Mine - One-shot escrita por therkstewart


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

O combo de inspiração para esta história foi:
?” Tema: Aniversário
?” Música: Mine, Taylor Swift.
?” GIF: Bella segurando um cacto de olhos fechados.



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12 de Setembro de 2020

8:40 p.m.

Comemorar o aniversário é uma forma de aproximar toda a família da criança.

Não para mim.

Quando eu era criança, aniversários não tinham o significado de aniversário. Aos 8 anos, meu último aniversário foi de fato comemorado, naquele ano, minha mãe e meu pai compraram bolo, velas e cantaram parabéns na sala de casa. Um dia depois da minha festa, minha mãe fora embora de casa. Renné gritava em todos os cantos, xingava, e fazia sua mala desesperadamente. Em meio às gavetas de roupas jogadas ao chão e a mala escancarada no chão de seu quarto, ela pegava todas as roupas que encontrava. Estávamos só nós duas naquele dia, meu pai estava com um amigo, pescando. Foi o pior dia da minha vida. 

Assim que meu pai chegou em casa, Renné estava de malas prontas, com um táxi na porta de casa e uma carta em mãos. Entregou à Charlie, que estava confuso, e disse pausadamente:

— Eu. Não. Quero. Mais. Essa. Vida. Não nasci para ser mãe, não nasci para ser esposa, não nasci pra essa droga de cidade chuvosa e verde. - Ela estendeu a mão a Charlie entregando a carta dobrada - Leia para ela quando ela tiver idade para entender. Estou partindo e não vou voltar. 

Renné saiu em disparada em direção ao carro, Charlie permaneceu atônito, confuso e sem entender o que estava acontecendo. Eu, por outro lado, que presenciei as cenas de Renné fazendo mala e escrevendo a carta, só olhava estaticamente para a porta, sabendo que aquele era o último dia em que eu teria contato com minha mãe. Eu não a queria mais por perto, assim como ela não me quis. 

Após o fatídico dia, pedi ao Charlie para não comemorarmos mais meu aniversário, 13 de setembro deixou de ser a data comemorativa em que Bella Swan nascerá. 13 de setembro passou a ser a data de comemoração de algo importante, de qualquer coisa importante. 

Em 13 de setembro de 2008, eu ganhei um concurso de soletrar na escola. Fui a melhor aluna do meu ano. 

Em 13 de setembro de 2009, Charlie fora promovido no trabalho, se tornou chefe de polícia de Forks. 

Em 13 de setembro de 2010, visitamos Portland, no Oregon, em busca de conhecer  a maior livraria independente e nova e usada no mundo, Powells. Fora um dos meus 13 de setembro favoritos.

Celebrar 13 de setembro se transformou num processo cuja finalidade era me fazer esquecer de minha mãe, 13 de setembro se transformou em uma data especial, minha e de Charlie, para comemorarmos o que temos  de mais especial um com o outro. E hoje, véspera dos meus 20 anos, não ter Charlie aqui, pela primeira vez, é uma dor lacerante que eu não gosto de sentir. 

Mas há Edward…

You were in college, working part time waiting tables

Left a small town, never looked back

 

— Ei, linda. Cheguei - meu coração acelerou quando Edward chegou mais cedo em casa - Como você está? 

— Ótima, estava com saudades - corri abraça-lo, ele me tirou do chão e eu passei minhas pernas por trás de suas costas, prendendo-me a ele - você cheira à tequila e limão. 

— Obrigado por lembrar - afastei meu tronco do seu, ele olhou no fundo dos meus olhos enquanto tirava uma mecha de cabelo do meu rosto - Como foi seu dia? 

— Normal, eu acho. Muitos textos para corrigir, pouco tempo. O de sempre. E o seu? 

— Tedioso, estava com saudades - Deu-me um beijo casto nos lábios e eu não poderia não retribuir. Deus, como eu amo esse homem — Lembrei de você enquanto estudava algumas constelações na minha pausa.

 Edward trabalhava em um bar próximo ao nosso apartamento, ele dizia que era uma forma de complementar a renda, mas eu sabia que ele era rico, do tipo muito rico, que achava que precisava mostrar aos pais o quanto é responsável. Estudante de física em Cambridge, Edward estava no quinto período e buscava a independência financeira de seus pais aos poucos, trabalhava meio período de bartender e dava aulas particulares no tempo livre. Sua parte preferida é astronomia, estávamos sempre observando o céu pelo seu telescópio, estudando as constelações, eu como mera admiradora da beleza do céu noturno, ele como a pessoa mais inteligente que eu já conheci na minha vida. 

