Sintonia escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Tampinha


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas.
Essa one é em comemoração aos aniversários da Renesmee e da Bella, se passa pós Amanhecer e contém spoilers de Sol da meia-noite.
Boa leitura!



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Tampinha

 

Renesmee entrou primeiro na lanchonete, carregando apenas uma sacola enquanto minhas mãos estavam cheias delas. Nosso dia de compras tinha rendido bastante, Alice estaria orgulhosa de nós, especialmente da sobrinha que foi a responsável por renovar não só seu guarda-roupa, mas o meu e o da mãe também.

 

O lugar, obviamente, tinha cheiro de alimentos. Canela, queijo, café, até algo alcoólico que julguei ser champanhe, lembrava do cheiro no dia do meu casamento. 

 

Minha filha escolheu uma mesa longe da grande janela de vidro da lanchonete, onde a maioria dos clientes se encontrava. Ela colocou a sacola que segurava no encosto de sua cadeira e eu deixei as minhas no chão, nos sentamos de frente um para o outro e deslizei o cardápio que já estava sobre a mesa em direção a Renesmee.

 

Preciso mesmo comer?

 

Me questionou em sua mente, franzindo a testa. Renesmee não era a maior fã de alimentos humanos, mas fazia muito tempo desde a nossa última caçada e ela estava fugindo de comida humana por mais de um dia.

 

— Sim, escolha — ordenei batendo de leve um dedo sobre o cardápio.

 

Chato, pensou. Mas rapidamente me lançou um sorriso e disse em voz alta:

 

— Te amo, não me coloque de castigo.

 

Eu ri.

 

— Como se eu fosse conseguir fazer isso, apenas escolha algo para comer, okay?

 

Tudo bem, concordou e começou a ler as opções disponíveis no cardápio. A cada item ali ela tecia uma lista de comentários em sua mente criticando a comida, pensando em como sangue, mesmo os de animais, seria melhor.

 

— Talvez eles possam te servir uma carne bem mal passada para você beber o sangue — falei provocando, em voz baixa para que não corresse o risco de nenhum humano ali ouvir.

 

— Muito engraçado. — Fingiu uma risada e continuou a ler o cardápio. — Leite com café, eca — reclamou de uma das opções em voz alta, enquanto em sua mente se imaginava bebendo aquilo e vomitando logo em seguida, não suportava leite.

 

— Nada de leite — alertei. — Mas decida de uma vez, a garçonete está vindo.

 

Eu podia ouvir os pensamentos da garota loira, mesmo que estivesse tentando ignorar todos naquela lanchonete. Porém, era um pouco impossível com a menina pensando sobre Nessie e eu sem parar, não dava para ignorar as imagens do rosto da minha filha e o meu quando estavam sendo analisados sem parar naquela mente.

 

Eles são um casal? Não, são parecidos, devem ser parentes. Deus, que ele esteja solteiro. Já pensou namorar com esse cara gato? Ia calar a boca da minha irmã que fica se gabando por aquele namorado… Eu realmente espero que essa menina não seja namorada desse gostoso.

 

Eu sufoquei uma risada com aquele pensamento, Renesmee notou isso em meu rosto e me encarou de jeito questionador.

 

Gostaria de ouvir sua mente também, é injusto eu não saber o que você está pensando quando sabe tudo que tem na minha cabeça, acusou.

 

— Eu não sei tudo, sua mãe te coloca sob o escudo dela várias vezes.

 

Renesmee revirou os olhos, mas também ouviu a garçonete cada vez mais próxima da nossa mesa e voltou a missão de escolher o que comer. Para ela isso era uma tortura, eu deveria ter a levado para caçar, mas tínhamos planos e já estávamos ali, seria mais fácil que comesse logo.

 

— Olá! — a garçonete exclamou animada, mas vi seu olhar focado em mim, isso fez Nessie revirar os olhos outra vez. — O que posso trazer para vocês?

 

Por favor, seja solteiro, a garçonete implorou. 

 

Ela não está vendo sua aliança? Renesmee me questionou impaciente, sabia que parte do seu mau humor era motivado por fome, ela precisava mesmo comer.

 

— Olá — cumprimentei a garota loira e não muito discretamente levei a mão esquerda aos meus cabelos, foi o suficiente para ela notar minha aliança de casamento.

 

Ele é casado? Como assim ele é casado? É tão novo, quem se casa tão cedo assim… Ah, minha prima casou com dezoito, mas ela é doida… Não acredito que ele é casado e não é comigo…

 

— Você pode anotar o pedido da minha irmã — falei gesticulando para Renesmee, que voltou a olhar para o cardápio naquele instante.

 

Essa era a relação familiar que dizíamos ter para os humanos, irmãos. Era fácil para eles acreditarem, Renesmee parecia comigo, podíamos passar por gêmeos ou ela alguns anos mais nova por ser mais baixa que eu. Alguns achavam estranho quando viam nós dois juntos de Bella, notavam a semelhança entre elas também e não entendiam como isso poderia ser possível já que para eles Renesmee e a mãe eram cunhadas.

 

Entretanto, Nessie se parecia mais comigo e era mais fácil enganar os humanos assim. 

 

Irmã! Sim, eles se parecem tanto, mas de que importa agora? Ele é casado com outra. Deve ser alguma super modelo. Que saco, bom, deixa eu anotar os pedidos.

 

Ela voltou o corpo na direção de Nessie e com um bloquinho de notas e caneta se preparou para anotar.

 

— Vou querer apenas uma limonada — Renesmee disse simplesmente.

 

Eu bufei e ela revirou os olhos pela terceira vez.

 

Não estou com fome, pai! Pelo menos não de nada desse cardápio.

 

— Pode trazer a limonada e um sanduíche para ela — falei para a garçonete, li no crachá em seu uniforme seu nome, Sarah.

 

— Não, não — Renesmee protestou. — Troca o sanduíche por panquecas.

 

— Desculpa — Sarah pediu. — São seis da tarde, as panquecas estão no cardápio do café da manhã e ele só vai até às onze da manhã.

 

Papai, eu quero panquecas

 

Renesmee olhou para mim, implorando.

 

— Sarah — chamei por ela, o que fez a garçonete me olhar com um gigantesco sorriso em seu rosto. Ela estava deslumbrada não só com minha aparência, mas com minha voz também. — Nós podemos pagar a mais pelas panquecas, será que isso muda o esquema do cardápio?

 

— E-Eu — gaguejou.

 

— Pagamos o triplo.

 

Você quer mesmo que eu coma, pai. Renesmee observou, eu evitei sorrir para minha filha, concentrado em Sarah tentando fazer com que ela nos desse as benditas panquecas.

 

— Tem certeza? — perguntou em choque.

 

— Tenho — garanti e sorri para ela.

 

Panquecas com morangos, Renesmee completou.

 

— Se tivessem alguns morangos com as panquecas seria muito bom — acrescentei.

 

— Ok, vou falar com o gerente e ver se tudo bem — Sarah murmurou ainda chocada por eu estar pagando tanto só por panquecas. — Algo mais?

 

Sangue, minha filha pensou em tom de brincadeira. Pra viagem.

 

— Só isso, muito obrigado, Sarah — agradeci, ela assentiu e andou para longe da nossa mesa, indo procurar por seu gerente. — Pra quem não queria comer você está cheia de pedidos especiais — falei para Nessie, ela deu de ombros.

 

Se tenho que comer que seja algo melhor que um sanduíche. Isso é cheiro de champanhe, né? Perguntou e olhou discretamente ao redor, por seus pensamentos vi uma mulher algumas mesas de distância bebendo champanhe de uma garrafinha de água, enquanto comia um sanduíche.

