Por que tem dois Poodles na minha frente... escrita por Haruyuki


Capítulo 1
...se eu só tenho um?




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"Boa noite, eu sou Katsuki e estamos neste momento nos preparando para a nossa Live Streaming diária. Nesses tempos de pandemia, eu espero que todos estejam bem e não se esqueçam de respeitar as regras de segurança estabelecidas pelo governo de sua cidade. Hoje é sábado, o que significa que iremos para o Game Review da semana. O escolhido é Persona 5 Royal, que eu tenho para PS4. Na tela, eu vou começar a mostrar o início do jogo, onde eu irei traduzir para inglês o que está escrito. Não se esqueçam de deixar suas curtidas e seus comentários, e se você ainda não é inscrito, basta clicar no botão e ativar o sino para receber notificações.

E com isso, terminamos mais uma Live Streaming e eu gostaria de pedir suas opiniões sobre o game nos comentários. Quero aproveitar para informar que fui desafiado a jogar Fate/Extra para PSP com a personagem Caster nas duas rotas + Shiki. Basta sintonizar amanhã no mesmo horário de sempre, às 22h. Até amanhã, pessoal. Ja mata ne!"

"Boa noite, meu nome é Katsuki e estamos neste momento nos preparando para a Live Streaming diária. Hoje, domingo, é dia de ser desafiado e dessa vez, temos Fate/Extra com o personagem Caster com as duas rotas + Shiki para PSP. Enquanto estamos no prólogo, eu vou explicar um pouco sobre a série Fate da Type-moon e sobre essa versão.

Jogar com Caster, Tamamo-no-Mae, é considerado como jogar no modo Hard, então a minha sugestão para upar ela é abusar dos respawns de cada fase e tentar estudar os padrões de movimento de cada adversário para realizar com sucesso sequências triplas que dão direito a um ataque extra.

Os três primeiros inimigos são os mesmos para as duas rotas. Nós temos a Rider, o Archer e a Caster. Na segunda parte, Assassin e Saber também são os mesmos, mas Berseker e Lancer mudam de acordo com a rota que você escolheu, afinal tanto a Rin quanto a Rani são mestres também. Como eu vou começar com a Rin, a Rani se tornará minha inimiga. Mas primeiro eu preciso enfrentar o maldito palhaço…

Shiki é essa personagem que originalmente pertence à Kara no Kyoukai, também da Type-moon e sinceramente, ela é mais difícil que o Last Boss, então… boa sorte!

Rin Tohsaka loira. Ai meu deus…

Agora vamos escolher a rota da Rani, onde teremos mais dois personagens interessantes, como Arcueid, que pertence a Tsukihime e o Lancer de Fate/Stay Night - servo presente no game além do Archer, que pode se tornar seu servo no início do jogo - que vira servo da Rin.

E é isso. O desafio de ambas as rotas com Shiki usando Caster sem mortes foi completado com sucesso. Nas minhas redes sociais, eu estou acabando de postar a enquete para vocês escolherem o jogo onde eu irei dar início ao detonado amanhã de noite. Ja mata ne!"

Eu solto um longo suspiro, largando o PSP na mesa e me levantando da cadeira, indo para a geladeira e pegando uma garrafa de água gelada, bebendo longos goles dela. Limpando minha boca, eu olho para o relógio do meu celular e soltando um longo suspiro ao ver que são mais de 3 da manhã.

"Vamos terminar o dia." Eu digo, retornando para a sala.

Eu desligo meu computador, meu laptop, o PSP e o monitor e pego uma cartela com cigarros, o meu isqueiro, meu celular e um suéter, indo até a porta e a abrindo.

"Vicchan!" Eu chamo, a abrindo e dando risadas ao observar meu Toy Poodle sair correndo para fora. 

Enquanto ele explora o meu quintal, eu acendo um cigarro e me sento na escada, olhando para o céu nublado e curtindo o silêncio por um tempo até pegar o meu celular e botar meu cantor japonês favorito para tocar. 

Um bom tempo depois de terminar de fumar, eu abro um sorriso ao ver Vicchan se aproximar de mim e se deitar no meu colo, ofegante. Eu o acaricio, esperando até que meu celular descarregue e ele adormecer para retornar para dentro de casa com ele nos meus braços. 

