O Mundo de Pocema escrita por Suzanah


Capítulo 9
Capítulo 9: Floralândia




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 Hoje o sol decidiu aparecer com intensidade. Um dia perfeito para um piquenique!

— Que dia lindo, não? — Disse Talita tirando as coisas da cesta.

— Uhum! — Pocema estava bebendo seu suco preferido no canudo. Se é que me entende.

Lokita estava de braços cruzados e emburrada.

— Calma, mana. Tá aqui o seu mel.

Lokita pegou o pote, como posso dizer, com brutalidade. O que era estranho, pois não fazia parte de sua delicadeza.

Ela abriu o pote mais rápido que o olhar de um pavão, pegou, de mão cheia, como se fosse a Talita e comeu, mas logo cuspiu.

— É de mercadinho!

— Putz! — Talita bateu na sua testa — Esqueci de pegar o seu mel!

— Eita, ela perdeu a cabeça.

— O QUÊ?! — Lokita olha para a Pocema de forma hostil. Estranho.

— O papel de doidinha não é seu, Talita?

— Digamos que "doida" é característica de alguns e defeito de outros. — Disse Talita. — Mas agora eu preciso que me faça um favor.

— Diga. — Pocema.

— Preciso que vá a Floralândia pegar minha encomenda.

— Por que eu?

— Não foi muito legal da última vez. Tenho que cuidar da Lokita em seu estado frágil. — Mas e você? Está bem?

— Estou. — Eu vou de metrô!

— Não tem estação perto. Você vai de trem.

— Está bem. — Ela se levantou e foi andando. — Lokita, tente se controlar.

Lokita deu um soco na barriga de sua irmã, que vomitou uma espada, e foi atrás dela.

— Me traga o mel!!! Estou mandando!

Pocema virou-se logo e segurou a espada com a mão e deu uma rasteira nela.

— Ai!- Lokita caiu com tudo.

— Se controla! Não sou sua subordinada! Estou fazendo isso pela nossa amizade!

Lokita sorri e se levanta.

— Você tem razão. — Ela bebe o chá, tremendo. — Traga logo, por-por favor.

— De onde tirou esse chá?

— Eu não sei. — Sorria e tremia. A xícara batia no pires a cada segundo.

— Descobri um defeito seu hoje. Obrigada por compartilhar.

Logo a Pocema foi até a estação e entrou no trem com clima de época.

— Paisagem bonita.

Ao redor do vagão se viam as pessoas conversando, lendo, era um momento incrível e único.

Do seu lado tinha um panfleto sobre a cidade. Sua curiosidade foi aguçada.

— "Floralândia, cidade e fábrica do mel perfeito."... tá.

Depois da viagem de trem, foi precisou de algumas ruas para chegar em um alto portão preto. Sua vista, além do portão, só havia verde. Parecia um jardim de algum gigante.

Tocou a campainha e esperou de um lugar que não transmitia nada além do silêncio.

Uma mulher "ruiva" atendeu.

— Boa tarde. — Seu cabelo era feito pétalas vermelhas e seu caule era um chapéu. Blusa vermelha e macacão feito de folhas verdes de verão. Seus olhos eram verdes intensos também. — Sou Rosa! — Estava suja de terra. — Desculpe, estava plantando girassóis.

— Seu cabelo...

— Quê? Não gostou? Sabia que esse tratamento com adubo era uma farsa!

— É UMA FLOR! — Ela apontou para a sua cabeça, esquecendo seus bons modos.

Rosa deu um risinho amigável.

— Ok, ok, menina com pelos. O que você quer?

— Vim pegar o mel em nome da Talita.

— Pode me especificar de qual Talita a senhorita está falando?

— A bailarina.

A Rosa deu um pulo e olhou para os lados.

— A Lokita não está, ainda bem! Da última vez ela comeu todo o estoque. — Ela encarou a Pocema por um segundo. — Vamos entrando. Vai pegar um resfriado ficando aí fora.

Quando a Pocema entrou, ela colocou os dois pés para dentro do portão e o barulho foi imediato.

Elas andaram tranquilamente. Era uma cidade perfeita. De um lado, algumas "flores-pessoas" colhiam margaridas e amassavam com instrumentos de madeira, era gostoso de se ouvir.

De outro era mais lazer. No meio era um caminho de terra que dividia os dois lados do chão feito de grama, elas estavam a caminho da parte mais urbana.

Elas pararam em frente a porta da cidade.

— Aqui, seu mel chegou.

Uma pequena e atrapalhada Beijinho trouxe o pote, mas deixou cair.

— Beijinho, você sabe o que você acabou de fazer? — Rosa arregalou os olhos.

Coitada da Beijinho, estava sem reação. Então, algum pé de salto agulha, pisou no chão e chamou a atenção delas.

— Brinco?! — Rosa se assustou.

— Senhora Brinco de Princesa, me desculpe! A culpa é toda minha!

— Beijinho. — Ela escrevia na sua prancheta.

— Sim, dona Brinco de Princesa?

— Faça mais mel...agora! — Seus olhos aguçaram.

