Eu estava desesperado.

Nós corremos pela pista principal na direção do bosque, começava a anoitecer e nos guiamos pelas luzes dos carros — Como imaginei, pessoas demais! Sam murmurou — Temos que agir normalmente e Jacob se controle.

— Fala isso porque não é a Emily quem está perdida lá! Respondi o ignorando e entrei no bosque.

Eu corri ainda em minha forma humana em meio a escuridão, eu precisava encontra-la, as únicas perguntas que se passavam em minha mente era se ela estaria bem, se estava assustada, mesmo eu já tendo consciência da resposta da segunda pergunta, eu havia visto o medo nos olhos dela mais cedo na campina, por isso eu decidi continuar humano, seria a forma mais fácil de me aproximar dela.

O vulto de Embry passou ao meu lado — Mas que porra! Murmurei, e o aviso de pessoas demais dado por Sam minutos atrás? Desconfiado eu também deixei o lobo sair e enquanto corria ouvi os comandos de alerta de Sam.

— O sanguessuga está aqui?

— Jacob, nós cuidamos dele, concentre-se na Nessie.

— Como se eu estivesse concentrado em outra coisa que não fosse ela.

— Achei o cara!  Disse Embry.

— Jacob ela está aqui.

— Vai nos cuidamos dele! Sam ordenou.

Eu voltei a minha forma humana, e novamente senti o vulto de um dos lobos passar ao meu lado, eu podia entender o plano, afastar o sanguessuga dos guardas florestais e não sermos vistos por ele, não era algo fácil de se fazer.

— Nessie! Eu gritei. Aumentei meus passos seguindo em uma linha reta, a linha que eu havia visto nos pensamentos de Sam — Nessie! Gritei novamente.

Ouvi um ruído, parei meus passos e houve um breve silencio, eu fechei os olhos me concentrando em todos os pequenos ruídos que eu conseguia ouvir, o som natural da floresta, o som das arvores  sendo balançadas pela brisa, o som das gotas de chuva que caiam, um pequeno murmuro.

Abri os olhos e dei alguns passos novamente, foi quando finalmente a vi, deitada sobre o chão coberto de lama — Nessie! Eu murmurei em um tom de alívio me abaixando na direção dela.

— Jake! Ela sussurrou — a voz falha, rouca, e o semblante de desespero que tinha era substituído por felicidade, imediatamente eu a peguei em meus braços e senti o pousar da sua cabeça em meu peito e enquanto eu caminhava por ela eu era consumido por aquela necessidade, de protege-la.

— Eu a encontrei! Gritei ao perceber algumas luzes se moverem a poucos metros, segui caminhando de forma apressada tentando deixá-la aquecida com meu próprio corpo, alguns segundos depois eu cheguei até a pista.

— Jacob! Bela gritou correndo ao lado de Charlie em minha direção — Como ela está? Ela perguntou em um tom de nervosismo.

— Acho melhor levarmos a um hospital, ela pode estar ferida.

— Nessie querida você está bem? Charlie perguntou e após ouvir o som da voz dela ele a tirou de meus braços.

— Eu a levo! Tentei evitar...

— Eu a levo! Charlie a tirou de mim com sua autoridade.

— O que aconteceu com você? Bela perguntou enquanto fazia uma breve análise — Você cortou o cabelo?

— Não é hora para isso? Murmurei caminhando atrás de Charlie o vendo entrar no carro ajudando por um dos guardas com a Nessie.

Antes de seguir olhei para trás, Sam, Embry, Quil,Paul e Jared me aguardavam, Bela também olhou para eles, mas após eu sinalizar que iria com eles os quatro correram e desapareceram entre as arvores.

— Jacob!

— O que você quer? Murmurei voltando a caminhar.

— Quero conversar com você — Ela respondeu com a voz fraca.

— Pode falar — Respondi sem olhar para ela.

— A sós! — Ela completou com a voz mais forte, mas a voz de Charlie a fez recuar.

— Depois Bela! Eu murmurei a chamando para sua picape.

Nós seguimos direto para a casa de Charlie, ao estacionar saímos juntos da picape e ajudei Charlie a sair do carro com Nessie, tivemos que esperar alguns minutos fora do quarto enquanto Bela a ajudava a se trocar, quando o médico chegou e entramos no quarto.

Observei em silêncio enquanto o médico a examinava, em alguns momentos eu percebi o olhar de Bela para mim, principalmente quando eu olhava para Nessie, lembrei de Sam falando sobre a sensação que sentia quando Leah o olhava com um ar de acusação, eu havia prometido a Bela que nunca a magoaria e eu não conseguia nem sequer olhar para ela.

O médico terminou seus exames e virou para Charlie — Ela está bem é só exaustão. Deixe que ela durma e voltarei amanhã para vê-la! Falou se levantando logo em seguida pegando sua maleta, Charlie relaxou e o acompanhou até a porta.

Seus lindos olhos verdes se fixaram em mim e meu mundo se iluminou, eu sorri com o canto dos lábios e me sentei no chão ao lado da cama dela, segurei sua mão e a coloquei sobre a minha, Bela se sentou do outro lado pedindo desculpas.

E seus olhos mantiveram-se por alguns minutos presos aos meus até que lentamente se fecharam.

— Vamos seguir o que o médico pediu e deixá-la dormir! Charlie falou entrando novamente no quarto.

Mas eu não queria sair daquele quarto.

Bela se levantou calmamente do lado da irmã e a cobriu com o cobertor, olhei para a mão dela que ainda estava sobre a minha e suspirei me levantando em seguida.

— Jacob! Charlie murmurou.

Fechei os olhos e caminhei passando pela porta.

