40 anos escrita por WinnieCooper


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Tive que colocar o gênero Romance, porque o nyah não tem o gênero família ainda



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40 anos, me olho no espelho reparando em alguns detalhes de meu rosto não mais jovem. Alguns vincos, alguns fios brancos em um mesmo cabelo desgrenhado, a mesma cicatriz, em um mesmo formato perdurando através do tempo. Meus dedos encostam nela e não a sinto mais arder. Tudo está bem.

— Harry!

Gina me chama no andar debaixo. Me afasto do espelho pensando... 40 anos...

40 anos... quase o dobro da idade quando meus pais morreram me salvando.

40 anos... 4 anos mais velho da idade que meu padrinho morreu lutando por mim.

40 anos... 2 anos mais velho da idade que Remo, o último dos marotos, morreu lutando em uma batalha, começada, porque eu sobrevivi.

Estranho pensar que sobrevivi 40 anos. Sendo que devia ter morrido ainda bebê. Fui salvo diversas vezes por tantas pessoas, de diversas formas.

— Feliz aniversário.

A cozinha está um caos. Massa de panqueca esparramada pelo balcão, Lily ajudando a mãe na tarefa de fazerem um café da manhã diferente. Mesmo assim, Gina larga tudo e deposita um beijo leve em meus lábios me parabenizando, logo depois do beijo passa o dedo indicador pela minha cicatriz.

Encaro seus olhos parecendo ler seus pensamentos “Ainda bem que esse inferno de cicatriz não te incomoda mais!”. Apenas sorrio a agradecendo e ela volta a preparar as panquecas.

Pego o exemplar do dia do Profeta diário que a coruja já havia entregado e passo os olhos rápido pela coluna de esportes que Gina comandava, quando me deparo com uma pequena nota de parabéns de uma colunista de fofocas.

40 ANOS E A CICATRIZ AINDA ESTÁ LÁ

Por Rita Skeeter

Nosso eterno menino que sobreviveu completa 40 anos hoje. Um grande talvez em nossa história bruxa, ainda se recusando a dar entrevistas e que eu publique um manuscrito autorizado de sua história – mesmo que o não autorizado já tenha sido impresso e vendido feito água – Harry Potter vive uma vida pacata, num vilarejo pacato, num casamento pacato, sem nenhum escândalo aparente.

É claro que nossa curiosidade ainda permanece aguçada, mesmo após mais de 20 anos do término de Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, e dele ter sobrevivido pela segunda vez a maldição da morte – há controversas sobre essa história e tudo o que aconteceu na floresta no dia da grande batalha, pode ler mais sobre isso em meu exemplar “A vida e as possíveis mentiras de Harry Potter” – Nossos olhos ainda estão voltados para ele, nosso eterno agradecimento por ele ter terminado o que começou ao nascer, ainda perduram através do tempo.

Harry Potter, menino-que-sobreviveu, órfão, amaldiçoado, o eleito, vencedor do torneio tribruxo, pupilo preferido de Dumbledore, pai exemplar, marido exemplar, chefe dos aurores, inerte aos holofotes lançados a si. O mais cobiçado a dar entrevistas, o que nega a falar sempre. Está sobrevivendo ainda e já completa 40 anos. Sua cicatriz não dói mais, seu pesadelo acabou faz algum tempo. Mas a cicatriz ainda está lá, e tudo o que passamos ainda permanece em nossas memórias. Mesmo não sendo perfeito, te agradecemos Harry Potter e te parabenizamos pelo seu aniversário. Parabéns!

Dou um sorriso torto e balanço negativamente a cabeça quando termino de ler a matéria. Gina está me analisando, ela sempre reparando em todos meus atos.

— O que aquele besouro bisbilhoteiro escreveu? – pergunta parecendo ler meus pensamentos. – Eu juro que se a ver transfigurada um dia naquela redação eu a esmago com meus pés sem dó nem remorso.

Solto um riso e faço não com a cabeça.

— Não escreveu nada de muito relevante. Da a entender que quer que eu conte os segredos por trás da biografia não autorizada que ela escreveu sobre mim.

— Ah, é claro que ela quer isso.

Ela volta a cozinhar com Lily que está muito concentrada preparando bacons numa frigideira. Escuto James e Albus se aproximando da cozinha.

— Albus, quando irá anunciar ao papai, que a maior decepção em seu aniversário é ter um filho completamente desagradável como você?!

— James! – Gina o repreende por mim, como sempre.

— Pare de me encher. – Albus senta-se ao meu lado na mesa e olha bravo para o irmão mais velho.

