Hide The Petals escrita por JennyMNZ


Capítulo 4
A Provação




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cause it’s just cold when it’s not right,
and it’s a heartache that you never could satisfy.
cause it’s just cold with frozen kisses and a breath of ice.
it’s just cold when it’s not right.
is this a goodbye?
(blindside – cold)

.

.

.

.

Na sua noite de núpcias, Hae Soo não dorme.

Depois que o 8º Príncipe – agora seu marido – sai do quarto, ela fica sentada no chão, no mesmo lugar que ele a jogou antes de sair às pressas, e espera até a manhã chegar.

Ela nem tem coragem de olhar pra cama atrás dele – a cama dele, ela não vai triscar nem chegar perto – e só espera até que seus nervos lentamente se acalmem. E depois disso, ela fica olhando para as velas derretendo aos poucos, até que o quarto se ilumina com a luz do sol.

Quando o sol nasce, ela se põe de pé, deixando o chão frio para se sentar na mesma – no mesmo lugar e na mesma posição que estava enquanto esperava seu marido terminar a primeira refeição deles – alguns instantes antes das portas se abrirem e as servas entrarem.

Elas não fazem perguntas e nem comentários. São as mesmas servas que ela conheceu quando ainda morava ali, e ainda assim, elas só se curvam e a cumprimentam – ‘Buin’, elas dizem, ao invés de ‘Agassi’ como antigamente – antes de silenciosamente colocarem as bandejas de comida à sua frente, e saírem com a mesma sutileza de quando chegaram.

Soo queria manter sua abstinência de comida como uma forma de protesto. Mas com o 8º Príncipe ausente, com o seu estômago vazio desde o dia anterior, e com nenhuma noção de quando ela vai poder deixar sua nova casa, ela começa a devorar a comida. Ela não se importa com o gosto; ela não sente nada além da textura do alimento na sua boca.

No entanto, depois de algumas mordidas, ela percebe que as tigelas estão cheias de suas comidas favoritas. Ou pelo menos, suas comidas favoritas antes dela se tornar uma dama da corte e se mudar pro Damiwon. As comidas caras que ela amava antes de ser abandonada pelo seu clã e se tornar uma serva do Rei, pra ser mais específico.

Todas elas estão aqui agora. E quando ela nota isso, Soo também nota que a louça é uma antiga. Um conjunto de porcelana branca com flores rosas, os galhos pintados com traços dourados. Ela lembra de ter visto essas tigelas e copos só uma vez, há muito tempo. Ela lembra de uma certa tarde, quando ela estava tomando chá com sua Unnie e ficou deslumbrada com a estampa delicada pintada nos elegantes copos. O 8º Príncipe tinha chegado bem a tempo de ver parte de seu discurso empolgado, e disse depois que daria o conjunto todo de presente pra ela.

Hae Soo não está mais com fome.

A memória daquele dia com Hae Myung Hee não só a faz se lembrar de como ela era inocente, mas também a faz se sentir culpada. Faz ela se perguntar se a vida de sua prima teria sido diferente se ela não tivesse viajado no tempo, ou se o 8º Príncipe também teria sido indiferente a ela até que fosse tarde demais pro seu amor conseguir alguma coisa.

Ela afasta sua tigela de arroz e põe os palitos na mesa, depois se recosta na cadeira, fecha os olhos e suspira.

Hae Soo está com muitas saudades de sua Unnie, mas parte dela está feliz e aliviada que ela não precise ver o que homem que ela amava se tornou. Que ela não esteja ali para testemunhar como ela está sendo tratada agora.

Depois de um tempo as servas voltam para recolher seus pratos ainda cheios, carregando as bandejas com as cabeças baixas ao mesmo tempo que trazem novas roupas e enfeites para o seu cabelo. E Hae Soo se lembra o quanto ela odiava ajuda na hora de se trocar. Mesmo assim, ela se resigna e se submete à atividade longa, cansativa e enfadonha de ser enrolada e enrolada em infinitas camadas de tecido, depois ter o cabelo puxado, repuxado e preso com força no couro cabeludo.

Ela olha apaticamente para o espelho, estranhando o contraste das roupas rosa claro e turquesa com as vermelhas que ela usara no casamento, e também com as roupas mais simples e de cores pálidas que ela usava como dama da corte e lavadeira. Um segundo depois ela nota que essas são as cores que ela costumava usar antes de ir para o palácio.

Parece que seu gosto em roupas também mudou.

Ela se sente estranha, seus braços e sua cabeça pesados, quando as mulheres se afastam e se curvam sem dizer nada antes de se retirarem, passos silenciosos ao levarem suas roupas de núpcias e sua refeição inacabada embora.

Então uma mulher mais velha, que Soo lembra de antes acompanhar sua Unnie, entra. Ela não tem a mesma postura tímida das outras, e não hesita em olhá-la nos olhos. Mas ainda assim, ela se curva, submissa, antes de falar com uma voz educada e firme.

— Por favor, Buin. Permita-me acompanhá-la aos seus novos aposentos.

Hae Soo acena e segue a serva. Ela está desesperada pra ir embora, pelo menos daquele quarto, mesmo que saiba que só está indo de uma gaiola pra outra. Uma sombra deixa seu coração quando ela inspira o ar fresco da manhã, embora ela ainda sinta as garras do 8º Príncipe em volta dela.

Mas então a sombra volta quando a mulher a guia por um caminho que ela já conhece. Ela ainda se lembre daqueles corredores e daquele pátio muito bem; ela costumava subir aquelas mesmas escadas quando ia ver sua Unnie.

E quando elas entram no quarto da antiga senhora da casa, seu coração fica amargo.

