Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 10
Frustração




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— Definitivamente, esse tipo de lugar não estava na lista daqueles que eu associava a você.

Murmurou contra os cabelos da mulher, trançando os braços ao redor do corpo conhecido enquanto a sentia sorrir e deitar a cabeça contra seu ombro.

— E o que achou?

Sorriu pela pergunta, ciente do bar lotado ao redor deles pelos mais variados tipos de gente, já que se tratava de um lugar ermo, de beira de estrada. A música entre o country e o rock embalava as últimas horas da madrugada e parecia agradar a todos – mesmo Ralph, que dizia não gostar do ritmo, embora se encontrasse mais concentrado na mulher sentada ao seu lado no bar.

— Incrível. – Ela virou-se, se mantendo entre o balcão e ele, com um drink muito forte na mão esquerda e um sorriso furtivo na face corada e um pouco suada. – É incrível como sempre me surpreende assim.

— Ótimo, Sr. Allen. – A beijou novamente, não sem antes notar o rosado dos lábios inchados por tanto fazê-lo apenas naquela noite. Depois que descobrira como era beijá-la, não conseguia mais parar. – Promete que vai cantar minha música depois? Quando estivermos só nós dois.

— Se você provar que merece, pelo resto da noite. – Os dentes soltaram seu lábio inferior para que ela o encarasse de maneira ultrajada.

— É o meu aniversário, não há maior motivo para merecimento do que este.

— Eu tenho certeza que posso pensar em vários outros.

Encontrou aquele ponto fraco no pescoço perfumado, sentindo o corpo dela aconchegar-se contra o seu enquanto apertava seus cabelos entre os dedos e suspirava. Sempre a via responder exatamente como previa e isso o excitava tanto.

— Acha que se formos ao banheiro agora... – A ouviu sussurrar sob o ruído de músicas e conversas muito altas ao redor. – Eles vão reparar?

— Não me faça essa proposta agora! – Apertou a cintura dela entre os dedos, ouvindo-a rir e juntando seus lábios enquanto falava. – Irão sentir falta da aniversariante.

— Eu não sei, todos parecem bêbados demais a essa hora para notar.

— Inclusive você. – Indicou o copo que ela tinha em mãos.

— Nunca estou “bêbada demais”.

Ela voltou a passar um braço ao redor dele, não deixando que continuasse a rir pela ironia, mais concentrada em beijá-lo novamente. Retribuiu no mesmo instante, voltando a apertá-la contra si, enquanto a sentia praticamente vibrar, já que não podia ouvir o ofego sob o ruído alto do bar, e desfrutava do sabor de uísque da boca contra a sua. Aquela mulher sempre o surpreendia.

*

Não acordou assustado e suado dessa vez, embora não pudesse dizer que se encontrasse tranquilo. Seu corpo formigava inteiro, como se aquela cena fosse familiar, bem como o corpo feminino que descansava contra o seu com a tranquilidade da intimidade e o perfume, que emanava do pescoço dela, misturado ao leve cheiro de suor, previsível naquele bar, que agora não era apenas mais fonte de memórias angustiantes. De alguma forma, aquele lugar fazia parte do todo, não somente do fim.

Coçou os olhos de maneira cansada, verificando que ainda não eram três da manhã, o que significava muito tempo sem companhia e sem o que pensar, que fosse realmente produtivo. Por isso, jogou as cobertas para o lado e buscou um par de tênis. Correria como uma pessoa normal faria, se perdesse o sono. Estressado e frustrado, trancou a porta do flat e logo pegou uma avenida plana de Central City.

Ainda martelava as palavras de Iris na cabeça, repetidamente. Mesmo ao conseguir pegar no sono, pensava na impressão que ela tinha sobre ele, especificamente de sua desistência em relação ao casamento deles e, principalmente, no questionamento, que soara impulsivo inicialmente, mas depois vinha como uma constatação magoada. Barry estava, definitivamente, pensando em outra pessoa o tempo todo. Nada voltaria a funcionar com Iris, ainda que não estivesse apaixonado, romanticamente falando, enquanto parecesse repleto dessa desconhecida, que ocupava seus pensamentos nem sequer pedir.

Contudo, ao passo que sabia que precisava mudar isso e rápido, não via como fazê-lo sem se expor aos seus amigos. Não queria se mostrar mais culpado do que já era, pois tinha consciência de que parecia, ao menos, muito relapso em relação a esse problema, em específico. Caitlin sabia que vinha evitando, conscientemente, abordar o assunto, apesar de não saber o motivo concreto. Além disso, não queria se ver na situação de contar aquilo a ela, não via nem por onde começar.

Embora estivesse concentrado na corrida, já sentindo o corpo relaxar, viu-se retesar imediatamente ao ouvir o grito cortando o silêncio da madrugada na cidade. Mudou a rota rapidamente e correu de verdade na direção de onde vinha o som, entendendo rapidamente a cena que se desenvolvia no beco. Uma moradora de rua chorava desesperada caída ao chão enquanto encarava o vulto, que agora virava a esquina escura parecendo carregar algo.

— Meu bebê!

