Descendants - Untold Tales escrita por Carolina74


Capítulo 1
Capítulo 1 - O começo de uma História


Notas iniciais do capítulo

Boa leituraaaaa! Espero que gostem!



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Capítulo 1 - O início de uma história

Era uma vez...

Há algum tempo atrás - tipo uns vinte anos - Bela se casou com a Fera diante de seis mil de seus amigos mais próximos. Bolo grande... Sim, bem, em vez de viajar em Lua de Mel, a Fera uniu todos os reinos e foi eleito rei dos Estados Unidos de Auradon. E então ele juntou todos os vilões e criminosos, basicamente a galera interessante, e os jogou na Ilha dos Perdidos, com uma barreira mágica para os manter lá.

E este é o nosso pedaço. Sem magia, sem Wi-Fi e... Sem saída.

Espere um pouco, logo você vai nos conhecer. Mas primeiro isto aconteceu:

OoOoOo

Ben passou pelos corredores do grande castelo, apressado. Ele retribuía os acentos e cumprimentos dos guardas e empregadas, mas não desviava seu foco de seu percurso.

Após uma série de curvas, o menino parou em frente a uma bela porta de carvalho com detalhes dourados. Nela estava impressa uma concha amarelada, para sinalizar de quem aquele quarto pertencia.

Ele respirou fundo, batendo na madeira. Ele realmente não precisava de uma resposta concreta, portanto não fez uma cerimônia para entrar.

OoOoO

Merliah tinha uma política restrita de dormir tanto quanto lhe era permitido. Ela não era do tipo matinal e qualquer um que a conhecesse sabia disso.

Por esse mesmo motivo, ela grunhiu em desconforto quando o Príncipe Herdeiro - que também era seu melhor amigo de infância - adentrou, permitindo que a luz da manhã invadisse seu cômodo e a obrigasse a abrir seus olhos.

— Mer, eu preciso de um conselho. - Ben declarou. As vantagens de ter um amigo tão próximo é que ele não necessitava agir como realeza.

Por mais incrível que pareça, aquela era uma rotina bastante comum para os dois companheiros. Ben tinha o hábito de ir contra os desejos de Merliah e sempre acordá-la mais cedo que o desejado.

— Pode esperar até às 10:00. Me deixa dormir. - A menina, com cabelos ruivos e atualmente desgrenhados, se encolheu em sua cama, puxando as cobertas e cobrindo seu rosto.

— Por favor, é importante. - O Príncipe insistiu, com sinceridade. Era um assunto delicado e somente sua confiável parceira poderia lhe servir de auxílio. No caso, a confidente era ela.

— Da última vez que você disso isso também. E era só pra te acompanhar num discurso. - Merliah relembrou, acusadora. Ela não iria cair nessa de novo. Era sábado! Ela tinha que aproveitar pelo menos mais duas horas de sono.

— Mas agora é mesmo importante! - Ben se defendeu, bufando contra a má vontade da amiga.

— Eu estava pensando sobre minha primeira Proclamação Real. E eu já decidi o que eu quero. - Ele avisou, ciente de que isso despertaria a curiosidade de Merliah. Sua ação surtiu o efeito desejado e logo a ruiva se sentou, as sobrancelhas arqueadas em confusão e interesse.

— E... O que você quer? - Ela questionou, cautelosa. Ele era um Príncipe sonhador e ela poderia se recordar de mil e uma coisas que ele poderia pretender fazer. Talvez fosse algo envolvido ao Preparatório de Auradon, ou quem sabe algum tipo de programa público.

Ben sorriu.    

— Primeiro, eu preciso da ajuda. - Ele comentou, fazendo Mer se jogar de volta na cama, arrependida de ter se levantado.

— Do que você precisa? - Ela demandou. Seu tom preguiçoso não podia camuflar sua empolgação. Eles eram melhores amigos. Acordar cedo não sua atividade favorita, porém ela faria um esforço. Eles tinham as costas um do outro, afinal.

— De uma lista. -  Ele afirmou, convicto.

OoOoO

Uma semana se passou desde então. Dizer que eles ficaram ocupados seria eufemismo. O próprio Bem passou horas discutindo com Merliah para que pudessem chegar nas opções mais viáveis.

E cá estava o Príncipe, de pé sobre uma plataforma enquanto o mordomo da família, o senhor Lumiére, calculava suas medidas para fabricar seu traje para a Coroação.

Ben, diferente do mordomo, estava alheio demais para se concentrar. Seus olhos verdes vagavam pela janela lateral do escritório, observando a vista que dava direto para o litoral. O céu azul tinha algumas nuvens e o Sol brilhava, as ondas do mar se agitando de leve.

