Arisu escrita por JuliaMolinari


Capítulo 10
Capítulo 10: Arrependimento


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, mais um capitulo... Pessoal, eu ando sem inspiração ultimamente, sinto muito >o



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― Sim... Eu gosto...

Arisu continuou parado, chocado, olhando para o mais velho. Abriu a boca como se fosse dizer algo, mas fechou-a rapidamente, tentando assimilar o que havia escutado.

Haruka moveu os ombros desconfortavelmente, com o rosto um pouco, mas só um pouco corado. Então, suspirou, e tornou ao seu ar agressivo, porém brincalhão.

― Não vai falar nada? ― Perguntou ao mais novo.

Arisu pareceu despertar de algum transe. Encarou ainda confuso o amigo, finalmente se pronunciando.

― Você só pode estar brincando.

Foi a vez de Haruka ficar chocado. Respondeu com a voz azeda.

― Acha que eu brincaria com uma coisa dessas? É o tipo de piada que não se costuma fazer. Então, vai me dar uma resposta decente ou não?

O pequeno deu um passo para trás, intimidado com a pressão na voz de Haruka. Um turbilhão de sentimentos o envolvia, e o garoto não conseguia distinguir nenhum. No entanto, um deles começou a se sobressair aos outros.

― Se gosta de mim, então por que fez algo que me magoaria?!

― Hã...?

― Por que estava maltratando a Rika-san?!

Dessa vez Haruka ficou furioso, deixando a raiva pela menina transparecer.

― Você não sabe quem ela é de verdade! Ela está se aproveitando de você!

― Então prove!

O loiro recuou. Não sabia mais o que dizer. Balançava na dúvida de contar tudo e ferir o menino, e ficar quieto, deixando Arisu bravo com ele.

Arisu percebeu a insegurança do mais velho.

― Então, não tem motivos...? ― Perguntou sério. Haruka não respondeu. ― Certo. Não temos mais o que conversar.

Ele deu as costas à Haruka, e foi embora sem dizer mais nada. O sempai fez menção de segui-lo, pará-lo, mas se conteve. Por algum motivo não conseguia tomar uma atitude... Só conseguia ficar lá parado, admirando as costas do amado, e sentindo um aperto no peito.

 ...

Na manha seguinte, os dois se cruzaram no portão da escola. Arisu olhou para ele, mas rapidamente virou o rosto, deixando Haruka perplexo, parado em frente ao prédio. O loiro sentiu novamente aquele sentimento melancólico, e por fim migrou para sua sala, cabisbaixo.

O pequeno não conseguia acreditar naquilo! Seria mais uma brincadeira do sempai? Mas não tinha graça nenhuma! Uma declaração daquelas... Que piada de mau gosto. Além disso, não podia perdoar o comportamento dele com a Rika...

Entrou na sala ainda absorto em seus pensamentos, quando alguém chegou do seu lado, encostando em seu ombro.

― Bom dia Arisu-kun. ― Disse Rika com seu sorriso dissimulado ― Muito obrigada por ontem... Não sei o que teria acontecido se você não tivesse aparecido naquela hora.

― Ah, Rika-san... Bom dia. ― Ele deu um sorriso desanimado. ― Aquilo não foi nada de mais...

― Não, estou realmente grata! ― Ela falou enquanto se aproximava mais ― Podemos ir embora juntos hoje?

Arisu corou. Rika estava dando atenção para ele?! E ainda o chamara para ir embora com ela... Talvez o dia não estivesse tão ruim assim.

― Mas... Eu tenho atividade do clube... Vou sair tarde.

― Ah, eu também! Acabei entrando no clube de clube de culinária... Então, me espera as cinco no portão?

― Claro!

Isso o animou um pouco. Sentou-se feliz na carteira, mas logo a imagem de Haruka veio em sua cabeça. A imagem do rosto dele... “Droga sempai, pare com isso!” Pensou Arisu. “Pare de me atrapalhar...”

