A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 40
O passado sempre volta.




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            O tempo estava passando tão depressa, que o casal sequer percebia. Sentiam-se completos, um ao lado do outro. Tinham tudo o que precisavam, quando estavam juntos. A felicidade deles parecia inesgotável, quando estavam mobiliando sua casa. De fato, com a data de casamento já marcada para o próximo ano, teriam um tempo maior para deixar tudo pronto. Tempo suficiente, para que conseguissem quitar sua casa e casar sem dívidas nela.

            Porém, enquanto Lysandre e Annelise viviam um relacionamento sólido, feliz, repleto de amor; Castiel não tinha a mesma sorte. Viver com Debrah, era como provar todos os dias a pestilência que assola o inferno. Ele não a amava! Não queria estar com ela! Sentia que jamais seria feliz ao seu lado, pois nunca fora capaz de esquecer tudo o que ela lhe causou em um passado não tão distante. Ela era insuportável! Mesquinha! Irritante! Nas entrevistas, buscava aparecer mais do que ele. Não podia ver uma câmera, que já posava, o obrigando a sair junto nas fotos. Ele que só queria ter paz, vivia sufocado pelos paparazzis, desde que Debrah havia se metido em sua casa. Ainda assim, não conseguia deixá-la. Estava preso a uma mulher a quem detestava.

            Cada uma das vezes em que tentou deixá-la, foi chantageado. Ela chorava, o agarrava, implorava que não a deixasse. Dizia que o amava mais do que a própria vida! Alegava que fora a única a estar ao seu lado, quando Annelise partiu seu coração. E ele? Bom, caía novamente em sua conversa e desistia de partir. Mas, aquilo estava começando a se tornar cansativo. Sabia que cedo ou tarde, acabaria a deixando.

            Em uma noite, no evento de lançamento do novo CD de sua banda, Castiel estava sentado em uma mesa, parecendo totalmente entediado enquanto autografava discos, posters, fotos e camisetas, para os fãs. Era nítido em sua expressão, que aquilo o deixava de saco cheio. Na verdade, desde que passara a viver com Debrah, estava sempre de cara amarrada. A única coisa que queria na vida, era se livrar daquela peste que não saía de sua casa.

            A fila de fãs parecia não acabar nunca! Ele não tinha menor ideia de onde vinha tanta gente. Já estava ficando de saco cheio, de rabiscar os objetos trazidos pelos fãs. Então, já irritado com aquilo, simplesmente se levantou da cadeira onde estava sentado, vendo o olhar confuso da multidão enfileirada. — Eu vou dar uma pausa para um café. Já volto. — Ele disse, em tom mal-humorado, saindo detrás da mesa. Precisava desesperadamente espairecer, antes que fosse rude com alguém. Afinal, as frases que as pessoas pediam para ele escrever, eram uma mais ridícula que a outra, forçando uma intimidade que nunca existiu.

            Claro, ouviu o protesto de todas aquelas pessoas, que haviam pago uma fortuna para estar ali. Mas, francamente? Estava pouco se fodendo! Precisava esfriar a cabeça. Aquela pausa era extremamente necessária. Então, simplesmente se afastou da mesa, caminhando até os fundos da loja de CD’s, para uma pausa merecida.

            Ele acendeu um cigarro, dando uma tragada lenta, enquanto enchia um copo descartável com um pouco de café, que vinha de uma garrafa térmica em cima de uma mesa. Retirou o cigarro dos lábios, soltando a fumaça que escapou por entre os dentes, antes de tomar um gole do café, que desceu quase queimando.

            Foi então, que ao levar o cigarro novamente aos lábios, ouviu passos se aproximarem atrás de si. Imaginou que seria o dono da loja para reclamar do fato de que ele teria deixado os clientes esperando. Todavia, estava enganado.

            — Você pode autografar esse CD para mim? — Soou uma voz calma, suave, gentil. Castiel ainda estava de costas, quando aquela voz feminina soou.

            — Eu disse que ia tirar uma pausa, volte para a fila. — Ele disse de modo rude, ainda virado de costas.

            — Ah, qual é! Não pode ao menos pensar no meu caso? — A garota insistiu, em um tom de voz descontraído.

            — Não fode! Eu disse para esperar na fila! — Castiel disse em tom mais raivoso. Todavia, por mero reflexo, virou-se para olhar a garota, que ainda estava parada atrás de si. E, quando a vislumbrou, seus olhos se arregalaram e sua face empalideceu.

