajoso e divertido. Isso a fez pensar diversas vezes que se ele não a tivesse cantado durante todos aqueles anos, eles provavelmente teriam sido bons amigos. Ouvindo um barulho, ela se levantou e viu os outros marotos virando em um corredor enquanto James vinha em sua direção.

—Oi. –James abriu um sorriso discreto e bagunçou os cabelos. –Graças a Merlin, deu tudo certo na noite passada.

—Que bom! –Lily sentiu os ombros relaxarem e soltou a respiração que nem percebera que estava presa.

Eles seguiram lado a lado até a porta do salão comunal da Grifinória. James lhe contava como ele e Sirius conseguiram escapar de uma detenção com a professora McGonagall, mas ela não conseguia prestar atenção. Toda vez que suas mãos se esbarravam, Lily sentia uma corrente elétrica partir das pontas dos seus dedos e isso a estava desconcentrando. Durante todo o trajeto dera apenas resposta monossilábicas a James e, em algum momento, ele finalmente desistira de conversar com ela. Quando chegaram à porta, Lily fez questão de dizer a senha o mais rápido possível e entrar correndo no salão.

—Lily? Está tudo bem? –A voz de James soava baixa, magoada. Ela se virou rápido a fim de lhe garantir que estava tudo bem, entretanto calculou mal a distância que estava do degrau da entrada, o que a fez tombar na direção do peito do maroto. Ele a segurou pela cintura, impedindo-a de cair no chão. Os choques elétricos se quadriplicaram, acordando as borboletas no estômago dela. –Opa!

Lily percebeu que os olhos de James estavam em seus lábios. Ele queria beijá-la. Porém, como se a proximidade o machucasse, ele a afastou.

—Me desculpe, eu... –James fechou os olhos e crispou os lábios, apertando mais as mãos em sua cintura, parecendo se esquecer de que ainda a tocava.

Naquele momento, Lily percebeu que também queria beijá-lo. Por anos ela garantira que nunca o beijaria, mas isso era tudo que ela mais queria fazer agora. Em um impulso, enlaçou as mãos no pescoço dele e ficou na ponta dos pés para encostar seus lábios nos dele. Ele com certeza se surpreendera, afinal ficou alguns segundos sem reação. Quando Lily já ia se afastar e pedir desculpas por beijá-lo, James correspondeu o beijo e a abraçou forte pela cintura, tirando-a do chão.

Lily não saberia dizer quanto tempo ficou beijando James, ela só sabia que o beijo dele era o melhor que já provara. Eles provavelmente ficariam se beijando por muito tempo se não tivessem escutado um assovio, o qual a fez pular para longe dele.

—Eu não me importo de vocês ficarem se agarrando, mas eu preciso entrar para tomar um banho. –Sirius os olhava com o sorriso mais malicioso que ela já vira. Remus e Peter também estavam com ele, porém pareciam envergonhados pela interrupção.

—Sirius... –A voz de James tinha um tom de aviso, o qual a ruiva nunca o vira usando.

Lily não ficou para vê-lo terminar a frase, apenas disparou para dentro do salão comunal e se trancou no quarto pelo resto do dia. Por Merlin! Ela beijara James Potter!

—x-

            14 de Fevereiro de 1978

James fitou o quadro com um bruxo em uma pose inusitada. Batendo a cabeça na parede, ele bufou e fechou os olhos. Desde o dia do beijo, Lily prontamente o ignorara e, naquela semana de lua cheia, ainda não aparecera. E era evidente que ela também não viria hoje. Levantando-se James andou a passos lentos até a Torre da Grifinória, pensando em uma maneira de se desculpar com Lily. Mesmo amando o beijo e querendo repeti-lo, ele sabia que a ruiva não tinha nenhum interesse amoroso nele, provavelmente só o beijara por estar confusa ou algo assim.  

Entretanto, James queria continuar sendo amigo dela, afinal Lily era bem mais incrível do que ele sempre pensara. O maroto tentara falar com ela todos os dias após o beijo, mas Lily sempre encontrava uma forma de fugir dele. Ele já tentara todas as formas de se comunicar pessoalmente e só lhe restara enviar uma carta. James Potter escreveria a carta perfeita para Lily Evans.