 

— Por que ela está escondendo champanhe em uma garrafa de água?

 

Me concentrei em ouvir os pensamentos da mulher, mas não encontrei a resposta para a pergunta de Nessie. Ela estava concentrada em pensar no amante, que era irmão do seu marido.

 

— Nada sobre champanhe, ela só está pensando no amante.

 

Renesmee arregalou os olhos e me encarou.

 

— Me conta mais.

 

— O quê? Não. — Eu ri.

 

Ela suspirou.

 

— Agora estou curiosa, mas isso parece explicar o champanhe, deve estar descontando o peso de guardar o segredo no álcool.

 

Abri um sorriso orgulho para Renesmee.

 

O que foi? 

 

— Você é muito esperta.

 

Ela riu suavemente.

 

Bom, tenho que ser, olha de quem sou filha.

 

— Sim, sua mãe é muito esperta mesmo.

 

Renesmee riu novamente, eu localizei Sarah e anunciei.

 

— Você terá panquecas.

 

— Obrigada, pap… — Se interrompeu de falar em voz alta. Obrigada, papai.

 

— De nada. — Pisquei para ela.

 

O celular dela tocou indicando que tinha recebido uma mensagem, Renesmee o tirou do bolso de sua jaqueta e começou a responder. Era Alice querendo saber mais sobre o que tínhamos comprado, foi o suficiente para eu dar espaço a Renesmee e evitar sua mente.

 

Mexi em uma das sacolas aos meus pés e tirei de lá um dos livros que tinha comprado, minha filha me permitiu dez minutos na livraria antes de me arrastar para outras lojas de roupas. Talvez eu devesse ter fugido das compras com ela, para ter ido assistir aula como Bella fez, mas Renesmee não queria ir só.

 

Nós três estávamos estudando em Darmouth há dois anos, para os humanos Renesmee era minha irmã um ano mais nova que morava comigo e minha esposa, Isabella. Enquanto nossa filha estava estudando para obter um diploma em história, Bella e eu estávamos focando nas matérias de literatura.

 

Era a primeira faculdade de Isabella e Renesmee, já que nós dois não pisamos em uma faculdade, ou escola, até o crescimento de Nessie parar sete anos antes. Quando parou fomos para o ensino médio, minha filha estava animada em passar por aquela experiência pela primeira vez, mesmo que fosse mais inteligente que todos ali, ela queria vivenciar como era estar em um colégio.

 

Ela inclusive participou do grupo de teatro e do clube de debates, conseguiu o papel principal em todas suas peças e ganhou todos os debates. Eu tinha mil fotos de tudo isso, era o que chamavam de pai coruja. 

 

Depois daquele tempo na escola Renesmee quis viajar, para meu total desespero e de Isabella, sem nós dois. Ela viajou pela Europa, Ásia, África e América do Sul, com Nahuel.

 

Eles eram amigos antes disso, mas com a viagem… Bom, eles estiveram juntos romanticamente por parte dela.

 

Isabella e eu não gostamos nada da ideia da viagem a princípio, nem mesmo quando eles eram só amigos, mas Nessie insistiu que já era adulta de todas as formas possíveis e acabou nos convencendo a permitir. E Nahuel era alguém que tinha nossa confiança, alguém que foi fundamental para frear os Volturi e consequentemente fazer com que tivéssemos Renesmee segura, assim como o resto de nossa família e amigos.

 

Nós surtamos, eu mais que Isabella, novamente quando ela ligou da Índia e disse que estava namorando com Nahuel. Para mim ela ainda era muito nova para namorar, mas então Nessie enviou fotos e Isabella, já aceitando a situação mais do que eu, afirmou que nossa filha parecia bastante feliz com o outro híbrido.

 

E a felicidade durou, até Nahuel, que estava seguindo a dieta vegetariana com ela, falar que precisava voltar a beber sangue humano. Renesmee não gostava de sangue animal, ela já tinha provado o humano quando criança e sabia quanto era bom, mas ela não queria machucar humanos e não poderia ficar assaltando bancos de sangue.

 

Foi uma diferença irreconciliável entre os dois, três dias depois Bella e eu encontramos com ela na ilha de Esme e ficamos por lá mais algumas semanas. Renesmee estava muito apaixonada por ele e por um bom tempo ficou extremamente triste, era a primeira vez que sentia a dor de um coração partido, antes disso sendo a pessoa a romper corações.

 

Duas vezes na escola, um garoto chamado Brad primeiro, que era seu parceiro no clube de debates e apaixonado por ela, mas não tiveram nada pois o garoto morria de medo de a chamar para sair. Depois Max, um menino por quem Renesmee se sentia atraída, mas não necessariamente apaixonada, ela foi a um baile com ele e se beijaram, mas não passou disso. Após a formatura os dois ficaram por quase um ano tentando entrar em contato com ela, sem sucesso.

 

Pai.

 

Ela me chamou em seus pensamentos, apenas segundos tinham se passado desde que tirei o livro da sacola.

 

— Sim? — Olhei para seu rosto sorridente.

 

Tia Alice falou que já sabe o que você irá dar de presente para mamãe.

 

Era quarta-feira, o aniversário de Ness seria na sexta e o de Isabella no domingo. Nossa família chegaria a Hanover na madrugada de sexta-feira, estávamos encarando aqueles anos de faculdade afastados fisicamente e nos encontrando em datas especiais, ou em dias aleatórios como quando Rosalie surgia em nossa casa para matar as saudades da sobrinha.

 

Ela estava no Canadá com Emmett, Carlisle e Esme. Alice e Jasper estavam passando uma temporada na Inglaterra. Assim que a faculdade acabasse para Nessie, Bella e eu, nós todos iríamos escolher a próxima cidade e voltar para o ensino médio.

 

— Ela vai me dar uma dica ou irá ficar fazendo suspense? — Eu ainda não tinha escolhido o presente de Isabella, ela continuava detestando ganhar presentes e seu aniversário, também não via sentido na festa que Alice estava armando para ela em nossa casa no domingo, mas queria a presentear com algo.

 

Renesmee riu. Ela disse que você vai decidir logo.

 

— Certo!

 

— Estou curiosa pra saber — falou. — Também quero saber logo o que eu vou ganhar na sexta-feira.

 

Diferente da mãe ela adorava receber presentes. Eu daria para ela um carro novo, felizmente Nessie gostava de carros assim como eu, também gostava de correr com eles, algo que parte de mim adorava saber, mas a outra ficava preocupada de que ela pudesse se machucar, não era frágil como uma humana, porém temia que qualquer coisa como um possível acidente a colocasse em perigo.

 

Só que sabia que estava exagerando em pensar nisso, ela era perfeita dirigindo como qualquer um de nós. Seus sentidos muito mais aguçados do que os de um humano.

 

— Sexta você descobre.

 

— Me dá uma dica.

 

— Nem pensar.

 

Ela resmungou, ficou repassando em sua mente seus possíveis presentes e voltou a trocar mensagens com Alice. Também mandou algumas para Rosalie, querendo saber se a tia sabia qual presente iria ganhar de mim. 

 

E Rose sabia, tinha me ajudado a escolher o carro, mas não diria nada a sobrinha.

 

Abri meu livro, que era um romance policial de um autor relativamente novo no mercado, chamado A Colina e comecei a ler. Apenas parei quando ouvi os pensamentos de Sarah se aproximarem, ela já estava voltando com os pedidos de Nessie. 

