A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 33
Situação embaraçosa.




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            Quando Lysandre terminou de comer, saiu novamente pela porta dos fundos, da casa. Precisaria começar a trabalhar, para que o dia pudesse render. Apanhou seu chapéu de palha, pousando-o sobre a cabeça, enquanto ia em direção ao celeiro. Queria ver como ainda estava o estrago que ele mesmo havia causado.

            Para chegar até o celeiro, teve de passar em frente ao pequeno jardim, onde sua mãe cultivava suas flores. Era bem verdade, que Josiane era apaixonada por rosas! As tratava com todo o amor do mundo, sempre cuidando delas da melhor forma possível. Agora, que ela tinha partido, Lysandre tinha de cuidar das flores, para que não morressem. O grande problema nisso, era que por mais que tentasse, não tinha tato para cuidar delas. De modo, que nunca conseguiu que ficassem tão vistosas, como quando sua mãe cuidava.

            Ao passar diante do jardim, vislumbrou Annelise abaixada junto ao canteiro de rosas, com luvas de jardineiro nas mãos delicadas. Parou para observar por alguns minutos, a moça que com um chapéu de palha com um laço lilás sobre a cabeça repleta de longas madeixas platinadas, regava as flores. Ela parecia dar às rosas, todo o seu amor. Não se importando em sujar na terra, os joelhos que surgiam por baixo da saia plissada, de seu vestido azul claro.

            Ela agora, começava a adubar a terra, para que as flores pudessem crescer saudáveis. Não podia negar que ficara tocada, ao ver quão abandonadas as pobrezinhas pareciam. Mas, acreditava que com os cuidados certos, aquelas rosas vermelhas se tornariam flores belíssimas! Saudáveis! Que encheriam os olhos com sua graciosidade e inebriariam com seu perfume.

            Lysandre parecia tocado, observando o modo carinhoso como a namorada cuidava das rosas de sua mãe. Se Josiane ainda estivesse viva, ficaria feliz em ver a dedicação da nora em cuidar daquilo que mais amava. Era realmente uma cena adorável. Aquilo trazia a ele, uma sensação de calmaria, além de um sentimento nostálgico, quando via que as rosas estavam sendo cuidadas da forma correta. Forma esta, que por mais que ele tentasse, jamais conseguira fazer.

            Annelise parecia se entender com as flores! Demonstrava saber exatamente o que estava fazendo, enquanto arrancava as ervas daninhas que tentavam ceifar a vida das rosas. Sempre cuidou de jardins! Amava plantas! Principalmente, as flores. Não era atoa que quando estava na escola, fazia parte do clube de jardinagem.

            Lysandre continuava a observando, enquanto a garota tratava o solo.  Estava totalmente encantado pela maestria com a qual ela fazia aquilo. De fato, assistir Annelise cuidando do jardim, fez com que seu coração aquecesse. Era tão lindo vê-la junto as roseiras... Nem mesmo os espinhos pareciam incomodá-la, enquanto cuidava das flores, como se fossem suas.

            Por alguns breves momentos, pensou a respeito do que o frentista do posto, havia dito. Era inegável, que ver o modo como Annelise parecia ter nascido para compartilhar o mesmo estilo de vida que ele, o fez refletir. Sempre soube que queria ficar com ela por toda a sua vida. Sentiu isso claramente, no momento em que a beijou pela primeira vez. Todavia, essa certeza parecia mais latente agora. Mesmo que ambos tivessem concordado que ainda era muito cedo para formalizarem a união, não podia evitar pensar naquilo.

            Tentou afastar esses pensamentos, temendo que estivesse sendo precipitado. Agora que estava novamente com Annelise, seu maior medo era que a perdesse uma vez mais. Não queria assustá-la, muito menos afugentá-la, com um pedido de casamento antes da hora. Era melhor se afastar dali, deixando-a sozinha com o jardim. Afinal, ele também precisava começar a trabalhar no celeiro.

            Sorriu de soslaio, dando uma última olhada em Annelise, ajoelhada sobre a terra úmida pela água vinda do regador. Era inegável que por mais que tentasse, não conseguia deixar de pensar que ela era a mulher com quem ele queria passar o resto da vida. Após olhá-la uma última vez, começou a caminhar em direção ao celeiro, carregando sua caixa de ferramentas. Precisava mesmo trabalhar! Talvez aquilo o ajudasse a esquecer os pensamentos que o rodeavam.

            Algumas horas se passaram, o sol já estava alto no céu, enquanto Lysandre serrava uma tábua. O suor escorria por sua testa, enquanto o serrote continuava deslizando pelo extenso pedaço de madeira. Precisaria de várias tábuas no mesmo tamanho, para pregar onde estava o enorme rombo causado pelo trator. Pelo menos, já havia conseguido reconstruir uma boa parte do celeiro. Acreditava que logo mais, o teria terminado. Talvez, só mais uns dois meses já bastariam.

