Great Expectations escrita por isa, Jones


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Mais um hoje encerrando a primeira parte da historinha!



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Naquele verão de 1995, Harry James Potter fez 15 anos e ganhou o primeiro bolo de aniversário que não foi completamente devorado por Duda Dursley. Ele também ganhou passagens de avião e foi com um misto de terror e alegria que, também de maneira inédita, entrou dentro de uma caixa metálica voadora ao lado de seu padrinho rumo a Espanha.

O país era colorido e... Escaldante. Harry coletou muitas memórias de estar dentro d’água até sentir os dedos enrugarem. Ele também adquiriu muitas lembranças divertidas e constrangedoras de Sirius Black respondendo a flertes tanto de mulheres quanto de homens, sem distinção ou preferência. Nessa primeira viagem em família, o menino sentiu que a admiração que nutria pelo padrinho florescia em todas as direções.

Hermione Jean Granger também viajou com os pais para o país que eles já visitavam tradicionalmente, a França. Dessa vez, no entanto, eles aproveitaram a inauguração do Eurotúnel para fazer a passagem de trem, de modo que a menina teve tempo para atualizar – tanto na ida, quanto na volta – alguns dos muitos livros que estavam na sua lista de leitura, já que Oliver e Margareth pareciam tão satisfeitos com o seu ano escolar (tanto no sentido acadêmico, quanto social) que haviam adiantado alguns livros que a filha havia pedido de aniversário.   

Já Ronald Bilius Weasley viajou apenas da escola para casa e foi lá onde leu as muitas cartas dos amigos, enquanto matava o tempo dividido entre tomar sol, pular no córrego que margeava a casa, roubar frutinhas do pomar e jogar futebol com os irmãos (quando não estava muito bravo com algum ou vários deles).

Não era nada muito emocionante, mas foi melhor do que as férias de Simas Finnigan, que, de volta à Irlanda, não teve nenhuma distração boa o suficiente e precisou aturar o primo mais velho, Fergus, que tinha uma predisposição incrível para implicar com ele durante todo o tempo de descanso. E nem mesmo isso chegava aos pés do verão de Neville Longbottom, que passou metade do tempo dividido entre a própria casa e o hospital por conta de uma crise de saúde da avó.

Dean Thomas também não passou muito bem na viagem para os Estados Unidos, onde o padrasto (a quem ele considerava como pai) e a mãe brigaram quase que o tempo todo. O mesmo, surpreendentemente, aconteceu na Mansão Malfoy, por algum motivo que Draco jamais soube. No fim das contas, seus pais haviam decidido fazer uma viagem para reequilibrar o casamento e o garoto passou o verão inteiro sozinho (se desconsiderarmos, é claro, a companhia do pequeno batalhão de empregados que os Malfoy tinham).

Padma e Parvati Patil foram com os pais para a casa de veraneio que possuíam. Lilá Brown, para o desespero de Padma, também foi como convidada. Embora a garota fosse obrigada a socializar com a irmã e a melhor amiga dela sempre que seus pais estavam presentes, ela fugia em todas as oportunidades possíveis para ver os dias escorrerem em quietude, paz e um pouquinho de tédio.

Tédio esse que na verdade era compartilhado por Parvati e Lilá, embora Padma jamais pudesse supor. Longe da escola, das fofocas diárias e de seus respectivos closets, as meninas passaram dias agradáveis sim, mas arrastados demais. E talvez essa tenha sido a razão para o curioso evento que começou certa noite, quase de maneira despretensiosa: o acordo entre as duas de que seria divertido, além de didático, treinar beijos uma com a outra enquanto não encontravam pretendentes bons o suficiente. De repente, o verão adquiriu novos tons. Era excitante ter um segredo. Era ainda melhor fazer parte de um.

E assim a estação passou para todos eles, concedendo alguns centímetros para uns, bronzeados para outros e mudanças hormonais e psicológicas para todos, de modo que, quando Harry James Potter acordou no dia primeiro de setembro de 1995, ele se sentia um garoto muito diferente do que fora na mesma data no ano anterior.

Com o uniforme já posto, ele devorou o café-da-manhã com um apetite redobrado e quase se esqueceu da mochila enquanto corria para a bicicleta (novinha em folha) que brilhava convidativa, reluzindo ao sol da manhã. Sirius precisou correr atrás dele com a bolsa e com o capacete (o item que Harry tinha voluntariamente deixado à mesa), antes que ele pudesse pedalar animado até a rua de Hermione.

Eles haviam combinado de dispensar o ônibus escolar e tentar ir durante toda a primeira semana de bicicleta. Harry pela adrenalina e Hermione porque tinha começado a ler sobre modos de vida sustentáveis (e também porque aquele era o único tipo de atividade física que tolerava). Chegando perto de onde ela morava, Harry apertou a sineta três vezes de propósito, mesmo que a garota já estivesse esperando no jardim da frente.

