O Mundo de Pocema escrita por Suzanah
Depois do meu encontro, a semana ficou tão bela, que desconfio que a minha visão esteja cor-de-rosa!
— Podemos marcar a nossa noite do pijama?
— Eca! Para de falar de boca cheia, Nina! — Disse Carol com nojinho.
— Semana que vem, que tal? — Sugeri. — Já volto, meninas.
Fui até lixeira jogar o papel do meu lanche fora e coloquei um pé na frente pra voltar, quando um garoto tropeçou nele.
— Por que você fez isso?! — O garoto estava catando suas peças de xadrez.
— Me desculpe! Não foi de propósito! — Me agachei para ajudá-lo.
— Claro! Uma burra pondo o pé na frente. Claro que não foi de propósito!
— Como?! — Peguei no seu rosto e o direcionei aos meus olhos. Ele parecia um peixinho.
Eu o estava segurando tão forte, que me deu vontade de quebrar os seus dentes.
— Você deveria olhar para frente e não para baixo.
— E você para os lados, sua burra! — Que ódio! — Nem deve saber jogar xadrez! — Ele arrancou minha mão da cara dele.
— Claro que eu sei!
Ele se levantou e disse:
— Amanhã, no recreio. — Se você fosse inteligente, já estaria de pé! — Foi embora, rindo.
Me levantei rápido. Havia um tempo que eu não ficava vermelha de raiva.
— Ahn...oi? — Era o Miguel.
— Você viu tudo, não?
— Vi. Então você sabe jogar xadrez?
Eu lhe dei um braço e disse choramingando:
— Não!
— Posso te ensinar. Tenho um tabuleiro lá em casa.
— Tudo bem! Vou ligar para os meus pais.
Meu pai atendeu o telefone:
—Eu posso te ensinar!
— Você tem o jogo?
Papai ficou quieto por um tempo, até dizer:
—Tá bem! Mas vai ser aqui em casa! — Pode ser às cinco horas.
— Obrigada, papai! Te amo, beijos! — Miguel, hoje cinco horas, ok?
— Até lá, então!
Mesmo sendo só um treinamento, eu me vesti bem. Um short, uma blusa preta e tranças porque hoje eu quero ser fofa!
Depois coloquei uma mesinha velha e duas cadeiras no meu quarto.
— Já arrumou o seu quatro para a visita? — Disse meu pai entrando no meu quarto.
— Já, pai! — Levei um susto. — Que cara é essa, papai?
— Por que vocês não jogam na sala?
— Ah pai! Todo mundo vai ficar olhando para a gente!
— Pocema, eu não quero ser avô!
Arregalei os olhos:
— Nossa, pai. Que Pesado.
— Vou dar duas opções: Com vergonha e sem bebê ou sem vergonha e com bebê?
— A...primeira...
— Então vai ser na sala!
— Não, não, não!
Eu peguei o braço do meu pai e o puxei para o meu quarto.
— Pode ser no meu quarto e você entrar aqui de vez em quando para nos vigiar, que tal?
Meu pai suspirou:
— Tá, pode ser no seu quarto, mas com a porta aberta.
— Ah não! — Dei pulinhos de birra. — Com a porta aberta e na sala é a mesma coisa!
— Então será sala!
— Que tal com a porta encostada?
— Aberta.
— Meio aberta....? — Insisti.— Por favor, por favor!
— Está bem. Vou estar de olho em vocês, hein?!
— Sim, senhor!
Meu pai saiu do meu quarto e olhei para a minha cama, vazia, e refleti:
— Somos dois adolescentes cheios de hormônios esquisitos! É, não pode dar bola para as tentações.
Eu tive a melhor ideia do mundo! Eu fui correndo para o quarto da Carlota e peguei seu pote cheio de peças de LEGO e joguei tudo em cima da minha cama!
Juro que fiz uma risada maligna, enquanto estava despejando as peças de LEGO sobre a minha cama.
Depois fui para a cozinha comer pão de queijo antes do Miguel chegar.
Eu atendi a porta, fui presenteada com um beijo e sorrisos. Meu pai também sorriu. Afinal de contas, meu pai conhece o Miguel e gosta dele.