Mas antes de entrar em casa, eu percebo que a luz do lado de fora da casa do vizinho está acesa, para a minha surpresa, pois até onde eu sabia, a casa estava para ser alugada há um tempo.

Por acaso alguém se mudou para ela e eu não percebi?

Dou de ombros e eu entro na minha casa, desligando as luzes dos cômodos e deixando Vicchan na minha cama. Eu tomo um banho e visto meus pijamas, finalmente indo dormir.

"Oyasumi, Vicchan." 

Eu acordo minutos após ao meio-dia com Vicchan lambendo o meu rosto, e vou para a cozinha comer um sanduíche e chá, colocando um pouco de ração e água para Vicchan. Enquanto ainda estou comendo, eu ligo o meu PSP e começo a jogar nele a fim de acabar a bateria, algo que não demora muito para acontecer. Ao escutar os latidos de Vicchan, eu vou até a porta e a deixo aberta, o vendo sair para o meu quintal com um sorriso no rosto.

Eu ligo meu PC, enquanto coloco o PSP para carregar e passo a checar meu e-mail, redes sociais do meu canal no YouTube e acessar alguns sites da internet para fazer algumas compras. Eu me levanto e pego minha cartela de cigarros e meu isqueiro, indo para fora para fumar um. Fico a observar meu Poodle correndo pelo meu quintal, lamentando o fato de que eu não posso sair com ele por causa do Lockdown causado pela pandemia do Covid-19. 

Mas então eu arregalo os olhos e me engasgo ao perceber que estou vendo não um Poodle mas dois Poodles pequenos de pelo marrom brincando no meu quintal. 

Espera, o que?

"Vicchan!" Eu chamo, tirando a bituca da minha boca e a colocando no vaso pendurado que eu sempre uso para apagar os meus cigarros.

Para a minha surpresa, um dos pequenos Poodles late e vem na minha direção, sendo seguida pelo outro. Noto que este tem uma coleira cor de rosa, o que me faz deduzir ser uma fêmea e que ela já tem dono.

"Olá, pequenina." Eu digo, estendendo a minha mão para ela cheirar, o que ela faz antes de a lamber animadamente. "Hmm. De onde você veio?"

Mas ao checar a coleira, não vejo nenhuma identificação. E então, Vicchan late antes de entrar em casa, algo que a outra Poodle também faz e eu vejo os dois bebendo água. Na cozinha, eu lavo as minhas mãos e a minha boca na pia, colocando cômoda e mais água para eles logo em seguida, observando curiosamente que a Poodle de coleira rosa também come. Vicchan late novamente e sair correndo para o meu quarto, sendo seguido pela outra Poodle, e quando eu vou para lá, eu a vejo tentar subir na minha cama, até conseguir e... se deitar ao lado de Vicchan?

Que diabos?

Eu me afasto da porta, coçando a minha cabeça e retornando ao meu PC, me sentando na cadeira com um longo suspiro e me preparando para digitar uma nova fanfic e talvez ainda hoje a publicar no AO3. Estalando meus dedos, eu boto para tocar meu cantor preferido, Suga Shikao.

Com o suor e o vento frio daquela noite marcando a minha pele, me sento no banco daquele parque vazio, vendo minha respiração ofegante se tornar fumaça, que logo tende a desaparecer. Vestindo apenas uma calça jeans, um par de tênis e uma camiseta simples azul, eu não estava preparado para passar noites frias em um ambiente como aquele. O dinheiro que eu tenho preciso guardar para comida, e eu pergunto se deveria comer um pouco da minha janta, que consegui aprontar antes 'daquilo' acontecer. Olho pra caixa na minha mão e a abro, percebendo que estava tudo bagunçado.

“Como se um milagre pudesse acontecer...“ Começo a dizer, parando ao ver o rosto redondo de uma menininha apoiado em suas mãozinhas.

Ela me olha com curiosidade, e eu lhe dou um sorriso, achando fofo o par de maria-chiquinhas nos cabelos negros dela.

“Boa noite.“ Digo, tampando a caixa.

