Quando certa manhã Harry James Potter acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num colegial. Não havia nada em seu corpo físico que validasse essa afirmação, mas o calendário pregado na parede de seu novo e grande quarto não o deixava se enganar: era 1 de setembro de 1994, o seu primeiro dia em Hogwarts, a escola secundária de referência naquele calmo e onírico vilarejo onde agora ele morava com Sirius.

Harry tateou a escrivaninha com as mãos em busca dos óculos ao mesmo tempo que pulava da cama. Não havia volta agora: ele era irremediavelmente um adolescente. Ele mal podia esperar para saber o que isso significava longe o suficiente da rua dos Alfeneiros. Esfregando os olhos, Potter começou a se preparar.

— Dia. – Sirius cumprimentou quando o viu descer as escadas.

— Dia. – Harry respondeu, olhando-o de relance. Ele era o adulto que menos se parecia com os adultos que ele conhecera até então: Sirius usava um kimono florido como robe; havia prendido o cabelo escuro desgrenhado de qualquer jeito no preparo do café da manhã e agora olhava Harry com indisfarçada esperança de agradar.

Potter olhou para o prato que tinha diante de si. Dois ovos fritos com gema mole que pareciam olhos esbugalhados de desenho animado olhavam-no de volta e um generoso pedaço de bacon imitava uma boca sorridente.

— Obrigado. – Harry murmurou, quase sem graça. Havia passado uma infância miserável com os Dursley até a decisão judicial que transferira sua guarda para o padrinho, três meses antes do seu aniversário de quatorze anos. Ele ainda não estava acostumado com todos os pequenos gestos de carinho.

—  Imagina. – Sirius abanou a mão que ele havia queimado há menos de meia hora na frigideira como se não fosse nada. – Grande dia hoje, hm? Como você está se sentindo?

— Bem. – ele respondeu, incerto, ao mesmo tempo em que, há cinco ruas de distância, uma garota de cabelos esvoaçantes dizia o mesmo para a sua mãe.

— De verdade? – a mãe em questão era a senhora Granger e ela encarava sua filha única com olhos clínicos preocupados.

— De verdade, mamãe. – Hermione garantiu, tomando um gole de suco de laranja. Ela vinha sendo um alvo fácil desde o inicio de sua vida escolar, agora pelo menos ela se sentia adulta o suficiente para não chorar escondida no banheiro. O fato de que já não usava aparelho ortodôntico também parecia um ponto a favor.

Ela havia lido tudo o que havia para ler sobre Hogwarts – sua formação, inauguração, método de ensino e história – e se sentia preparada.

Era diferente de Ronald Weasley, que há um raio bem grande de distância segurava um malão com uma mão já suada. Ele havia despertado antes mesmo do sol nascer por conta da distância de sua casa até a escola e agora rezava para que o Ford Anglia velho da família não quebrasse no caminho. Dirigindo, seu pai não parecia ciente de suas aflições e cantarolava algo incompreensível de um jeito distraído.

Nenhum dos três alunos – ou os muito outros que também se preparavam para iniciar o segundo ciclo da escola secundária – sabiam ainda como suas vidas se entrelaçariam ou desentrelaçariam no decorrer dos próximos anos. Mas todos eles guardavam grandes expectativas.