Claro, era bonito para se admirar, na verdade, poderia ser perfeito se não fosse por um minúsculo detalhe: A Ilha dos Perdidos.

Era por lá que o foco do Príncipe estava. Uma pequena e nebulosa ilha envolta por uma barreira mágica, uma luz dourada e sutil que evitava que alguém saísse ou entrasse. As águas pareciam escurecer pelas proximidades do lugar abandonado, que inclusive poderia ser confundido com um deposito de lixo.

Soava deprimente para o jovem Príncipe.      

— Como é possível você ser coroado rei mês que vêm? Não passa de um bebê! - Adam exclamou em seu característico tom brincalhão. Apesar de seu jeito relaxado, estava estampado em sua face o orgulho que ele nutria pelo filho.

 - Ele tem dezesseis anos, querido. - Bela argumentou, serena. Ela carregava sua marca registrada, um simpático e gentil sorriso. Ela estava muito feliz pelo seu menino.

— Ei, pai, mãe. - O cumprimento suave de Ben acabou passando despercebido por seus pais. Sim, ele era o Príncipe de Auradon, filho do Rei Fera e da Rainha Bela.

— Dezesseis? É novo demais para ser rei. Eu só fui tomar uma boa decisão depois dos 42. - Adam disse, descontraído. Embora seu humor fosse contagiante, não chegou a agradar a Rainha, que o encarou, semicerrando suas pálpebras.

— Você decidiu se casar comigo quando tinha 28. - Ela rebateu, quase que indignada. Era isso que ela ganhava por se casar com uma Fera.

— Era você ou o bule de chá. - Adam denunciou, arrancando uma curta e alegre risada de Ben.

— Brincadeirinha. - O Rei esclareceu, pretendendo não provocar mais sua esposa. Afinal, se tem uma coisa que ele aprendeu durante seu governo é que não se deve irritar a Rainha.

Bela revirou os olhos, não estando brava. Ela estava acostumada com as bromas e passou a achar graça nelas em algum ponto de seu casamento.

— Mãe, pai... Eu escolhi minha primeira Proclamação Oficial. - Ben tomou coragem e revelou. Ele quis dar um passo para frente, contudo foi obrigado a permanecer parado quando Lumiére lhe advertiu para que não se movesse.

Adam e Bela trocaram olhares, ansiosos para descobrir qual seria a ordem do futuro rei.

Ben se endireitou.

— Eu decidi que as crianças da Ilha dos Pedidos terão a chance de viver aqui em Auradon. - Ele informou, certo de era o certo a se fazer.

Bela soltou um chiado baixo de surpresa, deixando o tecido que estava em suas mãos cair.

O Príncipe se adiantou. Ele já imaginava esse tipo de relutância vinda de seus pais e estava preparado para isso.

— Quando eu olhos para a Ilha, sinto que foram abandonados. - Ele iniciou, se desvencilhando das medições do mordomo - que estava muito chocado para reclamar - e se colocou rente ao Rei e a Rainha.

— Os filhos de nossos maiores inimigos? Vivendo entre nós? - Adam repetiu, suas palavras repletas de incredulidade. Ele havia comandado que erguessem a barreira mágica para proteger o povo dos vilões e seu filho queria simplesmente convidar os descendentes deles para passear pelas ruas de Auradon?

Era loucura, até mesmo para ele.

— Vamos começar com poucos, pelos que mais precisam de nossa ajuda. - Ben retrucou, intentando tranquilizar seus pais. Ele tinha pensado em todos os detalhes.

O Rei estava prestes a protestar quando, de repente, a porta do escritório foi aberta de súbito, mostrando uma cabeleira ruiva e familiar. Era Merliah, que trazia consigo uma prancheta de madeira com alguns nomes e dados.

— Desculpe, estou atrasada. - Ela disparou, imediatamente notando o clima tenso que pairava sobre o cômodo.

Ben lhe enviou uma sombra de um sorriso, agradecido por sua amiga ter chegado para lhe prestar suporte. Ele tinha certeza de que seria mais fácil fazer seus pais concordarem se Mer estivesse ao seu lado.

— Não me diga que você está envolvida nisso. - O Rei esfregou as têmporas, se esquecendo por completo de sua felicidade de poucos minutos atrás.

— Sim, ela me ajudou a escolher as crianças. Nós temos uma lista. - Ben anunciou, revoltando a seu pai, que não estava satisfeito e pretendia negar a ideia.

— Eu te dei uma segunda chance. - Bela segurou o marido. Eles tinham que dar uma oportunidade para o filho e deveriam ao menos escutá-lo.