 

— Aqui! — Ela serviu Renesmee com um sorriso exagerado em seu rosto, estava pensando que se agradasse "minha irmã" poderia fazer com que Nessie falasse bem dela depois para mim e isso magicamente faria com que eu ficasse apaixonado por ela. Sarah era bem criativa, mas isso não tinha chance alguma de acontecer. 

 

— Valeu — Renesmee agradeceu, sem gostar da atenção exagerada vinda de Sarah.

 

— Posso trazer mais alguma coisa para vocês?

 

— Não, obrigado, Sarah — agradeci.

 

Lindo e educado!

 

— Qualquer coisa é só chamar.

 

Ela se afastou fantasiando como seria me beijar e imediatamente ignorei seus pensamentos.

 

Papai…

 

— Sem enrolar, Renesmee — falei sabendo bem o que ela queria. — Você vai comer.

 

— Tá, tá! — reclamou e pegou a garrafa de limonada, abriu e deixou a tampinha sobre a mesa.

 

Meu olhar focou na tampa, minha mente trazendo à tona uma lembrança de quando Nessie ainda não era nem nascida. Dei um pequeno sorriso e peguei a tampinha na minha mão, com todo cuidado do mundo.

 

— Que foi? — Renesmee perguntou e comeu um pedacinho de suas panquecas após colocar calda.

 

— Essa tampinha, me fez pensar na sua mãe.

 

Renesmee franziu o cenho, terminou de mastigar, engoliu e perguntou:

 

— Por quê?

 

— Ela estava tomando uma limonada como a sua na primeira vez que sentou comigo no refeitório da escola — contei, Renesmee abriu um grande sorriso, então pegou a garrafa e bebeu um pouco. Mesmo detestando a bebida, ela estava feliz de ter algo em comum com Bella, mesmo que fosse algo de quando sua mãe era humana. — E eu fiquei com a tampa da garrafa, uma lembrança dela.

 

Nessie arregalou seus olhos castanhos, exatamente como eram os de Isabella e indagou cheia de animação:

 

— Você ainda tem a tampinha daquela época, pai?

 

Merda, droga! Ficou tensa quando percebeu como me chamou em voz alta e olhou ao redor, mas ninguém tinha escutado.

 

— Está tudo bem — garanti. — Ninguém te ouviu.

 

Ufa!

 

— Vai, me conta, você ainda tem a tampinha?

 

Olhei novamente para a tampinha em minha mão, pensando naquela que destruí anos atrás.

 

— Não, eu me desfiz dela.

 

Por quê? 

 

Coloquei a tampa sobre a mesa e falei para Nessie.

 

— Termine de comer.

 

— Mas eu quero saber!

 

— Eu conto, depois que você comer.

 

Nessie me lançou um olhar irritado e sua mente gritava comigo, segundo ela eu estava sendo injusto. Porém, se deu por vencida e se concentrou em comer.

 

Eu fiquei olhando para a tampa, pensando em quando Bella ainda era humana e carreguei a tampinha dela junto comigo.

 

— Agora você vai me contar! — Renesmee exigiu quando terminou de comer suas panquecas.

 

Eu ri e apontei para um morango esquecido em seu prato.

 

— Como você é irritante, Edward Cullen — afirmou, mas comeu o morango. — Fale!

 

— Eu destruí a tampinha — falei indo direto ao ponto. — Logo depois da sua mãe ser atacada por James — sussurrei.

 

Renesmee estremeceu, enquanto seus pensamentos inevitavelmente imaginavam sua mãe machucada após encontrar com James em Phoenix. Minha filha já sabia de todos os acontecimentos entre Bella e eu anteriores ao seus nascimento, sabia de quando a mãe arriscou sua própria vida achando que o caçador estava com Renée.

 

— Por que fez isso?

 

— Porque Bella estava muito ferida, eu sentia que era tudo minha culpa e que estava roubando ela de ter uma vida normal e humana, sentia que não merecia ter aquela lembrança dela.

 

— Você já estava se preparando para ir embora — sussurrou entendendo, afinal também sabia sobre quando eu deixei Bella após o aniversário dela de dezoito anos. Assenti, deixando-a saber que estava certa.

 

Renesmee ficou em silêncio, mas seus pensamentos tentavam reproduzir Bella e eu sentados em uma mesa de refeitório, com a mãe segurando a garrafa de limonada e eu a tampinha. Depois pensou em mim destruindo a tampa e então partindo alguns meses depois.

 

— Estou feliz que a mamãe foi atrás de você em Volterra — sussurrou por fim e me lançou um sorriso convencido. 

 

— Eu também. — Franzi o cenho. — Apesar de isso a ter colocado em perigo. Também estou feliz que ela lutou por você, quando eu…

 

— Estou aqui, está tudo bem. — Ness piscou para mim, mas eu não me perdoava por ter sido um idiota pela maior parte do tempo que Bella estava grávida.

 

— Sabe que eu te amo, não sabe?

 

— Sei, mesmo quando você me força a comer essa comida humana ruim.

 

Eu sorri.

 

— Se te forço a comer é porque te amo, além do mais foi você quem disse que queria ir caçar com toda a família na sexta antes de irmos para sua comemoração no boliche. 

 

Renesmee tinha decidido comemorar seu dia assim, nossa família estaria lá e alguns colegas de faculdade dela também. Sendo assim todos precisaríamos estar bem alimentados, além do mais ela amava sair para caçar e seria uma comemoração particular entre os Cullen.

 

Renesmee! 

 

O nome dela na mente de outra pessoa foi praticamente um grito em minha cabeça, eu me virei automaticamente em resposta e vi o dono daqueles pensamentos. Era um garoto que deveria ter seus vinte anos, cabelos loiros na altura dos ombros, uma tatuagem esquisita na garganta e um piercing no nariz, seus olhos eram castanhos.

 

— Quem é esse? — perguntei para ela, que também já tinha o visto entrando na lanchonete e caminhando até nossa mesa.

 

— Lucas Thompson, tá na aula de sociologia comigo.

 

Como alguém pode ser tão bonita? Esses cabelos ruivos, esses olhos castanhos, essa pele… Eu sou totalmente apaixonado por essa menina. Poderia pedir ela em casamento agora mesmo, quero ter filhos com essa garota. Esse deve ser o irmão dela, são parecidos. Olha como ela fica bonita de verde.

 

— Ele…

 

— Está apaixonado por mim? É eu sei. — Ela fez uma careta. — Não precisa ser leitor de mentes pra saber disso.

 

— Renesmee! — Lucas parou perto da mesa, seu sorriso era imenso. — Como é bom te ver.

 

— Oi, Lucas. 

 

Ela não se deu ao trabalho de ficar de pé, também não precisei ler seus pensamentos para saber que ela não gostava dele de volta, mas lendo isso só ficava ainda mais claro.

 

— Esse é meu irmão, o Edward. — Apontou para mim.

 

— Olá! — falei com ele, minha voz muito séria.

 

Cara assustador! Lucas pensou e ele não sabia o quanto.

 

— O-Oi — gaguejou em resposta, minha filha se segurou para não rir do medo visível dele. — Hum, Renesmee — voltou a falar com ela, eu sabia o que viria a seguir e qual seria resposta dela. — Eu vim pegar algo para comer e estou indo naquele cinema do outro lado da rua, tá tendo uma exibição de filmes mudos, topa ir comigo? Uns amigos vão estar lá, mas…

 

— Não vai dar — ela o interrompeu. — Edward e eu estamos indo para casa, temos um compromisso familiar. Quem sabe outro dia?