— Por quê? Eu te lembro estrelas desde quando? - Sorri meio extasiada pelo beijo e querendo mais. 

— Desde sempre - Ele me beijou novamente, mais intenso, mais amável, me carregou até nosso sofá onde me depositou e continuou com beijos e carinhos. Deus, como eu amo esse homem.

I say: Can you believe it?

As we're lying on a couch

The moment I could see it

Yes, yes, I can see it now

 

— O que você pensou em fazer amanhã? - perguntei enquanto ainda estávamos deitados no sofá, nosso segundo ano comemorando 13 de setembro. 

Edward era louco por aniversários e datas comemorativas. Estávamos juntos desde minha chegada a Cambridge praticamente, e ele nunca me deixou sem comemorar alguma coisa. Valentine’s day, St Patrick’s day, páscoa, aniversário dele, aniversário de namoro, meu aniversário, natal, ano novo, toda e qualquer data, para ele, significava uma coisa: comemoração. É a minha parte favorita nele.

Minha chegada a cidade do Reino Unido foi no início de Junho de 2019, as aulas só começariam em Setembro, mas precisava me instalar, conhecer Cambridge, como me locomover, como me alimentar. Edward era meu vizinho de frente, foi a primeira pessoa a me recepcionar em meu apartamento novo, coincidentemente ele estava super animado com seu aniversário chegando, fui estranhamente convidada para a celebração com seus amigos que aconteceria no apartamento em alguns dias. 

Não compareci nesta primeira vez, estava me acostumando com a ideia de morar sozinha pela primeira vez, ver a vida sem Charlie, sem as pessoas de Forks, sem Forks. 

Se destino existe, ele tinha um plano para nós. Bastou encontros ocasionais no hall de entrada, encontros ocasionais no supermercado, encontros na faculdade e uma noite de bebidas e conversas para que nos beijássemos pela primeira vez e mais uma noite para que concordássemos em sair para assistir um filme, nosso primeiro encontro. Nunca me esquecerei do pior filme que já vi em minha vida, Edward é péssimo em escolher filmes, tão ruim que acaba sendo bom, transformamos todos os nossos filmes em piadas. ‘’The Nun’’ fora, de longe, o pior filme de terror que já vi na vida, mas me trouxe a melhor companhia que um dia eu poderia pedir e que eu nem sabia que precisava. 

— Depende de você, até que horas vai estudar e trabalhar? 

 A faculdade de Inglês era um sonho sendo realizado, o curso está além das minhas expectativas, nunca pensei que alguém pudesse se sentir tão completo por conta de um curso, mas é domingo. Não vou perder meu tempo com nada, a não ser ele. Eu amo meu curso, eu amo meu trabalho, mas eu amo tanto quanto amo meu namorado. Ter ele só pra mim quase todo o final de semana é minha prioridade e um privilégio. 

— Eu não quero ir a lugar nenhum amanhã, quero ficar com você - sussurrei a última parte, me aconchegando mais em seu abraço.

—  Eu amo tanto você - ele sussurrou, eu suspirei em resposta e depositei um beijo em seu peito.

— Eu também - movi meus lábios quase sem emitir som, ali era meu lugar.

Meu relacionamento com Edward se iniciou de forma rápida e inesperada, ao longo dos dias que foram se passando na estadia, sempre nos encontrávamos no hall do prédio. Bem no início de setembro, enquanto eu visitava a faculdade de Cambridge, Edward e eu nos esbarramos em uma das cafeterias da universidade, nesse dia em questão, fui acompanhada por ele para uma visita informal pela faculdade, a fim de conhecer o mundo real da faculdade para além dos panfletos. 

De repente nos aproximamos, de repente estávamos nos beijando, de repente estávamos namorando. Não houve tempo para joguinhos ou ideais de conquistas. O sentimento nasceu rápido e mútuo, silencioso mas ao mesmo tempo estrondoso, não fomos capaz de nos afastarmos de tal sensação e vontade, aquele sentimento, que eu nunca vira a existência de fato, floresceu igual um girassol, este quanto mais regado de sol, mais oferece ao telespectador um espetáculo. Nosso relacionamento é igual. 