Algumas das servas são novas, e elas se curvam para cumprimentá-la, lhe perguntam se ela deseja alguma coisa, e se curvam novamente quando ela as dispensa. Elas carregam baús com roupas e joias, abrindo-os e organizando os itens nas prateleiras e nas cômodas, mostrando-os para que ela escolha o conjunto que vai usar hoje, mas Soo não se demora, preferindo sentar-se sozinha na sua nova mesa.

As servas não parecem ver nada de estranho com ela se mudando para lá. Pela expressão delas, Soo poderia até pensar que elas nem sabiam quem era a mulher que vivia naquele quarto, e qual era sua relação com a nova moradora. Elas estão muito ocupadas com suas tarefas, com o dever de manter a cabeça baixa e os olhos voltados ao chão. Como ela tinha sido uma serva também, ela entende e não guarda rancor por isso. Era melhor para garotas de níveis inferiores se elas não fossem curiosas demais, apegadas demais.  Assim elas evitavam problemas e riscos desnecessários.

Ela nem tenta puxar conversa com elas, nem mesmo pra falar do clima. Ela só assiste em silêncio todas acabarem seus deveres, se curvarem, e fugirem como gatinhos assustados.

E então Hae Soo está sozinha de novo.

Parece que isso ia acontecer com mais frequência a partir de agora.

Por sorte, ela está acostumada a sentar numa cadeira dura o dia todo, então ela se reclina e deixa a mente viajar para outro lugar.

Mais especificamente, para o 4º Príncipe.

Ele não poderia mandar nenhuma carta ou mensagem enquanto ela vivesse ali. Mesmo que tivesse como, ele não ousaria atrair a atenção do Rei para ela ainda mais. E, devido ao seu estado civil de mulher casada, trocar correspondência com outro homem não cairia bem pra ela. Além do mais, ele tinha que ficar fora de suspeita de seu irmão, já que seu objetivo final era tirá-lo do poder e subir ao trono.

Ela nem sabia se ele tinha chegado em Seokyeong em segurança.

E, embora ela tivesse pedido ao 13º Príncipe que ficasse de olho nele pra ela, eles não poderiam conversar direito até que ele tivesse tomado o trono.

Ia levar anos pra isso acontecer, embora Go Hajin nunca se lembrasse de quanto tempo durou o governo de Jeongjong, e nem de quando Gwangjong subiu ao poder. Ela nem sabia se ia estar viva quando isso acontecesse.

Uma sombra tenebrosa paira sobre ela quando esse pensamento lhe vem à mente.

Quanto tempo ela teria que suportar ser a esposa do 8º Príncipe? Quanto tempo ela aguentaria? Quantos dias ela iria passar sentada sem fazer nada daquele jeito? Quantos anos ela teria que esperar?

Ela quer chorar de novo, sua saudade começando a doer, mas seus olhos continuam secos. Ela se conforta com a memória da última vez que ela o viu, e se conforta na promessa que ele lhe fez de voltar para ela.

Hae Soo poderia esperar a vida toda por ele.

E era isso que ela ia fazer.

 

❊❊❊

 

Ela só percebe que é de tarde quando as servas lhe trazem o almoço.

Ela se senta inerte e come a refeição aos poucos e contra sua própria vontade. Ela não teria comido nada, mas então ela imaginou o olhar de reprovação do 4º Príncipe se soubesse que ela não estava cuidando de si direito, então começou a engolir a comida, sem se preocupar com o sabor.

Seus olhos estão pesados quando a tigela de arroz se esvazia, a noite em claro e o estômago pesado fazendo seu corpo implorar por uma soneca, não importa o quão breve, e sua guarda começa a cair.

O que aconteceria com ela se ela dormisse?

O que ele faria com ela?

Ela luta para manter os olhos abertos enquanto as servas levam os pratos, quando uma das mulheres dá um passo à frente e fala se curvando.

— Buin, temos novos ingredientes para fazer sabão. Gostaria de vê-los?

Soo não se lembra bem dessa, embora ela pareça ser mais velha do que as servas que vieram mais cedo – um breve relance revela que ela não é a única – mas não é isso que a surpreende.

— Sabão? — Sua voz sai um pouco rouca quando ela pergunta confusa, e aí que ela percebe que essa é a primeira vez que ela fala desde que viu o 8º Príncipe na noite anterior.

— Sim, Buin, — a serva esclarece, sem se importar com o estado lento de sua senhora, — O Príncipe os encomendou ontem, já que a senhora gosta muito de fazer sabão.

Hae Soo pisca rapidamente perplexa, surpresa que ele ainda se lembrasse dos ingredientes que ela usava, especialmente já que fazia anos que eles tinham se separado. Ela se sente desconfortável e abre a boca para recusar a oferta da serva, dizer que ela está bem do jeito que está, que vai passar o dia no quarto, mas decide que é melhor não.

Ela assente e pede que a mulher mostre o caminho.

Afinal, as chances dela cair no sono enquanto fazia sabão eram quase nulas; e apesar de se sentir incomodada com o presente do marido, era melhor fazer algo no seu tempo livre (que agora parecia ser bem extenso) do que ficar o dia pensando em cenários deprimentes.

E além do mais, era só sabão. Quando ele visse que seu gesto não a tinha movido nem um milímetro, ele certamente iria parar com as tentativas e finalmente deixá-la em paz.

 

 ❊❊❊

 

Ele não a deixou em paz.

Mas ao longo do primeiro dia de sua vida de casada, ela realmente pensou que ele fosse.