 

Daqui uns cem anos. Ela rolou os olhos em sua imaginação. Que cara chato, ele se acha o mais inteligente da turma, mal sabe que com meses de idade eu já era mais esperta.

 

— Ah, tudo bem — Lucas concordou com tristeza na voz. — Te vejo na aula amanhã.

 

— Claro, tchau.

 

Ele acenou e se afastou até o balcão.

 

— Vamos embora antes dele me convidar para alguma outra chatice. — Ergueu a mão e chamou por Sarah, que praticamente correu até a gente. — Oi, pode trazer a conta?

 

— Claro — Sarah concordou, mas estava triste que estávamos indo embora.

 

Quando Sarah foi buscar a conta falei para Nessie:

 

— Lucas tá voltando, ele vai te chamar para um show no parque no domingo.

 

— Ótimo. — Bufou.

 

— Renesmee! — Lucas voltou, ela olhou para ele com irritação clara em sua expressão. — Domingo de tarde vai rolar um show no parque, é a banda de um amigo meu, você quer ir?

 

— Vou ter outro compromisso familiar, é aniversário da minha cunhada.

 

— Poxa.

 

— Pois é… Sarah! — Renesmee exclamou quando a garçonete reapareceu, eu peguei meu cartão e entreguei para ela. — Lucas, melhor você ir, não quer perder seu filme.

 

— Ah sim, estou indo.

 

— Tchau.

 

Dessa vez é pra valer, chato.

 

Lucas saiu já planejando falar novamente no show na aula deles no dia seguinte.

 

Edward Cullen, vou procurar ele no Instagram. Sarah pensava enquanto passava meu cartão na máquina.

 

— Aqui, Edward. — Ela me entregou o cartão. 

 

— Obrigado — agradeci.

 

— Eu é que agradeço.

 

Renesmee bufou.

 

— Vamos, Edward? Sua esposa tá te esperando.

 

Que saco, precisava me lembrar que ele é casado?

 

Sarah forçou um sorriso e se afastou até o balcão, Renesmee levantou e pegou sua sacola. Eu estava quase levantando, mas a tampinha ainda sobre a mesa voltou a chamar minha atenção.

 

Você deveria levar essa tampinha. Renesmee pensou, como se pudesse ler minha mente. Não é a mesma da mamãe, eu sei, mas pode ser uma lembrança de outra lembrança. Sabe, você ama muito a mamãe e não deveria ter destruído aquela tampinha.

 

— Não deveria mesmo, mas eu achava que não deveria ter nada com Bella, ou nada dela.

 

E você estava errado. Teve até uma filha com ela.

 

Eu sorri e me levantei, então peguei a tampinha. Olhei para Renesmee e ela me lançou um sorrisinho convencido.

 

— Já sei qual será o presente da sua mãe.

 

Renesmee riu e assentiu.

 

— E ela vai gostar.

 

xxxx

 

Renesmee estava calada no carro na volta para casa, mas sua mente estava agitada. Eu a deixei pensar sem lhe encher de perguntas, era difícil ignorar seus pensamentos, mas tentava focar a maior parte da minha atenção em dirigir e escutar a playlist que coloquei para tocar.

 

Pai, sei que está me ouvindo.

 

Eu balancei a cabeça positivamente e olhei para ela, seu olhar era preocupado.

 

Um dia eu vou encontrar alguém que ame e me ame de volta como é com você e a mamãe?

 

Tocou no medalhão que ganhou de Bella em seu primeiro Natal, Nessie o adorava.

 

Alguém que me faça carregar uma tampinha no bolso? Deu um pequeno sorriso.

 

— Sim, você vai encontrar essa pessoa — a tranquilizei.

 

Ela assentiu, fechou os olhos e encostou a cabeça na janela, mas ainda estava acordada e pensando. Passou em sua mente vários rostos. 

 

Começou por Lucas, mas o detestava e nunca carregaria uma lembrança dele. Pensou em Max e Brad, mas eles não faziam seu coração bater ainda mais rápido do que o normal.

 

Ela pensou em Jacob, tocou na pulseira que ganhou dele também em seu primeiro Natal e se sentiu culpada. Jacob provavelmente carregaria minha tampinha por aí, refletiu, mas eu o vejo como um irmão mais velho.

 

Jacob estava em La Push, cuidando do pai e da sua matilha. Ele amava Renesmee, mas por ela só o ver como um irmão o Black também a via como uma irmã. O lobisomem ainda faria tudo por ela, o imprinting ainda os unia e foi só quando ele a visitou na ilha de Esme após o fim do relacionamento dela com Nahuel que Nessie melhorou.

 

Eu queria amar ele, de outra forma. Jacob seria o par perfeito para mim, me sinto tão culpada por não…

 

— Renesmee — falei seu nome, querendo que parasse de se culpar por algo que não era sua culpa. Ela amava Jacob da sua maneira e ele estava bem, não deixaria minha filha se martirizar por isso.

 

— Eu deveria estar com ele, você sabe, nasci para isso — falou e olhou para mim, os olhos estavam cheios de lágrimas.

 

— Você não nasceu para isso — a corrigi, falando entre dentes. — Não nasceu para ser a peça de um imprinting, nasceu para seguir seu próprio caminho e se nele não se vê em um relacionamento amoroso com Jacob Black não há nada, nem ninguém que vá a obrigar a isso.

 

Certo, é, você tem razão.

 

Voltou a encostar a cabeça na janela, ficou pensando em Jacob por mais um tempo. Estava com saudades dele, mas o Black não poderia aparecer para seu aniversário, Billy não estava muito bem e precisava do filho por perto.

 

Então, os pensamentos dela foram para Nahuel. Ainda sentia falta dele, mas diminuía com o passar dos dias. Queria entrar em contato com ele, mas não se falavam desde que terminaram, achava que falar com o híbrido iria atrapalhar seu processo de superar o relacionamento fracassado.

 

Se lembrou de algumas coisas da viagem deles, tinha sido divertido. Foi muito bom pra ele conhecer o mundo, com alguém que não era da família, lhe deu mais liberdade. Nahuel cuidava dela, mas não a protegia de se arriscar como nós sempre acabávamos fazendo, como Jacob também fazia. 

 

Eles exploraram florestas, mares, visitaram centenas de pontos turísticos durante e depois horários de visitação. Ela bebeu champanhe com ele na França, dezenas de cervejas na Alemanha. 

 

Se encontraram com Zafrina na América do Sul, Benjamin no Egito. Dançaram no Coliseu, foram a Transilvânia e riram quando uma adolescente do mesmo grupo de turismo deles disse que vampiros estavam fora de moda.

 

E em uma casinha de praia na Espanha se beijaram, então…

 

— Desculpa — pediu freando seus pensamentos antes de lembrar de coisas que não queria que eu visse.

 

— Você ainda sente muito a falta dele.

 

— Isso não muda o fato de que nós dois queremos coisas diferentes.

 

— Ele não precisa ser vegetariano como a gente, Nessie. Você também não precisa.

 

— Preciso sim, não quero matar ninguém. — Ela ficava apavorada em se imaginar matando alguém, adorava sangue humano, mas não machucaria qualquer um, quem quer que fosse para ter o que quisesse.

 

— Sei que a ideia de conseguir sangue de doação é um pouco complicada, especialmente agora que não estamos com Carlisle. Mas, nós podemos dar um jeito, sua mãe e eu iríamos te ajudar. Nahuel e você poderiam se alimentar disso e ninguém seria morto.

