O Mundo de Pocema escrita por Suzanah
No recreio, eu fui ao encontro do Miguel.
— O-Oi, Miguel. Tudo bem com você?
— Estou bem. E você, Pocy? — Ele estava sozinho no banco comendo um sanduíche.
Sentei do lado dele e dei um pequeno pedaço de papel para ele:
— Minha mãe pediu para dar o telefone de casa pra sua mãe.
— Obrigado. Elas eram muito amigas. Que bom que ainda dura.
— Ah é?
— Sim, se conheceram na faculdade.
— Que legal!
Miguel contou que os pais dele se mudaram para outro estado e voltaram para cá quando ele tinha cinco anos. Onde nos conhecemos.
Nos sentimos tão a vontade que nem vimos o tempo passar, nem o sinal ouvimos. O sargento que nos chamou a atenção.
Depois de um dia longo, fui para o quarto e dormi direto. Mas meu pai me acordou.
— Pai, deixa eu dormir!
— Acorda. Se não você não dorme à noite.
— Tá bem, vou tomar um banho gelado.
FRIO!!!
— Mãe, posso estudar aqui na cozinha?
— Claro, Pô. — Vou desligar o rádio para não te atrapalhar.
— Obrigada.
Depois de uma hora eu fechei o livro, dando um "estouro". Logo em seguida, o telefone tocou.
Era a mãe do Miguel! Eu fiquei bem quietinha, ouvindo tudo.
— Um beijo, Shirley! Tchau, tchau! — Desligou o telefone. — Vamos para a casa do Miguel neste sábado! Vamos almoçar lá!
— Espera, sábado é amanhã! E o papai?
— Putz! — Não se preocupe, eu vou convencê-lo!
Eu tenho que ficar bonitona!
Corri para o meu quarto e peguei o meu melhor vestido e sapatos.
— Qual maquiagem eu vou?
O batom vermelho não ficaria bom para um primeiro encontro em família.
O marrom..... na verdade eu nem sei que momento se usa essa cor. Vou com o rosinha claro mesmo.
Eu contei tudinho para a Ana de noite.
——Amiga, vocês se amam!- — A Ana é muito romântica. Assim, bem mais do que eu.
—Não inventa! As pessoas mudam!
— Mas o amor de vocês, não! Certeza! — Até eu estou namorando!
Meu coração parou.
—Como?!
— Você não viu o meu status de relacionamento?
— Desculpe, eu não estou entrando muito. Só entro para falar com você.
— O Colégio Militar é tão exaustivo assim?
— Não é isso. É que o mundo real está mais interessante.
— Viu?! Eu disse que você gamou!
— Não! É que estou em uma "caça ao tesouro".- — Enfim, eu vou dormir agora.
— Mas hoje é sexta!
— Mas eu estou cansada. Boa noite!
— Boa noite! ♥
No dia seguinte, eu acordei às sete da manhã.
— Mãe, eu estou com fome.
— Você quer que eu frite um pão com ovo?
— Por favor. — Bocejei ao sentar na mesa.
— Não está ansiosa para ir na casa do seu namoradinho? — Daniel tá muito chato, hoje!
— Ele não é meu namorado! — Gritei furiosa para ele.
Meu pai abaixou o jornal que estava lendo e disse:
— Pocema não tem namorado. — O olhar dele não estava nada agradável.- Nós vamos lá para ver a amiga da mãe de vocês e só.
— Sim, papai. — Nós dois dissemos, com medo.
Quando foi 10:00h, saímos de carro. Soube que o Miguel morava em uma casa.
O almoço vai ser um pouco diferente, vamos cozinhar com eles. Fazer o quê?
Tocamos a campainha.
— Bom dia à todos! — Disse Miguel. — Sejam bem-vindos!
— Muito obrigada! — Mamãe lhe deu um beijo. — Você cresceu, hein? Está lindo!
— Muito obrigado. A senhora também!
Entramos e fomos bem recebidos por todos. A mãe do Miguel é um amor e muito linda! O pai era gentil e barbudo. Era uma barba bem legal.
— Nós fizemos a grande parte! — Disse a mãe do Miguel. — A casa é de vocês também!
— Pocema, vem o feijão está pronto!
A cozinha e a sala eram uma só, divididas por um pequeno muro.
— É, acho melhor você fazer essa parte. — Ele riu.