Quando Soo passou a tarde trabalhando nos novos blocos de sabão (ela só faz de menta, o favorito do 4º Príncipe, ao invés de cedro, que ela costumava fazer para o 8º Príncipe) ela se sentiu mais calma, muito mais revigorada e concentrada.

Ela sente que está sendo observada às vezes, mas sempre que levanta o olhar só vê os servos passando, e a Princesa Yeon Hwa a encarando de longe de vez em quando. Mas o olhar dela é sempre claro: frio, agressivo, penetrante como uma faca. A mulher nem sequer tenta esconder seu ódio e seu descontentamento por tê-la na sua casa. Mas ela pode aguentar isso. Ela tem muita experiência em suportar olhares debochados de nobres arrogantes.

E afinal, Yeon Hwa não pode mais tocar nela.

Agora, tecnicamente falando, a princesa teria que curvar para cumprimentá-la.

Agora, tecnicamente falando, Soo tem um posição social mais elevada que a da princesa, e só isso já basta para lhe dar uma sensação de segurança, mesmo que fraca. É por isso que ela não se preocupa tanto durante o dia. E quando a noite cai e seus olhos pesam, ela se sente calma o bastante para voltar pro quarto e descansar um pouco.

— Coloque esses no fogo, eu vou vê-los pela manhã, — ela diz para a mulher que a levou para fora mais cedo, que claramente está no comando das servas mais novas. Ela não olha para elas, ela só vira as costas e volta para o quarto que lhe fora designado.

Ela só quer se jogar na cama e tentar dormir finalmente.

As velas estão todas acesas quando ela entra, iluminando o quarto com uma luz dourada. Soo está acostumada a dormir no escuro agora, então as chamas a irritam ao invés de confortá-la.

Foi o 8º Príncipe, provavelmente, que mandou que deixassem o quarto dela iluminado, já que ela ainda se lembra dele lhe falando pra deixar as velas acesas para dormir melhor.

Algo cai do pergaminho quando ela o abre, mas ela ignora. Ela está focada demais na mensagem, curiosa pra ver se é de Baek Ah, se ele chegou em Seokyeong, se ele entrou em contato com o 4º Príncipe. Ou poderia ser de Chae Ryung, um relatório do que acontecera no palácio e no Damiwon, agora que ela não era mais Sanggung. Poderia até ser do 14º Príncipe que ela ficaria feliz. Ela estava desejando ter alguém de confiança ao seu lado.

Mas quando ela leva a carta para a luz e finalmente lê os caracteres, seu sangue congela nas suas veias.

“Verde. Oh, verde é o salgueiro.”

Seu olhar se afasta da carta assim que sua mente registra a primeira linha já conhecida, e se volta para a cama, para onde o objeto que estava dentro pergaminho caiu. Ela não devia estar surpresa. Não devia mesmo. Mas mesmo assim, o fôlego de Hae Soo fica preso no seu peito, e ela não conseguia desviar o olhar da jade verde do bracelete, que contrastava vividamente com os lençóis vermelhos.

 

❊❊❊

 

Ele sorri quando ela entra, seu rosto se ilumina e ele põe o pincel de lado para cumprimentá-la.

— Que bom que veio.

— Não precisa se levantar, — Soo ergue uma mão com firmeza, e seu olhar basta para ele ficar imóvel na sua cadeira. E quando ele se reclina, ela se sente segura o bastante para continuar, — Na verdade, não precisa fazer absolutamente nada. Pare de me comprar coisas e de me mandar presentes. E pare de entrar no meu quarto.  Pare com isso tudo, — ela diz e levanta a mão, segurando o papel amassado e o bracelete de jade que antes estava no seu quarto.

O sorriso não deixa o rosto dele, para sua infelicidade. Pelo contrário, ele só cresce e parece mais satisfeito.

— Eu sou seu marido agora, — ele diz, e isso faz ela se arrepiar por dentro, o seu título deixando-a enjoada, — Eu preciso cuidar de você e atender suas necessidades.

— Não, não precisa, — ela o interrompe, já cansada de ouvi-lo, — Lembre-se, Wangjanim, que esse casamento só existe no papel. Você não vai me conquistar com esses atos.

O aviso dela é pra colocar um fim na conversa, mas ele claramente sai pela culatra e o príncipe entende tudo errado, já que seus olhos começam a brilhar e ele pergunta com um tom solícito.

— E como eu vou te conquistar? Me diga, eu faço qualquer coisa.

Go Hajin já tinha lidado com pessoas ruins no século XXI. Hae Soo já tinha sofrido bullying das musuri e dos nobres no Damiwon. Ela sabia muito bem como as pessoas podiam ser repulsivas, e como os egocêntricos podiam ser ignorantes. Ela já tinha até visto alguns nos doramas que ela assistia com a mãe.

E ainda assim, nenhum deles tinha sido tão irracional como o homem diante dela agora.

— Parece que eu não fui clara o bastante ontem à noite, — ela fala lenta e claramente, tentando desenhar a atual situação deles de uma forma que o homem pudesse entender, — Wangjanim, você perdeu completamente a minha confiança anos atrás, logo em seguida meu carinho. Talvez eu ainda pudesse tolerar sua presença se não tivesse me forçado a esse casamento.

Ela pausa, só para verificar suas palavras, para ter certeza que ela não deixou nada em aberto, não disse nada que ele pudesse entender errado ou distorcer segundo suas próprias crenças, e então continua.

— É tarde demais pra você.

Soo sabe que nada teve sucesso ou sentido quando ele abana a cabeça devagar, o sorriso desaparece, mas sua expressão ainda com o brilho de satisfação e contentamento que faz ela querer dar um tapa na cara dele ao mesmo tempo que a compele a correr o mais rápido possível. Ou os dois, à medida que sua pele se arrepia quando ele fala cheio de anseio.