— Quem são seus pais? - Ela indagou, fazendo o que podia para esconder seu nervosismo.

Ben indicou para Merliah, que entendeu a dica e assentiu, caminhando para mais perto da família real.

— Capitão Gancho...

— Ele é um dos piores ladrões desta terra.

— Mãe Ghotel...

— Ela é acusada de inúmeros crimes.

— Rainha de Copas...

— Ela é uma tirana.

— Úrsula...

— O que!? Ela tentou matar seus pais! O que eles vão pensar quando ouvirem sobre isso?

Merliah estava incomodada. A cada nome que ela mencionava, o Rei despejava um comentário negativo. Ele agia como se nem ela nem Ben soubessem o que estavam fazendo.

— Com todo respeito, eu não acredito que eles ficariam com ressentidos. É verdade que Úrsula já tentou matá-los antes, mas e o filho dela? Nós não conhecemos nenhuma das crianças da Ilha e, mesmo assim, castigamos eles pelos crimes de seus pais. - Ela conclamou, desejando que sua fala apacentasse parte da ira do Rei Fera.

Adam suspirou para se acalmar. Vendo por esse ângulo, não soava muito justo.

— Tem alguém mais? - A Rainha inquiriu, pensando que o pior havia passado. Não podia ter ninguém mais terrível naquela lista, não é?

— Gaston. - Ben respondeu rápido, receoso com as prováveis reações. Foi tão ruim quanto ele havia previsto:

Lumiére saltou, pasmo. Ele se recordava do pretensioso vilão. Bela empalideceu tanto que parecia ter visto um fantasma. Adam, no entanto, tinha uma expressão enfurecida e carrancuda.

— Absolutamente não! Ele tramou para nos matar, filho! - O Rei Fera protestou aos gritos. Aquilo estava além do que ele poderia aguentar. Era apenas um absurdo!

— Pai, escute-me... - O Príncipe quis se explicar, todavia Adam estava muito estressado para ficar em silêncio.

— Não vou ouvir! Eles são culpados de atos indescritíveis! - O Rei bradou e Lumiére se encolheu, fazendo uma breve reverência e se retirando do recinto. Ele não queria atrapalhar a desavença entre o rei atual e seu herdeiro.    

— Mas seus filhos são inocentes! Não acha que seria cruel da nossa parte condená-los por atitudes que não tomaram? Pai, eles merecem a chance de uma vida normal. - Ben rebateu, firme. Ele acreditava que as crianças da Ilha dos Perdidos deveriam ter fazer sua escolha ao invés de serem taxadas como vilões por conta da identidade de seus pais.

— Por favor, vamos fazer uma tentativa. - Merliah implorou. De fato, quando o Príncipe lhe apresentou a ideia, ela não recebeu muito bem a notícia. Ela imaginava que seria um fracasso total.

E aí ela passou a pesquisar. Depois de horas de reflexão e busca, ela se viu obrigada a concordar com a visão de Ben sobre a Ilha. Era como o nome sugeria: Quem morava lá estava perdido.

Bela fitou o marido, arqueando uma sobrancelha. Era seu jeito silencioso de incentivá-lo a aceitar a proposta do filho.

Adam se viu encurralado. Ele não tinha mais como recusar a Ben ou como contrariar o raciocínio de Merliah. Ele tinha que admitir que eles estavam certos.

— Eu... Suponho que seus filhos sejam inocentes. - O Rei Fera confessou baixinho, não conseguindo dizer nada mais. Ele precisaria de um tempo para digerir aquilo. Seria uma mudança e tanto para Auradon.

Bela sorriu fraco, se voltando para o filho e ajeitando sua camisa.

— Muito bem feito. Vocês dois.- A Rainha elogiou, dando um olhar acalorado para ambos os amigos.

Ela se virou para Adam, encaixando seu braço no dele.

— Vamos andando? - Bela assobiou. Eles tinham muito trabalho pela frente caso Ben fosse trazer os cinco filhos dos vilões para Auradon. Como Rei e Rainha atual, eram ela e seu marido os responsáveis pelos preparativos.

Adam assentiu e o casal real fez seu caminho para fora do escritório, deixando o Príncipe e Merliah sozinhos.

— Nós conseguimos? - A ruiva duvidou, descrente.

— Nós conseguimos. - Ben delegou, um sorriso de alívio se moldando em seus lábios.

— Ótimo. Nunca mais me arraste para suas maluquices novamente. - Mer contestou, soltando o ar que estava preso em seus pulmões. Ela estava contente com aquela pequena vitória, mas também tinha ciência de que esse havia sido apenas a primeira etapa. O verdadeiro desafio viria junto com a chegada das crianças da Ilha.

Ben riu, humorado.