A verdade era que o rosto de Haruka não saía de sua mente desde o dia anterior. Aquela expressão, que ele nunca testemunhara antes, o intrigava. Parecia uma mistura de sofrimento, remorso e timidez. Timidez? Não, impossível para Haruka... Mas... O que era aquilo então? Por que tinha a sensação de que o sempai estava triste? E principalmente, por que ele mesmo estava se sentindo tão triste também?

Encaminhou-se para o clube desanimado. No entanto, chegando lá tratou de respirar fundo e procurar energia em algum lugar dentro de si. Tinham muito trabalho a fazer, limpar os canteiros, replantar tudo, molhar as sementinhas e colocar adubo na terra. Sim, ficara muito triste com o ocorrido, mas precisavam se recompor e arrumar o lugar novamente. Ele precisava ser forte.

Se bem que... Se isso tivesse ocorrido um tempo atrás, ele ficaria mais abatido. O que o encorajara? Antes, aquele clube era tudo para ele. Não se importava com as gozações e piadinhas em relação a isso, desde que pudesse continuar fazendo o que tanto amava: cultivar. Então, logicamente, deveria ficar muito mais machucado com tudo aquilo... Mas não ficara.

Sim, fora Haruka. Se ele não estivesse com Arisu àquela noite, provavelmente seria muito pior... Foi o que o pequeno pensava, corando automaticamente. Tudo por causa de Haruka. Estava até surpreso com sua própria determinação. Antigamente, teria ficado chorando como um bebê durante dias. Porém, lá estava ele, firme e forte trabalhando. E nem tinha agradecido o sempai...

Sentiu um peso no estomago. Certo, Haruka tinha feito coisas ruins naquele dia, maltratado Rika... Mas ele não era uma pessoa ruim. Provavelmente não tivera má intenção... Arisu ainda não entendia aquele seu comportamento, mas agora não estava mais tão bravo. Estava preocupado. Preocupado com a expressão que Haruka fizera no dia anterior, uma expressão que parecia que o loiro torturava a si mesmo, e se recusava a mostrar o que realmente sentia ao menor.

Talvez se ele tentasse conversar... Sim, diálogos sempre são a solução. Ainda queria saber o motivo daquela atitude bruta ― Arisu a repudiava. Garotas devem ser tratadas com gentileza, era seu ponto de vista. Conversaria com o sempai e o diria isso. Haruka podia ser um narcisista, mas também tinha um pouco de humildade, e costumava escutar o ponto de vista do menor ― menos, é claro, quando tentava assediá-lo... Se bem que isso não vinha ao caso.

Terminou as atividades do clube determinado a conversar com o amigo. Isso o animou um pouco, o peso na consciência diminuíra... Certo, também havia sido teimoso e até um pouco grosseiro, mas estava nervoso na hora. Agora, pensando melhor, podiam se resolver civilizadamente.

Na verdade, bem no fundo, ele estava triste por ter brigado com o sempai. Haruka tinha defeitos, e não eram poucos, mas depois de tanto tempo de convivência... Depois de tudo aquilo, realmente se tornara um amigo para o pequeno. E ele valorizava muito isso.

Avistou Rika parada no portão, e teve uma idéia. Talvez, se Haruka a conhecesse melhor, passariam os três a se dar bem. Afinal, ela era uma menina muito gentil e educada, ele não tinha motivos para não gostar dela. Essa confusão toda era falta de diálogo, com certeza.

― Oi Arisu-kun! ― Falou ela sorrindo. ― Como foi no clube?

― Tudo bem. ― Respondeu num tom simpático. ― Mas trabalhamos bastante, estou exausto.

― Parece mesmo... Que tal pararmos numa lanchonete antes de ir pra casa?

― Pode ser. ― “Isso, vou numa lanchonete com a Rika-san! Ah, que felicidade...”