— Medo da panela de pressão, não é?
— Não cheguei nessa parte, ainda. — Eu disse, nervosa.
— Tudo bem, eu faço. — Você pode fazer a salada?
— Posso!
O som da couve não era o suficiente, então eu decidi puxar assunto:
— Você sabe cozinhar ou é só o feijão?
— Eu sei. Eu gosto muito de cozinhar! E você?
— Eu sei. Mais coisas comuns, menos o feijão.
Ele riu, até demais e eu continuei:
— Mas parece que você está em um nível mais exótico.- Eu apontei, com os olhos, um polvo ou lula, eu sei lá!
— Você vai gostei, eu aposto!
—Que sorriso bonito! — Suspirei.
— Obrigado! — Ele me ouviu?!
— Quer dizer, os sorrisos neste dia de sábado! Num almoço diferente! — Eu quase me cortei.
— Eu concordo!
Acho que eu já sabia de tudo isso sobre ele. Me sinto bem com os esforços de nos conhecer novamente.
No almoço, eu nem queria comer arroz e feijão! Ficava até sem graça com tanta coisa diferente.
Ah! Aquele polvo estava bom, de verdade.
Depois do almoço os pais conversavam no sofá:
— Pocema, Daniel, querem ver o meu quarto?
Subimos um andar e o quarto era pequeno e azul.
— Legal, você tem muitos quadrinhos! — Daniel estava animado.
— Legal, você tem um skate! — Eu disse. Ele não tinha cara de quem andava de skate.
— Faz um tempo que eu não ando nisso, he he.
Ficamos olhando mais um pouco as coisas e o Miguel me chamou:
— Ei, vamos para o quintal?
— Tá, claro! — Me virei para o Daniel.— Nós vamos no jardim. Você vem?
— Podem ir. Vou ler esta revistinha! — Ele estava bem feliz.
O quintal era o pequeno espaço mais bonito que eu já vi!
— Uau! Que lindo, Miguel!
— A gente brincava muito aqui!
— É mesmo?
— Aqui havia muita criança. Acho que eu era popular. — Ele riu.
— Acredito! Com um lugar desses, até as minhas bonecas gostariam daqui.
— Você ainda tem bonecas?
— Ah, não, não, não! Só umas pelúcias!
— Eu ainda tenho um pouco. É legal você ter uma memória da infância.
Ele me olhou um pouco nervoso:
— Quer dizer, eu não queria ofender você! — Ele sacudia as mãos em desespero.
— Relaxa!- Dei um tapinha nas costas dele. — Afinal, você contou uma verdade, não?
— Bom, sim. — Ele ainda parece envergonhado.
O Miguel olhou para o lado, depois para o outro e pegou uma pequena flor.
— Esta flor se chama beijinho.
— Ela é muito bonita. — Guardei no bolso do meu vestido.- Obrigada!
Depois voltamos para a sala e por ali ficamos. — Eles falavam tanto do passado quanto do futuro.
Senti o meu cérebro "fresquinho"! Como se uma informação estivesse prestes a vir.
Depois voltamos para a casa. Eu pensei em descansar, dormir, mas não! Foi um inferno!
Eu, encolhida no sofá, com o rosto corado e as mãos tampando a minha face, sofrendo bullying do Daniel:
— "Que sorriso bonito!". Os dentes dele são perfeitos, ahn?! Beija ele! — Ele fez som de múltiplos beijos.
—Beija ele é errado. O certo é beijá-lo. — Minha voz falhava.
— Então admite que quer beijá-lo!
— NÃO QUERO!
— QUER SIM!!
Minha mãe apareceu da cozinha para me defender:
— Daniel, para de fazer sua irmã passar vergonha!
— Mas foi ela quem disse que o sorriso dele era bonito!
— Se você continuar, eu vou te fazer engolir o meu chinelo! — Não a levem a mau. Minha mãe é um amor, mas há horas...
Daniel se calou, mas já começou outra vez:
— Amanhã vai ter culto.
— Como assim? Nem conhecemos uma igreja aqui.
— Os pais do Miguel indicaram para a gente. — Ele se levantou com ar de deboche. — Deve ser estranho ver alguém que você gosta de domingo à sexta-feira!
Eu joguei uma almofada nele e gritei em outra para abafar o som.
—Socorro...
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