— Você é minha amiga e futura conselheira. Faz parte do seu trabalho. - Ele zombou, divertido. Com toda honestidade, ele estava feliz por ter Merliah como companheira. Afinal, ela tinha o péssimo hábito de estar certa.

— Eu tenho algumas coisas para resolver. Até mais. - Mer se despediu com um sorriso, fazendo seu caminho para seu quarto. Ela teria que organizar uma conversa com seus próprios pais.

Ben se viu a sós consigo mesmo naquele escritório que logo se tornaria seu. Ele deu uma última olhada para a Ilha dos Perdidos, distraído. Ele acariciava o anel de ouro em seu dedo, que era uma das heranças que havia recebido de seu pai e mãe.

E foi assim que a nossa história começou.

OoOoO

Uma figura peculiar podia ser vista caminhando pelas ruas da Ilha dos Perdidos, como se estivesse apenas passeando pelas redondezas.

Era uma garota.

Seus olhos esverdeados escondiam um brilho travesso e seus longos cabelos lisos caiam por suas costas, tão amarelados quanto o Sol da manhã. Ela tinha uma estatura pequena quando considerada aos demais vilões. Sua aparência inofensiva podia sugerir que ela era uma frágil, porém isso estava longe da verdade.

Porque aquela era a Ilha dos Perdidos. Para sobreviver neste lugar, você deve desconfiar até mesmo das pedras do chão. Ou você é um vilão ou você não é nada.

— Ei, cuidado! - Um homem alertou, descontente. Ele trajava roupas desbotadas de marinheiro e seus  cabelos e barba eram grisalhos.

O indivíduo se tratava do ajudante do Capitão Gancho, Sr. Smee, e que não estava nem um pouco contente com a menina que havia trombando nele, derrubando seu óculos frouxo e velho no asfalto.

A jovem, denominada de Ella, deu um sorriso inocente e rapidamente se agachou para retomar o pertence do senhor.

— Oh, sinto muito. Aqui está. - Ela ofereceu, estendendo a mão com o objeto. Um estranho ato de gentileza que não era visto com frequência no lar dos abandonados.

— Humn, olhe por onde anda da próxima vez. - Senhor Smee bradou, um tanto surpreso com a educação da jovem. Por mísero instante, ele duvidou que estivesse falando com uma das desrespeitosas crianças da Ilha.

— Eu vou! Obrigada! - Ella berrou em retrospecto, dando um simples aceno antes de correr e virar a esquina, sumindo do campo de visão do senhor.

— ...Obrigado pelo quê? - Ele questionou numa reflexão tardia. O que ela queria dizer?

— Ela te roubou, bobão. - Um garoto moreno de doze ou treze anos zombou, dando uma mordida em sua maçã, que estava comida pela metade.

— O que!? - Sr. Smee gritou, incrédulo. Ele checou seus bolsos da calça, somente para encontrá-los vazios.

Era assim na Ilha dos Perdidos. O crime rondava a cada esquina. Era simples até: Você podia roubar... Ou ser roubado.

OoOoO

Ella soltou uma risada divertida, observando a carteira que ela furtara há pouco.

— Idiota. - A menina se referiu ao Sr. Smee, que se deixou ser enganado com facilidade. Ela era filha da Gothel, afinal. E era tão traiçoeira quanto sua mãe.

Ella parou ao notar um rosto conhecido por si. Era Claire Hearts, filha da Rainha de Copas e também sua companheira no crime. Ela era uma das jovens mais belas da Ilha, com a pele beijada pelo Sol, olhos castanhos como mel e cabelos cor do ébano. Uma verdadeira beldade do mal.

E, como o usual, ela estava acompanhada.

— Vamos, amor. Você e eu poderíamos fazer uma dupla e tanto. Os mais temidos e respeitados. O que acha? - Iam, filho da Izma, sugeriu em um tom paquerador. Ele colocou um braço rente a cabeça de Claire, encurralando-a contra a parede.

— Vou ter que recusar. Não preciso de você para ser temida. - A Hearts retrucou, sem vacilar. Ela não precisava de um garoto para atingir suas metas, em especial um tão patético quanto o que se encontrava na sua frente.

— Eu tenho certeza que você pode querer reconsiderar... - Iam flertou, se inclinando de leve para beijá-la. Ele estava tentando uma chance com ela fazia algumas semanas, por conta de um desafio fútil que fizera com seus parceiros.

Os rumores diziam que Claire era inalcançável. Ninguém poderia amolecer seu coração congelado.

A Hearts moldou um sorriso doce em seus lábios. E aquilo não era um bom sinal vindo dela.