— Eu posso apagar o passado. Posso fazer aqueles dias que você sempre quis voltarem, — ele se levanta devagar e fala com cuidado, como se fosse ela quem não está entendendo a situação, — Vai ser como se nada daquilo tivesse acontecido, e as coisas vão voltar a como deveriam ser.

— Só que eu não quero nada disso. Eu não quero você. Já parou pra pensar nisso?

— Eu sei que você ainda me ama, Soo-yah, — o inconcebível sai da boca dele e a deixa perplexa, sem palavras, incapaz de interrompê-lo, então ele continua, — Bem no fundo do seu coração eu sei que ainda resta um pedaço de mim. Eu só tenho que me esforçar, e então eu vou voltar a ser o único no seu coração.

Primeiro, ela quer rir.

O absurdo é tão extremo que ela realmente pensa, por um segundo, que ele está brincando. Ele deve estar. Não tem como uma pessoa sã fazer uma afirmação dessas. E o 8º Príncipe, embora seja um homem egoísta e sem escrúpulos, não deveria ser insano a esse ponto.

Mas depois, ela quer chorar.

Porque sim, ele é insano. Ele é um louco que nem se lembra mais do que é decência e senso comum. Ele se convenceu que abandoná-la anos atrás foi a coisa certa a ser feita, e agora ele tem certeza que casar-se com ela contra sua vontade foi a melhor decisão.

Só de pensar que um homem desses agora é praticamente dono dela, de acordo com a lei de Goryeo, faz ela querer vomitar. Ela não tem poder nem recursos para pedir um divórcio. Ela não tem meios para fugir e escapar de suas garras. Não importa pra onde ela vá, ele vai encontrá-la. E se ele não a encontrasse, então o seu Rei louco a encontraria, e seria o fim dela.

Ela pensou que Wang Wook a deixaria em paz depois da noite do casamento deles, mas acabou que ele está obcecado por ela. E ele está tão perdido na fantasia que ele criou depois de casar com ela que não vai parar de cortejá-la, de entrar no quarto dela pra deixar presentes, de segui-la pela residência. Ela agora tem um stalker pessoal, e ele é o marido dela.

Hae Soo sente sua raiva e seu medo se colidirem e ricochetearem dentro do seu peito.

— Você nunca terá meu coração.

— Mas isso não muda o fato que eu não vou abrir mão de você, — ele diz e dá a volta na sua mesa, andando em direção a ela.

— Não se aproxime, — ela murmura em um tom seco, andando para trás até que ele pare de se mover. Então ela fala entredentes, praticamente cuspindo suas palavras, — Não sinto nada além de nojo por você. Não quero nada de você além de distância. Eu nunca teria voltado pra essa casa de novo se não fosse pela minha falta de poder, e eu nem estaria nessa sala agora se não fosse por você ter passado dos limites.

Ele abre a boca, provavelmente pra dizer outro absurdo sobre como eles estavam apaixonados e que ela não devia estar se afastando dele, mas ela não deixa, e continua a falar.

— Isso é só um jogo pra você, Wangjanim, e você acha que estou blefando. Isso é uma questão de vida ou morte pra mim, e eu já estou morrendo. Mesmo que você não abra mão de mim, eu já desisti de você. E você não pode remendar um elo quebrado nem atravessar uma ponte caída, — ela amassa o papel enquanto fala, depois o rasga ao meio de uma vez só, antes de deixar os pedaços, junto com o bracelete, caírem no chão. — Faça o que quiser, Wangjanim, — Soo diz, andando para trás, aumentando a distância entre eles, — Eu não vou voltar pra você. Não vou te retribuir nada.

Ela foge antes que ela mesma perca a sanidade.

 

❊❊❊

 

Depois de sair às pressas do escritório dele, ela não volta pro quarto de Myung Hee.

Durante todo o tempo que ela passara lá dentro, Hae Soo tinha controlado sua raiva, tinha contido sua ira, e falado com o mesmo tom distante que ela usava para dar ordens no Damiwon.

Ela não ia deixá-lo ver sua raiva, pra garantir que ele não fosse ter mais ideias estranhas, encontrar um jeito de classificar sua vontade de lhe dar um tapa na cara como um sinal de que o coração dela ainda ansiava por ele. O medo dela também ajudou a manter o fervente sentimento afastado, seu peito sufocado lhe lembrando constantemente que ela não podia agir de forma agressiva. Mas assim que ela pisa fora do quarto, finalmente respira ar fresco, livre de sua presença ameaçadora, ela sente o sangue ferver, apesar do vento frio do lado de fora.

A mão dela está coçando pra bater em alguma coisa e arrancar seus cabelos, seus pulmões estão loucos para gritar enquanto seus pés marcham sobre o chão.

Ela quer quebrar alguma coisa, machucar alguma coisa, gritar com alguma coisa. Ela quer fazer alguma coisa, mas que nem no palácio, as mãos dela estão atadas. Ela não pôde salvar Wang Mu da morte, nem pôde ajudar Wang Eun a fugir. Ela não pôde evitar o decreto do Rei; ela não pôde se proteger. Hae Soo não só vivia como se andasse em gelo fino, ela mesma era o gelo – aparentemente firme e resistente, pálida e encoberta – mas prestes a quebrar e desmoronar. E por isso, mesmo sabendo que não é culpa dela, que não é um erro dela, parte de sua raiva também é direcionada a si mesma.

Parte de sua raiva – uma grande parte dela, ainda por cima – é direcionada a todas as promessas que ela já tinha feito e já tinha aceitado, a todo o tempo que ela investiu e desperdiçou nele.

