CN Beyond: Terrível escrita por Primus 7


Capítulo 1
A garota que desafiou a Morte


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Finalmente Terrível chegou. Essa história vai fugir um pouco da rotina para aqueles acostumados com o desenho. Os personagens que vocês estão ai, mas tentem ler como se tivesse conhecendo eles pela primeira vez. Isso vai ajudar no fator surpresa.
Essa história terá Cinco capítulos mais ou menos que serão lançado a cada 3 ou 4 dias.
Enfim, aproveitem a história e não esqueçam de comentar e deixar a suas opiniões.



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Trilha sonora da história aqui

Era uma vez uma garotinha de nove anos que morava aqui mesmo em Endsville. Ela tinha uma personalidade um tanto peculiar: ela era vazia, sádica e maliciosa. Era como se sua inocência tivesse sido roubada ainda muito cedo. Ela nunca sorria, em hipótese alguma, seja por uma piada, um momento com pessoas próximas ou mesmo por um reflexo natural. Não importava a situação, estava sempre séria ou de mau-humor, nunca mostrava emoções intensas como alegria ou mesmo tristeza. Ela tinha um irmão que não era de sangue, mas ela cuidava como se fosse. Esse irmão tinha óbvios problemas mentais, por assim dizer. Apesar disso o garoto era muito alegre e brincalhão totalmente o oposto da garotinha. Como esses dois se suportavam era um tremendo mistério do universo.

Um dia, o irmão retardado estava brincando com uma bola no meio do parque de Endsville e a garotinha o acompanhava para ficar de olho nele. Os dois foram até um moço que vendia sorvetes no parque para se refrescar daquele longo dia de verão quente. Até que a garotinha se distraiu por instante com a compra do sorvete e o irmão burro correu atrás da sua bola que escorregou de suas mãos foi parar bem meio da rua. Naquele momento passava um caminhão qualquer que viu o pobre menino, porém não conseguiu frear a tempo.

Foi tudo rápido e inesperado. Todavia, o mais estranho é que todas as pessoas da rua reagiram seja gritando por ajuda ou chorando assustadas. Todas por ali ficaram em choque e em desespero com a tragédia enquanto a garotinha, a irmã de consideração do menino, não fez nada. Nada, nenhuma expressão, reação ou emoção. Nada a não ser olhar e assistir ele sufocar no próprio sangue. Aquela menina, definitivamente, não era normal. (Trilha: Mussorgsky - Night On Bald Mountain ) Ainda mais, que ela era única que conseguia ver a fumaça negra se formando no ar entre as pessoas que rodeavam o garoto. Mais ninguém percebeu o tempo ficando mais lento ou mesmo emergir um sujeito daquela fumaça invisível, que usava um manto preto e segurava uma foice. Ele era alto, esquio e fedia a medo e solidão.

“Ei. Você ai de capuz” Gritou a menina para o homem encapuzado.

Ele virou-se ao ser chamado pela garotinha revelando seu rosto de caveira, totalmente ausente de carne ou órgãos. Tinha um olhar vazio e oco, pois no lugar dos olhos tinha apenas duas bolas de fogo verdes que lhe serviam como pupilas em meio a um breu infinito.

“Você consegue me ver?” Perguntou o homem do capuz com sua voz áspera e grossa que por alguma razão apenas a garotinha conseguia ouvir.

A garotinha acenou com cabeça confirmando.

“Ora ora ora...” disse ele. “Parece que temos uma sensitiva aqui. Aposto que vai suplicar para eu não levar a alma de seu… “Amiguinho”. Saiba que não é nada pessoal. É apenas o meu trabalho”

“Eu me não me importo tanto assim com ele” Explicou. “Eu, na verdade, eu pensei em fazer um jogo com você. Se não for incomodar”

O homem gargalhou sarcasticamente com o comentário da garotinha mostrando o tom de sua voz amedrontadora e abrindo sua boca ossuda com apenas dentes sem lábios ou carne revelando sua garganta escura e oca.

“Brincar com a morte? Faz tempo que não faço isso. Você deu sorte de eu adorar jogos e de eu ter andado muito… entediado ultimamente. Que jogo quer jogar?”