“Boa noite.“ Ela fala, estendendo a mãozinha esquerda. “Tô com fome.“

“Ehhhh?“ Pergunto, assustada.

O que devo fazer? Mas...

“Então abra a boca. Digo, dando um suspiro.

Ela obedece e eu abro a caixa, partindo um pedaço de omelete e dando na boca dela. Ela mastiga, tocando nas bochechas e engolindo.

“Delícia!“ Ela diz, com um largo sorriso.

“Fico feliz que tenha gostado.“ Digo, pegando um pouco de arroz e dando pra ela.

Ela mastiga e engole, e então ela me pergunta.

“Onee-chan que fez?

“Sim.“ Respondo, a sentando no banco e dando minha marmita pra ela comer.

“Uau, Onii-chan é um gênio!“ Ela fala, sorrindo, e então eu percebo algo.

“Onde estão seus pais, menininha?“ Pergunto, a fazendo perder o sorriso.

“Mama...“ Ela começa, mas então escutamos uma voz masculina.

“Mio! Onde está você, Mio?!“

“Aqui, Papai!“ A menininha fala, contente.

Ela está contente? Então por que da cara triste de logo antes? Ela falou 'Mama', então algo aconteceu com a mãe dela? Mas... Não é como se eu pudesse me intrometer assim sem mais nem menos, né?

‘’Ah, que bom que você está segura.‘’ Um homem bem jovem, de cabelos negros bastante bagunçados se aproxima correndo.

Noto seus olhos marrons por entre os óculos de armação azul, e os acho belíssimos. Ele então a vê comendo da marmita e me nota. Eu me curvo, o cumprimentando.

‘’Boa noite.‘’ Digo, voltando a posição normal.

‘’Boa noite... Ei, não vai me dizer que...‘’ Ele começa a dizer, apontando para a marmita.

‘’Aqui, Papa!‘’ A menina, que parece se chamar Mio, fala, estendendo para ele um pedaço de omelete. ‘’Tá delicioso e foi Onii-chan quem fez!‘’

‘’Sério?‘’ Ele pergunta, me olhando. ‘’Não tem problema ela comer?‘’

‘’Bem, eu quis dar pra ela, então está tudo bem.‘’ Digo, dando um sorriso ao mesmo tempo que aperto as minhas mãos.

Ele então pega o omelete e come, surpreso também.

‘’Isso realmente está bom.‘’ Ele fala, lambendo os dedos. ‘’Você fez tudo mesmo?‘’

‘’Sim.‘’ Respondo, o olhando com surpresa. ‘’Sou bom em afazeres domésticos.‘’

De repente, solto um espirro e me abraço, começando a me tremer de frio.

‘’Ué, você não tem casaco nem nada?‘’ Ele pergunta, surpreso.

‘’Não, eu... não pude trazer nada.‘’ Digo, e minha barriga começa a roncar.

‘’Ei, o que significa isso?‘’ Ele pergunta, e eu abaixo o rosto. ‘’Não vai me dizer que a marmita que Mio comeu era... sua janta?‘’

‘’Eu estou bem. Eu vou me virar, de algum jeito.‘’ Digo, ainda de cabeça baixa.

‘’Então deixe-me acompanhá-la até sua casa.‘’ Ele pede, e eu ergo o rosto, sorrindo.

‘’Não precisa. Eu não quero atrapalhá-lo.‘’ Digo.

‘’Onii-chan, aqui.‘’ Escuto a menina e a olho, vendo-a me estender a caixa vazia.

‘’Nossa, você comeu tudo mesmo.‘’ Digo, pegando a caixa e a fechando.

‘’Estava delicioso.‘’ Mio-chan fala, e então solta um bocejo. ‘’Mio com sono.‘’

‘’Oh, já é hora de te colocar pra dormir.‘’ O homem fala, a pegando no braço.

Ele me olha e se curva de leve.

‘’Obrigada por ficar de olho na minha filha e dar comida a ela.‘’ Ele diz, me deixando embaraçado.