Edward é aquela pessoa que os contos de fadas descrevem. Edward é o romance de Jane Austen se tornando realidade, mas sem a parte de enemie’s to lovers. Sempre fora ele. Seus olhos me cativaram, o brilho no olhar me dava frio na barriga, seu toque em minha pele me fazia suspirar, sonhar com mais e com uma necessidade de tocá-lo para sempre. A cada beijo, meu coração dispara, a garganta fica seca, os desejos se afloram e a intensidade nasce e cresce dentro de mim. Foi ele que me mostrou a paz de estar com alguém e o que é amar além dos laços de sangue. Ao universo, meus sinceros agradecimentos, por ter me dado alguém tão perfeito

 

Setembro de 2018

Último aniversário com Charlie

 

Aos 16 anos decidi que os Estados Unidos não era o melhor lugar para iniciar uma vida acadêmica. Foi em meu ano sênior que concretizei essa ideia, Charlie, me apoiara até o final, mas nunca deixou de esconder o desespero ao me ver me preparando para me mudar para a Inglaterra. 

Para celebrar minha formação, fomos para a Califórnia. Charlie dizia que era uma forma de comemorarmos minha graduação com honras pelo colégio de Forks, eu sabia que, além da comemoração, Charlie queria me provar que estudar nos Estados Unidos faria minha vida muito melhor, não me surpreendi quando casualmente nos perdemos pelas ruas de Los Angeles e fomos parar em frente a UCLA, uma das universidades nas quais eu consegui bolsa de estudo. Após uma longa e persistente visita, precisei convencê-lo de que não precisávamos tirar férias em Connecticut. Yale não era minha faculdade, mas eu sempre serei grata pelo reconhecimento.

Ele sabia das bolsas de estudos internacionais as quais eu aplicara no início daquele ano. Foi no dia exato do meu aniversário de 18 anos que as cartas de admissão chegaram. Cambridge, Liverpool, Lancaster foram algumas delas, eu jamais imaginara poder escolher entre tantas opções. Meu aniversário não poderia ser mais completo. 

Eu sabia para onde ir, eu sabia onde me encontraria e meu pai comemorou junto a mim, quando eu finalmente encontrei meu lugar no mundo. 

— Feliz aniversário, Bells - Charlie me abraçou forte, o melhor abraço do mundo vinha do melhor pai do mundo - Eu te amo e te desejo o melhor que o mundo pode oferecer.Obrigada, pai - sussurrei abraçando-o mais apertado. 

Charlie fora pra mim o que ninguém nunca foi. Renné nunca fez falta, foram 8 anos de convívio com alguém que nunca se prontificou em agir como mãe, ela estava certa em ir embora, nunca foi minha mãe, fora viver sua vida - palavras dela - enquanto era tempo. Charlie se saiu muito bem e eu me saí muito bem. Desde então estávamos juntos, como cúmplices. 

— Tenho presentes pra você - ele se afastou.

— Pai...chega de presentes - me entregou dois envelopes grandes, pardos, numerados com ‘’1’’ e ‘’2’’ - Los Angeles foi o presente

O primeiro envelope tinha uma foto grande minha, era nosso último dia na Califórnia, estávamos conhecendo um jardim local, onde fui presenteada pelos donos com um pequeno cacto. Na foto, eu estava de olhos fechados segurando meu cacto e uma pá, o sol batia em meu rosto, evidenciando meu tom de pele claro, ao mesmo tempo que evidenciava as nuances vermelhas do meu cabelo. 

— Espero que goste da foto, no álbum tem mais outras fotos, todas nossas, da sua infância, da sua adolescência, tem mais algumas fotos da nossa viagem. E um pendrive, com vídeos desses momentos, inclusive do momento em que você segura seu cacto. Tem uma câmera nova também, uma câmera realmente boa, quero fotos de todos os momentos da sua vida. Pensei… - ele suspirou - pensei que você gostaria de tê-las consigo, quando ver o segundo presente - aquilo atiçou minha curiosidade. 

O envelope dois era um pouco mais grosso que o primeiro e mais pesado, me surpreendi quando, de dentro dele, caíram mais 3 envelopes brancos na cama. Prendi a respiração quando percebi do que se tratava. Todos gritavam para mim ‘’Universidade’’. As cartas das universidades do Reino Unido chegaram no meu aniversário. Cada um daqueles pedaços medíocres de papéis continham uma resposta para mim. 

