Feitiço do Tempo escrita por Isa G


Capítulo 5
Capítulo Cinco — Interações


Notas iniciais do capítulo



Anteriormente: Lily está com a posse de um pergaminho misterioso. Houve atentados em Londres. Remus e Lily descobrem que talvez sejam os próximos Monitores-Chefes.



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Dia seguinte, quarta-feira, 1º de dezembro

A goteira do teto ditava o ritmo do pé impaciente que Lily batia contra o chão encardido, verificando a hora mais uma vez, com os braços rudemente cruzados sob o peito.

O almoço ainda deveria estar sendo servido no Salão, saíra sorrateiramente algum tempo atrás. O cheiro forte de alvejante misturado com esgoto a deixava nauseada naquele banheiro, que estava em manutenção desde sempre.

Olhou-se no espelho mais uma vez. Ela estava com uma das costumeiras camisas brancas totalmente abotoada, o cabelo grande em um rabo preso e uma saia cinza dois dedos abaixo dos joelhos, como deveria ser. Uma coisa que não se via todo dia era o tom levemente rosado dos lábios.

Ouviu passos e a porta sendo aberta em um rangido chato.

— Está atrasado — disse secamente, não se importando em virar o rosto na direção da entrada, acompanhando o recém-chegado pelo reflexo do espelho.

— Perdão, o corredor não está tão vazio assim. — Ele chegou mais perto. — Não esperava uma carta depois de tanto tempo, sendo franco. Vem, vem aqui... — e passou a mão em sua cintura, envolvendo-a em um aperto, e com a outra chegando ao pescoço. Capturando seus lábios com certa selvageria, sem poupar queixo e bochechas pelo caminho, e Lily, sem perder tempo, liberou espaço para suas línguas entrelaçarem, em uma mistura do seu gloss com o gosto mentolado dele.

Ela aproveitou para empurrá-los à cabine próxima enquanto o rapaz começava seu trabalho com a própria camisa. Passando as mãos no peitoral dele, suspirou rouca.

Em um rompante, os botões da blusa de Lily abriram num efeito cascata, e com a clavícula a mostra, ele traçou caminhos com a boca quente e urgente, no que seu corpo respondia com arrepios.

Ela agarrava firmemente os cabelos cacheados do garoto, roçando seu joelho entre as coxas dele. Com a respiração ofegante, Lily virou de costas, segurando-se no cume da divisória. Ouviu o cinto cair no chão em um baque oco e ele levantar a longa saia com habilidade, como se não fosse a primeira vez que faziam isso.

(...)

Ainda com os cabelos úmidos do banho rápido, Lily forçava um grosso livro para a pilha em frente à bibliotecária. Era seu período livre antes de uma aula dupla de DCAT agora à tarde.

— Mais um livro, senhorita Evans? — A mulher baixinha a media por cima de grandes óculos lilás, quase escorregando do nariz fino.

A garota suspirou.

— Prometo entregar todos na próxima vez, Madame Pince.

Recebendo um olhar duro, Lily rumou para a saída logo depois com as mãos cheias. Resgatou o pergaminho brilhoso do bolso, que estava mais quente que o normal, apoiando-o nos livros enquanto dobrava uma esquina, em direção à aula.

Virara um hábito ficar admirando-o e esperando que algo escrito reaparecesse.  

Um movimento atrás denunciou alguém indo pelo mesmo caminho agora, e era uma de suas pessoas menos preferidas do mundo.

— Evans...! Evans! — chamou James Potter, aproximando-se.

Lily segurou o impulso de revirar os olhos e aumentou o passo.

— Diabos, Evans, espere aí!

Ela, sabendo que estavam indo para a mesma classe, por fim, deu-se por vencida, esperando ser alcançada.

Lily percebera agora que em nenhum momento naquele ano letivo ele a chamara para sair. O que era uma tremenda surpresa, pois, James nunca perdia a oportunidade de humilhá-la desde que a viu tentando convidar Theodore, um rapaz que já se formara, para sair no seu quarto ano — ninguém poderia negar que ela era uma garota de atitude mesmo aos quatorze anos.

