Bae Joohyun escrita por smrookie


Capítulo 1
Daegu, 2002




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DAEGU 2002

 

Era cerca de seis da tarde, um horário movimentando na capital têxtil da Coreia. Como grande parte das garotas do ensino fundamental, Joohyun aproveitava o fim das aulas de reforço do ensino básico com um pequeno grupo de amigas no comércio local.

 

Nenhuma das crianças tinha muito dinheiro em mãos, apenas o suficiente para algumas partidas no arcade e guloseimas açucaradas na loja de conveniência. Já com os bolsos vazios, o grupo se dividiu em um trio e uma dupla que moravam em regiões próximas da cidade.

 

Bae Joohyun e Kim Jooyoung, depois de esbanjarem mais do que o planejado, decidiram pegar o ônibus que passava por uma zona a cerca de um quilômetro da loja de conveniência. Um jovem simpático de aproximadamente 20 anos ensinou o trajeto aparentemente simples e elas seguiram caminho, andando a passos largos.

 

As duas meninas eram bastante diferentes. Jooyoung tinha os olhos pequenos, que cerravam sempre que ela sorria. O cabelo cortado na altura do topo das orelhas acentuava o volume das bochechas cheias e rosadas no clima invernal. Ambas eram consideradas bonitas, mas Joohyun tinha algo de especial. Os cabelos escuros acomodados por 

trás das orelhas de abano - um toque de ternura na figura fria da menina, marcada pela languidez da pele branca sobre o corpo frágil de ossos salientes. Uma perfeita virgem dos romances históricos, ainda sem a melancolia que a curiosidade infantil se encarrega de espantar nos primeiros anos da vida. 

“Ele disse pra virarmos à esquerda depois da loja de discos”

“Não tem como virar à esquerda, acho que ele se confundiu.”

 

“Ali!” 

 

Joohyoung apontou para uma travessa estreita, a poucos metros da vitrine repleta de sinalizações em neon e posters com os últimos lançamentos da indústria musical. A maioria tinha tom teatral, com personagens dos dramas em exibição na TV aberta, outros mostravam a mais nova sensação do país, a jovem Kwon Bo-ah, que recentemente lançara seu segundo álbum coreano. Joohyun parou por alguns segundos em frente à loja, ouvindo o som que saía dos alto-falantes externos.

 

...jagajineun seulpeun bit 

 

(I’ll take the place of the sadness and change it to light)

 

“Hyun-unnie! Venha logo, vamos perder o ônibus.”

 

A mais velha balança a cabeça, como quem quebra um estado de transe, e segue a mais nova, que a esperava em frente à travessa. Com pressa, nenhuma das duas questiona a segurança do trajeto um tanto suspeito. Uma ruela para pedestres com anúncios desbotados com dizeres simples como “belas garotas” e fotos de mulheres jovens, com maquiagem pesada em roupas provocativas. Grande parte delas eram, de fato, belas como as mulheres da TV, com roupas extravagantes com as quais as duas meninas sequer sonhavam - a não ser que quisessem levar alguns tapas de suas respectivas mães.

 

Virando à direita, de acordo com as instruções do jovem atendente da loja de conveniência, estava uma área comercial pouco convencional. Uma série de salões de beleza enfileirados, com o interior exposto através de fachadas de vidro. Joohyun não sabia que ali havia um centro de beleza popular, com frequentadoras tão bonitas. Algumas das lojas já acendiam as luzes rosa-choque chamativas, sinalizando que o expediente continuaria noite adentro. As clientes pareciam modelos de comercial de todo tipo, algumas mais gordinhas, em vestidos colados que marcavam as curvas do quadril e dos seios fartos; outras usavam saltos altíssimos, tirando proveito da figura esguia, pareciam prestes a desfilar em algum evento de moda - muito comuns em Daegu no período entre estações.