— Obrigado Jacob! Charlie me agradeceu enquanto eu seguia pelo estreito corredor e descia as escadas ao lado dele, Bela estava logo atrás e ao perceber o clima entre ela e eu Charlie seguiu para a cozinha — Não demorem, está tarde! Disse ele.

— Então vamos conversar? Bela perguntou apontando para a porta, ela sabia que Charlie ouviria nossa conversa caso fizéssemos isso na sala, eu apenas concordei e a segui saindo da casa.

— Sobre o que quer conversar?

— Você sabe o que eu quero saber.

A olhei em silêncio e suspirei em seguida — Vamos acabar logo com isso, olha Bela, não é o que você pensa.

— Então o que é? Ela insistiu.

Eu examinei seu rosto por um longo momento— Não posso lhe dizer!

— Pensei que fôssemos amigos.

 — Nós éramos.

Bela sorriu, mas era um sorriso irônico — entendi, você não precisa mais de amigos agora tem o Sam. Isso é muito bom... Você sempre o admirou tanto!

— Antes eu não o entendia.

— E agora você viu a luz. Aleluia.

— Não é como eu pensava. Não é culpa de Sam. Ele está me ajudando o máximo que pode.

— Ele está ajudando você? Claro- Novamente ela ironizou, mas em seguida eu senti o arrependimento em seu olhar — Jacob, por favor não vai me contar o que aconteceu? Talvez eu possa ajudar.

— Ninguém pode me ajudar agora.

— O que ele fez com você? — Ela perguntou, vi as lágrimas se empoçando em seus olhos, em seguida ela estendeu a mão para mim como já fizera antes, avançando de braços abertos, porém eu me afastei erguendo as mãos na defensiva

 — Não toque em mim. Murmurei.

— Sam, está vendo? —eu vi as lágrimas estúpidas escaparem no canto de seus olhos

 — Pare de culpar o Sam.

— Então, a quem eu devo culpar?

Por mais egoísta que aquilo pudesse parecer meus olhos buscaram uma das janelas da casa de Charlie, a que ficava para o jardim dos fundos e em seguida eu sorri — Não vai querer ouvir isso.

— Mas é claro que vou! Eu quero saber e quero saber agora- Ela bateu os pés.

— Você está enganada Bela.

— Não se atreva a me dizer que estou errada.! Ela falou com a voz mais exaltada-  Não fui eu quem sofreu uma lavagem cerebral! Me diga agora de quem é a culpa por tudo isso, se não é de seu precioso Sam!

— Você pediu — grunhi a encarando de forma dura — Se quiser culpar alguém, por que não aponta seu dedo para aqueles sanguessugas imundos e fedorentos que você ama tanto?

A boca de Bela se escancarou e a respiração saiu com um assobio, ficou paralisada ali, a minha frente — Eu lhe disse que você não ia querer ouvir – Completei.

— Não entendo de quem você está falando — sussurrou ela.

— Acho que entende perfeitamente de quem estou falando. Não vai me obrigar a dizer, não é? Eu não quero magoar você.

— Eu não entendo de quem você está falando

— Os Cullen — Falei devagar — Eu vi... Posso ver em seus olhos o que acontece com você quando digo o nome deles.

Bela sorriu — Não me diga que agora dá ouvidos aos absurdos supersticiosos de Billy — disse ela numa tentativa fraca de zombar de mim.

— Ele sabe mais do que eu pensava.

— Fala sério, Jacob.

— Tenho que voltar. —Falei girando o corpo e me afastei.

 — Vai voltar para Sam!

— Entre em casa Bella. Não posso mais ver você.

— Você está... terminando comigo?

Eu sorri, — Eu queria poder te dizer “Vamos ser amigos” mas nem isso eu posso dizer.

— Jacob... Por quê? Sam não deixa você ter outros amigos? Por favor, Jake. Você prometeu. Eu preciso de você!

— Desculpe, Bella. — Respondi dando as costas para ela — Eu sabia qual era a sensação, a sensação que Sam havia me falado quando terminou com Leah, sobre promessas quebradas.

— Eu lamento não ter podido... antes... Queria poder mudar o que sinto por você, Jacob! Ela falou em um tom de desespero - Talvez... Talvez eu mude — sussurrei. — Talvez, se me der algum tempo... Só não me abandone agora, Jake. Não posso suportar isso

Eu suspirei e virei meu corpo na sua direção e estendi a mão para ela — Não pense assim, Bella, não se culpe, não pense que é culpa sua. O culpado de tudo sou eu. Eu juro, não tem nada a ver com você.

— Não é você, sou eu — Ela murmurou — Há uma nova Bella.

— É sério, Bella. Eu não...

— Como é? — Ela me encarou confusa e pasma. — O que está tentando me dizer?

— Eu não amo mais você!

A face de Bella ficou dura e inexpressiva — Do que está falando?  Sua voz saiu rouca à medida que ela tentava controlar a emoção, seus olhos estavam torturados.

— Desculpe, Bella — Eu disse de novo;

Quem é ela Jacob? — Bela disse de novo; desta vez foi um murmúrio fraco.

Eu dei as costas e corri de volta para casa e quando cheguei agradeci por meu pai estar dormindo, eu tomei um banho e me joguei em minha cama fechando os olhos, meus pensamentos foram invadidos com a imagem de Nessie.

Apesar da felicidade egoísta eu tinha algumas preocupações, primeiro, Nessie tinha medo dos lobos, ou seja ela tinha medo de mim, segundo Nessie era irmã de Bela, terceiro Nessie não fazia a menor ideia do mundo sombrio que o rodeava, ao menos era nisso que eu acreditava.

Naquela noite eu sonhei com ela.