Ela quer bater nela mesma, gritar com ela mesma.

Soo range os dentes e cerra os punhos, morde a língua e sopra de frustração.

Sim, Wang Wook é louco e ela está com raiva dele. Mas ela não estaria presa lá dentro se não tivesse tomado a mão dele antes. Ela não estaria presa lá se ela não tivesse aceitado o seu poema. Ela não estaria lá se não tivesse feito sabonete para ele. Ela não estaria lá se não tivesse confiado e confessado tanto para ele.

Ela não estaria lá se não tivesse se apaixonado por ele.

Eu não estaria aqui se não tivesse me apaixonado por aquele canalha traidor.

— Hajin-ah! Você tem um péssimo gosto pra homem! Ela briga com ela mesma e uma risada cínica começa a se formar no fundo do seu peito quando ela se lembra do seu ex-namorado do Século XXI, e ela fica mais e mais alta até que ela finalmente explode, — Por que você nunca aprende?! Ela grita e chuta a coisa mais próxima a ela, que acaba sendo uma torre de pedras de preces.

Seu pé protesta de dor, mas ela ignora. Ela não liga. Um tornozelo torcido não é nada em comparação ao espectro de problemas que ela carrega no momento. E mais, se o ferimento for sério, ela vai conseguir evitar a família Hwangbo, e ficar confinada dentro das paredes do seu quarto.

Soo chuta a pilha de pedras com mais força, esperando aumentar o dano, esperando que vá doer mais que seu coração e sua cabeça doem agora, esperando que vá lhe dar algo para se estabilizar. Mas depois que o topo da pilha de pedras de orações desmorona e o silêncio se instala em volta dela, a dor se vai.

Sua raiva, no entanto, só aumenta quando ela se lembra de como aquela torre foi construída, e o quão grata ela se sentiu quando a viu pela primeira vez.

Aquela era a última torre de preces que Myung Hee construiu para sua prima mais nova, uma garota órfã que ela tomou como filha. A mesma que Hae Soo usava para conversar com uma mãe que ela perdeu recentemente e há muito tempo. Também fora lá que ela admitiu pela primeira vez sua atração por um homem que ela não deveria ter olhado duas vezes.

— Você é repulsiva, Hae Soo-yah! Você é horrível! — ela murmura consigo mesma e chuta a base da torre de preces, espalhando mais rochas e pedras pelo pátio, — Como você pôde? Como você pôde?

Hae Soo não merecia aquelas preces nem aquelas pedras. Ela era uma tola que não sabia a diferença entre amor e afeto, mesmo depois de viver tanto tempo no Século XXI – mesmo depois de ser enganada e traída, e se arrepender de confiar cegamente nas pessoas.

Hae Soo agora está colhendo o que semeou, e se Go Hajin estivesse assistindo à distância, ela estaria comemorando e batendo palma.

Afinal, todo mundo tem que pagar pelos seus erros, mesmo aqueles cometidos pela ignorância.

Alguns momentos mais tarde, a torre é só um amontoado, uma bagunça de rochas espalhadas no pátio dos Hwangbo. Suas emoções negativas, no entanto, continuam firmes e de pé, então ela olha em volta e vê as outras torres – os outros débeis desejos e pedidos feitos por outra mãe para outros filhos.

Ela não sabia o quão frágeis suas esperanças eram quando as empilhou?

No seu frenesi de raiva, ela não se incomoda em tentar descobrir qual daquelas pilhas a Rainha fizera para o 8º Príncipe; ela simplesmente começa a empurrar todas, destruir todas elas. Ela esmaga as vãs esperanças e os pedidos frívolos, a tolice que a fez acreditar que teria uma boa vida desde que se esforçasse, que a iludiu e criou correntes e barras ao seu redor sem que ela nem percebesse.

Sua fé no mundo está destruída, então agora ela vai destruir a de todo mundo.

Se toque.

Só você está do seu lado.

Seu surto de fúria é interrompido depois que ela chuta uma torre minúscula, se é que o amontoado de pedrinhas poderia ser assim chamado. Ela não tinha muitas pedras – o que evidenciava que ninguém tinha cuidado dela há um tempo – e era meio torta – o que mostrava claramente que quem a construiu não tinha muita experiência. Quem a fizera claramente não estava acostumado a fazer pedidos aos céus.

O que você pediu? ela perguntou a ele na noite antes dele se mudar para o palácio. Ela nunca teve uma resposta. Talvez ele tivesse medo de não se realizar se ele contasse, talvez ele nunca tivesse acreditado que se realizaria de qualquer jeito.

Soo observa as pedras espalhadas, ofegando e suando, quando seu corpo começa a esfriar e a cólera no seu coração é sufocada pela angústia e pelo pesar que ela vem carregando desde que Wang Mu e Wang Eun morreram.

— O que você pediu? — ela pergunta em voz alta, ela sussurra, ela indaga as pedras, mas elas não respondem.

Elas não têm resposta.

As pedras são o único registro de um pedido silencioso, uma esperança escondida de um menino solitário. Elas nunca poderiam dar soluções ou saídas.

Ela cai no chão, toda sua energia esgotada e seu corpo exausto. Soo se sente infeliz mais uma vez quando se lembra das poucas vezes que eles se viram naquela casa.

Naquela época, o relacionamento deles estava longe de ser o que era agora, e mesmo quando ela lhe desejou uma boa vida no palácio, a amizade deles ainda era tímida, ainda começando a desabrochar. E agora, com ele tão intimamente perto de seu coração e ao mesmo tempo tão longe de seus braços, ela está de volta para aquela mesma casa.