― Eu realmente preciso te agradecer por ontem... Você me salvou. Obrigada.

Ela abriu um sorriso contagiante para ele, pondo a mão em seu ombro. Arisu corou um pouco.

― Já disse que não foi nada... Não sei o que deu no sempai.

― Ele ficou agressivo de repente! ― Disse ela fazendo um biquinho ― Eu não sabia o que fazer...!

― Mas você disse alguma coisa pra ele...? O sempai não costuma ser indelicado assim... ― De certa forma isso não era mentira. Arisu nunca tinha visto o amigo tratando mal uma menina.

― Eu só perguntei como você estava... Já que vocês são amigos...

Por acaso... Por acaso Haruka estava com ciúmes? Foi o que passou pela cabeça de Arisu. Mas, ainda não tinha certeza se aquela declaração era verdade... E se fosse mesmo?

― Arisu-kun, eu acho que você não devia andar com alguém como ele... ― Continuou ela se aproximando mais do menino. ― Eu achava que o sempai era uma boa pessoa, mas agora desconfio que não seja... Ele parece perigoso.

Arisu se afastou. Não sabia por que, mas aquele gesto e aquele comentário o incomodaram.

― Isso não é verdade ― Tratou de defender o loiro. ― O sempai é uma boa pessoa, só não entendo por que essa atitude dele. Você não devia julgá-lo assim...

― Mas você viu o que ele fez, não? ― Ela cortou-o ― Ele é um cara violento.

― Você não...

― Você mesmo viu! ― Ela fez cara de santa, como se estivesse preocupada com o menino. ― Também tem uns boatos por ai que ele sai com mulheres mais velhas suspeitas... Você não acha isso horrível?

― Chega! ― Arisu parou de andar, e encarou-a bravo. ― Você não conhece ele, não pode falar essas coisas.

― Ah, me poupe, tá na cara que ele não presta. É um bruto, insensível e perigoso. Não me admiraria se ele estivesse metido com drogas também.

O menino se assustou com o tom de voz dela. Não era mais a garota gentil que conhecia... Tinha um tom seco, maldoso, cheio de sarcasmo. E isso o irritou mais ainda.

― Cala a boca. – Meu deus, por que tinha sido tão grosso? Mas... Não conseguia suportar aquela garota ofendendo seu amigo. Simplesmente não aguentava. Aquela não era mais a Rika que gostava tanto... Era algo diferente, algo ruim.

Ele se afastou dela furioso, e viu que a menina não gostou desse gesto. Franzindo as sobrancelhas e aumentando o tom de voz, Arisu continuou a defender o amigo.

― Haruka-sempai é uma pessoa maravilhosa! Ele é atencioso, e gosta de ajudar os outros. Pode ser um pouco egoísta, mas sempre que você precisa, ele está lá. Também é muito inteligente e nem por isso se tornou arrogante.

Foi a vez da menina se afastar, contorcendo a expressão normalmente bondosa numa cheia de raiva, de rancor. Arisu surpreendeu-se com ela, mas não parou.

― Ele não julga as pessoas pela aparência e as trata igualmente, não importa quem são. E é um bom amigo! Sei que tem defeitos, mas todos nós temos. Mas nunca, nunca ele machucaria alguém ou se meteria com algo ilegal. Agora, não consigo suportar ouvir você falando tais absurdos sobre ele!

― Hunf ― Resmungou a menina ferozmente ― Cale a boca você! Mas que droga, não adiantou nada tudo o que eu falei para você se afastar daquele imbecil, você continua sendo ingênuo e bonzinho. Sabia que isso me irrita?

Arisu olhou para ela chocado. Era mesmo com Rika que estava conversando...?

― É isso mesmo. Eu queria afastar você daquele idiota. Porque ele só pensa em você, o tempo inteiro... Que ridículo! Queria mais era ver ele sofrendo mesmo... Dar atenção a um menino, ao invés de mim? Inaceitável, além de nojento.