Beijinho saiu correndo.

— Desculpe pelo nosso erro, senhorita.

— Não foi nada! — Pocema não sabia onde botar a cabeça. Mas algo a fez lembrar algo. — Você conhece a Lola Blue?

— Humpf! Aquela pirralha que não sabe administrar uma casa de boneca? Claro, por quê?

— Nada, só curiosidade. — Pocema pensou em uma semelhança temperamental impressionante.

— Tenho que voltar ao trabalho. — Rosa, cuide da senhorita.

— Sim, senhora.

E foi embora, levando sua elegância junto com seu doce perfume.

— Tudo bem, eu espero.

— Você vai passar a noite aqui.

— Ahn?! Como assim? Vocês vendem todos os dias!

— Lokita prefere a mão. Ela sabe a diferença. Coisa que nem eu sei! E, ainda por cima, feito pelos criadores da receita! Se aqueles velhos Brotos de Bambu tivessem morrido, ela não seria piedosa com o nosso mel.

— O que aconteceu?

— Eles colocaram no mel algo para ela dormir. Tenho pena da Talita. Sua amiga é uma exagerada!

— Concordo.

Uma flor estava entregando jornal.

— Para vocês.

— Obrigada, Violeta. — Disse Rosa gentilmente.

— O que diz aí?

— Um baile! — Rosa deu um grito como se fosse uma adolescente. — É hoje a noite!

— Baile?

— Você veio no dia perfeito! Eu tinha esquecido que era hoje! — Ela dava pulinho. — Vem, vamos para o meu apartamento!

Rosa pegou sua mão e saíram correndo. Pocema pareceria uma marionete sem cordas.

— Deixo minhas chaves embaixo do tapete.

Enquanto a Rosa olhava todas as chaves, uma rosa preta, com espinhos enormes nos braços, passava por trás.

— Oi, Rô!

Ela olhava para elas com cara de morte e entrou em seu apartamento.

— Ela é tímida, não se preocupe.

— Ela é meio estranha.

— Ai, ai, ai, criança! A Rosa é assim por sua rara condição. Temos que amá-la e respeitá-la!

Rosa achou a chave e entraram.

Ela tirou seu caule e pôs no cabideiro.

— Meu cabelo tá uma bagunça! Vou com o meu vestido comprido de rosa.

— Espero que se divirta. Onde eu vou dormir?

— Eu tenho um colchão guardado aqui e.... espera. Você também vai!

— Eu posso?

— Claro, peluda! Tenho um perfeito para você!

Ela escolheu um vestido da sua adolescência. A blusa era tomara-que-caia feita de folhas verdes e a saia era uma rosa branca. Os sapatos são trançados com folhas verdes e de outono.

— Estou muito bonita, Rosa.

— Quase. Só falta tirar esse tapa olho.

— Não, não, não!

— Qual o problema? As flores são mente aberta! — Disse ela puxando esse pedaço de tecido.

— Mas eu não quero que ninguém veja!

— Tudo bem, respeito. — Ela soltou

— Ai meu olho!

Rosa teve uma ideia. Ela tirou, do seu baú, uma pequena cartola e acrescentou folhas de outono.

Pocema tirou seu tapa-olho e tampou o olho exposto com sua mão, enquanto a Rosa a penteava.

— Uma perguntinha: Vocês todos são humanos?

— Claro. Por que não seríamos?

— Porque são plantas?

— Minha amiga peluda, somos parecidos com as plantas, como vocês são dos animais. Vocês têm sangue e nós seiva. — Ela fez um rabo de cavalo nela e prendeu a mini-cartola com grampos.

— Estamos incríveis!

— Eu sei, você tem bom gosto! — Então, vamos?

As ruas de Floralândia eram calmas, mas não desabitado. Foram de carona com o carro da Beijinho.

O lugar tinha um toque clássico e moderno no mesmo ambiente, era lindo.

— Eu vou dançar com aquele cavalheiro ali, e você?

— Eu vou comer alguma coisa. Pode ir, moça romântica. — Pocema fez gracinha.

Ela corou e foi dançar com o moço. Acho que são um casal.

Pocema comia pequenos salgados com o som do violino, isso que é vida!

— Pocema, você por aqui?

Ela olhou para cima e se levantou imediatamente.

— Dona Branca?

— Não sabia que você tinha tantos contatos. — Ela escondeu seu sorriso com o leque elegantemente.

— Não, foi por acaso. E você?

— Fui convidada pelos lendários Brotos de Bambu. Eles são tão gentis!

— Imagino! Devem ser gentis como você.

— Intrigas não são meu forte. Bem, vou indo. Eles estão me esperando, tchauzinho!

— Tchauzinho!

Ela voltou a comer, mas foi interrompida mais uma vez.

— Olá, senhorita. Qual o seu nome?

— Pocema e você?

— James.

— Tem certeza?

— Por que eu não teria?

Ele era um banana, literalmente. E doces da mesma fruta. Cabelo de casca de banana e pele de doce de banana.

— Nada.

— Você quer dançar?

A dança era lenta.

— Você é meio diferente. Você é um príncipe?