 

Ela fantasiou com isso, beber sangue humano e ter Nahuel ao seu lado. Ir com ele a novos lugares, estar com o híbrido em seus próximos aniversários, mas sentia que faltava algo e eu também notei isso.

 

— Não parece a mesma coisa — sussurrou. — Eu gosto dele, muito. Mas agora depois de nos afastamos não parece ser certo a longo prazo, digo, por toda a eternidade. — Suspirou. — Como é certo para você e mamãe, meus tios e Carlisle e Esme. Ai, quer saber? Vamos mudar de assunto, tá? Quem sabe um dia eu encontro a pessoa que vai carregar minha tampinha, tenho de fato uma eternidade para procurar.

 

Eu sorri.

 

— Vamos parar para abastecer.

 

— Beleza, preciso mesmo comprar algumas coisas para amanhã, vai ser aniversário de uma garota da minha turma e vão fazer um piquenique depois da aula. Aliás, essa garota, Hannah, vive dando umas boas olhadas pro Lucas, vou fazer os dois se aproximarem pra ele sair do meu pé. Ou vou acabar mudando minha filosofia de existência e beber o sangue dele só pra parar de me irritar.

 

— Bom, estou feliz que você não quer nada com esse garoto, eu sequer entendi a tatuagem dele.

 

— Pois é, ninguém entende! Parece um pássaro, mas também uma baleia. E ele não explica, diz que o que vale é o que cada um enxerga.

 

Estiquei uma mão e afaguei seu braço, querendo que ela relaxasse e ficasse menos irritada. Renesmee não perdia o controle tão fácil, mas da última vez que perdeu, no verão, quebrou um vaso caro de Esme após perder para Emmett no xadrez.

 

— Imagina Lucas ser transformado em vampiro e passar a eternidade com aquela tatuagem feia no pescoço, seria uma vergonha para nossa espécie. Quer dizer, sua espécie, eu sou uma raridade. Uma raridade que precisa de sangue, aquelas panquecas não aplacaram minha fome. — Eu imaginei, ela estava muito tempo em jejum, precisava de mais comida. — E entre comer comida humana e beber sangue, prefiro a segunda opção.

 

— Talvez devêssemos adiantar sua caçada.

 

Ela suspirou.

 

— Podemos esperar até amanhã de manhã para decidir? Se eu estiver com muita sede saímos para caçar e mato aula, porém espero não estar, quero muito ir para a aula e depois saímos para caçar.

 

— Certo. — Entrei com o carro no posto de gasolina. — Vou encher o tanque, vá até a loja de conveniência fazer suas compras, precisa de cartão de crédito?

 

— Estou com o meu.

 

— Sobrou algo depois de todas as compras de hoje? — provoquei, ela forçou uma risada e saiu do carro quando estacionei perto da bomba de gasolina.

 

Deixei o carro também, logo cuidando de abastecer o tanque. Assim que Renesmee entrou na loja o garoto no caixa ficou tão embasbacado com a beleza dela que seus pensamentos se tornaram gritos para mim, ele achava que nunca tinha visto alguém tão bonita quanto ela.

 

Minha filha ignorou seus olhares, se ocupando em escolher alimentos que odiava, mas que sabia que seus colegas de turma amariam para um piquenique nada saudável. Eu tinha acabado de abastecer quando um novo carro parou atrás do meu, logo parei para ler os pensamentos da dona dele.

 

Era uma mente que eu conhecia, mas que não lia há anos.

 

— Edward Cullen? — Angela saiu do carro, seus olhos estavam arregalados e parecia estar vendo um fantasma, mas era apenas eu.

 

É mesmo o Edward? Como ele ainda está com essa cara de dezessete anos? Ele deveria estar tão velho quanto eu.

 

— Merda — sussurrei sabendo que ela não me ouviria. — Sim, sou eu. — Franzi o cenho, fingindo precisar daquilo para a enxergar melhor. — Caramba, Angela Weber! — exclamei, ela riu e andou para mais perto de mim.

 

Ele não envelheceu nenhum pouquinho. Será que fez plástica?

 

— Na verdade é Angela Cheney agora. — Me mostrou sua aliança.  — Casei com o Ben. Eu convidei você e Bella, você lembra? Foi em 2011.

 

— Lembro, claro que lembro, Bella e eu estávamos morando na Inglaterra — menti. — Não pudemos ir, sinto muito, recebeu nossos presentes?

 

Bella tinha feito questão de enviar algo, eu também, mesmo que não pudéssemos ir ao casamento por razões óbvias.

 

Que saudades da Bella! Toda vez que vejo o senhor Swan em Forks ele é tão evasivo em falar sobre ela.

 

— Recebemos, Ben amou aquela adega. — Riu. E pensar que Ben disse que Edward pretendia me chamar para sair, que isso fez com que meu marido tomasse coragem de chamar primeiro, deveria agradecer ao Cullen por isso. Mas talvez seja meio idiota falar sobre isso depois de tanto tempo. — Eu amei a televisão gigantesca, só que foram presentes muito caros, queria devolver, mas Charlie disse que vocês não aceitariam de forma nenhuma.

 

— Não aceitaríamos mesmo.

 

Linda, linda, linda! O garoto do caixa da loja de conveniência pensava sobre Renesmee enquanto ela pagava a sua conta.

 

Esse garoto tava fumando maconha. Minha filha pensava. Que cheiro forte!

 

Não teria escapatória, Angela iria conhecer Renesmee aquela noite. Tínhamos um protocolo padrão para essa situação, que até aquele momento usamos apenas com Charlie — mais ou menos — e com Renée.

 

Algumas semanas após os Volturi irem até Forks, Bella fez com que a mãe fosse nos visitar. Naquela época ainda estávamos em Washington, mas os moradores de Forks, com exceção de Charlie, não sabiam disso.

 

Renée estava ansiosa para rever Isabella, não via a filha desde nosso casamento. E com a mentira que Bella estava doente depois da lua de mel passou meses acreditando que estávamos fora para tratar a doença de Isabella, poucas vezes depois da visita dos Volturi minha esposa falou com sua mãe por telefone, uma delas foi para fazer o convite de Renée ir até Forks.

 

Então, Renée foi nos visitar. E nós falamos que Renesmee, que na época aparentava ser uma criança de três anos, era minha sobrinha e que a guarda dela passou a ser nossa depois da morte do meu irmão e sua esposa.

 

Renée achou tudo muito estranho, especialmente na filha. E Renesmee tinha suas semelhanças com Bella, Renée não conseguia ignorar isso.

 

Ela parece muito com o Edward, mas me lembra você, Bella — sussurrou para a filha naquele dia, quando eu estava no outro cômodo com Nessie. — É assustador, como isso pode ser possível? Os olhos são iguais aos seus, quero dizer seus olhos estão meio diferentes agora, esse tom de castanho…

 

Estou usando lentes — minha esposa contou e isso não era bem uma mentira. — Achei melhor que óculos. — Deu de ombros. — Carlie é linda, não?

 

Optamos por usar o segundo nome de Renesmee com Renée, para ela não questionar ter seu nome e o de Esme naquela criança que tinha sido adotada por nós já com três anos de idade. E Carlie não a remeteria imediatamente ao nome do meu pai e ao de Charlie.

 

Ela é, mas acho que você e Edward são muito jovens. Nem para a faculdade ainda foi, Bella.

 

Amamos ela, mãe. E vamos para a faculdade no próximo outono. Na verdade, estamos indo morar na Inglaterra.

 

Tão longe!

 

Eu sei, mas Edward recebeu uma bolsa em Oxford. Talvez possa ir nos visitar, mãe, Nessie gostou muito de você.