 

Apesar dos salões estarem cheios de jovens mulheres, as anfitriãs insistiam que os poucos homens que circulavam pela área entrassem nas lojas e vissem os produtos em exposição. As duas meninas se olhavam com curiosidade, sem entender exatamente o propósito das negociações que ocorriam da porta para fora - e que só acabavam uma vez que o negócio era fechado, e o cliente entrava, apenas para penetrar mais fundo no estabelecimento, onde não podiam ser vistos. 



“YAH!! Vocês, o que fazem aqui? As duas deveriam estar na escola!”

 

Um homem de meia-idade que acabava de estacionar sua motocicleta em frente a um dos salões chamou a atenção das duas meninas. A ajumma com a qual ele conversava intervém, na tentativa de aliviar o clima. Antes, apaga o cigarro na sola e cospe o gosto de tabaco sem cerimônia.

 

“PABO, você acha que nossas crianças dormem na escola? Já é passada a hora de voltarem para casa. Como vocês chegaram até aqui? Entrem, não é bom para vocês andarem como duas tontas por esta rua.”

 

O motoqueiro acompanha com olhar de desaprovação enquanto as duas seguem a senhora através de uma portinha discreta entre duas vitrines. O interior mal-iluminado contrasta com as fachadas chamativas. Subindo a escada estreita, cruzam com um grupo de estudantes do segundo grau, uniformizados. Aparentemente envergonhados, passam de cabeça baixa pela ajumma, agradecendo em murmúrios. Os quatro rapazes sequer notam a presença das duas jovens.

 

kamsahamnida..”

 

...annyeonghikiseyo

 

Ao longo do corredor no terceiro andar, ouve-se uma discussão acalorada entre duas vozes femininas. As longas interjeições não são suficientes para uma compreensão completa do que se passa, mas Jooyoung sente a hostilidade do ambiente em que as duas se encontravam, e segura a mão da mais velha com firmeza. A ajumma finalmente aponta um destino, e começa a destrancar as inúmeras fechaduras da porta mais isolada, no fim do corredor. Ela abre a grade de ferro que cobre a porta frágil de madeira, onde é preciso girar a chave no cadeado do trinco superior e liberar mais duas fechaduras - uma acima do trinco e outra convencional, logo abaixo da maçaneta. A mulher sente falta dos passos que ecoavam às costas e vira-se, descobrindo as duas crianças estáticas, longe do capacho. Joohyun teria quebrado a terceira lei de Newton apenas com a força da intuição que a repelia daquele quarto desconhecido, empurrando-a contra a parede oposta à porta.

 

“Vamos, entrem! Tenho ramyun na despensa e não suporto comer sozinha...”

 

Jooyoung já havia desfeito o aperto de mãos e apoiava-se no braço direito da amiga, antecipando a decisão da mais velha. Joohyun sabia que cometera um grande erro ao entrar no prédio. Apesar da pouca idade, havia certas regras universais que toda menina e menino aprendem desde cedo, como não aceitar doces - ou ramyun - de estranhos. Com a situação já avançada, suas opções eram limitadas e a responsabilidade sobre a donsaeng tornava uma possível fuga mais complexa. E se Jooyoung ficasse para trás? Ela ainda poderia buscar a ajuda de um adulto. A imagem do motoqueiro de prontidão em frente à vitrine frustrava qualquer plano da mais velha. Um som alto ecoou do início do corredor. Enquanto Joohyun estava alheia a tudo que ocorria além do espaço que as separava da ajumma, as duas mulheres continuavam a discussão a plenos pulmões. Uma delas, uma jovem alta e forte, bate a porta do quarto com violência ao gritar as últimas palavras de protesto, algo relacionado a uma quantia de 20,000won.

 

“AJUMMA!! Quem são essas crianças? Você perdeu a cabeça?”

 

A jovem avança com violência em direção às garotas e empurra as duas para longe da mulher. 

 

“Meninas tão jovens!”

 

A ajumma bate a porta sem replicar. 

 

YAH!! Não voltem a esta vizinhança!”

 

As duas meninas correram em direção à avenida ao fim da rua, sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal! O que vocês acharam desse capítulo? Escrevi há um tempo e desanimei um pouco, mas acho que postar aqui pode me incentivar a escrever mais hehehe



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