— Você não vai abrir? - Charlie estava ansioso ao meu lado, batia um dos pés de leve no chão enquanto passava a mão insistentemente em seu cabelo. Sua testa se enrugou com os movimentos constantes que ele fazia enquanto me observava analisar os envelopes. Pedaços de papel idiotas. 

Meu coração estava disparado, um nó formado na garganta que me deixava angustiada e com vontade de chorar. Por favor, por favor, por favor. Eu repetia incessantemente em minha mente, um suplico silencioso e desesperador. 

— Por Deus, Bella. Abra logo. 

 

12 de Setembro de 2020

9:15 p.m.

 

— Bella? - Edward me tirou do transe - Estava longe, não é? 

— Pensando em Charlie - fechei os olhos sentindo sua mão na lateral do meu rosto, me acariciando. Um sorriso triste se formou em meus lábios - Amanhã é meu primeiro aniversário longe dele.

 Em 2019, Charlie passara quase 2 meses na cidade nova comigo, dizia ele que eram férias prolongadas para me ajudar a me instalar na cidade, eu sabia que, além disso, ele estava com medo de me deixar. A primeira vez em quase 19 anos que eu estaria sozinha, mas principalmente ele, mais de 10 anos depois de Renné nos deixar, ele estaria só. 

— Bella - suspirou Edward.

— Está tudo bem, só estou com saudades. Deixa pra lá, o que faremos hoje então? 

— Tenho uma ideia, mas não sei se você vai concordar comigo. Estava pensando de irmos ao Jardim Botânico. 

— Agora? - olhei no relógio da TV - Edward, são mais de 9h da noite. Nem sei se estará aberto.

— Vai estar sim, só quero dar uma volta com você.

A ida até o Jardim Botânico de Cambridge foi calma e tranquila, andávamos de mãos dada enquanto fazíamos piadas e brincávamos a respeito das nossas diferenças de sotaque. Edward como um britânico tradicional, insistia em me fazer falar com a pronúncia britânica, me irritava até o fundo da minha alma quando dizia que americanos falam errado. Mas eu sabia que a coisa que ele mais amava no mundo era me ver falando as palavras com meu sotaque. Andar pelas ruas frescas de Cambridge quase me lembravam das ruas gélidas de Forks, apesar de bem maior e mais tumultuosa, Cambridge me lembrava de como eu me sentia em noites de verão nos Estados Unidos. 

As quartas-feiras, Charlie e eu sempre jantávamos no The Lodge, era nosso dia de comemorar que o fim da semana estava mais próximo do que estivera há 1 ou 2 dias atrás. Sentávamos em nosso lugar de sempre, a garçonete amiga de Charlie nos atendia como sempre, conversávamos sobre nosso dia, nossa semana como sempre. A temperatura oscilante de Forks nunca fora um problema para nós, quando o dia estava bom, caminhávamos feito crianças, quando havia chuva, passeios na viatura concretizavam nossos momentos. Tudo era ótimo com ele. 

Edward transformou meu ótimo em algo mais, estar com alguém tão especial e tão presente na minha vida era mais do que eu um dia sonhara. A vida ao lado de Edward começou muito antes do que eu imaginava.

 

19 de Agosto de 2019

Do you remember, we were sitting there by the water?

You put your arm around me for the first time

You made a rebel of a careless man's careful daughter

You are the best thing that's ever been mine

 

Minha primeira ida ao Jardim Botânico de Cambridge ocorreu em uma dia de turista na cidade. Antes das aulas iniciarem de fato, pedi a Charlie para que me deixasse ter algumas experiências sozinhas, apesar de estarmos colecionando momentos único naquela cidade maravilhosa, estar sozinha mostrava como a realidade seria dolorosa, mas boa.

Nunca me senti parte de algo enquanto estava em Forks. Todos na cidade me conheciam pela filha do chefe de polícia, mas as nossas costas sussurravam a respeito de toda a situação com a Renné. Estar em outro continente me fez conhecer o que é finalmente me sentir em paz, sem precisar calcular meus passos milimétricos, sem me preocupar com a fofoca de cidade pequena. 

Estar entre uma das maravilhas de Cambridge era pacífico, o sol estava quente, o céu em um tom de azul intenso, coisa que eu não via há tempos morando em Washington.  Sentada em frente ao lago do jardim, embaixo de uma árvore, o ambiente cheio de vozes de fundo era reconfortante. Louisa Alcott me acompanhava, Little Women era minha leitura da vez, mais uma vez, e, pela primeira vez, eu não conseguia me concentrar de fato, apenas insistia em olhar ao meu redor, memorizando e admirando cada pedaço. Tudo parece um sonho.