— Acertou!

De dança lenta, passou a ser tango. O James se empolgou e a Pocema foi junto.

Ele a girava, passos legais e, uma hora, pegou as mãos dela por trás e rodou, até subir como uma borboleta. Na decida para o chão, as folhas de outono mostraram um pouco do seu olho coberto. Teve curiosos olhando, contudo sem êxito.

E a dança lenta voltou.

— E você? É algum tipo de Dente de Leão? — Ele alisava o cabelo da Pocema inocentemente e depois no seu rosto. Claro que a coitada ficou com vergonha.

— Não, eu sou humana.

— Eu também. — Disse, confuso.

— De origem animal. — Era estranho falar isso.

— Incrível! Você tem pelos!

— É...

— Com licença, cavalheiro. Posso dançar com a senhorita? — Era aquele garoto ladrão de beijo!

— Claro! Até depois, Pocema.

Os dois dançaram por um bom tempo. Pocema estava torcendo para ter um pop, rock, qualquer coisa. Sua boca também não colaborava com as cordas vocais.

— Eu quero pedir desculpas por beijá-la.

— Ótimo! — Seu coração está em constante conflito no momento. Ninguém gostaria de dançar com qualquer tipo de ladrão.

— Não quero que você me odeie. Sou só um garoto apaixonado pela sua dama.

Pocema corou, mas ainda estava zangada com ele.

— Mas eu nem sei o seu nome.

Ele fez um gesto de dúvida em seu rosto.

— De onde você veio?

Ele fez cara feia.

— Não sei, não lembro.

— Você perdeu a memória?

— Acho que sim.

— Sinto muito. — Se eu puder ajudá-lo em alguma coisa é só falar. — De raiva passou para pena.

— Obrigado. Gentileza sua.

Pararam de dançar e Pocema foi tomar um ar no jardim do baile.

— Estou fraca. — Ela sentou nas escadas e ficou cabisbaixa — Minhas pernas estão bambas.- Ela olhou para frente. — O que é isso?

A Rosa (Rô) acariciava um monstro como se fosse um cachorrinho.

— Rô! — levantou-se rapidamente — Ele é perigoso! — Pocema ia até eles lentamente.

Rô sussurrou para o monstro:

Atacar.

O monstro mostrou sua língua pingando saliva, esperando por esse momento. E, como vento, correu e Pocema entrou em pânico, voltando para o baile.

— Saiam todos! Suas vidas estão em risco!!!

Era tarde. A parede foi quebrada por ele. Algumas pessoas estavam paralisadas pelo medo e outras gritavam até ficar sem voz.

— Pocema! — Rosa gritou. — Tira esse monstro daqui! Eu vou proteger as crianças!

— Eu??

— Você pode! Eu acredito em você!

— Está bem! Eu vou tentar! Afinal, faz parte da minha rotina. — Mesmo sem a Lokita e a Talita, eu consigo! — Pocema dispersou o som em sua volta e concentrou sua mente, com toda a sua força. — Senhor, eis-me aqui.

Abriu os olhos e foi em direção ao monstro.

— Você não foi convidado. — Deu um soco nele, fazendo-o bater de costas no teto.

 Pocema deu um pulo e o chutou de volta para o jardim.

Parece que o monstro torceu a pata. Mal podia ficar de pé. Ele começou a tremer e flutuar. Mas ele não sabia voar, era Pocema lá, embaixo dele, que o girou e o jogou para longe.

Pocema não aguentou e ficou de joelhos na grama fofa, com falta de ar.

— Amiga peluda!!! Você está bem? — Rosa vinha correndo.

— Foi... foi a Rô... — Caiu no chão desmaiada.

No dia seguinte acordou em um colchão do lado da cama da Rosa. Porém ela não estava lá.

Deve ser tarde para Rosa não estar mais no quarto, então foi direto se trocar e viu um pote de mel e um bilhete dizendo: " Obrigada e volte sempre!"

Já havia gente trabalhando nas ruas. Parece que ninguém está comentando nada sobre ontem. Olhar as flores era algo relaxante.

Quando Pocema chegou ao portão, olhou para trás e disse:

— Tchau, Rosa.

No trêm, com seu pote na mão, encostou a cabeça na janela, olhando para o teto.

— Sei que sozinha não era possível. Então muito obrigada!

 

*   *   *

Mal o trem chegou na estação e Pocema já saiu correndo, como um foguete!

— Gente, eu cheguei!

— Você foi rápida! — Talita sorria gentilmente.

Ela entregou o pote a sua amiga Lokita, que recebeu com gentileza. Ela abriu e pegou com a mão cheia.

— Delícia!

— Ei, Lokita! Dá um pouco para gente! — Talita olhava com reprovação.

— Está bem.— Talita viu um milagre.

Lokita passou no pão e deu para as duas.

— Esse mel é mesmo delicioso! — Talita.

Pocema olhou com cuidado seu alimento e, finalmente, mordeu.

— Então, o que achou? — Talita queria muito saber.

Pocema engoliu e pensou bem nas palavras.

— Bom.

 


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