Com um movimento veloz, ela retirou uma faca afiada da bainha na cintura de Iam, colando-a em sua garganta e impedindo-o de se aproximar mais.

— Com eu disse, amor, não estou interessada. Então, faça um favor para nós dois e caia fora. - Claire cuspiu, cheia de veneno. Oh, como ela repudiava meninos como ele. A morena não era um prêmio para ser ganhado. Ela era uma princesa sem coroa e mostraria a todos quem governava naquela Ilha.

Iam grunhiu em choque, mas suas feições logo se contorceram em uma careta de desgosto. Nunca era uma boa ideia brincar com alguém armado e ele aprendera isso da pior forma possível. Ele colocou as mãos para cima, em um sinal de rendição.

Claire sorriu ao vê-lo se afastando como um cachorrinho derrotado. Ela não era chamada de Princesa dos Corações Partidos em vão.

— Uau, esse é o que? O terceiro essa semana? - Ella cantarolou, desdenhosa. Ela parou ao lado de sua colega. Elas se conheciam desde a infância e bem, não se odiavam. Isso era o mais próximo de amizade que crianças perdidas poderiam alcançar.

A Hearts a olhou de canto, reconhecendo a loira. Ela girou a faca em sua mão, guardando-a em um de seus bolsos. Quem sabe o objeto não fosse de alguma utilidade em tempos posteriores?

— Ah, é só você. - A Hearts mencionou, sem muito alarde. E pode acreditar, essa era sua forma gentil de se comunicar com os outros.

— Ow, obrigada pela consideração. - Ella disse, sarcástica. Não que ela estivesse contando com uma recepção calorosa. Isso não existia na Ilha, a não ser que fosse por propósitos puramente egoístas.

— O que te traz aqui? - Claire indagou quando as duas passaram a fazer seu trajeto pelos becos apertados.

— O de sempre, fugindo da minha mãe... Roubando coisas. - Ella gesticulou com indiferença. Era apenas uma parte de sua monótona rotina diária.

Poucos minutos depois, o percurso fora completo e elas se encontraram na loja de Úrsula, Fish & Chip. Era uma espécie de cabaré para os piratas desocupados. A madeira da construção era velha e o cheiro era quase tão horrendo quanto a comida que era servida.

A dupla entrou, arreganhado as portas sem um pingo de cuidado. Não que fosse necessário, o estabelecimento já estava desgastado por si só.

Claire ergueu o queixo ao perceber uma presença conhecida. Era Harry Hook, o  zombeteiro e malvado filho do Capitão Gancho. Ele era alto e tinha um aspecto intimidante, com seus afiados olhos azuis que exalavam perigo.

— Vejam o que a maré trouxe! - Ele exclamou, abrindo os braços e esticando um sorriso suspeito em sua face.

Ella revirou seus olhos e se encaminhou para uma das mesas, sem se dar ao trabalho de responder ao parceiro.

O Hook não ligou, se dirigiu para a morena e usou seu gancho falso para separar uma mecha negra de seu cabelo.

— O que? Se cansou de quebrar os corações dos outros? - Harry sibilou com tristeza fingida. Todos sabiam que ele era do tipo que gostava de fletar com garotas aleatórias. Casos rápidos que sumiam tão rápido quanto vinham. Porém, com Claire era diferente. Ela era a garota da qual ele mais persistia para conquistar.

Porque diziam que a Princesa dos Corações Partidos era impossível de fazer se apaixonar e, oh, Harry não podia resistir a um desafio ao seu nível.

A Hearts franziu as sobrancelhas.

—Que engraçado. Se você não afastar esse gancho agora mesmo, um coração quebrado será a menor das suas preocupações. - Ela ameaçou com uma voz rouca, empurrando o metal afiado para o peito do pirata.

Ela levantou sua sobrancelha em provocação e bateu seu ombro contra o dele, sentando-se numa cadeira vazia qualquer.

Até porque dois podiam participar daquele jogo.

Harry deu um sorriso conformado. Ele já estava acostumado com os foras agressivos. Ele retornou ao seu posto, tomando algumas batatas fritas de um dos pratos das mesas.

Uma bateu o pé para fora da cozinha de sua mãe, carregando uma bandeja com imensa má vontade. Ela não queria estar ali e não tinha escrúpulos em evidenciar seu desgosto.

Ela despejou o prato de batatas com peixe frito na mesa, fazendo um baque. Um dos piratas alojados encarou o alimento.

— Eu não pedi isso. - Ele avisou, deslizando a comida na direção da filha de Úrsula. Ela lhe deu um olhar de desdém.