— Ei, Bella Swan, minha vizinha americana - Edward, meu empolgado vizinho, me chamou atenção enquanto caminhava até minha direção com uma mochila. Ele vestia uma blusa branca branca e calça branca, junto de uma fina camisa jeans e estava muito bonito. 

— Ei, Edward Cullen - sorri em retribuição ao cumprimento - britânico, perdido? 

— Na verdade, estou aproveitando enquanto ainda estou de folga do trabalho e da faculdade. Vocês calouros iniciam o semestre ao fim do mês que vem, eu iniciarei um pouco antes, além das aulas estou como assistente de um professor de um laboratório de Astronomia e as pesquisas precisam continuar em andamento - ele ficou em pé me encarando e tinha um sorriso em seu rosto ao mencionar seu curso. 

— Hm, vejo então que tem pouco menos tempo do que eu. Gostaria de se sentar e observar o lugar comigo? 

— Se não for um incomodo - dei de ombros e ele se sentou à sombra comigo. Edward me deixava nervosa.

— Mulherzinhas? 

— O que? 

— O livro, sabe...Alcott. Que você está lendo neste exato momento - ele apontou para o meu colo onde o livro estava fechado em minhas pernas

— Ah sim, é. Estou lendo de novo, sabe. Aproveitar boas coisas antes da vida adulta - sorri sem graça pela minha distração - Conhece?

— Definitivamente, um dos meus preferidos por causa da minha irmã, ela me fez ler todos os livros bons, na visão dela claro, para me transformar em alguém decente - ele ergueu os dedos formando aspas no final da frase - seja lá o que isso significa.

— Sua irmã parece ser alguém muito sensata. 

— Nah, eu posso discordar fielmente dessa afirmação - Edward sorriu, um sorriso torto, deixando abrangente uma fileira de dentes brancos perfeitos, um rosto tão bonito quanto aquele não deveria nunca ter um sorriso tão quente quanto aquele

A tarde ao lado de Edward passou rápido, conversamos durante algumas horas, em meio a piadas e assuntos sérios, como minha história com Renné e sua história, em que ele me contara a respeito da relação balançada entre seus pais e ele por conta da sua escolha de curso universitário. Eu nunca posso deixar de agradecer a Charlie por toda a liberdade que me dera na escolha do meu curso e da minha faculdade, jamais conseguiria seguir outra área acadêmica que não Inglês & Literatura Inglesa e poder realizar este sonho, aqui, num país que está a mais de 7 mil quilômetros de casa. 

— Então, Bella Swan, onde está o capitão Charlie? Achei que ele ficaria mais um tempo por aqui.

— Está pela cidade, eu acredito. Ele vai ficar aqui até dia 14 de setembro, se recusa a ir embora antes do meu aniversário desde que, bom, desde Renné. 

— Aniversário? Por acaso seu aniversário está chegando? - Os olhos de Edward estavam com um brilho diferente. 

— Mais ou menos, mês que vem para ser mais exata. 

— E você me contou toda a história da sua mãe sem mencionar que seu aniversário ocorrerá em exatos 25 dias? 

— Não é minha coisa favorita da vida, Edward. Enfim, ele quer ter certeza que não vou passar sozinha, dada minha incapacidade de me relacionar com as pessoas em Forks, ele acha que eu não sou uma mulher adulta. 

— Pois diga a Charlie que você é ótima em se relacionar com as pessoas, e que se depender do seu vizinho enxerido seu aniversário será celebrado todos os anos que você estiver em Cambridge - ele sorriu mostrando aquela fileira de dentes maravilhosos. 

— Eu não sou a pessoa mais fã de aniversário do mundo, vizinho enxerido. — Edward sorriu e passou o braço em torno do meu ombro, me assustei de repente.

— Calma, você vai aprender a gostar de aniversário, comigo. 

Sorrimos um para o outro enquanto voltávamos a olhar em direção ao rio. A tarde de sol no Jardim Botânico se tornará ainda mais bonita com aquele momento. A paz que eu senti aquele dia não é explicável. Edward, você é a melhor coisa que já foi minha. 

 

12 de Setembro de 2020

9:30 p.m.

Flash forward and we're taking on the world together

And there's a drawer of my things at your place

You learn my secrets and you figure out why I'm guarded

You say we'll never make my parents' mistakes

 

— And there’s a drawer of my things at your place - cantarolei um pouco ao longo do nosso passeio. 