Os amigos trocaram algumas poucas palavras de cumprimento antes de seguirem viagem. Hermione precisou gritar umas três vezes para Harry ir mais devagar e, em todas, Potter acertou o passo, envergonhado por deixa-la para trás. Quando já estavam quase perto da escola, em uma estrada sinuosa margeada por árvores de ambos os lados, levaram um baita susto com o barulho e a velocidade de um BMW Z3 prateado que passou zunindo por eles.

A risada do motorista era tão familiar quanto as caras debochadas que agora gargalhavam e apontavam para eles dos bancos de passageiro enquanto o automóvel ganhava distância. Harry e Hermione travaram o maxilar com raiva enquanto pensavam em ofensas criativas para designar Malfoy e seus dois cães de caça. Os dois tinham quase certeza que o garoto ainda não podia dirigir, mas, ainda assim, ali estava ele, guiando um carro como um alucinado.

— Bom, tirando a hora que nós quase morremos por conta daquele babaca... – Harry disse enquanto desafivelava o capacete. – Acho que foi uma boa experiência.

— Sim, acho que sim. – Hermione concordou, ainda recuperando o ar ao ajustar o guidão ao bicicletário de chão.

Eles olharam um para o outro de maneira vitoriosa. O cabelo de ambos, naturalmente volumosos, pareciam ter atingido um novo recorde após a aventura. Harry, que até o ano anterior ficaria inseguro quanto a sua própria aparência, achou que isso fazia deles mais descolados – era possível que a convivência com Sirius estivesse surtindo efeitos.

— Pronta para um novo ano? – Potter inquiriu, se oferecendo para carregar a bolsa dela, já que Hermione ainda parecia um pouco asmática.

— Eu nasci pronta. – Granger brincou, agradecida por ter se livrado do peso da mochila.

*

Pisando na grande escola pela primeira vez, a última dos Weasley daquela geração a passar pelos portões de Hogwarts não poderia estar mais emocionada. Havia alguém tão nervoso quanto ela com um walkman de fones de ouvido ouvindo Gangsta's Paradise em um volume absurdo numa tentativa tão óbvia de ser legal que a fez girar os olhos para o irmão mais velho enquanto jogava o cabelo ruivo comprido demais para trás.

Ginevra Weasley respirou fundo enquanto cruzava os portões e tentava ficar fora do caminho dos mais velhos que usavam suas roupas diferentes e diversos símbolos de suas casas de maneiras interessantes: fossem no colete cinza, na gravata colorida ou mesmo na jaqueta. Tudo parecia incrível.

E ela também se sentia incrível, experimentando a sensação de parecer de certa forma mais adulta e não apenas a irmãzinha mais nova que ficava em casa enquanto os irmãos tinham toda a diversão. Não mesmo! Dessa vez ela seria a pessoa com mil histórias sobre os próximos quatro anos em Hogwarts para contar. Isso a fez suspirar de maneira sonhadora. Aquele era o primeiro dia do restante de sua vida.

Já na fila para orientação ela conheceu aquela que seria sua melhor amiga pelos próximos anos, embora ainda não soubesse.

— Gina Weasley. - se apresentou para a menina de olhos claros e cabelos muito loiros que a estava olhando sem parar.

— Eu estava encarando, não estava?  - a outra lhe lançou um sorriso simpático e calmo como sua voz doce e angelical. - Todos dizem que eu tenho essa mania.

Gina se permitiu observá-la por um segundo, apenas para retribuir o constrangimento. A garota usava uma saia comprida com pequenas flores amarelas e azuis, uma blusa de um tecido que esticava, mas ainda assim parecia um pouco maior que ela, com listras brancas e azuis, além de um cardigã acinzentado que nada tinha a ver com o restante de sua roupa. Somando às suas tranças loiras que se encontravam em seu cabelo meio preso, ela parecia ter se teletransportado de duas décadas atrás.

— Agora você estava encarando. - ela sorriu delicadamente. - Luna Lovegood, sou de aquário.

— Não sei o que isso significa. - Gina confessou com as mãos nos bolsos das calças jeans novinhas. Era a única Weasley que tinha esse privilégio.

— Quando é seu aniversário?

— Onze de agosto. - a garota ruiva não entendeu o porquê da pergunta, mas respondeu de bom grado com um sorriso no rosto.

— Leonina. – Luna a olhou novamente da cabeça aos pés. - Decidida, corajosa, carismática e charmosa. Acredito que seremos boas amigas.

— Ah é? - Gina perguntou. - Por que?

— Porque ar espalha e alimenta o fogo, bobinha. - Luna sorriu para Gina enquanto a fila da orientação ia se afunilando.