— E eu não pedi para ser garçonete, mas aqui estamos nós. A vida não é justa. Lide com isso. - Uma retribuiu, descontando sua frustração no cliente. Ela necessitava descarregar sua infelicidade em alguma pobre alma e, por acaso, a vítima seria um dos bandidos.

— Se vocês não querem, então eu vou comer. Estou faminto. - Gil decretou, pegando o prato e se acomodando em um dos assentos empoeirados. Ele devorava a comida, sem dar importância ao gosto insosso das batatas podres ou ao azedo do peixe. Ele não tinha muita opção, você tinha que deixar de lado a frescura e comer, se não, você ficava com fome.

Ella suspirou quando Uma se juntou a ela, resmungando algumas maldições contra o estabelecimento e sua mãe, que a obrigava atender aos miseráveis desocupados. Ela não queria ficar presa na loja imunda, sob a sombra de Úrsula. Ela queria escrever seu próprio destino, deixar sua marca no mundo.

— Eu odeio esse lugar. - A loira deixou a sentença escapar de sua boca por acidente. E, pelo que deveria ser a primeira vez no dia, não era uma mentira.

— A Ilha ou o restaurante? - Uma estalou, zombando de sua própria pergunta. Era óbvio a conclusão que receberia.

— Os dois. - Ella admitiu, sem precisar de um segundo pensamento. Ela não tinha dúvidas em relação do que achava da Ilha... E ela sentia-se uma forasteira numa terra que não era sua.

A menina loira se desvencilhou de sua cadeira, brusca. Ela não tinha mais ânimo para permanecer ali.

— Eu estou indo para casa. Minha mãe não gosta que eu fique muito tempo fora... - Ella alegou, amarga. Gothel sempre ficava irritada quando ela desaparecia sem falar nada, o que era muito frequente. E, quando isso acontecia, os castigos impostos eram impetuosos.

— É, sua mãe sabe mais. - Uma murmurou, repetindo o famoso lema de Gothel. Ela compreendia perfeitamente a situação. Nenhuma das duas tinha uma mãe, elas tinham tiranas egocêntricas que, por coincidência, acabaram por ser suas progenitoras.

Ella deu um sorriso triste, rumando em direção a sua moradia. Ela pensava que hoje seria como todos os outros dias, solitários e desesperançosos.

OoOoO

Úrsula estava em um peculiar bom humor naquela tarde. Um passarinho havia lhe entregado uma carta muito interessante. Um convite para o Preparatório de Auradon. Ela não podia estar mais alegre. Essa era sua chance de destruir a barreira e se libertar da prisão que era a Ilha dos Perdidos. Ela teria sua vingança contra a Pequena Sereia e seu Príncipe de araque... Final feliz, eles dizem. Ah, ela iria esmagar suas expectativas e alimentar os tubarões com sua carne.

Seu plano era infalível. Porém só tinha um problema...

— Uma! - Ela chamou com um grito estridente. Ela arrastou seus tentáculos pelo chão, se locomovendo de sua acomodação para o interior de seu estabelecimento.

Sua filha parou o que estava fazendo, pasma. A Bruxa do Mar nunca saia de sua toca, então deveria não deveria ser algo frívolo.

Claire aproveitou da distração dos fregueses e intensificou seu aperto na mão de um pirata, vencendo-o na queda de braços. O homem a encarou, surpreso com a inesperada vitória da jovem. A Hearts deu um sorriso abusado, como se tivesse certeza que iria ganhar, com ou sem a interferência externa.

Úrsula acenou para a filha, mas parou quando viu o bando de tripulantes a mirando, assombrados. Uma careta se esticou em seu rosto, dando-lhe um aspecto ainda mais horripilante.

— O que estão olhando, imprestáveis? Saiam agora ou vou adicioná-los a minha coleção. Sho!- A Bruxa os expulsou, suas olhos negras brilhando em malícia. Não era um ultimato vazio e eles entenderam isso. Ela não necessitava de magia para machucá-los.

Úrsula estendeu um tentáculo, alarmado aos piratas, que se atropelaram na porta da saída, desesperados para fugir de sua vista.

Os únicos remanescentes na Fish & Chips eram os adolescentes filhos dos vilões, que não contavam com a súbita aparição da Bruxa do Mar.

Úrsula sorriu, cheia de si.

— Escutem bem, crianças. Vocês... Quatro? Cadê a outra criatura? - Ela demandou, observando o arredor em busca da jovem que faltava.

— Ella foi embora. - Uma relatou, se aproximando de sua mãe. Sua confusão era evidente e ela não pedia negar a curiosidade que pulsava em sua mente. O que ela queria?

— Maldita Gothel. - A Bruxa do Mar praguejou baixinho. Ela podia apostar que a velha iria tentar encontrar um modo de estragar sua estratégia e arruinar tudo.

