Dois beijos escrita por gaby


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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SIMON

Acordo e imediatamente penso: café da manhã. Só depois de alimentado tenho forças para surtar – e para qualquer outra coisa.

Estou a poucas horas de viajar para Hampshire. Vou levar as caixas mais importantes, terei alguns dias para procurar um apartamento, então voltamos, eu pego o resto das coisas e me mudo definitivamente.

Tento não pensar em tudo que pode dar errado.

Tento não pensar.

Tiro o celular do bolso e digito um mais tarde a gente tá indo, para Aggie. Ela me responde na hora do almoço. juro que peguei pra te perguntar isso agora! BOA VIAGEEEEEM ESTAMOS TE ESPERANDO. PELO AMOR DE DEUS NAO ESQUECE O BRINCO DA MINHA MULHER. não te amo :P bjs, sorrio para a tela e respondo usando emojis.

 

BAZ

baz, tá aí?

baz

tyrannus

saco. queria que respondesse logo.

São as notificações de Agatha Wellbelove fazendo meu celular vibrar incontrolavelmente. O que foi?, é a resposta que envio antes que o aparelho exploda em meus dedos.

até que enfim. aquela ideia de pagar pra alguém ir com vc na festa era sério???

Releio a mensagem umas três vezes. Estou com medo de perguntar. Pior, estou com medo de quais vão ser as palavras dela depois que eu perguntar. Agatha, primeiro: eu não demorei dois minutos pra te responder, segundo: quê? Quase que imediatamente uma nova notificação aparece; aquele dia na cafeteria vc falou alguma coisa sobre pagar pra te acompanharem na festa. pagaria mesmo ou é meme??

— Jesus... Que porra essa doida tá planejando agora? – o pensamento escapa dos meus lábios num murmúrio.

Claro que não, Agatha. Meu pai do céu. Qual parte do “quero levar alguém conhecido” você não entendeu?

Ags

em momento algum eu disse que era um desconhecido ué

 

E por que caralhos eu teria que pagar pra um conhecido ir comigo?

Ags

c o n h e c i d o, não amigo.

 

Agatha? Que diabos você tá fazendo?

Ags

tentando arrumar um parzinho pra vc gay. pagaria ou naaaao?

 

Quem você tá tentando me vender?

Ags

que horror, basilton kkjk já falei que é um conhecido. ele precisa de uma grana. juro que é uma pessoa decente.

veja como um tipo de encontro as cegas!!

 

Tá ficando pior.

Ags

meu deus, ZERO confiança em mim.

 

Confiando ou não, vou precisar do nome por causa da lista de convidados.

Ags

precisa nada, é só vc fazer igual em filme: quando ele tiver lá na porta com o cara que recepciona as pessoas vc chega e fala “ele tá comigo”. pronto.

Ela é inacreditável. Tem as ideias mais malucas que eu já vi, mas todas acabam funcionando se ela resolve pôr em prática; isso também me deixa preocupado, porque se eu concordar vai acontecer.

Prefiro ir sozinho a ir com a Helen, mas será que prefiro ir com esse suposto conhecido a ir sozinho?

Mais uma mensagem chega: olha, eu não te arranjaria uma pessoa que não seja de confiança, ok? ele é um homem maravilhoso (não tô falando no sentido de beleza, mas é bonito também), vcs se conhecem, o dia da festa tá perto e vc ainda não achou ninguém. sem contar que nada te impede de deixar o pobre coitado pro lado de fora, se não te agradar.

Certo. Talvez essa última frase tenha me convencido. Olhando por esse ângulo, é até bom não ter o nome dele na lista.

Depois de alguns segundos em conflito interno, e ignorando a parte do meu cérebro que grita em desespero por ser uma má ideia, digito minha resposta e clico para enviar, antes que mude de opinião: Ok. Se eu me arrepender de aceitar isso, você vai me dever uma.

vc é que vai ficar me devendo, bazzy ;P

 

SIMON

O sol está se pondo quando finalmente chegamos em Hampshire; tímido, em meio ao frio de dezembro. Só consigo pensar em como é boa a sensação de voltar ao lar. Uma coisa morna se instala no peito, a mente se tranquiliza, até o tempo parece diferente aqui, sem pressa – talvez toda a decoração e clima de natal seja responsável por uma parcela disso, e por essa eletricidade no ar.

