Dois beijos escrita por gaby


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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SIMON

O que eu não previ: que Baz Pitch estaria nessa festa de gente rica. Eu acho que podia ter previsto, afinal faz muito sentido. Eu sabia que ele morava aqui, era só juntar dois mais dois.

O que eu já imaginava: as fotos do Instagram não fazem jus (são boas, mas não fazem jus). Ele continua lindo como sempre – talvez mais do que antes; mais alto, com cabelos ainda mais longos, mais bem vestido que nunca.

Baz está usando um terno floral, azul escuro com rosas vermelho-sangue. Ele parece ter saído direto das páginas de uma revista de moda. Eu não quero pensar sobre o que essa visão está causando em minhas entranhas.

— Baz. Oi – me recomponho para nada, porque um segundo depois ajo como um completo tapado: dou um passo à frente, começo a estender minha mão e paro (porque não sei se devo cumprimenta-lo assim), então recuo meu passo, desengonçado.

Ele me observa, atento.

Acho que estou corando.

 

BAZ

Eu não sei como me sentir ante a isso – eu obviamente sei como deveria me sentir: indiferente; mas o que posso fazer se Simon fica deslumbrante em um terno cinza?

— Eu não sou a rainha, Snow, não precisa ficar nervoso – digo, e eu mesmo estendo a minha mão, fingindo que nada incomum está acontecendo em meu peito, porque é isso que tinha de acontecer depois de tantos anos: nada.

Sua mão é mais quente e ligeiramente mais áspera que a minha, ele tem mais cachos no topo da cabeça, mas ainda mantém as laterais curtas, e também não está tão magro quanto costumava ser. Mas nenhuma dessas coisas é relevante.

Assim como as três pintas em sua bochecha direita, aquela sobre o olho esquerdo e as duas debaixo da orelha esquerda... elas ainda estão lá, entretanto, não são importantes, eu já as havia esquecido... certo?

— Não pensei que fosse encontrar você aqui...

— Bem, acredite ou não, eu ainda faço parte das Famílias Antigas. Não costumo perder o evento. Você é que é a novidade – ele abre um sorriso contido. Eu odeio meu coração mole.

— É... eu vim pra encontrar uma pessoa.

Não sei quanto disso meu cérebro pode suportar. São muitas informações para pouco tempo de processamento – ele aqui, bochechas vermelhas, sorrisinhos, terno cinza, flashes do passado e agora isso. Tento não interpretar a frase, mas é tarde.

Quantas vezes imaginei Simon Snow com alguém? Eu não seria capaz de enumerar, não em uma vida. Eu deveria ser imune a essa imagem mental.

— Não vamos deixar sua companhia esperando... – indico o caminho e retomamos o trajeto.

 

SIMON

Começo a me perguntar em que pé estamos.

Passamos todo o colegial discutindo e brigando e nos intitulando inimigos, e quando tudo acabou nós não conversamos, não esclarecemos as coisas, não pedimos desculpas, tampouco nos despedimos. Só seguimos a vida, cada um para um lado.

Demorei anos – e muitas sessões de terapia – para entender que eu não o odiava de verdade, como acreditei minha adolescência inteira. E, honestamente, ainda não sei ao certo como definir o que era tudo aquilo. Digo... eu gostava dele?

Ele gostava de mim? (Sempre concluí que não).

E agora? Superamos tudo isso? Há algo pendente? Um pedido de desculpas, que seja?

Talvez para mim sim, apesar de não ter ideia de como chegar lá.

Gostaria de saber o que ele está pensando...

 

BAZ

— Então você voltou mesmo pra Hampshire? – pergunto, para evitar meus pensamentos.

— Ainda não. Vim passar o natal com minha avó. Mas eu vou. Voltar, eu digo. Vou voltar pra cá. Só preciso achar um apartamento.

— Entendi – andamos devagar, mantendo certa distância, mas o vento gelado insiste em trazer o perfume dele até minhas narinas. Aquela mesma nota de canela que eu sentia sempre que brigávamos. – Bunce vem com você?

— Ah, não. O namorado dela vai morar com ela agora.

— Micah?

— Não, não. Eles terminaram faz bastante tempo.

— Ah, é verdade. Agatha comentou.

— É, agora ela namora o Shep – quase deixo escapar um “e você?”, mas mordo minha língua. Isso não vem ao caso, Basilton.

Percebo que Simon está prestes a dizer outra coisa, contudo, terminamos os degraus e já alcançamos a porta, então o recepcionista deseja uma boa noite antes de nos deixar passar – aparentemente, basta estar junto de um membro antigo para entrar, porque ele mal olhou para Simon.

 

SIMON

É três vezes mais chique do que eu imaginava. E estamos apenas no hall.

Dá para ouvir um pouco da música e da conversa abafada, provenientes de algum lugar no andar superior, e eu já começo a me dirigir às escadas, até notar que Baz não está ao meu lado.

— Você não vem? – ele se vira e me olha de cima a baixo mais uma vez, tão rápido que passaria despercebido se eu não estivesse atento.

— Acho que meu acompanhante ainda não chegou, vou esperar aqui uns minutos.

— Ah, claro.

Eu não me movo, não quebro o contato visual. Nos despedimos agora? É só isso? Vamos nos falar depois? O que acontece a partir daqui? Desaparecemos da vida um do outro por mais cinco anos?

— Você não devia procurar seu par lá em cima?

— É. Sim. Eu... estou indo... A gente se vê – me esforço para ignorar a parte de mim que está pedindo por isso de forma tão ridiculamente desesperada.

Baz sorri com os cantos da boca, por educação. Eu ainda demoro um segundo antes de sair.

Tem tanto que eu quero dizer. Acontece que eu sou péssimo com palavras; e não depende só de mim. Eu não sei se ele quer ter algum tipo de conversa comigo – eu nunca o entendi muito bem, nunca fui um bom observador, e ele sempre se manteve muito neutro perto de mim – e também não tenho certeza se saberíamos fazer isso, conversar. Não me lembro de uma única vez que chegamos a dialogar de verdade, sem discutir ou sair no soco.

Me dou conta que já subi as escadas e estou andando a esmo pelo salão, perdido dentro da minha própria nuvem de pensamentos.

Conto quatro, cinco, grandes árvores de natal distribuídas pelo cômodo. Todas as decorações natalinas são douradas ou vermelhas, e há muitas delas. A música é mais alta aqui, mas não a ponto de ser desagradável, e garçons com gravatas verde-escuras circulam, equilibrando tacinhas de champanhe em suas bandejas. Pego uma delas antes de realmente começar a procurar, até me dar conta de que não tenho ideia de por quem estou procurando.

Decido então ligar para Agatha, talvez ela finalmente me fale quem é, afinal de contas já estou aqui. Só preciso achar um lugar mais silencioso.


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Notas finais do capítulo

Não seja um leitor fantasma, comente, por favor :)
Agradecimentos especiais à minha beta lindíssima, Srta Prongs ♡



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