 

Ai, será que ela gostou mesmo? Renée tinha pensado.

 

Eu sabia que sim, Renesmee tinha adorado a avó. E naquele dia algo clicou em minha cabeça, o poder de Nessie me fazia pensar em sua avó materna.

 

A forma como os pensamentos de Renée pareciam gritar e como todos pareciam compelidos em a ajudar, era praticamente a mesma coisa que acontecia com Nessie. Porém, no caso da minha filha, ela de fato conseguia projetar seus pensamentos para que os outros ouvissem.

 

E Oxford era uma mentira, tínhamos que fingir para Renée que estávamos bem longe. Ela não poderia ser muito exposta ao nosso mundo e não poderia acompanhar o crescimento acelerado de Renesmee.

 

Entretanto, as mentiras para ela não precisaram ser sustentadas, aquela foi a última vez que Bella viu a mãe, dois meses depois Renée e Phill sofreram um acidente de carro. Eles não sobreviveram. Isabella ficou bem mal, eu tinha imagens da mente dos outros de quando a deixei, frágil e humana, mas ao perder a mãe já quando vampira parecia ter voltado a ser a garota vulnerável de antes.

 

Com os anos ela foi aprendendo a lidar com a dor de perder a mãe.

 

— Como a Bella está? — Angela perguntou. Talvez eu consiga ver Bella hoje.

 

Eu tinha que ter cuidado com o que falaria, se Angela estivesse morando em Hanover talvez fosse necessário que nós nós mudássemos. Ela poderia colocar nossa vida ali em risco, ao saber que ainda estávamos na faculdade, fingindo sermos mais novos em relação a idade que acreditava que tínhamos.

 

— Ótima. E o Ben? Vocês estão morando aqui?

 

— Não, não — Angela negou. — Estamos morando em New Jersey, eu estou aqui a trabalho. Volto pra casa amanhã cedo… Queria tanto poder ver a Bella.

 

— Lamento — falei. — Ela está no Canadá com meus pais, foi visitar eles, eu tive que ficar por conta do trabalho.

 

Ah não!

 

— Pode me dar o novo número dela? — perguntou esperançosa.

 

— Claro.

 

Ai, eu vou falar com a Bella. Comemorou e pegou seu celular, eu citei um número totalmente diferente do de Isabella. Era uma pena fazer isso com Angela, mas necessário.

 

Quando ela acabou de anotar o número, Renesmee já estava a meio caminho da gente. E Angela ainda queria conversar mais, o que faria mesmo com que as duas se conhecessem.

 

— Vocês tiveram filhos?

 

Provavelmente não, Charlie nunca disse nada sobre netos.

 

— Temos uma filha — respondi. Angela arregalou seus olhos. Eles tem uma filha? Caramba!

 

Quem é essa? Renesmee me perguntou. Então olhou Angela melhor e a reconheceu de um dos álbuns de fotos de Isabella. Ah, é aquela amiga da mamãe do tempo da escola!

 

— Olá! — Com um sorriso doce no rosto Nessie se colocou ao meu lado.

 

Essa é a filha? É a cara do Edward. Mas eles parecem ter a mesma idade. Eu preciso descobrir o que ele usou para ficar com essa carinha de jovem até hoje, deve ter sido algum produtor super caro. Espera, essa menina não tem idade suficiente para ser filha deles, não biológica. As contas não batem!

 

— Angela, essa é a Carlie — as apresentei.

 

Ok, sou a Carlie aqui, beleza. Renesmee entendeu logo que para a mentira daquele dia seu segundo nome deveria ser usado.

 

— Oi, eu acho que te conheço de algum lugar — Nessie falou amigavelmente com Angela.

 

Essa garota é tão bonita, parece mesmo com os pais dela, como é possível? Deve ter uns dezessete anos.

 

— Estudei com seus pais no colegial — Angela contou.

 

— Jessica? — Renesmee fingiu não saber o nome dela e trocar informações, Angela riu e negou.

 

Será que o Edward e a Bella sabem que a Jessica casou com um milionário argentino? E que o Mike já teve três esposas?

 

— Não, Angela.

 

— Sim, mamãe já falou muito sobre você. — Renesmee assentiu ainda sorrindo.

 

Dezessete anos, por aí, ela não tem como ser filha biológica deles, mas as semelhanças.

 

— Desculpa, mas qual a sua idade? — Angela questionou.

 

— Dezessete — respondi por Ness. — Você está tentando fazer as contas, né? — Eu ri. — Adotamos a Carlie — contei. — Três anos depois do nosso casamento.

 

Okay, mas por que ela se parece com eles se é filha adotiva?

 

— Ela é filha biológica do meu irmão, irmão que eu não via desde o falecimento dos meus pais biológicos, já que fomos adotados por famílias diferentes. — Estrategicamente Nessie e eu colocamos expressões tristes no rosto para representar a dor daquela perda. — Quando meu irmão mais velho e sua esposa faleceram Bella e eu éramos as únicas pessoas na vida de Carlie.

 

É, ela é parente do Edward, são mesmo semelhantes. Tô doida em achar que ela parece a Bella.

 

— Sinto muito pela perda de vocês — falou. 

 

— Obrigada — Nessie agradeceu. — E você tem filhos, Angela?

 

Meus bebês, que saudades deles. Vi em sua mente uma menina, que deveria ter quatro anos e um garoto de dois.

 

— Tenho, Diana e Thomas. Vocês querem ver uma foto?

 

— Sim! — Renesmee concordou.

 

Sei que estou alongando muito a conversa, pai. Mas acho que a mamãe vai gostar de ver os filhos da Angela e eu posso mostrar isso a ela por meus pensamentos.

 

Eu sorri ao ouvir isso de Nessie, ela era tão boa quanto sua mãe.

 

xxxx

 

Nossa casa em Hanover ficava afastada do centro da cidade, era um padrão da minha família escolher lugares mais isolados para viver, assim tínhamos mais privacidade. Quando entramos na área da casa, que também tinha sido projetada por Esme, ouvi Isabella começar a tocar Clair de Lune no piano.

 

Eu sorri, de orelha a orelha, também aumentei ainda mais a velocidade do carro para estar logo com minha esposa. Vai aguentar e só dar a tampinha para ela no domingo? Renesmee perguntou.

 

— Espero que sim, acha mesmo um bom presente?

 

— Acho, ela vai amar.

 

Parei o carro e Bella deixou com que eu lesse seus pensamentos, afastando seu escudo de si mesma.

 

Eu disse que não queria presentes, Edward.

 

— E eu ignorei isso, como sempre — respondi, ela parou de tocar e Nessie ao meu lado riu, mesmo sem ouvir a mãe suspeitava o que ela tinha em mente, enquanto começamos a tirar todas as compras do carro.

 

Bella voltou a tocar quando entramos em casa, eu tinha a ensinado a tocar piano nos últimos anos. Amava quando estávamos juntos ao piano, era algo que nos unia ainda mais.

 

— A marcha fúnebre não vai me assustar, eu ainda vou te dar um presente, senhora Cullen.

 

Olhou para mim, tinha voltado a proteger seus pensamentos, mas sorriu e disse:

 

— Vou recusar o presente.

 

Foi Nessie quem falou por mim:

 

— Você vai amar o presente, mãe.

 

Bella arqueou uma sobrancelha e examinou as sacolas em nossas mãos.

 

— Está dentro de uma dessas sacolas? Espero que não nessa de joalheria.