—×-

14 de Março de 1978

Lily tinha absoluta certeza que não conseguiria voltar a dormir. Remexendo-se na cama, ela finalmente se levantou e calçou as pantufas, mas voltou a se sentar na cama um minuto depois. Ela não conseguia entender o que acontecera consigo após beijar James, algo dentro dela mudara. Agora, toda vez que o via seu coração acelerava e as benditas borboletas dançavam em seu estômago. Além disso, ela queria muito voltar a conversar com ele sem precisar ser em manhãs de lua cheia. Entretanto, sempre que o via sua ansiedade era mais forte e ela saia correndo o mais rápido possível.

Porém, seu desespero diminuiu um pouco após receber uma carta dele. Lily sentiu o coração apertado ao ler cada linha. Pelo que ela percebera lendo, James sentia-se culpado por beijá-la e pedia desculpas. Também dizia que queria ser seu amigo e pedia para ela encontrá-lo na próxima lua cheia se quisesse o mesmo. Durante todas aquelas manhãs de lua cheia, a ruiva se arrumara para encontrá-lo, mas perdera a coragem no último momento.

Ontem fora a última noite de lua cheia, o que significava que aquela era a última manhã em que ela poderia se encontrar com James. Corajosamente, pulou para fora da cama e desceu as escadas do dormitório correndo e foi até o ponto em que eles se encontraram. Apenas quando chegou, percebeu que havia grãos de terra dali até o dormitório masculino. James já passara por ali e ela não estava lá. Ela o perdera.

—×-

7 de Abril de 1978

James sentia-se esgotado. Os machucados nos braços e nas pernas, a dor de cabeça, as roupas rasgadas e o gosto de sangue fresco na boca não contrastavam nem um pouco com o brilhante sol nascente. Entrou no castelo com os olhos cerrados, tentando enxergar alguma coisa e escorou-se em uma pilastra quando tropeçou em algo que não conseguiu identificar.

Aquela noite de lua cheia fora pior do que eles normalmente estavam acostumados. Remus ficara bem mais agressivo, causando profundos cortes em si mesmo. Os outros marotos tentaram a todo custo acalmá-lo e isso resultou em uma briga que nenhum deles queria causar. Quando amanheceu, Sirius levou Peter desacordado até a enfermaria e Remus os seguia com a cabeça baixa e lágrimas nos olhos, certamente se culpando por todo o ocorrido.

Apesar dos cortes e hematomas no corpo, James decidiu não ir até a enfermaria, afinal Madame Pomfrey já teria muito trabalho com os outros marotos e ele não estava tão mal quanto os outros, apenas sem forças. O verdadeiro problema era o fato dele não conseguir enxergar para onde estava indo, pois seus óculos foram, acidentalmente, quebrados por Remus e ele esquecera sua varinha no dormitório na noite anterior. Ele sabia que podia ter pedido a qualquer um dos marotos para consertar os óculos, mas ao ver suas expressões completamente cansadas, achou melhor guardar os óculos no bolso da calça e seguir até dormitório.

Se fosse sincero consigo mesmo, perceberia que o que o esgotara além de suas forças fora o final do praticamente inexistente relacionamento com Lily. James já imaginava que ela não conversaria com ele após o beijo, mas a confirmação deixara-o desolado. Ele tinha esperanças de reestabelecer a amizade com ela, mas, pelo visto, estragada tudo. Sua única oportunidade e ele a perdera. Mas James não voltaria a ser um babaca e a importuná-la, ele respeitaria a decisão dela.

 James estava tentando se concentrar em não tropeçar nos próprios pés, o que já acontecera uma dúzia de vezes até aquele momento, quando sentiu um brusco puxão em seu ombro, girando-o em 180° graus. Mesmo não enxergando nada além de um borrão, James sorriu, pois sabia exatamente quem estava a sua frente. Ela era inconfundível. Ele tinha certeza que os cabelos vermelhos como o fogo estariam um pouco desgrenhados por ela ter acabado de levantar, os olhos verdes estariam arregalados de preocupação e ela ainda estaria usando o fofo pijama de dormir.

—Ah, James!

Ele sentiu o pequeno corpo chocar-se com o seu e envolveu os braços ao redor dela, abaixando para sentir o cheiro dos cabelos. Lírios, como sempre. James sentira muita falta daquele cheiro.