O surto dela é bem parecido com o que ele teve anos atrás, mas ela ainda não sabe o que ele estava pensando quando decidiu construir uma torre de preces depois de destruir tantas. Ela sabe, com certeza, que não vai empilhar pedras pra realizar um desejo tão cedo.

— O que você pediu? — ela repete a pergunta, dessa vez em um tom mais sóbrio, mas ainda cheio de saudade. Mas ela não pergunta às pedras.

Cercada por todos aqueles pedidos quebrados e derrubados, tudo que ela quer é ouvir a voz dele de novo. Mesmo que ele não lhe diga a verdade, mesmo que ele mude de assunto, ela só quer que ele se sente ao seu lado e converse com ela.

Ela só quer ele.

 

❊❊❊

 

Demora muito tempo pra Hae Soo se recompor. E quando sua mente interrompe seu surto autodestrutivo, seu corpo inteiro começa a dor e sua cabeça pesa – os efeitos da noite passada em claro, fortes demais para serem ignorados.

Hae Soo não arruma suas roupas nem seu cabelo quando se levanta. Ela volta para o novo quarto que lhe deram, seus pés se arrastando durante todo o trajeto, sem ligar pra sua aparência ou para seus modos. Ela desaba nos degraus para seus aposentos, e ela não se dá ao trabalho de se levantar – embora esteja frio, embora ela esteja cansada.

Uma serva corre em direção a ela, e Soo só percebe por causa do som familiar do farfalhar de suas saias. Mas a mulher não diz nada, o que a irrita.

— Me traga mais álcool, — ela ordena, e o som volta para logo depois desaparecer à distância.

Soo não sabe se a mulher realmente foi buscar outra garrafa de vinho, e francamente, ela não liga. Ela está imersa demais na sua aflição pra ligar.

Então ela olha pro céu limpo e faz uma confissão para as estrelas de Goryeo.

— Sabe, — ela murmura com um sorriso cínico, sua voz cheia de amargura, — Eu pensava que, se eu não machucasse ninguém, ninguém tentaria me machucar. Eu não sou estúpida?

As estrelas são como as pedras: surdas, mudas, indiferentes aos estúpidos desejos, esperanças e preces das pessoas.

— Algumas pessoas que eu já amei mudaram, e depois me machucaram. E tem outras que não podem mais me proteger, — ela diz para si mesma como se fosse uma piada, mas ela não está rindo, — Eu sou que nem uma florzinha, sem ninguém pra cuidar de mim. Ninguém além de mim mesma.

Soo se deita nos degraus, sua mente finalmente se rendendo e apagando de exaustão, quando um pensamento estranho cruza sua mente.

Ah, como eu queria ser um cacto.

 

❊❊❊

 

Ela acorda com dor de cabeça na manhã seguinte.

Ou seria tarde?

É a primeira vez que ela dorme desde que se casou, e também a primeira vez que ela descansa direito desde a véspera do dia do seu casamento.

A serva da noite anterior, a mesma garota quieta que foi buscar vinho pouco antes dela desmaiar, está colocando um pano na sua testa.

— O que houve? — Sua voz falha quando ela pergunta, e ela nota o quão seca sua garganta está. Sua pergunta parece assustar a menina, que dá um pulo e entrelaça seus dedos, e então abaixa a cabeça antes de falar com uma voz tímida.

— Você está com febre, Buin, — ela explica rapidamente, — Não é alta e já está passando, mas é melhor descansar um pouco.

Soo se senta e olha em volta, reconhecendo seu novo quarto. Mas quando ela se lembra dos eventos da noite anterior, ela fica um pouco confusa.

— Como vim parar aqui?

— Eu te carreguei, Buin, — a garota explica imediatamente e então arfa ao perceber que poderia ter problemas por isso, — Por favor, perdoe minha ousadia.

A menina lembra Soo das aprendizes no Damiwon, e embora seu coração se aqueça um pouco, seu rosto permanece vazio quando ela fala.

— Não se preocupe, está tudo bem. Onde o 8º Príncipe está?

— Ele está com visitas, então não pôde vir.

— Visita? Então ele não veio aqui ontem à noite? — Ela pergunta com cuidado, tentando não soar muito preocupada ou assustada.

— Não, Buin, — a garota responde, mas então parece entender errado o motivo de Soo ter perguntado e rapidamente acrescenta, — Mas tenho certeza que foi só porque informei o Príncipe sobre seu estado quando ele a chamou para o desjejum.

— Não vou tomar meu desjejum, ainda estou mal, — ela fala curtamente antes de ordenar, — Me traga chá.

— Que sabor, Buin?

— Não importa, só quero que seja quente. E doce. Coloque um pouco de mel.

Depois que a serva se vai, ela se joga na cama e suspira de alívio. Porque, pra falar a verdade, ela estava se sentindo bem melhor se comparado a noite anterior.

Sim, ela tá de ressaca, sua cabeça e seu corpo estão doloridos, e ela sente náuseas, mas nada muito sério. Ela já teve piores na sua antiga vida, e ela sabe que essa vai passar em algumas horas, se tanto. E embora ela sinta os calafrios da febre, ela está certa que é provavelmente por ter passado a noite sentada no chão e por causa da pressão de começar uma nova vida na casa do 8º Príncipe.

A verdade é que ela podia perfeitamente levantar da cama e se arrumar para o dia. Mas ela não vai, porque não quer ver o 8º Príncipe.

Se a rotina dele for um pouco parecida com a antiga rotina do 4º Príncipe, ele tem algumas horas livres antes de ter que voltar para o palácio. Antigamente, Myung Hee e Hae Soo costumavam almoçar sozinhas, e o 8º Príncipe recebia sua refeição em seu escritório. Mas se ele tinha ido atrás dela para o desjejum, ele iria solicitar a presença dela durante o almoço, e ela acha que ainda não está pronta para encará-lo.

