A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 4
Para sempre?




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            Tudo parecia um pouco estranho, desde que se pegara pensando em Lysandre, após tanto tempo. Ela se perguntava a todo momento, como as coisas teriam sido, caso nenhum dos dois tivesse partido. Ainda estariam juntos? Estariam com o futuro que haviam planejado?

            Não eram raras as ocasiões, em que conversavam sobre uma vida a dois. Estavam sempre divagando, como seria quando se casassem. Pareciam tão convictos... Tão decididos. Tão obstinados a permanecerem juntos. Acreditavam piamente que este seria seu destino.

            Naquela manhã, enquanto se banhava antes de ir ao trabalho, a mente de Annelise vagava por suas lembranças. Enquanto a água quente caía sobre seu corpo, encharcando aos cabelos alvos, ela fechou os olhos. Mergulhava embalada em suas memórias reprimidas, enquanto o som da água caindo sobre o piso, lhe fazia lembrar de um destes momentos eternizados.

            “Annelise e Lysandre haviam saído para comemorar o dia dos namorados, no restaurante onde tiveram o primeiro encontro. O jantar fora perfeito! Lysandre reservara exatamente a mesma mesa, onde jantaram a primeira vez. Ele queria que tudo fosse impecável, para que a namorada ficasse feliz. Havia um violinista tocando músicas românticas, que a pedido de Lysandre, tocara a música do casal: Can’t help falling love.

            Annelise, é claro, estava radiante. Segurava a mão do namorado, afagando-a a todo momento. Queria demonstrar quão feliz era, por estar com ele. Demonstrava em ações, o quanto o amava. O quanto queria que ficassem juntos para sempre.

            O rapaz parecia mais amável do que nunca, olhando-a apaixonadamente, a cada palavra proferida pela moça. Apesar de serem jovens, sentia que seu amor por ela não era passageiro. Ela era a coisa mais importante de sua vida. E ele, a razão da vida dela.

            Aquela noite era muito significativa para o casal. Sobretudo, para Annelise, que sentia seu coração acelerar, cada vez que seus orbes azuis, pousavam sobre o sorriso de Lysandre. Se apaixonava por ele de novo, e de novo. Seu sentimento por ele se renovava, tornando-se mais forte a cada dia. A garota não tinha dúvidas de que o amava.

            Ao terminarem o jantar, foram saindo do restaurante. Todavia, foram pegos de surpresa, por uma intempérie que havia chegado sem prévio aviso.

            Caía uma chuva torrencial, naquela noite de primavera. As ruas estavam alagadas! Poças estavam espalhadas por todos os lados, de modo que era impossível andar pela calçada, sem que os pés afundassem na água lamacenta.

            Acabaria ficando tarde para voltarem, caso esperassem a chuva passar. Também, seria impossível pedir um táxi, já que os poucos que circulavam, não estavam parando para ninguém.

            Parada à porta do restaurante com o namorado, Annelise olhava desolada, a chuva intensa a cair.

            — Parece que estamos ilhados. — A moça comentou, soltando um suspiro pesado.

            — Acredito que sim. A chuva não dá sinais de que vá parar. — Lysandre respondeu, olhando para frente, vislumbrando a água que descia do céu nublado.

            No entanto, ao olhar de canto para Annelise, não pôde conter um sorriso discreto, notando a feição entediada da garota, esperando que a chuva passasse. Não poderiam passar a noite toda ali. Era bem verdade que os pais da moça haviam viajado, e ela não teria hora para voltar. O problema, era que estava esfriando. Precisariam encontrar uma solução rápida.

            Lysandre, estendeu a mão para fora do toldo que cobria suas cabeças, sentindo a água gelada batendo contra sua pele. Logo, recolheu a mão, tornando a olhar para Annelise.

            — O que acha de se molhar? — O rapaz indagou, agora tomando a mão da namorada e entrelaçando os dedos.

            — Você está falando sério? — Annelise pareceu meio incrédula, ao ouvir a sugestão dele.

            — Claro! É só água. Vem! — O rapaz riu, puxando a mão da moça.

            — Nós podemos acabar doentes, Lysandre! — Annelise advertiu, ainda achando aquilo um tanto absurdo.

            — Não se preocupe, não vamos adoecer. Confia em mim? — O rapaz perguntou, já com o corpo quase todo embaixo da chuva. Os cabelos prateados, caiam ensopados sobre seu rosto, enquanto ele continuava com o braço esticado, segurando a mão da namorada.

            A garota ponderou por alguns segundos, antes de tirar os sapatos de salto alto. Ela sorriu para Lysandre, segurando o par de sapatos com a mão que outrora estava livre.

            — Confio! — Annelise respondeu, saindo debaixo do toldo.

            De mãos dadas, eles começaram a correr pela chuva, que parecia apertar mais. No entanto, não se importavam. Era um momento só dos dois. Não podia negar, que era divertido, apesar do frio.

