Barriga de aluguel escrita por Ana Cullen


Capítulo 2
Capítulo 2. Viva.




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Cap. Bella.

Abri os olhos só para ter certeza que meu pesadelo estava apenas começando. Eu mal tive tempo de perceber que estava em um hospital ligada a tubos, quando a assistente social me informou sem nenhum cuidado que minha família estava morta juntamente com meu namorado e que eu fiquei dois meses de coma. Aquilo tudo era muito para digerir em alguns segundos.  Uma pessoa normal surtaria naquele momento, mas eu já estava morta mesmo estando viva.

—Mas nem tudo está perdido -Falou a assistente tentando me mostrar um lado positivo que eu desconhecia.

—Não está? Perguntei com dificuldade, a frieza daquela mulher me assustava.

—Eu sei que as coisas parecem ruins, mas a pessoa que causou o acidente fez questão de pagar todo o seu tratamento com os melhores médicos para que você se recuperasse o mais rápido possível, além de procurar algum parente que pudesse ficar com você, mas infelizmente não encontraram ninguém.

—Devo agradecê-lo por ele matar minha família e me deixar viva para ver isso? Será que ainda estou em coma, por que isso é surreal. E qual é a parte de nem tudo está perdido que eu não entendi?

—Arrumamos uma família substituta para você, assim ficará só alguns dias no orfanato - Falou a assistente social olhando o relógio entendiada.

—Orfanato? Família substituta? Repeti desesperada.

—Querida, você ainda tem dezessete anos, isso quer dizer que está sob a guarda do estado até ser maior de idade - Falou a assistente social dando um sorriso nada animador.

O orfanato é um lugar sombrio, mas existem lugares piores, quer dizer lugares habitados por pessoas más, realmente más. Monstros que fingem ser pessoas normais, acima de qualquer suspeita. Como aquela velhinha inofensiva, que você ajudou a atravessar a rua.

—Bem vinda ao seu novo lar, querida - Disse Jane, minha mãe substituta.

—Obrigada, eu acho - Falei insegura se entrava ou não naquela casa, algo naquela mulher não me inspirava confiança.

—Bem, você deve estar cansada então deixe-me mostrar o seu quarto -Insistiu Jane.

Meu quarto ficava nas dependências de empregada. Era pequeno, mofado, sem lugar para guardar minhas poucas roupas ,tinha duas camas e um micro banheiro.

—Isabella, eu esqueci de te dizer que vai dividir o quarto com Rosalie espero que não se importe.

—Eu não me importo nenhum pouco-Falei quando percebi que Rosalie era da mesma idade que eu, seria legal se nos tornássemos amigas.

—Eu vou deixar que Rosalie te ensine as regras da casa - Cuspiu Jane antes de ir.

Rosalie tinha um ar rebelde, mas parecia sofrida, seus cabelos loiros estavam sem vida assim como suas roupas rasgadas.

—Não preciso ter nenhuma bola de cristal para saber que você está aqui pelo mesmo motivo que eu -Afirmei tentando puxar assunto, ter aliados era fundamental.

—Sim , estou aqui há um mês e ainda não consigo distinguir a diferença entre pais substitutos e senhores de escravos se é que tem alguma diferença - Falou a garota sem rodeios.

—Então quais são as regras da casa? Perguntei sendo direta.

—Somos praticamente escravas, você vai lavar, passar, cozinhar e ainda sorrir nas entrevistas que o deputado Aro e sua mulher Jane sempre dão para mostrar a sociedade o quanto são caridosos em troca eles te dão as sobras e um lugar para dormir.

— E se eu me recusar?Eles vão me bater? Existe alguma sala de tortura ou calabouço aqui? Perguntei curiosa.

—Eu nunca desobedeci, mas havia uma menina antes de mim ...

Rosalie riu sem humor. E apenas com um olhar me mostrou que havia câmeras em todos os lugares.

—Agora vou lhe dizer minhas próprias regras de sobrevivência, siga se quiser -Falou séria enquanto me guiava para o jardim da imensa mansão.

Rosalie me entregou uma vassoura e logo eu entendi que além de sermos filmadas as paredes tinha ouvidos.

—Minha primeira regra é nunca fique andando pela casa, faça seu serviço e vá direto para o quarto -Disse enquanto catava as folhas secas no chão.