Normalmente ele a seguia, correndo em seu encalço na saída de uma aula ou a interceptava no meio da mesa da Grifinória, de maneiras extremamente exageradas e desrespeitosas – especialmente quando ele o fazia imitando o sotaque enrolado de Amos Diggory no processo, por quem Lily costumava ter um fraco.

E previu o que aconteceria.

Agora um de frente para o outro no corredor, ele passou a mão nos cabelos em uma tentativa falha de ajeitá-los após a pequena perseguição e arrumar a mochila nos ombros.

— Evans, preciso dar uma palavrinha com você.

Ela torceu o nariz, pigarreando.

— Pois muito bem. Já adianto que não estou para gracinhas.

James estalou a língua.

Na verdade, é um favor.

— Desculpe?

Ele encolheu os ombros de leve, recostando-se na parede do corredor, com os braços cruzados, a cabeça meio inclinada olhando para Lily.

— Preciso de um favor. Não é para mim, tá legal? Mais como... para o bem da Grifinória.

Lily ergueu uma sobrancelha e também o imitou, cruzando os braços. James tinha a atenção dela agora.

— Esse ano o time está mais alinhado que nunca e, como capitão, — James estufou o peito. — ...preciso dele completo nos treinos. Pela primeira vez ninguém está com o bunda fedida mofando na enfermaria, isso deve ser algum tipo de recorde!

A garota chiou com a escolha de palavras.

Logo, seria de interesse comum os monitores da nossa Casa pegarem mais leve nas detenções. Esse ano podemos empatar com a Sonserina em números de troféus, imagino que saiba.

Ah.

Lily piscou. James Potter realmente estava tendo uma conversa com ela.

— Eu... não posso acobertar Black – respondeu lentamente, o olhando com cuidado. — Sinto muito? — ofereceu, um pouco ácida.

Ele endireitou-se e balançou a mão em desfeita.

— Não estou falando do Pads, ele é caso perdido mesmo — um pequeno sorriso travesso escapou dos lábios dele e ela estreitou os olhos, aproveitando para encará-lo da cabeça aos pés. Estava com a camisa fora da calça e a gravata pairando frouxa no pescoço. Lily ergueu o olhar quando ele completou: – Mas Greg e Mary precisam de todo o tempo disponível para treinar, acabaram de passar nos testes. É caso de vida ou morte! Eu não posso ficar dando uma de babá durante um jogo decisivo.

Ela trocou o peso dos pés, pensando por um momento.

— Bom, veja bem o meu lado, ok, Potter?

— Evans-

— Greg tem uma séria compulsão em matar aula. Seríssima, devo dizer. Nem foi eu quem o pegou nas últimas vezes, aliás. E quanto à Mary... três vezes achada em um armário de vassouras? Quero dizer, sério?

Os olhos de James brilharam, provavelmente ia fazer alguma piada, mas mudou de ideia rápido vendo o tom usado pela colega de turma.

— Pensei que vocês duas fossem amigas... — comentou, um tanto incerto. — bem, de qualquer forma, não se preocupe com isso, estou eu mesmo lidando com esses furos. Mas se eles saírem um pouquinho da linha, dê um desconto, está bem? Precisamos de vocês do nosso lado. Até McGonagall entrou nessa. — confidenciou. Ele parecia relutante, mas sussurrou baixo: — Te devo uma, acho.

Lily mexeu no cabelo, sem olhá-lo.

— É, bom, que seja.

— Excelente! — disse, agora com um sorriso de canto. Fez menção de voltar a andar, mas parou logo em seguida. — Ah, tem mais uma coisa...

Voltou-se para ela no momento em que revirava os olhos.

— Por acaso estou com cara de fonte dos desejos? — Lily não saberia dizer se essa frase fazia o mesmo sentido no mundo bruxo, mas tinha a certeza de que ele não entenderia em todo caso.

— A poção. Você ainda não entregou a poção.

— Para que quer um energizante, afinal? — James não respondeu, continuou esperando uma resposta melhor. — Raios. Tudo bem. Entrego hoje mesmo, ok?