— Uma gaveta, um armário, um banheiro. Um tudo, na minha casa - Edward respondeu calmo e sorriu novamente para mim. 

— A maior loucura da minha vida, devo dizer. Obrigada por isso.

— Sempre, bae - seus braços passaram em torno de meus ombros - você sabe, como diria a poeta Taylor Swift, eu aprendi seus segredos e descobri porque é tão cautelosa.

— Okay, e me prometeu nunca cometer os mesmos erros que meus pais.

Quando Edward me chamou para morar com ele, poucos meses após nosso relacionamento de fato começar, cenas de Renné e Charlie começaram a passar na minha cabeça, eu sempre tive medo de relacionamentos ao longo da minha vida, poucos foram aqueles que eu ao menos tentei fazer funcionar. E, me mudar para o apartamento em frente, com aquele homem, que me conhecia há menos de um anos, mas que me amava e eu amava mais que tudo, parecia ser uma decisão um tanto quanto delicada.

 

But we got bills to pay

We got nothing figured out

When it was hard to take

Yes, yes, this is what I thought about

 

Contar a Charlie não me trouxe paz nem conforto, ele cismou que Edward poderia querer algo em troca, ou até mesmo fazer algo contra mim. Foram dias conversando e conversando e debatendo, tentando entender qual o significado por trás daquele pedido. O que nós sabíamos da vida? Como faríamos aquilo funcionar? E se desse problema depois de um tempo? Eu sairia da casa dele para morar onde? Edward era incrível para mim, passávamos muito tempo juntos, dormíamos sempre um na casa do outro, mas morar junto em menos de um ano parecia ser a decisão mais precipitada de todos os tempos, similar a de Charlie e Renné, que logo aos 20 anos já estavam casados a espera de um bebê. 

A pior parte dessa discussão fora alguns dias depois daquele pedido um tanto quanto inusitado, em que fui abordada pela família dele. Os pais e os irmãos, ao saberem dos planos de Edward, correram para Cambridge em busca de tentar entender quais eram nossos planos. A verdade é que todos esperavam chegar e me descobrir grávida de um homem que eu conhecia há pouco tempo e me envolvia a menos tempo ainda.  

 

11 de Abril de 2020

Esme Cullen e Alice Cullen estavam na sala de estar do apartamento de Edward, enquanto ele saíra com o pai e o irmão. Nós três estávamos conversando fazia um certo tempo, a espera dos homens para irmos almoçar, eu me sentira num interrogatório, apesar de ambas as mulheres serem extremamente solícitas e gentis com a situação. 

— Bella, peço desculpas mais uma vez por toda esta confusão, quando Alice ficou sabendo que Edward estava namorando e que, bom, em questão de meses, estava chamando a nova namorada para viver com ele, ficamos preocupados. 

— Não tem problema - levantei um sorriso de canto, Esme me pedira desculpas há um bom tempo já - Entendo a situação, meu pai pensou a mesma coisa, que havia um problema. Foi um custo para convencermos ele de não pegar o primeiro avião para cá. E sinceramente, coloco toda esta situação nas mãos do Edward, nunca que eu imaginei que isso aconteceria, bom, não tão cedo. Esme, eu amo seu filho, mas ele é a pessoa mais sem noção que eu já conheci para muita coisa.

— Definitivamente, este é Edward - Alice comentou - Mas é também o coração mais puro que você vai conhecer, de verdade. Ele é meu orgulho - O sorriso em seu rosto não enganava o quanto ela se importava com o irmão. 

As duas mulheres a minha frente estavam a um passo da perfeição, Esme como decoradora de interiores, de tempos em tempos, entrava a fundo no apartamento em busca de objetos de decoração para mudar alguma coisa na casa. Alice, por outro lado, ficava no celular, apesar de ser ingressante na faculdade de moda, era notório o quanto seu talento aflorava em sua personalidade. A elegância de alguém como ela me deixava um pouco desconfortável, em especial pela maneira na qual eu me encontrava aquele dia, usando um vestido confortável para ficar em casa e os cabelos presos, num dia de primavera e de preguiça. 

Aos poucos o conforto entre nós fora estabelecido, os meninos chegaram prontos para o almoço. Naquele dia, passamos o dia visitando diversos pontos da cidade, levar Carlisle, Esme, Alice e Emmet para passear me mostrou como eu me sentia bem e confortável com uma família que eu mal conhecia. Estar com Edward era estar em família. 