“Xadrez”

“Ótimo” Disse ele ao bater no chão com sua foice e toda realidade se transforma ao ser coberta por uma nevoa sombria. De repente, eles já não estavam mais em Endsville. Estavam e um tipo de limbo, um vácuo inexplicável e indescritível. Só havia escuridão abundante com exceção de uma pequena área iluminada bem no centro. A luz não tinha uma fonte exata, ela apenas existia para iluminar uma mesa com duas cadeiras frente a frente e com um tabuleiro de xadrez no centro. A menina sentiu um calafrio em sua espinha quando homem encapuzado materializou-se em uma das cadeiras e fez um gesto aguardando sua participação.

“Sente-se, criança” disse o homem do rosto esquelético e garotinha que ainda não estava assustada com tudo aquilo obedeceu. “Antes de começarmos, aposto que tem perguntas a meu respeito. Vamos lá, pergunte o que quiser, menininha. Eu posso ser a morte, mas eu não mordo”.

A menina respirou fundo e pensou por um instante o que perguntar para ele.

“Você tem um nome?”

“Eu tive vários nomes e formas ao longo dos milênios: Tanatos, Anúbis, Eshu, Hermes, Shinigami. Camazotz, Mors, Mot, Azrael, Februus, La Muerte, cada cultura, cada era, um nome diferente. Mas… eu sempre preferi ser chamado de “Puro-Osso”. É mais… descontraído”

“Puro-Osso? Que ridículo” Zombou a menina. “O que é você exatamente?”

“Nós, Ceifadores Sinistros, fomos criados aos milhões pelo universo assim que vida deu o seu primeiro sopro. Estamos espalhados por todo cosmo e existência para sermos uma força fundamental da natureza essencial para a harmonia do universo. Sem a morte, a vida não tem significado. Um ciclo nunca se fechará e um novo nunca se formará. Somos guardiões da ordem de todo o Universo”

“Você pode morrer?”

“Não e sim. Morte é o reverso da vida, é algo aplicado àqueles que tem alma. Eu não estou vivo, eu não tenho uma alma, sou apenas… existência, por isso a morte não é aplicada a mim. Contudo, reverso da existência é o esquecimento. O nosso fim acontece quando caímos no esquecimento. Só que é algo muito raro de acontecer, eu nunca vi pessoalmente outro como eu cair no esquecimento”

“Interessante. Por que só eu consigo te ver?”.

“Alguns mortais são sensitivos a entidades sobrenaturais. Alguns nascem com tais habilidades. Outros a desenvolvem depois de um trauma ou experiencia sobrenatural. Creio que você é do segundo tipo. Estou certo?”

“Sim” Confirmou a menina.

“Você é uma menina muito especial e muito inteligente para a sua idade. Eu estava pensando aqui, o que acha de tornarmos esse nosso jogo mais interessante?” Disse o mostrengo expondo suas segundas intenções em seu tom de voz fúnebre e depois propôs para a garotinha: “Se eu ganhar levarei não só alma de seu amigo, mas, a sua também. Se você ganhar você fica com a sua alma e a de seu amigo retardado e assim ambos viveram, o que acha?”

“Não, isso não me parece equilibrado” Observou a menina desconfiada das artimanhas do ceifador. “Se você ganhar eu perco algo meu, mas se eu ganhar você não perderá nada seu. Os dois tem que correr o mesmo risco. O que tem a me oferecer que seja seu?”

“Apenas a minha servidão eterna. É única coisa que posso oferecer a você” afirmou.

“Perfeito. Temos um acordo?”

“Sim” Concordou.

“Que comece o jogo então…” Declarou a menina.

O jogo começou. A menina era as pretas e o ceifador era as brancas. As peças não tinham seu formato típico de jogo de xadrez. As brancas tinham aparência de anjos de várias hierarquias diferentes. O rei era um serafim e se parecia com aquelas entidades abstratas cheias de olhos e anéis que algumas representações de anjos mostravam. Já as pretas, eram demônios de todos os tipos e o rei era o próprio satã com uma aparência bela e angelical, porém com chifres. A menina notou semelhanças do rosto da rainha preta com seu próprio rosto o que, ironicamente, ela odiou, pois, tinha um ódio vingativo à demônios. Se o rei era o próprio diabo, quem seria essa rainha? Ela perguntou em seus pensamentos.