‘’Não, não.‘’ Digo, agitando as mãos. ‘’Eu é que gostei da companhia que ela me fez, mesmo que seja por pouco tempo.‘’

‘’Entendo.‘’ Ele fala. ‘’Então, boa noite.‘’

‘’Boa noite.‘’ Digo, vendo-o se virar e começar a se afastar.

Começo a tossir e tento me massagear para combater o frio, em vão. Então olho pra cima, vendo o céu estrelado por entre as árvores. Minha barriga ronca de novo, o que me deixa depressivo.

‘’Economizar, economizar.‘’ Digo, e então percebo alguém se aproximar.

Pela roupa, era um policial.

‘’Menino, levante-se.‘’ Ele fala.

Eu obedeço, ficando de pé..

‘’Você não pode passar a noite aqui, Devo atuá-lo em flagrante. - Ele fala, me agarrando no braço direito,

— O quê? Mas devem ser 8 ainda. - Digo, sentindo dor no braço.

— Calado! Não ouse contrariar um policial! - Ele grita, no que eu tento me soltar dele.

— Então me mostre seu distintivo! - Grito, até que uma mão me agarra no ombro.

— Eu também gostaria de ver seu distintivo, oficial. - Escuto o homem de mais cedo, pai de Mio-chan, e olho pra direita, o vendo ali, atrás de mim, com um distintivo na mão. - Se for igual a este aqui, podemos conversar.

O policial então me empurra, e eu acabo esbarrando minhas costas no pai de Mio-chan. Ele então começa a correr, nos deixando ali.

— Você está bem? - Ele pergunta, e eu me recomponho.

— Sim, muito obrigado. - Respondo, respirando fundo.

— Ainda bem que cheguei a tempo. - Ele comenta, guardando a credencial no bolso do paletó.

— Por quê? - Pergunto, o olhando com surpresa. - Por que o senhor voltou?

— Hm. Eu meio que me senti em dívida com você, porque Mio comeu a sua janta. E ela me disse algo que me deixou preocupado. - Ele responde, colocando as mãos no bolso da calça e me olhando.

Inclino o rosto, surpreso com o que ele disse. De repente, solto um novo espirro e ele retira o casaco, o colocando nos meus ombros.

— Venha comigo. Eu gostaria de pagar-lhe um jantar, já que minha filha comeu o seu. - Ele fala, sorrindo. - E eu me chamo Tachibana Haru , um detetive de verdade.

— Entendo. - Digo, dando risada. - Sou Hishigaki Yuki. Muito prazer. 

Quando dá 19 horas, eu vou até a cozinha, escolhendo duas lasanhas congeladas para almoçar/jantar e as coloco no forno elétrico, enquanto retiro da geladeira uma Coca-Cola de 1 litro e meio, ketchup e maionese.

Com a minha comida em mãos, eu volto para o computador, onde eu como enquanto assisto dois episódios de anime que acabaram de sair na internet e quando termino, faço os preparativos iniciais para a Live Streaming de hoje.

"Boa noite. Meu nome é Katsuki e estamos neste momento nos preparando para para a Live Streaming diária. De acordo com a enquete, o jogo escolhido e Dark Souls 2, e eu estarei jogando no meu PS4…"

~x~

Eu não acredito!

Eu fui obrigado a me mudar do meu antigo apartamento só porque um dos vizinhos testou positivo para a Covid-19 e como ele costumava abraçar todo mundo do edifício, ele pode ter contagiado mais pessoas. Eu pelo menos fiz o teste essa manhã e deu negativo.

Mas o problema é que por causa da pandemia, eu fui uma das pessoas a tirar 'férias extras' do restaurante onde trabalho como cozinheiro. Mas graças a um funcionário, eu encontrei uma casa para alugar em um bairro pacato de Detroit. Naquela manhã, eu fiz uma visita com com a funcionária da imobiliária, e imediatamente decido me mudar para lá, já providenciando o pagamento de 6 meses de aluguel.

"Muito obrigado, Senhor Nikiforov." Eu escuto a funcionária dizer, com a voz abafada por causa da máscara no rosto. "Desejamos que o senhor se sinta bem a vontade em sua nova residência."

"Muito obrigada." Eu digo, também usando máscara, enquanto carrego nos meus braços Makkachin, a filhote de Poodle que eu adotei por causa da pandemia.