Meu tio vem para o jantar, na casa da minha avó, e somos só nós quatro – vovó, meu tio, a esposa dele e eu. É inevitável imaginar como seria se minha mãe também estivesse aqui, se ela não tivesse me deixado com meus avós para se mudar para a Califórnia quando eu ainda era um bebê... afasto essa nuvem negra o mais rápido que posso.

Só volto a tocar no meu celular quando deito na cama – minha antiga cama, no meu antigo quarto. Passo pelas notificações, deixando para responder as mensagens por último; uma de Shep, outra da Penny, uma de um amigo da faculdade e uma de Agatha.

e aí, já chegou??, ela enviou há algumas horas.

Chegamos faz bastante tempo, fiquei ocupado. Penny e Shep me deixaram na casa da minha avó e foram pra casa dos pais dela, respondo e deixo o smartphone sobre o peito. As luzes estão apagadas, mas a cortina deixa um pouco da claridade do poste entrar, então consigo enxergar bem mesmo assim.

Na parede a minha frente há uma prateleira e, apoiada nela, uma espada de madeira, feita pelo meu avô. A pintura dourada é quase inexistente pelo uso constante em batalhas contra vampiros, duendes e todo tipo de ser mágico maligno (na verdade eram apenas árvores, arbustos, a cerca dos fundos ou vasos de plantas que vovó encontrava em pedaços depois); eu não desgrudava dessa espada quando criança.

Ao lado dessa prateleira, alguns pôsteres colados com fita adesiva: Harry Potter, Beatles e um menor, roxo com letras douradas, onde lê-se “Watford Lacrosse”. Eu nunca joguei, Agatha sim, ela me deu esse pôster no final do primeiro ano. Para ser sincero, eu nem gostava tanto de assistir as partidas de lacrosse, sempre preferi futebol.

Quando me dou conta, estou mergulhado em lembranças dessa época. Penélope me ajudando a estudar, Agatha e eu de mãos dadas no recreio, as aulas que eu matava para assistir os treinos do time – nunca de lacrosse –, as brigas diárias com Baz: a vez em que ele me empurrou escada a baixo, a vez que rolamos pelo chão e ele abriu meu lábio com um soco, todas as ocasiões em que discutimos com os narizes quase enfiados um no outro, os sorrisinhos ácidos e aquela arqueada de sobrancelha que só ele sabia fazer.

Às vezes me pergunto como ele está...

Às vezes-

O celular vibra em cima de mim, fazendo minha caixa torácica inteira chacoalhar; percebo que já me encontrava naquele limbo entre o sono e a realidade.

manda um beijo pra sua avó. O que vc vai fazer amanhã?

É a resposta de Agatha. Preciso reler até as letras entrarem em foco e as palavras fazerem sentido para os meus neurônios sonolentos.

Mando. Vou passar o dia procurando um lugar habitável, por que?

Aggie

ótimo. a gente se encontra pra almoçar junto então. pode ser?

 

Pode. Que horas?

Aggie

Eu ligo pra saber onde vc vai tá quando tiver perto do meu horário de almoço

 

Tá bom. Vou dormir porque to cansadão e amanhã saio cedo, bjs

Aggie

bjs boa noite

 

Ando a manhã inteira, visito alguns apartamentos e encontro a loira mais bonita de todas num restaurante do centro. Agatha quase me sufoca num abraço apertado, eu a levanto poucos centímetros do chão – deve parecer que não nos vemos há anos.

— Também senti saudades, Aggie – digo quando ela me larga.

— Você jamais me ouvirá dizer essas palavras – eu rio. – Como foi a caça ao cafofo? 

Conto a ela, depois ela me fala mais sobre a feira de animais, em seguida entramos numa discussão sobre nomes para gatos – eu gosto de Humdrum, ela acha “péssimo, uma ameaça para o mundo” –, e assim vamos mudando de assunto ao longo da refeição. Só durante a sobremesa me lembro de entregar o brinco da Ginger que trouxe comigo.

