Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 26
Efêmero




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Ao entrarem no elevador que levaria ao apartamento deles, Caitlin imediatamente colocou os braços ao seu redor, descansando o corpo completamente contra Barry, a cabeça intimamente na curva de seu ombro o pescoço.

Sorriu ao notar o suspiro profundo quase que contra sua garganta e apenas a acolheu tranquilamente, desfrutando do silêncio completamente destoante com o do bar onde estavam para comemorar o aniversário da doutora. Passeando um dos dedos pelos cabelos meio embaraçados, mas ainda macios, não precisou de muito para chegar à conclusão de que ela jamais admitiria quão bêbada estava.

— Adoro tanto seu perfume. 

O som da voz dela contra sua pele vibrou nele inteiro, arrepiando-o, e Caitlin levantou o rosto para encará-lo quase de forma inquisitiva. Era tão dela olhá-lo dessa forma que o fez sorrir por um instante enquanto limpava com o dedo o resquício da maquiagem borrada no canto de seu olho e analisava a falta de batom. Adorava beijá-la quando usava batom vermelho apenas para ver depois o resultado da cor desbotada nos lábios meio inchados. Inclinou-se um pouco, selando sua boca na dela sem pressa.

— Feliz aniversário, Cait.

Ela sorriu fazendo com que suas respirações se misturassem confortavelmente e ajeitou os braços ao redor de seu pescoço para que seus corpos se encaixassem melhor contra a parede do elevador e, enquanto a rodeava pela cintura, teve seu lábio inferior calmamente capturado pelos dela.

— Você vai cantar a minha música? – Ela murmurou manhosa.

— Está tentando me seduzir só pra isso?

— Um pouco.

Afastou os cabelos dela com uma das mãos, vendo os olhos castanhos brilharem em sua direção, animada e maliciosamente.

— Você é incorrigível.

A beijou rapidamente pouco antes de as portas se abrirem no oitavo andar e a puxou pela mão enquanto buscava a chave no próprio bolso. Assim que entraram, Caitlin se sentou no sofá para tirar os próprios sapatos, do jeito que dava. Barry a observou criticamente por um instante, um pouco impressionado que ainda se empenhasse em fazer isso. Ela detestava dormir com qualquer possível de resquício de sujeira no corpo e, ainda que não estivesse no melhor estado, certamente entraria no banho antes de se deitar.

Com um suspiro, a puxou pela mão e a ajudou a tirar parte da roupa para, enfim, seguir lentamente ao banheiro. Enquanto ouvia o ruído da água do chuveiro caindo, preparou uma grande xícara de café com leite quente e bastante açúcar, levando a ela quando saiu do banho, os cabelos molhados, a pele um pouco avermelhada e os olhos mais atentos ao se sentar sem pressa perante a penteadeira iluminada.

— Obrigada. – Notou que ela se forçou a tomar, pois provavelmente seu estômago estava uma bagunça, mas logo deixou os ombros caírem enquanto encarava o próprio reflexo. – Argh, estou completamente sem forças.  

Com um riso baixo, Barry se aproximou para se sentar ao lado dela na poltrona macia. O movimento fez com que ela ficasse quase que completamente em seu colo, pois não havia exatamente espaço para dois ali. Contudo, Caitlin não pareceu incomodada, somente o abraçou de volta e descansou a cabeça contra a sua, suspirando pesadamente.

— Acho que pode deixar para pentear o cabelo amanhã. – Murmurou.

— Só dessa vez, não é?

Ela concordou em um sussurro, como se estivesse fazendo algo errado e Barry se ajeitou melhor na poltrona, observando o reflexo bonito e cansado deles no espelho iluminado do closet. A amava tanto que não saberia o que fazer se, um dia, não pudesse ter o privilégio de tê-la contra si daquela forma ou sentir o perfume que exalava de todo o seu corpo.

Então, depositando um beijo na mandíbula delicada, seguiu para o pescoço e abaixou o tom, começando lentamente a canção que ela mais gostava. 

At the dark end of the street

That's where we'll always meet

Hiding in shadows

Where we don't belong

Living in darkness

To hide our wrong

You and me

At the dark end of the street

You and me

 O braço de Caitlin, que estava em volta de seu pescoço, o apertou um pouco mais conforme seguia com a música, sem qualquer melodia de fundo, no silêncio do closet que dividiam. Os dedos livres dela se entrelaçaram aos seus e abriu os olhos apenas para vê-la morder os lábios a fim de conter as possíveis e inevitáveis lágrimas. 

If you take a walk downtown

And find some time to look around

If you should see me, and i walk on by

Oh, darling, please, don't cry

Tonight we'll meet

At the dark end of the street

Barry finalizou a letra momentos depois, mas Caitlin não se afastou, não quebrou o silêncio e não se moveu em seu colo, apenas continuou abraçando-o apertado. Deixou que ficasse ali pelo tempo que achasse necessário e, no reflexo do espelho, viu uma lágrima rolar pelo rosto dela para se perder no tecido grosso do roupão. Apertando sua cintura, então, enquanto a abraçava melhor, chamou sua atenção.