“Eu sou as brancas, portando, eu começo” Declarou a entidade que começou movendo um simples peão.

E a menina seguiu com sua jogada movimentando seu cavalo e o jogo prosseguiu. Ambos não perceberam devido estarem em limbo onde a percepção de tempo era confusa, mas para nós, a partida deles, durou mais de 24hs. Mesmo depois um dia jogando, sem parar ao menos para dormir ou comer, os dois jogaram, jogaram e jogaram. A menina havia se mostrando um tremendo prodígio, conseguindo desafiar alguém tão mais experiente que ela, como a própria morte. Nenhuma pressão a distraia, nenhuma necessidade a dominava, ela sempre estava totalmente focada o que chamou muito a atenção do ceifador que nunca esperaria tal desafio vindo logo de uma criança. Restaram 11 peças no tabuleiro, cinco eram da garotinha e seis eram do ceifador. Ela não tinha mais boas peças, mas ao menos tinha sua rainha uma vantagem em relação ao ceifador. Durante o impasse, a menina parou um minuto para raciocinar até que uma curiosidade veio em sua mente.

“Posso perguntar uma coisa?” Disse a menina interrompendo a partida. “Por que quer a minha alma?”

“Como eu disse antes, eu não tenho alma, pois apenas os vivos têm. A vida é aquilo que todos os ceifadores anseiam, pois, é única coisa no universo que não podem ter. Aqueles que tem alma, sentem, se relacionam, evoluem e podem ter livre arbítrio”.

“Quer dizer que se tivesse uma alma, minha alma, estaria livre para fazer o que quiser? Poderia matar quem bem intendesse?”

“Sim, mas a necessidade de matar é uma fraqueza humana. O maior objetivo que todo ceifador busca é poder criar a vida”

“Patético” Zombou a menina. “Quando você for meu servo, irei obriga-lo a dar o seu poder para mim e poderei matar quem eu quiser com as minhas próprias mãos. Acredite, eu irei fazer um bom uso desse poder”

“Não é assim que as coisas funcionam” Retrucou ele. “Nós, ceifadores, somos a morte, porém não somos Deus. Mesmo com livre arbítrio existem limitações para o nosso poder. Nós não somos capazes de contrariar o destino, por exemplo. Há alguns vivos que conseguem adiar o nosso encontro por muito tempo e alguns têm destinos tão gloriosos que são praticamente imunes a nós até que eles cumpram tal proposito” Explicou o ceifador. “Além do mais, se recebesse meu poder todo de uma vez, seu corpo infantil e humano não suportaria. Viraria pó”

“Então, te obrigarei a me treinar para usá-lo. Se receber ele gradualmente, eu não terei esse problema. Você será meu mestre até eu ter idade o suficiente e depois você pode cair no seu “esquecimento” ou sei lá o que. Meus objetivos são muitos maiores do que só “criar a vida”. Qual a utilidade disso? Criamos isso todos os dias e isso só faz o mundo entrar em decadência”

“Não espero que uma humana entenda. Ainda mais alguém tão vazio por dentro como é você. Você está quase como eu, morta por dentro. Ainda assim, vejo um resquício de nada, uma pequena parte de sua humanidade. Você finge que não, mas, ela existe. No fundo, você lamenta e muito essa perda.”

“Isso não é verdade! Isso me faz mais forte, me faz mais digna e poderosa. Certamente eu serei alguém com um destino glorioso e você me dará isso”. Contrariou a menina mudando sua expressão para olhar zangado.

“Pode mentir para os outros ou até para si mesma, contudo, não pode mentir para mim. Eu vejo através dos seus olhos, a sua alma, criança. Eu sei mais sobre você do que você mesma. Sei que quando seu amigo foi atropelado você quis chorar, você quis gritar o nome dele, quis fazer qualquer coisa, mas não conseguiu. Isso por que, no fundo, mesmo ele sendo um retardado mental e irritante, você um dia o amou. Ele era a sua última ligação com a sua humanidade.”

A menina apenas ficou em silêncio ouvindo as alegações da entidade. Ela começou a ficar com muita raiva. Tanta raiva que começou a respirar ofegante e bufar de nervosismo.

“Eu não amo nada. Não preciso de amor, nem de ninguém! Humanidade me torna fraca e eu quero ser apenas forte.” Declarou ela.