 

— Não — Nessie respondeu. — Essas jóias são minhas, mas trouxe roupas e sapatos para você, mamãe. — A garota saltitou até perto do piano e deu um beijo na bochecha de Bella. — Vou colocar tudo no seu closet.

 

— Me conta o que seu pai comprou para mim.

 

Renesmee negou. Ela é insistente, pai. Não se deixa levar e guarda o presente para domingo.

 

— Não, mas temos que te contar algo depois.

 

— O quê? Algum problema? — Bella indagou, olhando de Renesmee para mim, então para as grandes janelas traseiras da casa para ver se alguma ameaça poderia surgir de lá.

 

— Não é um problema, só encontramos com alguém.

 

— Algum Volturi? — Bella na mesma hora ficou de pé e se colocou na frente de Nessie

 

— Mãe, está tudo bem — Renesmee falou. — O papai disse que não temos um problema.

 

— Não temos mesmo? — Bella me questionou e voltou a olhar ao redor.

 

— Não temos — garanti, eu sabia que Angela não criaria um problema sobre termos nos encontrado. Ela tentaria ligar para Bella e não conseguiria, quando visse Charlie da próxima vez iria pedir o número dela, mas meu sogro sabia que não deveria repassar o número para ninguém. Nem precisava ter o poder de Alice para saber que as coisas aconteceriam assim. Talvez Angela comentasse sobre com outras pessoas, inclusive as de Forks, mas ninguém deduziria que minha aparecia jovem era por algo sobrenatural.

 

Bella relaxou um pouco, Renesmee voltou a sorrir e beijou o rosto da mãe outra vez. 

 

— Vou arrumar os armários e já já conversamos, mãe.

 

— Ok — Bella concordou. — Você comeu? Ela comeu? — perguntou para nós dois.

 

— Eu comi — deixei Nessie responder. — Mas acho que passei muito tempo sem comer — confessou. — Ainda estou com fome.

 

— Posso preparar um jantar para você, filha — Bella falou.

 

— Eu estava pensando mais em sair para caçar amanhã — Renesmee disse. — Sabe que detesto comida humana. Se eu ainda estiver com fome ao acordar amanhã podemos sair para caçar?

 

— Claro. — Bella afagou seu rosto. — Vá brincar de Alice.

 

Renesmee e eu rimos.

 

— Você deveria ter ido às compras com a gente, mãe.

 

— Eu deveria? — Bella perguntou para mim.

 

— Você odiaria.

 

— Que bom que fui para aula.

 

— Vou te arrastar da próxima vez — Nessie avisou a mãe e caminhou até mim para pegar o resto das sacolas. 

 

Não entregue o presente ainda, pai!

 

— Você não está confiando mesmo em mim, não?

 

Não, sei que está doido pra mostrar.

 

Ela tinha razão.

 

— Parem de segredos — Bella resmungou. Renesmee piscou para mim e correu para o segundo andar.

 

Eu fui até Bella, segurei em seu rosto e beijei sua testa. Ela colocou suas mãos em minhas costas, mantendo nossos corpos unidos.

 

Está mesmo tudo bem, Edward? Quem vocês encontraram?

 

Abaixou seu escudo outra vez, não era mais difícil para ela o tirar de si mesma, vinha treinando por todos aqueles anos e se aperfeiçoou nisso. Para mim ainda era algo emocionante, ler sua mente. Era uma das melhores coisas da minha existência, poder estar com Bella, inteiramente.

 

— Não é um vampiro, posso dizer isso.

 

Bella franziu o cenho.

 

Meu pai está vindo me fazer uma surpresa de aniversário, é isso?

 

— Infelizmente não, sei que gostaria de ver Charlie, já que a última vez que estivemos com ele foi em abril. 

 

Porém, Charlie não poderia ir até Hanover para o aniversário de Nessie e Bella, ele tinha o funeral de um antigo colega de trabalho para comparecer em Seattle aquele fim de semana.

 

Tudo bem, quem então?

 

Pai! Não conte, quero contar!

 

Os pensamentos de Renesmee naquele momento eram mais insistentes do que os de sua mãe, sendo assim decidi obedecer a ela.

 

— Renesmee que contar.

 

— Ok, certo. — Bella voltou a proteger sua mente. — Arrume tudo isso mais rápido, Nessie — falou sabendo que a filha iria a ouvir. — Estou curiosa.

 

— Não se apressa uma organização de closet, mãe.

 

— Deixamos ela muito tempo com Alice — Bella falou fingindo estar arrependida, eu sorri e coloquei meus lábios sobre os seus.

 

Ela sorriu e retribuiu o beijo, lentamente. Eu levei uma mão de seu rosto até a base de suas costas. Entretanto, fomos atrapalhados mais rápido do que gostaríamos.

 

— Eca, me esperem ir dormir — Renesmee exigiu aparecendo na sala.

 

Bella afagou meu rosto antes de afastar sua boca.

 

— Certo, me conta quem vocês encontraram e vá dormir. — Bella se soltou de mim, fez Renesmee sentar no sofá com ela e começar a falar.

 

— Angela Weber.

 

— Cheney agora — corrigi Nessie e fui sentar junto delas.

 

Bella arregalou os olhos e me encarou.

 

— Ela não achou estranho você continuar com a mesma cara?

 

— Com certeza, mas foi embora certa de que fiz todas as plásticas possíveis. Está morando em New Jersey com Ben e os filhos, estava na cidade a trabalho, não precisamos nos preocupar em ter ela por perto duvidando da gente. E contamos a mentira padrão da adoção de Nessie.

 

— E como ela está?

 

— Eu vi fotos dos filhos dela — Renesmee disse empolgada e ergueu sua mão. — Posso te mostrar, eles são umas gracinhas.

 

— Eles são? Me mostra, por favor, filha.

 

Renesmee colocou a mão no rosto da mãe, ela era boa em desviar seus pensamentos e não deixou vazar nada sobre a tampinha ainda em meu bolso. No último ano Renesmee estava treinando para mostrar seus pensamentos a distância, sem necessidade de toques, mas ela ainda não tinha conseguido um bom progresso e se frustrava muito fácil por isso, Bella era quem mais treinava com ela, até por eu já poder ler seus pensamentos sem ela precisar me tocar.

 

— Eles são muito lindos — Bella declarou e tirou a mão de Renesmee de si para segurar na sua, as duas sorriram uma para outra e minha esposa disse. — Estou feliz que conheceu a Angela, Nessie.

 

— Ela me adorou, mãe.

 

Bella riu e afagou o rosto da nossa filha.

 

— Tenho certeza disso, é impossível não te adorar, meu bem.

 

Então, abraçou Nessie. E eu me senti, mais uma vez já que era um sentimento constante, o vampiro mais sortudo no mundo por ter as duas.

 

xxxx

 

Renesmee pegou no sono no sofá, enquanto conversámos sobre Angela e as compras daquele dia. Bella e eu a deixamos dormir um pouco ali antes de a levar para o quarto, minha esposa me arrastou até o piano e tocou Clair de Lune outra vez.

 

Bella tinha se tornado uma excelente pianista, ela movia suas mãos sobre as teclas do piano majestosamente. Sentado ao seu lado apreciava o espetáculo que era ter ela tocando para mim e sempre que estávamos juntos ao piano eu me lembrava da primeira vez que a levei para nossa casa em Forks, quando toquei para ela a primeira canção que lhe compus.

 

Quando a música acabou Bella soltou um suspiro melancólico.

 

— O que houve?

 

Estava pensando em Nessie. Me deixou ter acesso aos seus pensamentos. Ela tem falado sobre Nahuel com você?