De repente, Makkachin começa a latir, e eu passo a escutar outros latidos vindos da casa vizinha. Eu entro na minha nova casa, observando tudo pronto para eu viver ali com ela e a deixo no chão, sorrindo ao ver ela começar a explorar a nova residência dela. Eu boto comida e água para ela, e passo a preparar o meu almoço.

Embora cozinhar só para mim mesmo é um pouco triste. Se pelo menos eu tivesse a companhia de um rapaz fofo...

Uma das coisas que eu gosto de assistir na internet é um canal do YouTube sobre games chamado Katsuki, que possui como foto de perfil uma tigela de Katsudon, um delicioso prato japonês que eu já tentei preparar, mas não deu muito certo. Eu gosto de Katsuki não pelo conteúdo mas sim pela voz suave dele, que desde quando eu acidentalmente acessei uma das licenças streamings dele, é capaz de me ajudar a dormir bem, algo que nem remédios para insônia conseguiam tal resultado. 

A culpa por causa da minha insônia é a pandemia. Por causa disso, eu passe a ser um dos maiores patrocinadores do canal pelo Patreon dele, embora eu use as lives apenas para dormir.

Os dias se passam tranquilamente, até que uma certa manhã quando, ao abrir a porta do quintal para Makkachin fazer suas necessidades, eu coloco comida e água para ela e vejo retornar não um pequeno Poodle marrom, mas dois.

Eu pisco duas vezes e esfrego os meus olhos, não acreditando no que estou vendo. Mas de fato, há dois cachorros ali, comendo e bebendo água.

E consigo identificar Makkachin facilmente por causa da coleira rosa e vejo que o outro Poodle tem uma coleira azul com um pingente em forma de osso, onde o nome Vicchan está escrito, em cima de um número de telefone celular.

"Vicchan?" Eu pergunto, sorrindo ao ver ele latir uma vez e balançar seu pequeno rabo. "Prazer em conhecê-lo, Vicchan. Eu sou Victor. Agora, de onde você veio, garoto?"

Eu pego meu telefone e ligo para o número na coleira, mas a ligação não completa. Tento mais vezes, mas o resultado é o mesmo.

Eu percebo que Vicchan e Makkachin brincam juntos no quintal e chegam a desaparecer por horas, mas eu não me preocupo, porque os muros cercando minha casa são altos e o portão de saída para a rua é de madeira, impedindo a possibilidade de ela sair sozinha.

Isso acontece por dias. Mas então, um dia, eu entro em pânico quando percebo que já faz horas que eu vi pela última vez os dois Poodles. Eu vou para o meu quintal, olhando em volta.

"Makkachin!" Eu exclamo, apavoradamente.

Mas para a minha surpresa, escuto latidos vindos… da casa vizinha?

"Eh? Vicchan?" Eu escuto e arregalo os olhos ao ver Makkachin e Vicchan surgir por entre as plantas, onde eu noto que há um buraco no chão, perto do muro para a casa vizinha.

Eu ergo meus olhos e congelo ao ver no topo do muro a metade de um rosto masculino com cabelos negros bagunçados e olhos castanhos atrás de um par de óculos de armação azul olhando para mim com surpresa.

"Você é o dono da pequena Poodle?" Eu escuto, e afirmo com a cabeça. "Ela vem brincar na minha casa todas as tardes com Vicchan."

"Oh! Então é isso o que eles fazem de tarde. De manhã, eles brincam na minha casa." Eu digo, abrindo um largo sorriso. "Ela se chama Makkachin e eu a adotei a pouco tempo."

"Ah…" O rapaz diz, e eu finalmente me levanto, assim podendo ver melhor o rosto todo dele e eu congelo.

Meu deus, ele é fofo!

"Meu nome é Victor Nikiforov!" Eu exclamo, estendendo a minha mão para ele, esperando um aperto dele, mas eu o vejo apenas me olhar com a festa franzida.

Ah, eu esqueci.

Maldita pandemia.

"Prazer em conhecê-lo, Victor." Ele diz, sorrindo para mim timidamente. "Meu nome é Yuuri."