—Tá tudo bem, Lily.

—Não está nada bem, James! Olha para você! O que é isso? –Apesar da pontada de dor que sentiu, James não a afastou quando ela começou a analisar os machucados em sua cabeça. -Me desculpe, eu deveria ter vindo antes!

Naquele momento, ele não sabia como Lily se sentia em relação ao que eles tinham, mas acreditava, ou queria desesperadamente acreditar, que a ruiva poderia sentir algo por ele.  

—Você deveria ir até a enfermaria. –Ela deu um passo para trás e James desprendeu as mãos de sua cintura.

—Não preciso. –Ao ouvir o bufado nada discreto dela, James sorriu. – Eu tô bem Lily.

—Por que sempre tão cabeça dura, Potter? –Antes que ele pudesse reclamar pelo uso do sobrenome, ela continuou: –Onde estão seus óculos?

—Ah... –James sentiu as bochechas enrubescerem. Era muita idiotice sair sem sua varinha e ele não queria que Lily voltasse a pensar nele como um idiota. –Eles estão...hum...no...meu bolso.

—Eles não deveriam estar no seu rosto? –Ela levantou a sobrancelha, sarcástica.

—Sim, mas... –James coçou a nuca, envergonhado. –Remus os quebrou sem querer e como eu esqueci a varinha no dormitório...

Ele deixou as palavras no ar, esperando que Lily o repreendesse por andar sem a varinha, mas ela apenas abriu um sorriso inteiro, daqueles que só usava quando estava prestes a ajudar alguém em um feitiço ou tarefa. Ele adorava aqueles sorrisos que deixavam Lily bem mais espontânea que o normal.

—Onde estão?

—O quê? –Ele sempre se sentia enfeitiçados por aqueles sorrisos e se distraia facilmente com eles.

—Os óculos, James. –A ruiva segurava a risada e James conseguia imaginar perfeitamente a expressão patética em seu rosto.

—Ah, aqui. –Ele os pescou do bolso e segurou-os na palma da mão. Apertando os olhos, James conseguia ver o estado deplorável em que os óculos se encontravam: uma das hastes estava quebrada, os aros estavam rachados e a lente que restara estava quebrada. –Nem está tão ruim assim.

Lily não o respondeu, apenas tirou a varinha de um dos bolsos do pijama e estendeu a mão na direção de James. Sem hesitação, colocou os óculos nas mãos dela. A ruiva apontou a varinha para os óculos, a concentração fazendo pequenas covinhas aparecerem em suas bochechas. As covinhas desapareceram quando ela proferiu o feitiço.

Oculos Reparo!

Magicamente, os óculos concertaram-se. Analisando a armação a procura de algum problema, Lily colocou-o no rosto. Os grandes olhos verdes ficavam ainda maiores através das lentes, deixando-os mais eletrizantes do que James jamais imaginaria possível.

—Acho que está concertado. –Ela os tirou e colocou-o no rosto de James. Mesmo estando torto, ele não concertou. Preferia assim. –Os outros Marotos estão na ala hospitalar?

James apenas balançou a cabeça afirmando. Estava cansado demais até mesmo para conversar com Lily, o que era surpreendente, haja vista o tempo que ele passara desejando aquele momento.

—Hum...você não vai mesmo na ala hospitalar, não é?–Ela mordeu os lábios, aparentando nervosismo.

—Acho melhor não, Lily. Prefiro que Madame Pomfrey concentre-se nos outros Marotos. –Ele esboçou um sorriso. –Não é nada demais.

Lily comprimiu os lábios como sempre fazia quando algo a desagradava.

—Me espere no seu quarto, Potter. Vou dar uma olhada nesses machucados.

Ele tentou refrear, mas o sorriso brotou em seu rosto mesmo assim. Lily Evans se importava com ele, ao menos um pouco.

...

James sentia-se tão bem que seria capaz de jogar quadribol em meio a uma tempestade por horas. Parte dessa disposição provinha, é claro, de uma poção que Lily preparara, mas grande parte provinha da simples presença da ruiva, do fato dela estar conversando e cuidando dele.

—Pronto, Potter.