— Parabéns pai! E já peço desculpas desde já por Albus. – meu filho mais velho me abraça, e diz baixo como se contasse um segredo. – Você sabe, sonserino... Melhor amigo de um Malfoy. Decepção.

— James por favor! – Gina o repreende novamente, surpreendentemente ouvindo tudo o que ele disse aos sussurros.

— Só estou dizendo a verdade. – James sentar-se ao lado de Albus e estica as pernas para cima da mesa. – Ao contrário de mim que sou o filho exemplar, Grifinório, capitão do time, melhor apanhador desde meu pai e meu avô.

Ele olha pra Albus e lhe lança uma piscadela. Fazendo meu filho do meio se levantar chateado e se dirigir ao seu quarto.

O dia de meu aniversário de 40 anos estava começando normal, como todos os outros, mas por algum motivo, sinto que devo ter uma conversa novamente com Albus. Me dirijo a seu quarto. Peço para entrar e escuto um resmungo de autorização.

Está deitado em sua cama com a cabeça enfiada em seu travesseiro. Meu filho, que é tão parecido comigo fisicamente, tão inseguro, sempre se menosprezando.

— Eu não me importo se é sonserino ou amigo de Scorpius. – Digo sentando-me ao seu lado na cama.

Ele não responde. Então eu me lembro, de todas minhas inseguranças, de um quarto debaixo de uma escada, de um mundo novo se abrindo para mim.

— Eu nunca conto sobre mim para vocês, você sabe... – pigarreio, Albus se mexe e sei que está prestando atenção – Mas minha infância não foi lá muito agradável, sempre abaixo de meu primo, dormia em um quarto debaixo de uma escada, fazia amizades com aranhas, não me sentia especial, até que um meio gigante veio me resgatar e me mostrou um mundo repleto de magia. Era um mundo novo e instigante, poderoso e perigoso, mas também cheio de amizades verdadeiras e muito amor. Fui da Grifinória sim, mas isso não é um padrão, meu melhor amigo era um Weasley, mas isso, de novo, não é um padrão... você não é meu reflexo Albus.

Ele se mexe novamente, estica seus olhos para mim. Os olhos de minha mãe aos 14 anos me encaram. Naquele momento sei que estou fazendo algo certo.

— Já te disse um milhão de vezes, não me importo se é Sonserino, não me importo com sua amizade com Scorpius. – reitero a minha fala anterior, tentando dar algum tipo de alívio para ele. – O dia que parar de se importar com o que James fala, ele irá parar de achar graça em te infernizar.

Meu eu de 14 anos, tão incerto e descontente consigo mesmo, afirma positivamente com a cabeça e me abraça.

— Feliz aniversário pai.

Recebo suas felicitações com um sorriso no rosto. É quando escuto a Gina me chamar pela segunda vez no dia. O café estava pronto.

Sou recebido novamente na cozinha com o abraço de minha filha mais nova, tão parecida com a mãe, fisicamente e em sua personalidade.

— Feliz aniversário pai.

Recebo minha quarta felicitação do dia com um beijo na bochecha e bacons e panquecas preparadas por ela.

Sentamos todos na mesa. Todos sorrindo e conversando, um dia comum, com discussões de irmãos, uma mãe brava, abraços calorosos, cafés da manhã preparados com todo amor do mundo e recordações de tempos atrás e incógnitas de dias futuros.

— Senhora Tonks vem para o jantar. Teddy estará presente e trará Victoria. Obviamente Ron e Hermione, Neville e Hannah e chamei a Luna com o seu marido. Uma festa pequena. Mas não passará em branco.

Aperto a mão da Gina na mesa a agradecendo ao falar de seus preparativos para à noite. Afinal, estava fazendo 40 anos, eles não iam deixar passar em branco.

40 anos...

Aos 40 anos, Nicolau Flamel já fazia seus experimentos na alquimia para criar a pedra filosofal.

Aos 40 anos, Albus Dumbledore já havia descoberto os doze usos do sangue de dragão.

Aos 40 anos, Voldemort já havia fragmentado sua alma em diversas partes, tentando se tornar eterno.

Aos 40 anos, eu era apenas Harry Potter, não o menino-que-sobreviveu, amaldiçoado, o eleito, vencedor do torneio tribruxo, pupilo preferido de Dumbledore, pai exemplar, marido exemplar, chefe dos aurores. Apenas Harry Potter. Com uma cicatriz que não incomodava mais. Tudo estava bem.


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Notas finais do capítulo

Surtos da madrugada? Temos! A história surgiu na minha mente, duas da manhã no aniversário de 40 anos do nosso bruxinho, se chegou até aqui, tomara que não tenha sido um desperdício completo. Comentários me deixam feliz!