Ela só precisa esperar ele sair, daí ela pode pedir que a serva lhe traga comida.

 

 ❊❊❊

 

 O sol já estava se pondo no horizonte quando ela saiu de fininho do seu quarto, e agora ela está em frente ao lago no jardim do 8º Príncipe, e só resta o fraco brilho do crepúsculo.

Ele não foi atrás dela de novo o resto do dia, graças a sua febre, mas no fim da tarde, quando as servas lhe trouxeram água para lavar o rosto, uma delas colocou o mesmo maldito bracelete de jade ao lado de sua toalha.

Soo só olhou para ele indiferente e sem dizer nada, mas ela sentiu os olhares. Os espiões dele certamente iriam relatar todos os detalhes de sua reação, e não importava o quão negativa ela fosse, ele encontraria uma interpretação que lhe beneficiasse. E foi por isso que ela não fizera nada.

E é por isso que ele está ali agora, observando o sol desaparecer no horizonte.

A jade afundou de uma vez na água. Soo não hesitou por um momento antes de jogar o bracelete fora. Mas ela reluta em voltar para seus aposentos.

Só faz dois dias desde que ele se casou e ela já está nesse estado, ela vai conseguir suportar anos dessa vida?

E se ela já tivesse mudado a história e o 4º Príncipe acabasse não ascendendo ao trono? Ela poderia viver o resto de sua vida assim?

Ela estaria melhor no Século XXI?

Se ela pulasse na água agora, pra onde ela iria? Ela poderia reencontrá-lo de algum jeito?

Go Hajin não gostava de desistir, e Hae Soo também não. Até Jeongjong sabia disso: ela não fugiria desse jeito. Apesar da promessa de paz que as águas plácidas lhe ofereciam, ela vai se virar e abandonar essas ideias em um instante.

Ela vai voltar e encarar a tempestade em um instante. Mas por agora, ela aproveita a solidão e o silêncio, enquanto a escuridão a envolve e fica mais densa ao redor dela – uma experiência parecida com a primeira vez que ela afogou.

No entanto, o instante acaba cedo demais, uma vez que Hae Soo não se permite se sentir em paz por muito tempo num lugar daqueles, mesmo que seja sua nova casa. Ela vira as costas para o lago quando a última fração de luz do sol se vai, e volta para os degraus que vão levá-la de volta aos seus aposentos. E só então ela nota o movimento de pessoas com pressa perto do prédio principal.

Os servos e os poucos guardas por perto falam em voz baixa, mas ela nota suas expressões alarmadas enquanto eles acendem lanternas e rodeiam os quartos antes de partirem pela saída principal e as secundárias.

Soo só quer se jogar na cama e esperar a noite acabar, mas sua curiosidade toma conta e ela se aproxima de um grupo de servas que lhe parecem mais familiar – possivelmente são as que cuidaram dela no seu primeiro dia de casada.

— O que vocês todos estão fazendo aqui? — Ela pergunta sem anunciar sua presença primeiro, e acaba assustando as meninas um pouco. Elas se entreolham preocupadas, e silenciosamente discutem pra ver quem vai responder.

Uma das que estão na frente, mais perto da senhora da casa, parece ser a encarregada da tarefa, mas assim que ela abre a boca para responder, Soo ouve alguém falar atrás dela.

— Orabeonim estava preocupado, — sua cunhada diz, cheia de escárnio, e Soo se vira para encarar o olhar odioso da mulher, — Todos da casa estão procurando você.

Yeon Hwa está claramente caçando encrenca, e provavelmente lamentando não pode amarrá-la e lhe dar uma surra. Mas Hae Soo está cansada, e ela não quer entrar nas briguinhas da mulher, nem vê qualquer benefício em se rebaixar ao nível dela, então suas palavras são curtas.

— Eu estava apenas passeando pelo jardim, — Soo explica e começa a voltar para seu quarto, — Não havia necessidade para tanto estardalhaço.

Ela quer deixar o assunto pra lá e evitar qualquer confronto, mas Yeon Hwa insiste em atacá-la.

— Passeando a essa hora?

Soo suspira, revira os olhos e deixa os ombros caírem em desdém, então fala num tom impertinente.

— Que foi? É proibido?

— Você causou problemas pra todo mundo, não vê?

—Eu não saí da residência, Gongjunim, eu estava no jardim. Foi o 8º Príncipe que alertou os guardas e os servos, — ela rebate com uma voz neutra, que ela logo aprender ser a que mais irritava a Princesa, — Você devia ir atrás dele e tranquilizá-lo; diga a ele que eu não estava tentando fugir.

Hae Soo já cansou de falar, sua paciência e tolerância esgotadas, então ela simplesmente se afasta da Princesa.

— Você não vai durar muito tempo aqui se continuar desse jeito, — Yeon Hwa continua a gritar atrás dela, mas Soo não se vira e calmamente direciona seu olhar para as servas que estão à espera.

— Vou voltar para meu quarto agora; Ainda não me sinto muito bem.

— Sim, Buin, — as meninas se curvam e começam a guiar o caminho, iluminando-o com suas lanternas, mas Soo nota que elas estão nervosas por acompanhá-la quando Yeon Hwa está tão claramente irritada por causa disso.

Ela as reconheceu, é claro. A serva baixinha era a mesma que tinha cuidado dela durante a noite, e a mais velha era uma das servas que a ajudou a fazer sabão no dia anterior. Ela só tinha pedido que elas a acompanhassem porque elas eram conhecidas, mas agora ela temia que elas tivessem problemas mais tarde por saírem com ela.