Nesse meio tempo os olhos de James foram atraídos pelo papel pousado acima do amontoado de livros nos braços de Lily, e chegou a abrir a boca parecendo formular um comentário, mas balançou a cabeça.

— Ótimo, ótimo.

Lily franziu o cenho e o viu recomeçar a caminhar. Ela o seguiu com um atraso estratégico em direção à sala de aula, incomodada com toda essa sequência de eventos.

(...)

O resto da semana passou rápido e já era sábado, o grande dia em Hogsmeade.

Lily sentia-se agradecida por nunca ter passado por todo o estresse que envolve marcar encontros românticos. Tentara alguns anos atrás, sim, mas hoje em dia achava uma besteira dispensável e até mesmo brega.

Iria passar o dia com Marlene, provavelmente uma ida à Dedos de Mel e relaxar no Três Vassouras o resto do tempo.

Todavia, a amiga a fez parar na TrapoBelo assim que chegaram. Lily não teve escolha a não ser ir na onda e comprar alguma coisa também. Saiu com um par de vestes novas e um conjunto de roupas íntimas que foi a parte mais divertida, com as duas escolhendo entre risadinhas.

Quando chegaram ao bar preferido dos estudantes de Hogwarts, restava poucos lugares naquela tarde fria de dezembro. Em um instante perdera Marlene de vista, engolida pela multidão também.

Logo Lily fora interceptada por Fabian Prewett, um companheiro de monitoria. Ele estava com um suéter quadriculado marrom e creme e cabelos pregados na cabeça com um gel duro.

— Ah, Lily, que surpresa agradável aos olhos, aceita uma cerveja? — convidou, em um jeito que para ele soava galanteador.

Com licença — cortou ela, passando por Fabian torcendo o nariz e avançando na esperança de ser atendida rápido.

Encontrava-se batalhando ombro à ombro para atrair a atenção de Rosmerta agora.

— Os marotos não estão em lugar algum! — Lily entreouviu Frank Longbottom reclamar com Dorcas Meadowes, no lotado balcão do Três Vassouras. A garota não havia notado a ausência de seus colegas de casa, mas pensou ser talvez por essa razão que estava se divertindo tanto no dia de hoje.

— Parando para pensar, não vi nenhum deles ontem... — Foi a resposta da quintanista para o amigo antes de Lily fazer seu caminho finalmente para a mesa que avistara pouco tempo antes, com dois canecos abastecidos.

Chegando lá, Lily observou Emmeline e Mary em companhia de Marlene. Estavam muito sérias e dando tapinhas nos ombros da loira.

— Não chore, Mary... Ele deve ter tido um bom motivo para não aparecer e se não tiver, cuido dele com minhas próprias mãos!

Aparentemente o garoto com quem Mary marcara um encontro não aparecera também. As garotas adoravam usar códigos quando falavam de alguma pessoa fora do dormitório, mas Lily não era muito inteirada nos assuntos das suas colegas, à exceção de Lene, de quem verdadeiramente era próxima agora, contudo, resolveu mostrar um pouco solidariedade.

— Ah, não fique assim não, garotos são estúpidos mesmo, não tem nada dentro daquela cabecinha de titica deles. E vem e vão, você vai ver — piscou ela, sentando-se.

— E o que você sabe sobre isso, visto que nunca esteve com ninguém? — questionou Mary, mau humorada, recebendo um lenço amassado de Emmeline para assoar o nariz.

Lily levantou uma sobrancelha, dando de ombros, e resolvendo dar um longo gole na cerveja. Prometeu para si mesma repensar nesse negócio de ser legal, afinal.

(...)

O sábado e o domingo passaram sem qualquer sinal dos marotos. Frank disse para as meninas durante o jantar que viu Peter pela noite rapidamente no dormitório, mas logo desapareceu sem nenhuma explicação. Agora era segunda-feira, com um período duplo de Transfiguração, e, mesmo com Lily muito irritada, aparentemente a Prof.ª Minerva McGonagall não via nada de anormal na ausência de seus alunos mais encrenqueiros.