Ele sentiu-se tonto e confuso com tudo aquilo. Um peso começou cair sobre seus ombros, arrependimento do que fizera. Haruka estava certo... Rika não era nada do que ele pensara. Era algo horrível!

― Como pôde fazer tudo isso? ― Gritou alterado ― Eu briguei com o sempai pra te defender!

― Há, parabéns bobão. Brigou com a pessoa que mais se preocupa com você. Ele estava te defendendo quando avançou em mim. Porque eu tinha feito o seu precioso Arisu ficar triste.

― O que quer dizer com isso...?

― Quero dizer que fui eu que destruí todo aquele seu jardinzinho ridículo, e o idiota do Haruka descobriu. Então ele veio pra cima de mim, por sua causa.

O ouvido dele começou a zumbir. Essa não... O que tinha feito? Por que confiara naquele monstro que estava em sua frente agora? Tinha acusado injustamente o amigo... O melhor amigo. Por sinal, o único verdadeiro amigo que tinha. Não conseguia reprimir o arrependimento. Haruka provavelmente estava sofrendo agora... Tinha que resolver isso! Mas primeiro...

― Eu achava que você era uma pessoa bondosa. ― Falou o menino friamente.

― Ah é? Pois se enganou. É isso moleque, eu não sou o que você acreditava. Eu só fingia! Estava só te usando! ― Depois, mudando de tom de repente, a menina falou mais baixo. ― Não acredito que ele foi se gostar de alguém como você... Logo você, que é tão... Comum. Tão normal, sem charme. Isso me deixa louca!

Ela arfava um pouco, os punhos fechados numa atitude de tensão. O sorriso de sempre sumira, rugas se espalhavam pelo rosto outrora liso. A compreensão veio para Arisu enquanto a observava e ouvia, devagar, porém muito clara. Parecia que aquilo tudo fazia mais sentido agora.

― Você está com ciúmes. ― Falou triunfante.

― O que foi que disse?!

― Que está com ciúmes ― Repetiu ele dando ênfase na ultima palavra. ― Ciúmes porque gosta do sempai e ele não te dá atenção.

― Seu...

― Pois não vai tê-lo. ― Arisu a cortou novamente, também assumindo um tom maldoso. ― O sempai é uma pessoa maravilhosa e você não o merece. Não vai tê-lo, nunca, porque ele viu quem você é de verdade. Viu que você é horrorosa.

Rika recuou, tremendo, estupefata. Inesperada era a atitude do menino, normalmente tão bondoso, que pegara a jovem desprevenida. Ela arregalou os olhos, enquanto uma pequena gota de suor escorria pelo seu rosto.

Mas aquilo não durou muito. Recuperando a compostura, enxugou a única gota da testa com a manga da blusa, e assumiu um ar de desdém. Porém, ainda mantinha os punhos fechados e trêmulos, o que Arisu pôde reparar.

― Hunf. Já me cansei disso. ― Abriu um sorriso, mesmo que inseguro. ― Já me cansei de vocês! Chega! Espero é que os dois tenham uma vida de merda juntos!

Arisu abriu a boca para replicar a praga, mas ela o impediu. Tacando o dedo em seu peito, falou ainda mais ameaçadoramente, tremendo de raiva.

― Melhor sumir da minha vida mesmo! Me recuso a perder mais tempo com isso tudo! Sabe de uma coisa? Vocês se merecem. E nenhum vale à pena.

Dito isso, virou-se bruscamente e tratou de correr, logo virando uma esquina e sumindo. O garoto continuou parado olhando desfocado por alguns minutos para o caminho no qual ela desaparecera, confuso e perdido com tudo o que se passara.

Por fim, despertou com uma bela dor de cabeça, e um peso enorme no estomago. E só conseguia pensar em uma coisa naquele instante.

“Me desculpe sempai... Eu sinto muito...”


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews?? Por favor, por favor, por favor? *3*"