Divagações escrita por Morgana Onirica


Capítulo 2
Capítulo 2




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Capítulo II


Meus lábios deixaram os da garota que estava presa em meus braços para se esticarem em um sorriso. A garota suspirou e falou o meu nome entre sussurros. Eu apenas sorria, bobamente. Não poderia sussurrar o seu nome. Aliás, qual era mesmo o nome dela? Não importava, de fato. Nenhuma delas atendia pelo nome de Remus, que era o único nome que eu desejava sussurrar.

Vi você junto com o James e o Peter, sentados a uma distância convincente. Senti que distância nenhuma era capaz de separar meu pensamento de você.

- ... então você vai comigo, Sirius?

- Como?
- Perguntei me dando conta de que a garota falava. Mas antes que ela pudesse continuar, afastei-me, pedindo desculpas.

Não agüentava mais. Tudo o que eu queria era estar perto de você. Nem que fosse para escutar sua voz sempre muito calma. Nem que fosse para te admirar, tomando como desculpa o fato de você estar magro demais para que alguma garota lhe notasse. E eu agradecia por isso, mesmo não admitindo. Não queria que ninguém percebesse o quanto você era maravilhoso.

- Já cansou dela, Pad? - James estava risonho.

- Ela não beija bem - sorri.

Seus olhos se levantaram do livro que lia, para me censurar.

- Nenhuma das últimas garotas era uma exímia beijadora, não é? - Sua pergunta era cáustica. E me machucou.

- Realmente. Não para mim.

- Um dia você vai acabar desejando alguém de verdade, Sirius. E essa garota vai lhe fazer sofrer muito mais do que você já fez alguém sofrer.
- Sua face estava dura. Hoje eu entendo que a sua repreensão era uma forma de auto-preservação: você tinha medo do que eu podia fazer com seus sentimentos. Mas naquela hora, eu achei engraçado. Você falava sem saber da verdade plena. Mas havia conseguido ferir meu orgulho. E eu ri disso.

- Nenhuma garota jamais vai me fazer sofrer, Remus.

Eu sai de perto de você. James e Peter estavam me olhando daquela forma confusa, como se jamais fossem me entender. E eu sabia que você estava me olhando com pena. E isso me irritava mais do que qualquer outra coisa. Não era pena que eu queria de você. E uma hora, eu desejava mesmo que inconscientemente, você ia perceber isso. E eu esperaria pelo dia em que você abriria as portas do seu coração pra mim. Sem medo.

Eu tinha pressa de ter você. Cada momento de hesitação agora era um a menos ao seu lado. Mas eu precisava ser cauteloso: você gostava de mim como amigo, mas me amaria? Eu desejava incessantemente que sim...


-x-


Senti seu corpo tentando me repelir. Prendi você com mais força entre meus braços, mantendo seu rosto virado para mim. Senti algumas lágrimas quentes rolarem pelo seu rosto, mas continuei beijando. Minha língua procurando brutalmente a sua, meus lábios ferindo a sua pele, ferindo a sua alma. Você não lutava mais: eu era mais forte e o meu desejo estava me consumindo. Você não protestou quando minhas mãos desceram pelas suas costas.

Quisera eu entender o seu silêncio naquele dia. Você suspirou e se deixou inflamar pelo que eu sentia. Como um incêndio, eu resolvi consumir tudo de uma só vez. E da mesma forma, tornei tudo cinzas.

O beijo, que era apenas meu, porque você jamais o quis da mesma forma, se tornou mais profundo e sedento. E você exalava medo. Medo do que eu poderia fazer com você, medo do que eu já tinha feito. Medo do que seria depois. Eu estava entrando em um caminho sem volta. E você se mantinha impassível, como as águas de um lago parado. E salgadas eram as lágrimas que caiam de seus olhos, se misturando com o meu desejo.

Meu corpo comprimiu o seu e você pode ter uma prova palpável do que estava se passando comigo. E o medo se tornou mais forte, ao ponto de você me repelir com um empurrão inesperado. Vi seu rosto se contraindo de nojo e dor, e senti uma felicidade sádica. Mas este sentimento logo foi substituído pelo de arrependimento. O que eu havia feito?
Seu punho veio de encontro ao meu rosto, acertando meus lábios. Senti dor e gosto de sangue.

Você não disse nada, mas saiu do banheiro correndo. Eu ainda podia sentir você perto do meu corpo. Sentei no chão molhado e passei a mão pelos cabelos. Um filete de sangue começava a escorrer pelo meu rosto, em direção ao chão. Vi aquela gota vermelha pintar as pedras cinzas. Acabara de violar seu corpo, seus sentimentos. Estava destruindo o que havia de mais sagrado em mim.

Tive nojo do reflexo que me mirava através daquela poça. Tive nojo daqueles olhos cinzentos que haviam rasgado sua alma com tanta violência. Eu havia procurado em você uma forma de aplacar toda a minha imundície, sem saber que estava sujando sua alma tão clara. Manchas de sangue não eram o bastante. O meu sofrimento não era o bastante; eu precisava desesperadamente sentir você. Precisava fazer com que sentisse o que eu sentia. De sofrimento eu era feito e sofrimento foi a única coisa que eu fora capaz de lhe dar. Meu amor não era suficiente para nós dois.


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