 — Gostaria de saber como Potter não quer que o time fique desfalcado se até mesmo ele não comparece às aulas! — esbravejou ela, quase derrubando o filhote de furão que precisava transfigurar em uma caixa de giz.

— Talvez a mãe de Remus não esteja bem de novo? Sabe como eles são, qualquer problema com um, é problema com todos — pontuou racionalmente Emmeline na mesa do lado.

— Ou talvez seja o próprio Remus é quem não esteja bem. Lembram daquela febre terrível no início das aulas? E a pneumonia? — questionou Marlene, enquanto tentava reanimar seu furão após um feitiço mal sucedido.

A garota apenas balançou a cabeça, duvidando de qualquer uma dessas possibilidades, mas cansada demais para argumentar qualquer coisa.

Aproveitando a ausência momentânea da professora, que saíra irritada seguindo o zelador para resolver algo, a mesa atrás das meninas, de um grupo da Grifinória do qual não eram próximas, comentavam sobre o atentado no subúrbio de Londres.

— ...Malfoy foi visto por lá mais cedo naquele dia...

— ...eu não consigo me lembrar dele aqui em Hogwarts. Estávamos no primeiro ou segundo ano quando esse cara se formou?

Lily imediatamente resolveu programar sua mente para bloquear esse assunto e buscar uma distração forte o suficiente. Desesperada, cutucou Mary, pigarreando.

— Você disse que viu Sirius Black saindo da sala do zelador semana passada, acha que foi ele quem espalhou pó de mico por lá esses dias?

A garota inocentemente desatou a narrar a história e Lily suspirou de alívio.

(...)

Uma quarta-feira com duas aulas de História da Magia, uma de Astronomia, outras duas de Aritmancia e um teste de Runas Antigas no último período eram o tipo de coisa que a fazia acreditar que outra Lily tenha feito os seus horários esse ano.

Precisava agora ir para o outro lado do Castelo onde aconteceria a Reunião de Monitores.

Com o recesso de Natal chegando, deveriam alinhar as coisas para o próximo ano, e era sempre com a mesma ladainha. Dessa vez Lily recebeu o aviso em cima da hora – ninguém consegue ser organizado nessa escola?, e os Monitores-Chefes dariam alguns avisos, talvez os cronogramas de vigia dos exames finais estariam prontos também, Fabian Prewett espirraria durante toda a reunião causando repulsa em quem estivesse ao lado e Christopher Wilkes faria algumas piadinhas, distraindo todo mundo.

Lily chegou no exato momento que Remus Lupin dobrava o corredor no lado oposto. Ela o esperou para entrarem juntos.

— Ei, Lily. Como você está? – perguntou amigavelmente quando a alcançou.

Ela ensaiou um sorriso. Os garotos reapareceram sem maiores explicações ontem. Remus estava com o aspecto pior do que a última vez que o vira, definitivamente.

— Bem. Apenas algumas letras de Runas enublando minha cabeça até agora. Conseguiu remarcar seu teste? – perguntou ela como que puxando assunto. Quem dera ela tivesse tido a oportunidade de fazer o teste depois. Aquela droga de questão de verbos flexionados definitivamente arruinaria sua nota cheia.

Eles sentaram-se um ao lado do outro na ampla mesa quase lotada.

Ele encolheu os ombros.

 — Tenho ainda que entregar os trabalhos atrasados antes disso.

— Bom, se quiser alguma ajuda é só dizer. Não posso acreditar no seu azar, ter uma reação alérgica forte dessas!

A resposta de Remus foi abafada pela voz de Louis Jorkins, o monitor-chefe e também goleiro, da Corvinal.

— Pessoal, vamos nos aquietando que hoje será longo o falatório – ia dizendo ele e a monitora-chefe, Amelia Bones da Lufa-lufa, lhe deu tapinhas nas costas de consolo, e Lily não pode deixar de notar os olhos inchados que ela ostentava. Pela cara de enterro deles, as notícias não eram nada animadoras.


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Notas finais do capítulo

Voltei, pessoal! O que estão achando?


comecei uma shortfic Jily para o Halloween, quem quiser dá um bizu. beijossss! ♥



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