— Trouxe uma rosa para a outra!
— Ah, obrigada, Miguel! — Eu só consegui abraçá-lo, de tanta vergonha. — Va-vamos para o meu quarto?
Acho que o Miguel se assustou com as peças de LEGO.
— A Carlota esteve aqui?
— Ah, não. — Ri sem jeito. — Isto aqui é uma armadilha anti-tentação.
Miguel riu tanto que sentou na armadilha:
— Cuidado você...
— MINHA BUNDA!
— O QUE TEM A BUNDA?! — Meu pai entrou no meu quarto, assustado e preocupado.
— Não se preocupe, papai! — O Miguel, acidentalmente, sentou na minha armadilha anti-tentação.
Meu pai olhou para o pobre Miguel antes de dizer alguma coisa:
— Tô orgulhoso de você, minha filha! — Recebi um jóinha.
— Obrigada, pai! — Devolvi o jóinha e o papai foi embora.
— Você é igualzinha ao seu pai. — Gente, o Miguel está até mancando!
— Obrigada! — Sorri.
— Tudo isso vai ser engraçado quando nos casarmos. — Mas agora é só dor!
Paramos de falar da sua poupança dolorida e começamos a jogar. Meu cérebro nunca foi tão usado!
— Nossa, você é ruim mesmo!
— Muito obrigada, "Miguêu"!
— Miguêu?
— Vem de Eu e a letra M de MEU.
— Prefiro Poceminha.
— Na minha cabeça soa mais bonito. Agora não tenho um apelido.
— Pode ser: meu amor, bem, benzinho, amorzinho...
— Seu bobo! — Me levantei e dei um beijinho nele.
— Que amor! — Disse mamãe com uma bandeja com o nosso lanche.
— Mãe!
— Desculpe. Eu devia ter batido na porta, né? Mas olha, estou segurando uma bandeja. — Ela fez de propósito! — Mas o que é isso na sua cama?
— Armadilha anti-tentação...
— Ah, seu pai falou mesmo. Tô orgulhosa, minha filha!
— Valeu, mãe!
Depois de comer, eu estava suando.
— Vai, Pocema. Você sabe para onde ir.
— Sei não...
checkmate!
— Finalmente!
— Olha, só o Ludo deixa esse jogo de coração mole.
— Princesa Xadrêz, não é?
— Você lembra?
— Sim. Foi uma história tocante que me fez rever a minha vida espiritual!
— Que legal! Eu não sabia disso!
Depois de tanto treinamento, ficamos namorando um pouquinho, mas logo sua mãe havia chegado para buscá-lo.
— Você vai vencê-lo, certeza!
— Obrigada!
Esta noite eu me preparei ao nível máximo! Jantei e repeti, tomei um banho quente e coloquei o despertador para dormir às nove em PONTO!
No recreio, eu me sentei na frente daquele garoto, com uma coxinha na minha mão.
— Cuidado com a sua mão de gordura, burra.
— Eu vou te mostrar a burra!
Os meus amigos estavam em volta da gente.
Eu comecei com a primeira peça pequenina.
O jogo foi ficando difícil. Não sei quantas vezes eu mexi com os meus cavalos.
— Ela vai ganhar? — O garoto sussurrou.
Dei um sorrisinho. Já sei o que fazer! Eu usei o castelo e fui para frente, até o final.
Checkmate!
Todos ficamos chocados!
— Eu perdi?
— Eu disse que você é burra!
Fiquei zangada, mas decidi me acalmar.
— Eu treinei tanto... — Decidi me reanimar. — Eu gostei deste espírito competitivo, parabéns! — Estendi minha mão. — Bom jogo!
Ele retribuiu e arrumou suas coisas depressa.
— Eu me chamo Pocema e você?
— Heitor.
— Vejo você amanhã, Heitor.
— O-Obrigado. — Ele sorriu um pouco. — Você não é tão burra quanto parece.
Eu havia percebido que nenhum amigo dele estava presente no jogo. Então deduzi que seu comportamento seja por isso. E também não faz mal fazer mais um amigo.
Espera aí. Não sou tão burra quanto pareço?!
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