— Pensei que ela fosse encontrar a gente aqui também.

— Ela geralmente almoça na loja. Mas a gente tem mesmo que marcar alguma coisa juntos, com Penny e Shep, inclusive.

— Esse final de semana? – sugiro.

— Hmm... depende de você, na verdade – contraio o cenho, sem entender. – É que eu tenho uma proposta pra te fazer.

— Proposta? – ela termina a última colherada do seu pudding antes de esclarecer.

— Nesse sábado vai acontecer um evento fechado, meio que uma “noite de natal antecipada”, e um amigo meu precisa de um acompanhante pra irEle tá, literalmente, pagando por isso. E como você disse que estava economizando e tal, achei que os dois podiam se ajudar...

Eu pisco, tentando absorver as informações.

— Seu amigo tá pagando pra irem numa festa com ele?

— Sim.

— Por quê?!

— Bom... é uma informação meio particular, talvez ele mesmo te diga. Aliás, vocês se conhecem, não seria tão esquisito quanto parece.

— Eu conheço? Quem é?

— Então... – ela diz, arrastando a palavra. – Eu falei pra ele que não te diria quem ele é. Também não contei pra ele que é você.

— Jesus. Você não tá tentando vender meu corpo pro mercado negro, tá?

— Vocês só pensam o pior de mim! – ela faz biquinho. – Eu juro pela minha cachorra que ele é uma pessoa boa. Uma das melhores que conheço.

Eu acredito nela. Agatha é meio despirocada, mas não faria mal às pessoas que ama. Apesar da pose de “não ligo”, a gente sabe que no fundo – não tão fundo assim – ela se importa.

— Eu só preciso ir com ele? – pergunto, no que ela faz que sim.

— Comer, beber, colocar as fofocas em dia. Só isso. A não ser que os dois queiram mais, né – o sorrisinho sacana dela me faz rir.

— Não tenho nem roupa pra isso... – penso alto.

— Acho que o ponto é exatamente não ter roupa – ela diz, eu a encaro com a sobrancelha ligeiramente levantada. – Ah! Você tá falando da primeira parte, ata – rio de novo. – Eu peço pra ele te arrumar um terno, relaxa.

Respiro fundo. Comida e bebida de graça, festa chique de graça, dinheiro e alguém em quem Agatha confia. Sei exatamente o que preciso fazer para aceitar essa loucura: não pensar.

— Tá – digo.

— Tá?

— Tá. Eu acho que ainda sei dar um soco, se precisar de tempo para fugir – ela rola os olhos.

 

BAZ

Ags

bazzy, seu acompanhante precisa de um terno

 

                                               Ele não tem um terno?

 

Ags

se bem conheço, ele deve usar o mesmo pra todas as ocasiões desde os dezoito e ele tem a nossa idade agora

 

Jesus.

Ags

nem todo mundo pode ter um closet chique que nem o seu, gay

 

Esse seu plano maluco vai me falir, Welbellove.

Ags

felizmente sabemos que isso é impossível

 

Basilton Kardashian.

Ags

SKAJSKK SIM!!!

 

Me manda os dados dele que eu transfiro o dinheiro, rs.

Ags

hahaha. not today, satan. não vai conseguir o nome dele. transfere pra mim que amanhã eu vou lá ajudar a escolher algo apropriado

 

Sem gravata de arco-íris, pelo amor de Deus.

Ags

aaaa poxa :(

blazer de paetê então????

 

Nem sonha.

Meu bom senso não para de me lembrar que nada nessa ideia é minimamente adequado; eu sei que não, mas sigo ignorando a voz sensata que tenta me aconselhar dentro do meu cérebro. Chega. Já passou da hora de acabar com essa questão. Não vou mais adiar. Está decidido.

Faço chá, uma máscara facial e assisto um filme qualquer para me distrair de mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

Não seja um leitor fantasma, comente, por favor :)
Agradecimentos especiais à minha beta lindíssima, Srta Prongs ♡



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