 

12 de setembro de 2020

10:45 p.m.

 

— A senhorita está dispersa hoje - ele comentou. Estávamos parados em frente a um parque já fazia um certo tempo, obviamente o Jardim Botânico estava fechado, Edward é tão teimoso quando eu digo as coisas a ele.

— Não, na verdade estou lembrando de nós. Edward, o que você tinha na cabeça quando decidiu que era uma ótima ideia eu me mudar pra sua casa com pouco tempo de namoro? - sentamos em meio a grama gélida do parque, as luzes ao redor estavam acesas e iluminavam o chão com grama amarelada quase avermelhada, como sinal de que o verão estava se desfazendo e a estação em tons terrosos chegaria. 

Apesar do horário, havia uma quantidade considerável de pessoas no local, em sua maioria famílias que brincavam pelo local e alguns donos com seus pets. O clima de Cambridge mudará quase que repentinamente e estava delicioso ficar naquele lugar durante a noite, observando a paisagem e olhando as estrelas.

— Eu nunca me senti assim por ninguém, Bella. Eu queria morar com você desde nossos primeiros dias juntos, sinceramente, nossa relação sempre foi maravilhosa e sempre me trouxe uma paz que ninguém jamais me trouxe. Eu nem sabia que o amor que Esme e Carlisle sentem um pelo outro realmente existia, e quando eu entendi que eu sentia aquilo que eu vi durante toda minha vida, eu não pensava em mais nada a não ser te chamar pra ficar comigo. 

 

And I remember that fight, 2:30 a.m.

As everything was slipping right out of our hands

And I ran out crying

And you followed me out into the street

 

— No começo...no começo eu morria de medo de viver como meus pais, conhecer os seus me mostrou aquele amor que a literatura sempre me mostrou, mas que eu achava ser falso. E, Edward - olhamos um nos olhos do outro - você me mostrou realmente que tudo só dependia de nós - seus lábios colaram ao meu, um beijo casto e rápido. 

— Eu sei que já tivemos nossos problemas, eu não sou perfeito, você não é perfeita, as mudanças foram repentinas demais, mas tá tudo bem também. Nossos desentendimentos ao longo desses meses foram bons para nos mostrar como funciona a vida de casado, porque querendo ou não, é nossa vida a dois, há um tempo. E nossos planos crescem juntos. Você não pode negar que imagina um futuro assim, para nós. 

Braced myself for the goodbye

'Cause that's all I've ever known

Then you took me by surprise

You said: I'll never leave you alone

 

— Depois de tanto tempo juntos em casa, com manias um dos outros, com nossas famílias indo e vindo, com eles se conhecendo...Bella, você se tornou minha família, parte de tudo. Meus pais te amam, meus irmãos... Até mesmo seu pai gosta de mim.

— Às vezes acho que Charlie gosta mais de você do que de mim - disse com um sorriso de lado. Edward deu uma gargalhada gostosa.

— Eu sei, afinal, eu trouxe a filha dele ao mundo de volta, com a leveza que você deveria ter tido desde sempre. Prova disso, é seu aniversário. Você está prestes a completar mais um ano de vida, prestes a comemorar seu aniversário, além de comemorar seu famoso 13 de setembro. Qual a comemoração deste 13 de setembro? 

— Acho que...oficialmente celebraremos meu aniversário - Edward me abraçou com força, colocou os braços ao meu redor e eu deitei minha cabeça no vão de seu pescoço. 

— Nós vamos comemorar seu aniversário, meu amor. 

— Eu nunca pensei comemorar meu aniversário.

— Nossa relação mostrou como...como é viver esta data pelo real significado.

— Bella, eu não vou deixar você sozinha, nunca. Eu amo você em cada parte e totalidade sua.

— Eu também amo você, Edward. Obrigada por hoje, por ontem, por sempre estar lá mesmo quando nós nem sabíamos quem era o outro.

Estar ali era estar em família. A falta de Charlie ao meu aniversário de 20 anos, de algum modo, estava me matando, a primeira vez que eu comemoro uma data dessas longe do meu pai quando eu finalmente aceitei que está tudo bem comemorarmos aniversários. Renné fora alguém que não não soubera o que queria da vida, nunca soube, achava que a resposta para todos os seus problemas seria o casamento e a construção de uma família nos moldes tradicionais, mas não foi. 