— Tudo bem, se você está dizendo... - Gina retribuiu o sorriso e caminhou com Luna. 

Perto delas, mas ainda sem conhecer nenhuma das duas, Hermione passou pelos calouros com certa nostalgia do ano anterior. Fora naquele primeiro dia que tinha conhecido seus inseparáveis melhores amigos, embora isso não fosse tão claro à época.

Amigos esses que agora corriam para o grupo de orientação para encontrar a lista de matérias disponíveis e escolherem algumas. Diferente deles, Hermione já tinha sua lista preparada antes mesmo de entrar de férias. Ela tinha matérias selecionadas pela Professora Orientadora da Casa, Minerva McGonagall, desde o semestre anterior, mas avisou para Harry e para Ron que eles poderiam fazer geografia, história e literatura juntos, já que nesse semestre ela faria pré-calculo e física avançada a parte.

— O que você pegou esse semestre? - Hermione virou-se no susto para a voz ansiosa a suas costas.

— Ah, oi Padma. - ela respirou fundo, recuperando-se da surpresa e sorriu. As duas não tinham conversado muito desde o último baile. - Pré-calculo e física avançada e você?

— Peguei pré-cal, física e química avançada. - Padma fez uma careta. 

— Snape, McGonagall e Flitwick no mesmo semestre? - Hermione sorriu pegando sua pasta no armário. - Boa sorte.

— Você é mais de humanas e eu das ciências exatas. - Padma observou rindo. -  Mas sim, ainda precisarei de toda a sorte do mundo.

Hermione sorriu para aquela que tinha tudo para ser uma amiga em potencial: riam das mesmas coisas, gostavam de conversar uma com a outra e eram igualmente introspectivas. Mesmo sem saber se estava dando um passo além do que deveria, perguntou de uma vez:

— Estou pensando em pegar alemão I. - com as mãos nervosas, apertou as alças da mochila. - o que você acha de ser minha dupla?

— Uh, alemão parece desafiador o suficiente. - Padma sorriu estendendo a mão. - Partiu. – e com isso elas selaram, ainda que sem saber, o começo de uma amizade sólida.

*

Para Remo John Lupin, o primeiro dia de aula valia por um semestre inteiro e era sempre o mais difícil. Conhecer alunos novos, auxiliar nos processos pedagógicos de boas-vindas que exigiam a atenção de todo o corpo docente, rever os alunos antigos, conferir as pautas, as pastas e os múltiplos cronogramas ainda com o corpo desacostumado pelas férias o deixavam exaurido.

Ao longo dos dias – ele sabia – as coisas adquiriam organicidade e viravam rotina, mas no primeiro ele sempre repensava suas escolhas profissionais de vida. Foi nesse contexto que adentrou o Três Vassouras já no fim do seu expediente, desejando nada além de um copo grande de café amargo. Ele se sentou em um banco alto do balcão, agradecendo internamente pelo estabelecimento parcialmente vazio e massageou o lado direito do pescoço que estava travado e dolorido.

— Início difícil? - Tonks perguntou, servindo-o antes mesmo que ele fizesse o pedido. Ela já conhecia todas suas predileções do cardápio e a hora que Lupin se sentia mais propício a fazer cada uma de suas escolhas diárias. Era seu cliente mais metódico e previsível.

— Sim. - murmurou, deixando-se respirar fundo ao sentir o aroma forte e bom do café - Obrigado.

— Disponha. – e porque ela era sempre tão atenciosa, Lupin decidiu encará-la, abrindo um meio sorriso fechado. Havia algo nos olhos furta-cor de Nymphadora Tonks que sempre fazia com que o professor se perguntasse se eles eram castanhos, azuis, verdes ou violeta. Variava com a luz e naquele instante pareciam ser de um verde musgo bonito.

Tonks o olhou de volta e talvez porque Lupin parecia realmente alguém que precisava, ela tirou um pequeno tablete de chocolate de um dos vidrinhos expositivos e o depositou na palma da mão dele de maneira discreta, como se oferecesse algo ilícito.

— Cortesia da casa. - piscou, girando nos patins para atender uma mesa, sem tempo de conferir o desconcerto que o gesto simples provocava nele.

Lupin olhou para a embalagem brilhante em sua mão e a escondeu no bolso antes de beber um longo gole de sua bebida. Há alguns metros de distância, Tonks não tinha nem como imaginar que havia acabado de fomentar um novo hábito para Lupin, que dali há alguns anos passaria a ser conhecido como o professor que sempre tinha uma barrinha de chocolate no bolso para oferecer aos seus alunos nos dias em que eles estivessem se sentindo potencialmente miseráveis.


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Notas finais do capítulo

Ansiosas por esse segundo ano? ;)