~x~

Ai meu deus!

O que diabos está acontecendo comigo?

Primeiro, eu fico apavorado ao escutar uma voz e ver os Poodles saindo correndo pelo meu quintal e… desaparecendo.

Mas depois eu me vejo admirando olhando para um homem sexy de cabelos prateados e belos olhos azuis.

Oh, não. Ele é o meu tipo.

Mas… eu não acho que ele se interessaria por mim.

"Me desculpe, mas eu tenho que voltar para a minha casa." Eu digo, mordendo o meu lábio inferior. "De novo, é um prazer em conhecê-lo, Victor."

"Igualmente, Yuuri!" Ele exclama novamente, acenando para mim com um sorriso em forma de coração no rosto.

Timidamente, eu aceno de volta, amaldiçoando o fato de o meu rosto estar ficando cada vez mais vermelho.

Depois disso, eu passo a encontrar Victor todos os dias de tarde, após tomar meu café da manhã de tarde. Nós conversamos um pouco diariamente e eu aprendo que ele é um chef de um restaurante que foi afetado pela pandemia, que ele nasceu na Rússia mas veio para a América quando criança, que ele se mudou para aquela casa por causa da pandemia e que ele adorou Makkachin recentemente para não ficar sozinho agora que o restaurante deu 'férias' para ele. Que ele pensou em ser patinador artístico quando criança, mas abandonou ao se machucar pela terceira vez em uma única semana, que ele já escreveu diversos livros de culinária e é jurado de um programa de televisão de culinária.

Eu também acabo revelando coisas minhas, como o fato de eu ser japonês, de eu ter Vicchan há quase 10 anos e de ele ser castrado quando vi Victor arregalar os olhos, sobre a minha ansiedade, sobre as fontes termais da minha família, sobre o fato de estar estudando online sobre desenvolvimento de games na Universidade de Wayne State, de fumar, de ter um pequeno canal no YouTube, de ficar acordado a noite quase toda e de eu comer comida congelada todo o dia.

Victor imediatamente declara um ultraje, o que me assusta.

"Eu não acredito que você come todo o dia dessas comidas." Ele diz, e eu me vejo dando de ombros.

"Mas não é como se eu tivesse alguém para comer junto." Eu comento, embaraçado. "Além disso, temo que a comida acabe estragando por causa disso."

"Ah, eu entendo perfeitamente." Victor diz, com um sorriso triste.

E então ele arregala os olhos.

"Eu tenho a idéia perfeita!" Ele exclama, me assustando. "Basta que eu prepare comida e divide com você!"

"Espera, o que?!" Eu grito, surpreso com o que eu escuto e o fazendo cair na gargalhada.

~x~

A cara que o Yuuri está fazendo é muito engraçada, e eu acabo rindo dela. Somente depois, já no interior da minha casa, é que eu percebo o quanto eu fui rude. Mas mesmo assim, eu estou decidido a cozinhar para ele. Amanhã mesmo.

No dia seguinte, eu recontro Yuuri de tarde, ainda de pijamas e fumando cigarro. Na mão dele, há um copo de vidro com um líquido preto, que eu acho ser café ou chá.

"Boa tarde, Yuuri!" Eu reclamo, o vendo olhar na minha direção e acenar para mim, escondendo um bocejo com a boca que segura o cigarro.

Eu vejo Makkachin e Vicchan atravessar o buraco até o quintal dele e o circulando animadamente. Yuuri se agacha, acariciando os Poodles antes de terminar de fumar e beber o líquido do copo, voltando para dentro de casa com os cães. Eu dou risadas, voltando para dentro da minha e colocando o resto da comida que eu preparei em potes para dar a ele logo depois.

...

"Você… não estava brincando." Yuuri diz, agora mais acordado e observando a sacola plástica com 5 potes.

"Não." Eu respondo, confiante de que a minha comida está deliciosa.

"Eu acho… que eu posso comer da sua comida, mas eu quero retornar o favor nos fins de semana, para ser mais justo." Ele diz, olhando para mim timidamente. "Não. Eu ainda quero pagar por metade dos ingredientes além disso, afinal você está me dando uma comida preparada por um chef.