Ir embora a salvou, acredito, nunca mais tivemos contato, mas espero que esteja bem onde quer que esteja com quem quer que esteja, seja uma família com marido e filhos, seja sozinha conhecendo o mundo. A carta que me deixará aos 8 anos nunca fora aberta, pedi a Charlie que guardasse para um dia em que eu quisesse lê-la, ainda estou a espera desse dia, mas não há pressa para tentar conhecê-la de fato e nem seus motivos para agir de tal forma. Por minha decisão, Charlie buscou os meios legais do divórcio há 5 anos, ele contatou Renné, assinaram os papéis e resolveram a situação, sem a necessidade de me contar ou mencionar algo sobre ela e como ela estava. Nossa relação sempre se manteve respeitosa, Charlie nunca tentara algo que fosse me magoar ou me fazer retornar a ida de Renné. 

Já Edward, foi quem somou algo a mim. Trazer a comemoração de aniversário em nosso relacionamento me permitiu crescer e apagar a lembrança como algo ruim, eu posso ser a garota a qual a mãe abandonou aos oito anos após um aniversário, mas eu também posso ser a garota que tem um pai que a ama e cuida, um namorado gentil e atencioso, uma família completa por parte do namorado, com mãe, pai e irmãos afetuosos. E juntos celebramos as comemorações da vida. 

12 de Setembro de 2020

11:55 p.m.

Hold on

Make it last

Hold on

Never turn back

 

— O que vai desejar de aniversário este ano? - Edward olhou em seu pulso verificando o horário, era quase 13 de setembro. Ficamos sentados na grama gélida, com o ar da cidade mudando em nossa direção. O parque estava praticamente vazio, mas as luzes ainda estavam acesas e alguns casais estavam deitados no sereno observando as poucas estrelas do céu e a lua quase sumindo. É quase lua nova e é o momento de renovação. 

— Eu não sei se tenho mais algo a desejar, não em grande estilo. A vida parece estar tão certa. 

— É, ela está - o suspiro de Edward preencheu os meus ouvidos enquanto eu ouvia e sentia as batidas de seu coração acelerar.  

— Eu quero isso, pra sempre. Isso, eu digo, você, eu, nossa família, mesmo que um dia, por obra do destino, se é que ele existe, eu quero saber que posso contar com pais e irmãos e com um amigo, meu melhor amigo, que é você, meu bem. 

— Isabella, você acha mesmo que algum dia eu vou deixar você fora da minha vida? Você é a melhor coisa que Cambridge me trouxe, escolher entre Física, meu sonho, e entre Medicina, pelos meus pais em Oxford, fora a melhor coisa que eu poderia ter feito, sem Cambridge, se é que destino existe, quando nós nos encontraríamos? Tudo tem o seu tempo e saber que você está lá comigo e estará lá comigo por muito mais tempo é tudo o que eu quero. 

— Enquanto estivermos vivos? 

— Enquanto estivermos vivos - em questão de segundos, Edward plantou em minhas mãos uma caixinha azul aveludada, olhou em meus olhos, suas orbes verdes brilhavam intensamente e sua pupila estava dilatada

— Enquanto estivermos...vivos? 

Edward abriu a caixinha e um pequeno aro prata com uma pedra singela reluziu. Delicado na medida certa, discreto como eu e brilhante a noite, Edward estava ali me pedindo pra ficar. Fui capaz de abrir os lábios e ofegar, meu coração estava muito acelerado, meu rosto quente e corado e minhas mãos tremiam. Era meia noite e um do dia 13 de setembro de 2020 e Edward estava oficialmente me pedindo para sermos só nós para sempre. 

Yes, yes

Do you believe it?

Yes, yes

We're gonna make it now

Yes, yes

And I can see it

Yes, yes

I can see it now

 

— Enquanto. Estivermos. Vivos.

Sorri, o sorriso mais verdadeiro que eu poderia, no dia mais feliz da minha vida, no melhor 13 de setembro que eu poderia ter. A mão trêmula de Edward colocou o anel em meu dedo, limpei uma lágrima solitária que escorreu em seu rosto e beijei-o intensamente. Em 13 de setembro de 2020 eu comemoro, por fim, meu pedido de ficar. 


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Notas finais do capítulo

Algumas formatações sofreram alterações quando postei aqui, caso tenham visto algum problema, me avisem ou mandem em @therkstewart :)



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