Ela chorou novamente, sem realmente vê-lo, pois utilizava da velocidade para mascarar seu rosto, e Barry se aproximou da pessoa, que parecia uma mulher pela configuração do corpo, embora usasse uma capa muito comprida que arrastava no chão e tapava seu rosto. No entanto, assim que chegou perto o suficiente para tentar pará-la, algo o jogou, na proporção de sua velocidade na direção contrária, contra uma vitrine, espalhando cacos de vidro por todo o lado enquanto ainda tentava raciocinar o que acontecera.

Levantou-se sentindo todos os músculos protestando, mas fez uma nova tentativa, onde a mulher parou e, com aparente calma, voltou-se a ele levantando das mãos. Assim que a força invisível o alcançou novamente, percebeu que se tratava de uma espécie de corrente de som, exceto que não havia ruído qualquer, nem mesmo do bebê raptado nos braços da pessoa. Não houve tempo para que tentasse qualquer negociação, pois a mulher fechou uma das mãos, deixando-o sem ar e o jogou sem esforço contra a parede de um beco escuro e fétido.

Dessa vez, não houve nova tentativa, pois a falta de ar era tamanha, que precisou de um tempo para se recuperar e, assim que o fez, notou que algo parecia errado. Era como se não sentisse nada por um tempo, enquanto gemia de dor e percebia o céu clareando acima de si. Deixou o tempo passar, apertando o celular entre os dedos, já que não estava de uniforme, somente esperando que retomasse sua sensibilidade e voltasse a sentir a Força de Aceleração, a qual estranhamente parecia fraca, desde que caíra ali.

Tentou se mover, não pela primeira vez, mas nenhuma sensibilidade lhe chegava. Suas pernas não obedeciam ao cérebro, o que começou a deixá-lo em pânico. Encontrava-se em um lugar completamente desconhecido, vulnerável, e a mulher que o deixara daquele jeito sabia que se tratava do Flash. Fechou os olhos, forçando-se a respirar com calma e discou o primeiro número da emergência do celular, que atendeu na segunda chamada.

— Barry?

— Cisco. – Respirou aliviado, notando os dedos trêmulos. – Preciso de ajuda.

Horas depois, nunca se sentira tão aliviado por se encontrar já na maca do Laboratório, enquanto Cisco falava sem parar, andando de um lado a outro, e Caitlin, muito silenciosa, o ajudava a se ajeitar de forma apropriada, depois que ela colocara pinos em sua coluna. A ideia o assustou um pouco, mas ela garantira que seria necessário para que as vértebras voltassem a se ajustar sem qualquer complicação. 

— Como se não bastassem todos os problemas que temos, agora precisaremos lidar com uma possível traficante de crianças, metahumana.

— Incrível. – Fechou os olhos ao ouvir Ralph, de braços cruzados próximo a uma das bancadas. – Quer dizer, horrível. Apenas... Soa como um crime um pouco mais normal. Normalidade é bom.

— Não parece tão normal assim pela forma como deixou Barry. – Cisco apontou lentamente, então o encarando em uma tentativa de acalmá-lo. – Estamos tentando rastrear algo sobre essa mulher e já contatamos a mãe da criança, logo teremos novidades.

— Okay. – Encarou o teto de maneira frustrada. – Não é como se pudesse agir de verdade pelas próximas horas.

— 12 horas. No mínimo. – Finalmente, disse Caitlin. Ela vinha tratando-o de maneira fria desde que chegara, passara pela cirurgia na coluna, e mesmo agora, onde só abria a boca para manifestar o necessário naquele tom de reprimenda implícito sempre que fazia algo errado. O que sabia que fizera. – Fraturas na coluna são mais complicadas, mesmo para velocistas. Seu organismo terá de se adaptar aos pinos temporários antes de começar o processo da cura acelerada. E, ainda que seja rápido, não será tão rápido assim em comparação às demais partes do corpo. São ossos, não um estômago perfurado.

— Legal. – Retrucou ironicamente, embora ela apenas o houvesse dado as costas e ido fazer algo fora de seu campo de visão.

— Então... – Ralph passou em direção à saída, obviamente não se importando com as farpas entre eles. – Eu vou buscar café, vocês querem?

— Vou com você. – Cisco disse, aproximando-se da maca. – Precisamos avisar Iris?

Negou com a cabeça de forma resignada, pela primeira vez recordando os acontecimentos da tarde anterior após todo o caos, que havia sido o restante da madrugada e início da manhã. Parecia fazer muito tempo, desde que ela lhe fizera aquela pergunta após claramente se arrepender de chamá-lo de volta para casa para tentarem novamente.

— Ela não virá. – Cisco franziu o cenho, mas não tentou obter mais nada, embora parecesse saber que havia mais ali. – Mas hoje é meu dia de buscar Nora na creche...

— Nós cuidamos de tudo.

Cisco declarou e apertou seu braço em despedida, antes de sair informando a Caitlin que traria a ela o mesmo de sempre. Assim que ele saiu, o silêncio reinou na sala, pois aparentemente a doutora estava se recusando a falar com ele.