— O que está acontecendo? - Gil interrogou, sentindo o clima tenso na loja. O que ele perdera?

Harry e Claire trocaram olhares intrigados, ansiosos para descobrir o que estava se passando.

— Dane-se. Vocês foram escolhidos para... - Úrsula começou, fazendo suspense. Ela tinha o controle da ocasião e adoraria ver a reação das proles dos vilões. Acima de tudo, ela guardaria esse momento e o esfregaria na cara de sua tão odiada inimiga, Malévola.

De repente, a porta foi aberta com rudeza. Três indivíduos irromperam no lugar, se infiltrando no estabelecimento como se fossem os donos.

— Para ir para uma escola diferente... em Auradon! Parabéns! - Rainha de Copas terminou pela Bruxa, seu tom repleto de excitação. Ela mal podia se conter. Seus dias de glória seriam retomados quando ela conseguisse fugir da Ilha.

— O que!? - Os quatro adolescentes exclamaram em uníssono, chocados. Eles sempre foram ensinados que Auradon era lotado de príncipes e princesas mimados que só olhavam para si mesmos. E, de repente, seus pais queriam os despachar para a terra dos contos de fadas? Era loucura!

— Rainha! Não me interrompa! - Úrsula rosnou, odiosa.

— Mãe! Não pode estar falando sério! - Claire bradou em descrença, se virando para a Rainha de Copas. Era uma mudança drástica demais. Quer dizer, a escola era um internato, e em Auradon. As pessoas de lá já foram vítimas de seus pais, ninguém deveria desejar ver os filhos dos vilões vagando livres pelas ruas.

— Eu não vou. Não curto uniformes escolares. - Harry afirmou, sentando-se numa cadeira e colocando seus pés sobre a mesa.

Capitão Gancho empurrou as pernas do menino, fixando seu olhar no dele. Seu sorriso se alargou com a astúcia de um verdadeiro pirata.

— Oh, você vai. E vai mostrar a ChatAuradon do que um Hook é capaz. - Ele advertiu, suas intenções cheias de crueldade. Ele adoraria rever Peter Pan e seu filho era sua passagem para a vingança certeira.

— Vocês vivem reclamando de Auradon. Por que nos mandar para lá? - Gil levantou a questão, sem entender o ponto dos vilões. Que vantagem eles teriam em mandá-los para o Preparatório?

— Porque vocês vão roubar a Varinha da Fada Madrinha e trazê-la para nós. Moleza. - A Bruxa do Mar comandou, quase fazendo com que soasse fácil. Não tinha espaço para erros em seu plano. Esse era o caminho para a dominação do reino, não podiam falhar.

— E nós ganhamos o que com isso? - Uma demandou. Ela não tinha muito interesse em cumprir com a ordem de Úrsula, no entanto se tivesse que o fazer, iria querer uma recompensa pelo desempenho.

A Bruxa do Mar parou, fitando a garota.

— Oh, o que você quiser, menina. Isso, é claro, se a mamãe colocar as mãos na Varinha. - Ela condicionou, apoiando um tentáculo nos ombros de Uma e a puxando para mais perto. Não era um gesto amoroso. Úrsula não tinha intimidade com a filha, mas ela tinha um papel fundamental em seu plano.

— Sim, sim. Pense nos tronos! Nas coroas! -Rainha de Copas assobiou, sonhando com o futuro palácio que ela iria tomar.

— E se eu me recusar? - Claire perguntou, arqueando uma sobrancelha. Ela não sabia se estava a fim de fazer todo o trabalho só para sua mãe ignorá-la depois.

— Você não podem recusar porque nenhum de vocês têm escolha. Acho que não vão querer desobedecer seus pais. - Gaston argumentou, indiferente aos desejos das crianças. Eles tinham um objetivo e fariam o que fosse preciso para alcansá-lo, inclusive forçar seus filhos a irem para Auradon.

— Mas é claro que eles têm uma escolha. - Rainha de Copas contrariou a Gaston, soando mais carinhosa do que Claire se lembrava que ela era capaz. Sua mãe sorriu, suas mãos gorduchas segurando as da mais nova.

— Nós temos? - Claire quis confirmar. Não era do feitio da Rainha ser compreensiva.

— Sim. Vocês podem nos escutar ou podem ficar de castigo pelo resto da vida nessa Ilha miserável. Vocês escolhem. - O tom caloroso de sua mãe camuflava o veneno de suas palavras. As unhas da Rainha de Copas apertaram de leve a pele da filha.