O sobrenome, o qual Lily usara a noite toda, diminuiu um pouco sua euforia. Eles já haviam passado daquela fase, ela já o chamava de James. Então, o que mudara? Por que ela não fora se encontrar com ele no mês anterior, mas fora nesse? James não queria se encher de falsas esperanças, porém ele sentia que ainda poderia salvar sua amizade com a ruiva.

James precisava conversar com ela e aquela era a situação perfeita. Entretanto, Lily já juntava as coisas naquela pequena caixinha de primeiros socorros, pronta para partir. Desesperado, o maroto encontrou a pior desculpa possível para impedir que ela partisse:

—Eu acho que eu torci o dedo. –Quando ela olhou-o com uma expressão estranha, James tocou seu dedão direito e dissimulou a melhor expressão de dor que conseguiu. –AI! Tá doendo muito, Lily.

Apesar de relutante, Lily pegou sua mão entre as delas, o que fez os pelos do braço de James se arrepiarem. A reação não passou despercebida por ela, que corou em resposta. Enquanto ela passava um unguento de cheiro duvidoso no dedo dele, James procurava a forma adequada de falar sobre o beijo:

—Então...hum... –Lily olhava fixamente para o rosto dele. –Sobre o beijo. Olha, eu...me desculpe, ok? Você provavelmente estava confusa e nem queria me beijar e eu entendi tudo isso. Sério, nós não precisamos ficar constrangidos e estranhos um com o outro por causa disso. Eu... –Ele limpou a garganta, tendo certeza que essa era a parte mais difícil de se dizer. –Não tenho esperanças em relação a um relacionamento amoroso porque você já deixou bem claro que não quer isso. Mas eu quero continuar sendo seu amigo, Lily. Eu não sou mais aquele idiota que ficava correndo atrás de você direto.

—Não, você não é. –Ela sorriu, entrelaçando a mão na dele. –Você é um amigo incrível e leal, um dos grifinórios mais corajosos que eu já conheci. Você faz tudo por seus amigos e, bem, você era muito imaturo há alguns anos, mas evoluiu muito. Eu tenho orgulho de você, James.

O sorriso dele era maior do que seu rosto podia suportar e aumentava a cada palavra proferida pela ruiva.

—Eu não estava te ignorando depois do beijo. –Diante do entortar de cabeça de James, ela soltou uma risada nervosa. –Quer dizer, eu não estava fazendo isso propositalmente. A verdade é que eu fiquei confusa e não sabia ao certo o que estava sentindo.

—E agora você sabe?

—Sei. –James podia sentir o coração martelando no peito, as batidas assustadoramente rápidas. –Eu acho que posso estar gostando de você.

Ele estava atônito, completamente sem reação. Esperara por esse momento durante muitos anos e se imaginou em cada um deles, porém em nenhum desses cenários ele ficava parado sem fazer nada, apenas olhando para Lily como se ela fosse uma pintura abstrata.

—Nesse momento você deveria me beijar. –A voz irônica de Lily o acordou.

Obviamente, ele a beijou e, mesmo estando com os olhos fechados, James podia garantir que via fogos de artifício. O maroto tinha certeza que ela era o amor de sua vida e que a amaria incondicionalmente até seu último suspiro, mas ele não queria assustá-la com todas essas juras de amor hoje. Talvez daqui a um mês as dissesse em voz alta quando a encontrasse na manhã após a lua cheia.

—Namora comigo? –Disse enquanto distribuía selinhos pela boca da ruiva. James não tinha certeza se ela realmente o escutara até escutar o singelo “Sim!”

E assim ser iniciou a história de amor de James Potter e Lily Evans. Obviamente, toda Hogwarts estranhou o começo repentino do namoro e o novo passatempo favorito dos alunos era teorizar sobre o início daquele romance. O que nenhum deles sabia era que aquele romance começará muito antes, em uma simples manhã de lua cheia.


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Notas finais do capítulo

Aaaaaaa enfim postada!
Bem, eu gostaria de dizer que amei participar desse projeto incrível com tantas escritoras maravilhosas! (Aliás, sigam o Jilytober no Twitter para ler as fics das outras autoras: https://twitter.com/jilytoberbr)
Me desculpem qualquer errinho haha
É isso aí, se vocês gostaram deixem aquele maravilhoso comentário que nós autoras amamos e me segue no Twitter: @Anna_ladie
Obrigada a você que leu até aqui haha
Beijooos!