— Tudo bem, não posso vê-la, mas sinto sua energia daqui e ela está me torturando lentamente. – Cruzou os dedos sobre a barriga, somente esperando, mas não houve resposta. – Caitlin.

— Estou ocupada. – Suspirou em frustração, sem saber como insistir em fazê-la falar. – Tenho que anotar no seu prontuário mais uma ação negligente.

— Argh... Cait, eu não fiz de propósito! – Retrucou indignado dessa vez, virando a cabeça para olhá-la, embora sem sucesso, pois ela se sentara à bancada justamente atrás dele. – Havia alguém em perigo e eu apenas fui verificar o que era. Foi... Instintivo!

— Você sabe muito bem que seu desempenho nas últimas semanas não vem sendo como deveria. E sabe que chegou num ponto em que precisa estabelecer um limite. Querendo ou não, você não está nada okay, mentalmente falando. – Então, ela finalmente se colocou em seu campo de visão, onde podia ver toda sua indignação. – Parou para pensar no que poderia acontecer, caso essa pessoa estivesse interessada na sua identidade? Não estava nem usando seu traje, Barry!

— Não havia tempo para isso, a mulher estava fugindo com um bebê! – Ela suspirou, engolindo algum xingamento. – E sim, minha identidade foi tudo que pensei enquanto estava naquele beco, mas esse seria um problema que resolveríamos porque, mais importante ainda, eu não estava sentindo minhas pernas.

— Se você fosse uma pessoa comum, estaria paraplégico nesse momento.

— Sim, mas não sou uma pessoa comum, certo?! – Franziu o cenho, sentindo-se incapaz de acompanhá-la. – Não entendo aonde quer chegar, Caitlin. 

— Nas próximas semanas não estarei aqui para consertá-lo. Não chegarei a tempo, se for necessário, se houver uma emergência como essa. – Barry suspirou, baixando a guarda, embora ela ainda soasse completamente exasperada. – Não pode ultrapassar seus limites dessa forma, porque quando você faz... Coisas assim acontecem. Olhe onde está agora, Barry!

— Sabe que não acontecia algo do tipo há bastante tempo.

— Parece que vem testando seu corpo para ver até onde aguenta sem entrar em pane enquanto recusa a nossa ajuda por nenhum motivo plausível. – Caitlin declarou aproximando-se, começando a pressioná-lo de forma direta dessa vez, pois até sua compreensão tinha limites. – Porque não quer nos contar o que está acontecendo, de verdade?

— Isso... – Desviou o olhar do insistente dela, engolindo em seco. – É mais complicado do que parece.

— Barry! – A viu lhe dar as costas, abrindo e fechando as mãos em nervosismo, apesar de a distância tê-lo aliviado minimamente, pois a doutora era sempre boa em cutucar os pontos fracos de todos do laboratório e não queria que ela se aproximasse daquela história mais do que deveria. – Somos nós aqui, o mesmo time de sempre, não vamos começar a julgá-lo depois de todo esse tempo.

— Eu sei, não é isso que me preocupa!

— Então, o que o preocupa? – Caitlin se virou, esperando que ele começasse a falar algo que fizesse sentido, até abaixar o tom novamente. – Porque não nos deixa ajudá-lo, se sabe que podemos dar um jeito?

— Cait...

— Porque não me deixa fazer algo?

Ela soou tão magoada e frustrada por não obter uma resposta que quis bater em si mesmo por um momento, afinal tudo que parecia fazer nos últimos tempos era decepcionar as pessoas ao seu redor. Molhou os lábios, tentando pensar em algo que não o comprometesse com ninguém e que também não a fizesse querer enforcá-lo, embora lhe parecesse impossível àquela altura.

— É que... O que está acontecendo não diz respeito apenas a mim. Eu acho.

A viu respirar fundo e abrir os braços, ainda inconformada, quase um reflexo dele, pois não poder falar o que estava acontecendo era quase desesperador, angustiante demais para que lidasse – e vinha provando não saber lidar.

— Certo. Faça como achar melhor, então. – O tom já era controlado novamente, como que parar demonstrar que não seria atingida. – Vou avisar a Joe sobre seu estado.

Ainda abriu a boca para chamá-la de volta, detestando o modo como, passivamente, a via deixar a sala e, mais ainda, como isso o fazia se sentir. Era como se todas as suas últimas ações e decisões, para protegê-los na verdade, funcionassem mais como um ímã do avesso para afastar aqueles que amava. Barry precisava resolver as coisas o mais rápido possível, porque sem isso, sem todas essas pessoas erguendo-o quando precisava, não era nada mais que um espectro do normal. 


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Notas finais do capítulo

Problemas, problemas, problemas...

Caitlin sempre temendo pelo Barry, eu acho que esse é muito um clima do começo da série (que eu amo); Lembro de uma cena dela dizendo que não ia "consertar" ele sempre que se quebrasse e no mesmo ep fazendo exatamente isso, porque é muito Cait né?

Enfim, acho que as frustrações também estão por todos os lados, porque o Barry dessa forma afeta o time todo.

Até breve!



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