            Conforme a chuva se tornava mais intensa, o casal apressava mais os passos. Porém, o faziam rindo. Eram como duas crianças, naquele momento: brincando ao sabor da chuva. Esqueciam de tudo a sua volta! Tudo o que importava naquele momento, era que estavam juntos.

            Correram pelas ruas alagadas por mais alguns minutos, até chegarem à porta da casa da garota. Annelise se apressou em pegar as chaves que estavam dentro de sua bolsa, enquanto Lysandre cruzava os braços, sentindo um frio cortante.

            A porta finalmente foi aberta, e a moça puxou o namorado pela mão, fazendo-o entrar na casa. Os dois estavam encharcados! Precisavam de roupas secas.


            Lysandre tremia, retirando ao paletó preto, que usava por cima do colete marrom. E, Annelise, se apressou em ajudar o namorado a se livrar daquele casaco encharcado.

            — Você precisa de um banho. Vai congelar. — A garota disse, ao beijar brevemente os lábios do namorado, após ajudá-lo a se livrar do paletó.

            — Não trouxe outras roupas. — Lysandre rebateu, ofegando e trincando os dentes por conta do frio.

            — Eu te empresto algumas roupas do meu pai. — Annelise comentou, também tremendo de frio.

            — Ele não vai se zangar? — O rapaz perguntou. Sabia que Phillip era extremamente ciumento, com a filha.

            — Não se preocupe, eu as devolverei lavadas e passadas. Ele nem vai desconfiar. Agora, acho melhor você ir tomar logo aquele banho, antes que adoeça. — Annelise reforçou, afagando a face molhada, do garoto.

            — Vem comigo? Você também precisa tirar a friagem. — O rapaz disse, enquanto envolvia com os braços, a cintura fina de sua amada.

            A moça assentiu, dando um breve selinho nos lábios do namorado. Em seguida, segurou novamente a sua mão, o guiando até o banheiro.

            Não podia negar que era vergonhoso despir-se na frente dele. Francamente? Suas bochechas coravam e ela sequer conseguia olhá-lo, mesmo que aquela não fosse a primeira vez em que ficava nua diante de Lysandre.

            O rapaz, já livre do colete e da camisa verde que usava, pareceu notar a timidez da moça. Sorriu de soslaio, abraçando-a por trás, quando esta estava apenas com a lingerie azul, ensopada.

            — Está tudo bem. Já fizemos isso antes. — Ele disse, sobre ficarem nus, diante um do outro. Em seguida, beijou-lhe carinhosamente o ombro, fazendo com que a garota se sentisse mais confortável.

            Quando notou que Annelise já não estava mais tão tímida, afastou-se um pouco, retirando a calça social preta, que ainda usava. Em seguida, caminhou até o box, abrindo o chuveiro. Tão logo regulou a temperatura da água, puxou delicadamente a namorada para junto de si, a abraçando pela cintura, sentindo as gotículas quentes, deslizarem pelos corpos.

            Os rostos estavam tão próximos... Um podia sentir a respiração descompassada do outro. A mão de Lysandre pousou sobre a face de Annelise, enquanto seu polegar deslizava sobre o queixo da garota.

            — Eu te amo. — O rapaz sussurrou.

            — Eu também te amo. — Ela confessou baixinho, roçando a ponta do nariz contra o dele, ao ficar sobre as pontas dos pés descalços.
 
            — Fica comigo para sempre? — Lysandre indagou, enquanto a água quente caía sobre seu corpo desnudo, abraçado à namorada. Os olhos bicolores, buscavam aos orbes azuis como o oceano, enquanto sua mão destra era levada à bochecha alva e macia, da garota.

            Annelise afirmou com a cabeça, esboçando um sorriso amplo. — Sim, Lysandre. Para sempre. — A garota sussurrou. Logo, seus braços envolveram ao pescoço do namorado, unindo os lábios aos dele em um beijo terno.”

            Todavia, quando faziam aquelas centenas de planos, sequer imaginavam que as coisas acabariam mudando de forma drástica.

            — Para sempre... — Disse consigo, encostando a testa ao azulejo do box. Sentiu um nó na garganta. Uma terrível vontade de chorar. Por que tudo havia terminado assim? Tantas juras de amor desperdiçadas...

            Negou com a cabeça, ainda de olhos fechados. Não podia deixar que seu passado a traísse, daquela forma.

            Annelise desligou o chuveiro, se enrolando na toalha. Teria um dia cheio pela frente, com ocupações demais, em seu café. Precisava afastar de si, a imagem de Lysandre. Ele se esvaía, assim como a promessa não cumprida.

            Não devia ficar pensando nisso. Seu passado precisava ficar para trás! Tinha uma nova vida, agora. Uma vida, da qual ele não fazia parte. Lysandre fez sua escolha, ao voltar para fazenda. Era hora de deixar que suas lembranças partissem, assim como ele o fez.

           


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