"Yuuri, você não precisa pagar nada. Boa parte do que eu uso vem do restaurante onde eu trabalhava, afinal por causa da pandemia, eles iriam se estragar." Eu digo, ficando bastante excitado. "E eu não me importo se você cozinhar nos fins de semana. Estarei esperando ansiosamente para comer o que você preparar."

Finalizo com uma piscadela, o fazendo ficar com as bochechas coradas.

Ai meu deus, como ele pode ser tão fofo!

"Ok. Obrigado pela comida, Victor." Ele diz, pegando a sacola que está no muro. 

"Sem problemas, Yuuri!" Eu digo, sorrindo para ele. "E me desculpe por ter rido de você ontem."

"Ah, está tudo bem. Eu sei que não foi por mal." Yuuri dos, acenando para mim e retornando para a casa dele.

Mais tarde, eu começo a relaxar na minha cama enquanto escuto a live streaming de hoje de Katsuki quando eu acabo escutando… latidos?

"O que foi, Makkachin?" Escuto a voz de Katsuki no meu laptop e eu arregalo os olhos ao ver de repente a minha Poodle, que estava naquele exato momento na casa de Yuuri. "Desculpa, pessoal, parece que um dos meus Poodles quer come o meu jantar. Ah, Vicchan. Você também?"

A câmera então volta para o jogo, que está pausado e uma sequência de barulhos dá a entender que Katsuki havia se afastado do microfone. Eu fico a observar a tela pausada do jogo e o chat que começa a pedir para ele mostrar os Poodles e ele mesmo. Imediatamente, eu pego o meu laptop e atravesso a minha casa apressadamente até o meu quintal, onde eu chamo por Yuuri.

"Eh?" Eu escuto, e então eu vejo Yuuri abrir a porta da sua casa e olhar na minha direção. "Victor? Qual é o problema…"

Ele se interrompe quando eu viro o meu laptop, revelando a página da Live streaming dele ainda com o jogo pausado. Ele arregala os olhos, claramente não esperando isso.

"Então… Makkachin é uma de suas Poodles?" Eu pergunto, o vendo empalidecer.

"Não, eu… Me desculpe!" Ele exclama, bastante embaraçado. 

"Quer dizer que Vicchan pode ser meu também?" 

"Espera, o que?!" Yuuri exclama, me fazendo rir. "Victor!" 

"Aw, Yuuri! Você é tão fofo, que eu gostaria de namorar você!" Eu digo, sorrindo para ele.

Eu o vejo ficar com o rosto extra vermelho, escondendo seu rosto com as mãos.

"Você... está falando sério?" Eu pergunta, sussurrando para mim.

"Tão sério que eu compraria um anel de noivado para dar a você." Eu digo, o fazendo me olhar em choque antes de esconder o rosto com as mãos novamente.

"Eu… eu gosto de você também." Eu escuto, o que me pega de surpresa.

"Eu estou tão feliz!" Eu exclamo, pulando de alegria.

"Hmm… você quer entrar?" Ele pergunta, me olhando por entre os dedos. "Eu tenho uma Live Streaming para continuar."

"Sim, por favor!" Eu pego o meu laptop e retorno para casa rapidamente, trocando de roupa.

Mas então, eu acabo congelando novamente, pois escuto vindo do meu laptop.

"Me desculpem, pessoal. Eu acho… que arrumei um namorado?" Espera, quê? "Victor, o portão e a porta estão destrancada, então você pode entrar tranquilamente."

"Aliás, Yuuri. Eu sou VityaNiki no seu Patreon."

Yuuri deixa cair o controle do PS4 em choque, pois VityaNiki é um dos seus maiores patrocinadores.

~x~

"Vkusno!" Victor exclama, ao comer o Katsudon que eu preparei para ele. "Isso é o que os deuses comem?!"

E dessa vez sou eu quem vai na gargalhada, ainda mais animado pois Victor concordou em se mudar para a minha casa quando o contrato dele com a imobiliária acabar.

E quando isso finalmente acontece, nós finalmente tapamos os buracos feitos pelos Poodles, pois eles não são mais necessários.

Fim


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