Claire deu um passo para trás, abaixando a cabeça e desviando o olhar. Ela se amaldiçoou em silêncio por ter cogitado a ideia de sua mãe a deixar decidir. Era impossível. O egocentrismo da Rainha nunca a permitiria ser complacente com ela ou com qualquer outro.

Uma cruzou os braços, bufando ao ver que não havia o que ser feito. Eles não tinham voz contra a palavra dos vilões.

Úrsula deu um sorriso largo, sabendo que a discussão havia sido ganha. Não haviam mais obstáculos que os impedissem de destronar a realeza de seus castelos e tomar o controle de Auradon.

— Vilões! Esta é a chance que aguardamos por 20 longos anos! Finalmente teremos nossa almejada vingança! - Úrsula vozeeou em animação, cerrando seu punho no alto.

— Eu terei a cabeça de Alice e da peste da Rainha Branca por roubarem meu lugar de direito! - Rainha de Copas se rebelou, odiosa.

— Bela se arrependerá de ter me trocado por aquela Fera horrenda! - Gaston vociferou, batendo o punho na mesa. A potência do golpe fez o líquido preto das canecas estremecer.

— Eu vou arruinar a vida de Peter Pan, assim como ele destruiu a minha! - O Capitão Gancho esbravejou, maléfico. Oh, ele esmagadaria a felicidade de seu arqui-inimigo do mesmo jeito que Tic-Tac estraçalhou sua mão.

— E eu vou aniquilar aquela sereiazinha e seu príncipe ridículo! Vou arrancar cada escama de sua cauda! - Úrsula escarneceu, rindo histérica com o pensamento de estar livre para fazer o que bem entendesse com Ariel e Eric. Seria impagável.

A Bruxa do Mar se acalmou por um instante, sentindo o peso dos olhares do restante do grupo. Ela pigarreou em desprezo por eles, entretanto rapidamente se recuperou ao se recordar de algo crucial.

— Ah, e antes que eu me esqueça... - Ela começou, esticando um tentáculo para o interior da cozinha. O baque das panelas caindo ao chão ecoava pelas paredes ocas enquanto Úrsula se remexia para alcançar o objeto que ela buscava.

— Aqui está! Meu livro de feitiços e poções! - A Bruxa do Mar cantarolou, trazendo o grosso e empoeirado livro e o pegando em suas mãos. Ela soprou o pó de sujeira, causando algumas tosses incomodadas. Ela não se importou, ao invés disso se concentrou em avaliar um dos últimos tesouros que havia sobrado desde seu exílio.

O objeto permanecia igual ao que era anos mais cedo, com cracas na capa e o desenho de sua concha gravado em dourado. Algumas das folhas das páginas estavam desgastadas. O tempo o envelhecera, afetado pelo passar das décadas - Embora ela e os vilões também sofressem com esse problema - entretanto ainda servia de uso. Os feitiços eram poderosos e bem colocados, como ela sabia por experiência própria.

— Esse livro nunca me decepcionou e, apesar de ser inútil aqui, será indispensável em Auradon na hora de encontrar a Varinha. - Úrsula instruiu, contemplando o livro pela última vez e o jogando no peito de Uma, que se foi obrigada a sustentá-lo em seus braços para que o mesmo não tombasse no solo sujo.

O barulho ensurdecedor da buzina de um automóvel estrondou pelo estabelecimento, sinalização que sua carona para Auradon havia chegado. Não era um mistério para se descobrir, visto que a Ilha não tinha luxos grandiosos como um carro ou uma limosine.

— Eles chegaram. Vamos, vamos. Os imbecis estão lá fora com suas malas. - Rainha de Copas apressou, ansiosa. Ela tinha três capangas guardando as mochilas dos jovens, como escravos obedientes. Ela fora privada de seus soldados anteriores, no entanto havia conseguido uns idiotas para fazer seu serviço pesado.

— Bem, crianças, lembrem-se do que combinamos. - Gaston apontou, sorrindo enquanto observava seu reflexo pelo brilho de uma bandeja. Tinha algo em seu dente...

— E não estraguem tudo. - Capitão Gancho especificou para seu filho, Harry, que fingiu não ter notado. Ele havia aprendido que era melhor ignorar e fingir que não era consigo.

— Garota, estou apostando em você. Não me desaponte. - Úrsula avisou para Uma, parecendo mais ameaçadora do que uma mãe devia soar para a filha.

— Que seja. - Uma retrucou, baixinho. De repente, Auradon não era mais tão terrível e tudo o que ela queria era desaparecer daquele local.


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Notas finais do capítulo

Haha, se chegaram até aqui espero que tenham curtido! Por favor, cometem e favoritem! Críticas construtivas são mais que bem vindas!

BJS!



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