            Ela sorria de soslaio, o olhando pacientemente. —E então, pode autografar meu CD? — Ela perguntou, no mesmo tom gentil e melódico.

            Castiel ainda olhava estupefato! Não acreditava no que estava vendo. Seria capaz de reconhecê-la até mesmo se estivesse enfiada em meio a uma multidão. Aqueles cabelos vermelhos, os olhos castanhos, a pele alva como a de uma boneca de porcelana, o vestido preto por baixo do casaco de couro. A maquiagem escura composta por sombra e batom preto, as tatuagens nas pernas desnudas, por baixo do vestido curto. Os piercings no nariz, sendo um na lateral e outro no septo... Estava mais linda do que ele era capaz de se lembrar!

            — Montsserrat?! — Ele disse, ainda pálido como cera. Há anos não via aquela garota. Vê-la ali, fez seu coração acelerar. Afinal, fora sua namorada na época de escola. A única capaz de curar as feridas deixadas pela vadia da Debrah.

            Ela assentiu com a cabeça, ao ouvir a indagação perplexa, que a fez rir. — Você não mudou nada, Castiel. Continua com o mesmo gênio terrível! — A garota brincou.

            Ele sorriu de canto, ao ouvir o comentário dela. Era a primeira vez que esboçava um semblante mais simpático, naquela noite. — Posso dizer o mesmo de você. Continua bem gata, aliás. — Ele brincou, dando uma piscadela para Montsserrat.

            Ela por sua vez, negou com a cabeça arqueando a sobrancelha. — Sossega, garanhão. Eu não sou tão fácil assim. Só quero que autografe meu CD. — Ela respondeu, em tom brincalhão, entregando o CD a Castiel, que o apanhou prontamente, retirando uma caneta do bolso para assinar a capa.

            — E então, quando voltou? Soube que estava em Londres. — Castiel comentou, enquanto deixava sua assinatura na capa do CD, entregando-o para a moça em seguida.

            — Há dois meses, mas estive tão ocupada, que quase não tive tempo nem de respirar. Estou trabalhando como fotógrafa para uma revista de fofocas. Digamos que você e sua namoradinha têm nos dado muito conteúdo. — Ela comentou, em tom sarcástico. A verdade, era que não engolia a volta dos dois. Odiava Debrah com todas as forças que tinha! Se lembrava perfeitamente do inferno que aquela vadiazinha lhe causara na escola.

            Castiel ficou sem jeito ao ouvir o comentário dela. Era uma merda o fato de que ela soubesse que ele e Debrah tinham reatado. Mas, não estava surpreso com isso, já que aquela praga fazia questão de esfregar isso na cara de todo mundo.

            Ainda assim, estava feliz por vê-la novamente, depois de tantos anos. Queria poder passar algum tempo com ela e conversar. Era inegável que a mera presença de Montsserrat já havia melhorado seu humor.

            — Pois é, vocês não me dão folga. — Ele disse em meio a um riso. — O que acha de sairmos para beber algo? Assim você terá mais conteúdo para a revista. — Ele sugeriu, esboçando um sorriso cretino.

            — Por mim tudo bem. Só espero que isso não lhe garanta uma estadia no sofá, se a primeira-dama descobrir. — Ela brincou. Embora, é claro, não estivesse nem aí para isso. Desprezava Debrah ao extremo.

            — Gosto de correr riscos. — Castiel respondeu. — Daqui à uma hora eu estarei liberado. Aí poderemos ir. — Castiel disse, ainda com aquela expressão nitidamente mais alegre e convidativa.

            — Ótimo, eu te espero lá fora. Não quero ver você sendo agarrado por uma legião de fãs histéricas. — Ela gracejou, ainda o olhando daquele modo irônico.

            — Não esquenta com isso, ainda vai sobrar muito de mim, para você agarrar mais tarde. — Ele piscou novamente, dizendo aquilo de modo brincalhão. Em seguida, apagou o cigarro em um cinzeiro, tomando o último gole de café, antes de voltar para a mesa. Estava de ótimo humor, agora. Mal podia esperar para que a sessão de autógrafos acabasse, para que pudesse sair com Montsserrat. Ao menos, aquilo seria um alívio, para o inferno no qual estava vivendo em todos aqueles meses.

            Ela riu do comentário dele, apenas negando novamente com a cabeça, enquanto via o ruivo se afastando. Era inquestionável: ele não havia mudado em absolutamente nada.

           


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