“Eu sei o porquê de você conseguir me ver, criança. Há alguns anos você era uma menina alegre e feliz, assim como seu amigo retardado, até que um dia um maníaco entrou na sua casa e matou os seus pais bem na sua frente. Enquanto ele te tocava ele queria você gritasse e chorasse bem alto, porém você não o fez. Negou o prazer para ele e ele ficou furioso. Ele tentou te matar, mas, você conseguiu fugir para a cozinha, onde pegou uma faca. Quando você a enfiou em suas entranhas você viu um fogo sair dos olhos daquele homem e percebeu que dentro dele havia um monstro, um demônio. Apesar daquele demônio não ter te matado, ele tomou algo de você”.

Ainda com a respiração acelerada, a menina começou também a lacrimejar enquanto cerrada os dentes e os punhos.

“Foi naquele dia que você perdeu a sua humanidade. Aquela foi a última vez que você sorriu, quando matou aquele cretino com suas próprias mãos e sentiu seu sangue escorrer pelos seus dedos sentiu-se viva pela última vez.”

“Cala a boca” Gritou a menina de raiva

“Você sentiu prazer fazendo isso. Você se tornou um monstro vazio por dentro assim como ele que perdera a sua humanidade para um demônio. A diferença é que você odeia ter se tornado isso.”

“CALA A BOCA! CALA A BOCA!” Berrou ela já surtando de raiva.

“Eu sinto muito por você garotinha, por ser tão morta por dentro ainda tão jovem. E digo isso com sinceridade e empatia. É muito triste. Apesar disso, ter a sua alma será… interessante” Alegou o ceifador ao pegar a sua torre e com ela cercar o rei preto da menina. “Vamos ver se você é realmente esperta, criança. Vai lutar pela pouca humanidade que lhe resta ou vai deixar eu toma-la? Cheque!”

A menina olhou e encarou o tabuleiro percebendo que seu rei estava encurralado. Primeiro ela olhou com surpresa e horror como se tivesse sido derrotada. Apesar disso, ao contemplar as peças sua expressão acabou se transformando e pela primeira vez em muito tempo ela começou a sorrir. Não um sorriso de alegria, mas de insanidade, um sorriso com lagrimas e sobrancelhas franzidas. Depois, ela começou a gargalhar escandalosamente, cujo som ecoou por todo o limbo. Ceifador, mesmo já tendo visto quase de tudo nesse mundo, ficou perplexo com a cena, com a tamanha loucura vindo da criança. Ele pensou em uma razão para aquela risada e não conseguiu imaginar nada. Foi então que ele também contemplou o tabuleiro e entendeu tudo e começou a rir também. Não tão escandalosamente quanto a menina, mas riu. O que era tão engraçado? A vitória? A derrota? Ninguém até hoje soube dizer ao certo. O que valia não era a vitória ou derrotada, mas o jogo em si. Só se sabia é que a próxima rodada já estava definida e o destino dos dois selados e nada que eles fizessem mudaria. Era inevitável.

“Foi muito divertido jogar com você, menininha.” Admitiu enquanto ria.

“Igualmente, Puro-Osso”.

E fim da história. O que acharam dela? — Perguntou Mandy.


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Notas finais do capítulo

[ Dicionário de Referencias, Easter Eggs e Curiosidades ]
1) Endsville é a cidade onde se passa os eventos da série. A cidade já tinha sido mencionada algumas vezes em Elemento X.
2) A trama deste capitulo é inspirada na trama do episódio piloto. Porém, Puro-Osso vem buscar a alma de um Hamster e ele joga com Billy e Mandy um jogo de Limbo.
3) Os nomes que Puro-Osso cita são de várias entidades mitológicas associadas a morte em todo globo.
4) Puro-Osso não é o único Ceifador Sinistro desse universo. Como ele diz existem milhões. Inclusive outros apareceram no futuro.
5) A rainha que a garotinha vê nas peças de xadrez é a Lilith, primeira esposa de adão que se rebelou conta Deus e deitou-se com o diabo.
6) Uma das inspirações para esse fanfic é o filme “The Seventh Seal” de 1957 onde o protagonista também faz uma partida de xadrez com a morte.



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