Bem, acho que eu devia conferir como elas estão de vez em quando.

Soo grunhe mentalmente. Mesmo que ela ficasse de olho, não tinha muita coisa que ela pudesse fazer. Ela não pode salvar a si mesma, nem todos os servos que eram maltratados naquela casa.

Elas caminham em silêncio, seguindo o caminho mais longo de volta para seu quarto para evitar o 8º Príncipe, mas Soo o quebra quando elas dão de cara com um cenário estranho.

— O que aconteceu aqui? — Ela pergunta e para, olhando para a bagunça no pátio.

— O vento estava muito forte ontem à noite, — a serva mais nova responde um pouco hesitante, e é óbvio que ela acabou de inventar essa desculpa, — Acabou derrubando algumas das torres de oração.

— Ah, mesmo? —  Soo pergunta com curiosidade, como se não tivesse sido ela que tinha derrubado as torres na noite anterior, — O que vão fazer com elas agora?

— Buin, eu ainda não contei para o Príncipe. Vou notificá-lo amanhã e ele vai tomar as medidas necessárias.

— Tudo bem, então.

Ela desvia o olhar das pedras espalhadas e começa a andar novamente com as duas mulheres, mas algo a faz congelar novamente.

Ela quase não percebeu.

Ele estava debaixo de uma camada de poeira, e sua cor camuflava perfeitamente com as pedras, então se a moça não estivesse segurando a lanterna bem em cima dele, ela não teria visto algo brilhando, refletindo a luz da chama.

Soo se agacha, o que assusta as servas, e começa e limpar a terra e os pedregulhos para ver melhor. Então ela traz um objeto de metal para perto da luz.

— Isso pertence à Princesa?

— Não, Buin, — a serva mais velha responde com uma voz firme, embora não esconda seu nervosismo por completo, — Eu estou nessa casa desde que era criança, e já servi a Princesa antes. Essa joia...Tenho certeza que não é dela. Ela prefere acessórios mais coloridos.

— Então é da Rainha?

— Eu... É, eu acho que não.

— Parece ter sido abandonado, mas é bonitinho. Parece até que eu encontrei um tesouro antigo, — ela diz empolgada e nota que as servas relaxaram, então ela declara com um tom confiante e tranquilo, — Já que não tem dono, ele agora é meu.

Aparentemente o conceito de “achado não é roubado” era tão antigo quanto Goryeo, porque nenhuma das mulheres parece surpresa ou preocupada com a afirmação de Soo. Elas até terminam o trajeto com uma aura mais confortável, e não veem nada de estranho ou extraordinário quando sua senhora entra em seus aposentos e pede para ficar sozinha o resto da noite.

Quando a luz das lanternas se vai, Soo tem apenas a lua para conseguir admirar seu novo tesouro.

Ele não é feito de ouro nem de prata, mas é de um aço de alta qualidade, que não enferrujou nem mesmo depois do longo período exposto à inconsistência do clima. Ele está opaco em algumas partes e é velho, um pouco amassado, mas ainda reflete o fraco brilho do luar.

O grampo de cabelo é bonitinho sim, mas não foi por isso que Hae Soo o pegou para si.

Ela só vira o acessório por um curto período de tempo depois que o achara no banho do Damiwon. Ela não ousara andar por aí com ele depois de levá-lo para seu antigo quarto anos atrás. Mas ela tem certeza que é esse, é o grampo de cabelo que ele deixou para trás na primeira vez que ela vira sua cicatriz.

Também foi a causa dela ter levado uma surra, ela lembra, e consegue até sorrir com a memória dolorosa.

Ela consegue sorrir porque foi também a primeira vez que ele a chamou de sua.

Ah, como ela tinha ficado furiosa naquele dia...

Soo não consegue deixar de imaginar se ela teria se apaixonado mais cedo pelo 4º Príncipe se ela não tivesse se envolvido com seu oitavo irmão primeiro, e só para se consolar ela diz para sua eu mais jovem e mais inocente que era assim que as coisas deviam ser.

O que você pediu? Ela pergunta mentalmente mais uma vez, sua mão acariciando as gravuras nas asas da borboleta com melancolia. Ele não lhe respondeu no dia, mas ela não pode deixar de se perguntar se ele responderia agora.

Tinha se realizado? Tinha sido frustrado? Ele desistiu de esperar que fosse realizado? Nesse caso, o que ele lhe aconselharia a fazer depois que as estrelas e as pedras acabassem por se mostrar um recurso sem futuro?

Ele lhe daria uma bronca por ter feito aqueles pedidos?

No seu primeiro dia na residência Hwangbo, ela se sentiu bem otimista. Apesar de estar com medo e com raiva o tempo todo, ela ainda acreditava que iria conseguir viver desde que não desistisse da luta. Ela tinha fé que ia achar um jeito de viver bem naquele lugar e esperar pelo retorno de seu Príncipe.

Hoje ainda é o segundo dia, e sua já é um fio, a lembrança de uma esperança que desmoronou com as torres de oração da noite anterior.

O grampo de cabelo é velho, mas ainda é forte e resistente, e machuca sua mão quando ela o aperta, esperando que ele lhe dê força.

Uma lágrima rola de seus olhos, e ela cai no sono.

.

.

.

.

porque é só frio quando não é certo,
e é uma mágoa que você jamais poderia satisfazer.
porque é só frio, com beijos congelados e um hálito de gelo.
é só frio quando não é certo.
isso é um adeus?


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Notas finais do capítulo

Opiniões são bem-vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



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