— Você sempre chora quando ouve essa música.

— Eu sei. – A voz dela um pouco quebrada lhe respondeu em tom baixo e Caitlin levou a mão para secar outra lágrima que caía antes de se voltar a ele, percorrendo seu rosto por um momento antes de selar seus lábios calmamente, sem malícia dessa vez, aproveitando para dizer ali. – Eu amo você, Barry.

*

Ele estava acordado há horas.

Primeiro, encarara o tento, procurando qualquer defeito possível enquanto seus pensamentos iam e vinham sem descanso. Depois, passara a encarar a janela de cortinas abertas, fazendo com que as luzes de Princeton iluminassem o quarto, deixando-o apenas em meia escuridão. Então, passara a decorar Caitlin, dormindo espalhada e pesadamente com as mãos sob o travesseiro e os cabelos em uma bagunça ao redor do rosto.

Ela era perfeita mesmo assim, soando tão em paz com seu próprio sono e possíveis sonhos tanto quanto no dia-a-dia com seus saltos muito altos e roupas elegantes. Entretanto, algo havia mudado no instante em que as unhas não muito compridas cravaram em suas omoplatas e a boca dela se colou ao seu ouvido, gemendo ofegante. A energia que corria entre eles se tornara mais íntima, diferente em um sentido que não sabia precisar, mas que era traduzido em sua vontade de mantê-la junto de si o quanto pudesse.

Aquela era uma Caitlin que não queria perder, pois adorava conhecer pequenas coisas desse outro lado desinibido da mulher fascinante que se mostrava, se não havia os limites da amizade e a leve desconfiança que ainda perpassava em todos os seus gestos, como se eles fossem efêmeros demais e ela precisasse se precaver para que Barry não a deixasse no chão – como havia lhe dito no primeiro dia, em seu apartamento.

Não podia negar que, por toda a última semana, também tivera essa impressão de efemeridade, como se qualquer passo em falso pudesse afastá-la inevitável e permanentemente. Contudo, bastava tê-la por perto novamente, ao alcance de seu toque, que a sensação se esvaía e o fazia ter certeza de que a queria sem qualquer incerteza e insegurança.

Caitlin também precisava do palpável, por isso, enquanto ainda se encontravam no entretempo que ela lhe dera, mantinha os dois pés no chão. Quase podia ver essa corda invisível a segurando, a impedindo de se entregar realmente e, ainda que fosse incômodo, a compreendia perfeitamente. Barry significava mais caos que estabilidade em sua vida perfeita e, dolorosamente consciente, sabia que a machucaria muito mais se, depois de tudo, quebrasse a confiança que ela, de boa vontade e sem qualquer garantia, depositara nele.

Com um suspiro pesado, se arrastou pela cama até alcançá-la novamente. Subindo a mão pela linha da cintura sobre a blusa preta de seda, apertou levemente o espaço entre o ombro e a nuca, ganhando um leve resmungo quando ela se virou, acomodando-se de costas para ele. A doutora não gostava de nenhum incômodo quando dormia, constara com um pequeno sorriso.

— Caitlin. - Se abaixou para embrenhar-se no aroma, que exalava da pele do pescoço em meio aos fios castanhos compridos espalhados em sua direção. – Cait.

— Hum?

Foi tudo que ela respondeu sonolentamente, deixando que Barry a rodeasse e a juntasse contra si, sem dificuldade.

— Você tem aula essa manhã?

Caitlin abraçou seu braço em resposta, entrelaçando seus dedos e se mantendo em silêncio por um tempo, como em um aviso de que depois, durante uma hora apropriada, poderiam conversar. Beijou levemente a parte nua do ombro direito, mantendo-se ali por um instante até que, finalmente, ela se voltou a Barry, os olhos lutando para se abrirem.  

— Porquê?

— Acho que está na hora de conversarmos.

Então, ainda que sonolentamente, a mulher o encarou de maneira mais firme, ponderando a seriedade em sua expressão e, certamente, entendendo ao que se referia. O tempo que ela concedera acabava de chegar ao fim. Suspirando, Cait moldou seu rosto com uma das mãos, percorrendo-o inteiro com os olhos acostumados àquela meia iluminação, os dedos perdidos e erráticos em sua barba rala.

— Não darei aula hoje.

Ela disse naquele tom doce meio murmurado, no que meneou a cabeça em concordância. Provavelmente, seria melhor que ela não tivesse qualquer compromisso, de qualquer forma, pensou juntando suas testas e, posteriormente, selando seus lábios por um instante, apertando a linha da cintura contra si só para tê-la o mais perto possível.

— Quero te levar a um lugar. - Viu o cenho se franzir em estranhamento.

— Que lugar?

— Você verá. – A beijou novamente antes de se levantar e estender uma mão para ajudar a doutora que, ainda sonolenta e confusa, o encarava em busca de respostas, sem entender onde queria chegar. – É melhor colocar uma roupa quente, nós vamos correr.


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