—Isso não me parece tão difícil.

—Tome banho de roupa, tranque a porta do quarto antes de dormir -Continuou Rosalie olhando para os lados.

—O que aconteceu com a menina que chegou antes de você? Perguntei tentando entender que tipo de fria eu estava metida.

—Eles tem um filho chamado James, ele é um sádico que gosta de brincar com meninas como nós, sem família, sem ninguém para se importar ... -Falou Rosalie insegura se contava ou não o resto da história.

—Continue -Incentivei a terminar a história mesmo sabendo o final.

—Ela ficava andando pela casa, com o corpo a mostra, não fazia o serviço solicitado pelos pais adotivos até que um dia ela desapareceu os policiais encontraram seu corpo cheio de marcas de cigarro. O deputado abafou o caso e a vida continuou.

—Você acha que foi esse James?Perguntei alarmada.

—Eu não tenho como provar, mais não vou ficar para descobrir.

—Você vai fugir? Murmurei preocupada.

—Sim, depois de amanhã vai ter uma festa, regada a bastante bebida, dia ideal para sumir sem ninguém perceber -Falou Rosalie decidida.

Os dias se arrastaram lentamente, estava naquela casa a dois dias e minhas mãos já estavam em carne viva de tanto esfregar o chão e as paredes da cozinha, mas o que mais me incomodava era os olhos de James em mim. Como um predador parecia que ele estava esperando apenas uma oportunidade. Rosalie tinha razão em suas preocupações. Toda noite a porta do nosso quarto era forçada, era questão de tempo para ele conseguir mais uma vítima.

—É hoje - Sussurrou Rosalie me informando que haveria uma grande e pomposa festa a noite.

—Eu vou com você.

—Mas você ...

—Você não pode me deixar aqui -Falei desesperada.

—Tudo bem, mas tem que confiar em mim -Pediu Rosalie.

Uma casa cheia de câmeras e seguranças. Seria uma missão impossível escapar já que de acordo com Rosalie, eles nunca a deixaram sair nem para jogar o lixo fora. Mas Rosalie estava decidida. E quando anoiteceu a mansão ficou lotada. Jane fez questão de nos trancar e levar a chave. Caso alguma de nós dê um escândalo ou fuja sem que eles vejam.

   -Quando der meia noite há uma troca de turno, teremos exatos cinco minutos -Sussurrou Rosalie.

—Como vamos fugir? Estamos trancadas.

—Vamos sair pela janela do banheiro.

—Mais a janela é muito pequena -Insisti.

—Olhe para você está tão magra que passaria em um buraco de agulha, além disso a janela está praticamente solta, agradeça ao pervertido James que todas as noites tenta a fundo invadir este quarto -Acusou Rosalie.

Rosalie estava certa quando o relógio marcou meia noite, retiramos com cuidado a janela que saiu com facilidade. Caímos praticamente no fundo da casa, que estava praticamente abandonada já que todos estavam na parte da frente ou de dentro da casa. Rosalie correu para a cerca viva que dividia a casa do deputado com a casa do vizinho. Sem pensar eu segui seus passos.

—Os donos também estão na festa, o jardineiro sempre deixa a escada encostada no muro -Afirmou Rosalie recuperando o ar, antes de ir em direção a escada. Não tivemos tempo para pensar quando pulamos um muro muito alto e ganhamos as ruas. 

—E agora para onde vamos?Perguntei cansada de correr.

—Para a estação.

—Não temos dinheiro.

—Claro que temos -Disse abrindo sua pequena mochila recheada de notas de cem.

—Mas ...

—Eu disse para confiar em mim, não foi? 

—O que você fez? Perguntei irritada.

—Mais cedo, James me perguntou qual era seu preço para dormir com ele, então eu pedi um valor que se formos espertas vai nos sustentar por alguns meses.

—Você fez o quê?

—Não me olhe assim, ele iria te acatar no fim da festa de qualquer forma, ao menos ganhamos algo com isso.

—Tudo bem -Disse derrotada, o que era meu orgulho ferido em relação ao que podia ter acontecido?

A chuva caía fina molhando minha roupa e meus cabelos, mais isso não importava, o que importava era que desde que abri meus olhos esta foi a primeira vez que senti esperança.

—Livre - Gritei sem medo -Eu estou livre.

Continua ...

 


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Notas finais do capítulo

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