 

— Falamos sobre hoje, ela ainda tem sentimentos por ele, mas não acredita que o ama como nós dois nos amamos, por exemplo.

 

Bella olhou para nossa filha adormecida no sofá.

 

— Ela está bem mesmo assim?

 

— Está sim — a assegurei. — Ela vai conhecer alguém um dia e irá amá-lo tanto quanto te amo.

 

Bella olhou para mim e sorriu.

 

— Pessoa sortuda.  E se esse garoto amar ela como te amo, Nessie ficará muito feliz.

 

Foi minha vez de sorrir, aproveitei e beijei minha esposa.

 

— Toque mais uma canção — pedi.

 

— Só se você tocar comigo.

 

— Eu toco, qual?

 

— Pledging My Love.

 

Beijei Bella, lembrando de quando escutamos aquela canção juntos em sua picape, no dia que a levei para a campina, no dia que a levei de volta para casa. Ela beijou meu rosto e nos voltamos para o piano, deixei com que começasse a tocar e depois a acompanhei.

 

Nossas mãos estavam em perfeita sincronia, nós estávamos. E depois de tudo que passamos, eu não me sentia mais como um monstro. Bella, depois Renesmee, tinham me dado uma vida nova, eu teria o resto da eternidade para ser feliz ao lado delas.

 

Parei de tocar e ela me olhou confusa, não falei nada, apenas puxei sua mãos para junto das minhas. Unidas, parecidas. Ela nunca teve as mãos de um monstro, ela fez com que eu parasse de odiar as minhas.

 

Toquei em seu rosto, lentamente. Bella fechou seus olhos e apreciou o carinho. Era tão bom poder tocar nela, sem temer a machucar.

 

Amo você, Edward.

 

— Também amo você.

 

Me inclinei e beijei seu rosto, depois levei suas mãos aos meus lábios e também as beijei. Com extrema devoção, era o que ela merecia.

 

— Tudo bem? — me perguntou em voz alta.

 

— Tudo. — Afaguei seu rosto novamente.

 

— Qual meu presente? — Tentou me pegar de guarda baixa e conseguiu.

 

— Que tal eu tocar sua canção?

 

— Qual delas?

 

Era fato, ao longo daqueles anos eu tinha feito muitas outras canções para ela e Nessie.

 

— A primeira.

 

Bella assentiu e colocou suas mãos em seu colo, eu me arrumei e comecei a tocar. No final da canção lhe entregaria a tampinha.

 

Toquei com mais concentração do que necessário, pensando em tudo que tínhamos vivido até aquele instante. Os bons e os maus momentos, os bons quase faziam meu coração voltar a bater. 

 

— Eu amo essa canção — ela disse quando parei de tocar, segurou em meu ombro e beijou perto da minha orelha. — Obrigada por ela.

 

Concordei com um aceno de cabeça e tirei do bolso da minha calça a tampinha, virei meu corpo na direção do de Bella e abri a mão, deixando com que ela visse a tampa na palma. Bella prendeu a respiração, olhou para seu presente com admiração e depois sussurrou:

 

— Parece a tampinha que você guardou consigo, não?

 

— Parece.

 

Eu contei para ela sobre a tampinha, sobre quando rezei pedindo por forças para a proteger de mim e destruí aquela lembrança. Contei no dia seguinte a visita dos Volturi, depois de ela me deixar ler seus pensamentos pela primeira vez.

 

— Me desculpe por ter destruído a primeira tampinha, por ter te deixado.

 

— Você não precisa se desculpar por isso, sabe disso — falou emocionada e tocou na tampinha em minha mão. — Você me ama tanto, Edward.

 

— Eu amo.

 

Ela sorriu e me abraçou.

 

— Suponho que seja meu presente?

 

— Sim. — Ela se afastou e tirou a tampinha da minha mão. — Você vai a carregar por aí? — brinquei.

 

— Eu vou. — Afagou meu rosto. — Será uma lembrança material sua.

 

— E da Nessie, tecnicamente a tampinha era dela.

 

Bella riu baixinho e olhou para nossa filha ainda dormindo.

 

— Sabe que Renesmee continua sendo o melhor presente que você me deu, não sabe?

 

— Eu sei. — Peguei sua mão esquerda e beijei por cima de sua aliança. Ela tinha dito sim para mim, mais de uma vez, aquele anel era uma prova disso, assim como a garota dormindo ali perto. — Ela também foi o melhor presente que você me deu.

 

Bella voltou a admirar a tampinha em sua outra mão, eu acabei distraído com os sonhos de Renesmee.

 

— Nessie está com sede.

 

— Muita? — Bella olhou preocupada para ela no sofá.

 

— Nada fora do normal, mas vamos precisar sair para caçar ainda hoje, ela vai acordar a qualquer momento.

 

— Tudo bem. — Bella repousou a tampinha sobre nosso piano. — Vou trocar de roupa para sairmos.

 

Eu a deixei seguir para nosso quarto, quando ela chegou ao closet pude a ouvir reclamar sobre Nessie ter exagerado nas compras. Rindo voltei a tocar, daquela vez uma canção feita para Nessie, que não demorou mais que poucos segundos para acordar.

 

— Mamãe, pai, preciso caçar — disse se sentando.

 

— Estamos indo. — Bella voltou ao primeiro andar.

 

— Ótimo, estou faminta. — Renesmee andou até o piano e apontou para a tampinha. — Sabia que você não iria se controlar até domingo, pai.

 

— Culpado.

 

Bella se aproximou, pegou a tampinha e colocou no bolso. Depois abraçou Nessie e falou que a amava.

 

xxxx

 

Nós encontramos alguns ursos naquela madrugada, Renesmee adorou isso. Era divertido para ela, como era para Emmett, lutar com eles, mas Bella e eu não a deixavámos extrapolar muito nessas batalhas.

 

Por isso ela adorava quando ia caçar com Emmett e Jasper, os dois deixavam com que minha filha fizesse um pouco de sujeira na hora da refeição.

 

— Falei com Esme ontem, Tanya e Kate estão exigindo que estejamos em Denali no Natal — Bella me contou enquanto caminhavámos pela floresta. Nós dois já tínhamos encerrado nossa caçada do dia, mas Nessie ainda estava se divertindo com a comida.

 

— Já posso começar a pensar no seu presente de Natal? — provoquei, ela revirou os olhos.

 

— Natal em Denali? — Renesmee se juntou a gente, pulando no tronco de uma árvore caída.

 

— Isso.

 

— Podemos passar o ano novo com vovô Charlie e Jake?

 

— Claro, querida — Bella concordou. — Você não se machucou brincando com aquele urso, né?

 

— Estou inteira.

 

Menos as minhas roupas, estão imundas!

 

— Vamos correr para casa? Acho que ainda consigo sair a tempo para minha aula. 

 

Bella e eu concordamos, Renesmee começou a correr primeiro, sabia que logo iríamos a alcançar. 

 

— Quer apostar corrida? — Bella me perguntou.

 

Neguei e segurei sua mão.

 

— Quero correr com você.

 

Gostava da competição, mas também gostava de correr no mesmo ritmo que minha esposa. Correr junto dela era ainda mais prazeroso.

 

Bella concordou, também abaixou seu escudo deixando com que eu lesse seus pensamentos, tinha em mente planos iguais aos meus para o resto do nosso dia quando Nessie fosse para a universidade sozinha aquela manhã. Ela e eu estávamos em sintonia, para sempre.


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Notas finais do capítulo

Beijos!

Lola Royal.

13.09.20