            Enquanto ele serrava as tábuas, Annelise ia cuidando das tarefas domésticas. Já tinha alimentado os coelhos, os patos, as galinhas, regado o jardim, a horta, limpado o galinheiro... Ela era bem rápida no trabalho, isso era um fato. Gostava de cuidar de fazenda. Isso, a remetia a uma época mais feliz de sua vida, quando viveu com os avós no campo. Era como voltar ao passado, mas trazendo Lysandre consigo.

            A moça limpava os azulejos da cozinha, que estavam bem encardidos. Era nítido que por mais caprichoso que Lysandre fosse, não tinha tanto tato para aquilo. Estava aliviada por ter decidido ajudá-lo a cuidar da fazenda. Aquele lugar estava precisando urgentemente de um toque feminino.

            Enquanto secava os azulejos com um pano após lavá-los, olhou pela janela da cozinha. Podia ver Lysandre medindo os pedaços de madeira e fazendo marcações neles, com um lápis. Em seguida, novamente começava a serrar as tábuas.

            Ao vê-lo fazer aquilo, Annelise começou a refletir. Aqueles anos sozinho na fazenda, não deveriam ter sido nada fáceis. Claro, sabia que ele contava com a ajuda de um capataz, quando precisava se ausentar. Mas, agora, via que o namorado fazia praticamente tudo, sem ajuda alguma. Era triste pensar em quão desamparado ele estivera, em todo aquele tempo. Comprimiu os lábios em um semblante quase triste, ao imaginar tudo o que o homem que amava, havia passado.

            Lysandre era um homem esforçado, não podia negar! Ele jamais fugia de suas obrigações. Não se acovardava em hipótese alguma. Demonstrava uma responsabilidade, que era deveras admirável. Ele era alguém que não se escondia, quando os problemas vinham. Ela sabia disso, porque desde que o conhecera, jamais o vira fugir de suas obrigações.

            Se algum dia, pudesse escolher alguém para passar o resto de sua vida, certamente seria ele. Não só porque o amava. Mas, também, porque se sentia segura ao lado dele. Sabia que Lysandre não a abandonaria, quando a coisa apertasse. Afinal, ele tinha voltado por ela, não tinha? Isso, por si só, já era uma prova de que ele era o homem certo para ela. Por alguns momentos, pareceu se lembrar do conselho do frentista: “namoro é para pensar em casamento”. Não tinha como negar que aquele homem estranho, estava certo. Lysandre era sem dúvidas, o homem com quem queria se casar. Mesmo, que tivesse medo de assustá-lo, caso deixasse isso transparecer.

            Viu-o secar o suor da testa, com o dorso da mão, enquanto continuava cortando as tábuas, que usaria para consertar a destruição que sua distração causara. Presumiu que a temperatura ao lado de fora estivesse insuportável. Ainda mais, levando em conta, que ele estava fazendo bastante esforço naquele trabalho braçal. Sabia que o calor poderia lhe causar uma insolação, mesmo que estivesse com a cabeça protegida pelo chapéu. Portanto, decidiu que levaria algo para ajudá-lo a se refrescar um pouco.

            Lysandre estava quase derretendo! O calor era intenso, naquele começo de tarde. Quase não estava aguentando mais. O suor continuava escorrendo por sua testa, pescoço, braços... Em resumo: estava encharcado de suor. Novamente, guiou o dorso da mão à testa, secando-a enquanto ofegava. Seu rosto estava totalmente corado, pelo esforço que fazia. Precisava beber algo urgentemente, para não acabar desidratado. A sede se fazia presente, salgando seu paladar. Ela se intensificava cada vez mais, enquanto ele perdia mais líquido.

            Annelise pareceu ler seus pensamentos, pois vinha trazendo um jarro de limonada, que parecia tão gelada que fazia com que o jarro “suasse”. — Acha que pode tirar uma pausa para uma limonada? — A moça indagou em tom gentil, atraindo a atenção do namorado, enquanto se aproximava.

            Lysandre virou o rosto para olhá-la, largando a tábua a qual havia acabado de medir e marcar. Não escondeu um sorriso amplo, ao ver a moça se aproximando, carregando ao jarro transparente, repleto de rodelas de limão mergulhadas no suco. — Você leu a minha mente. — O rapaz gracejou. — Eu estava mesmo precisando parar um pouco. Obrigado! — Ele disse alegremente, enquanto Annelise lhe servia um pouco da limonada.

            — E então, como está a reconstrução do celeiro? — Annelise indagou, observando a estrutura que aos poucos começava a ser reerguida. Aquilo deveria estar dando muito trabalho.

            — Está indo bem! Acredito que só mais um ou dois meses e já estará novo em folha. — O rapaz respondeu, após tomar todo o conteúdo do copo, em uma só golada. Geralmente, tinha modos impecáveis. Todavia, estava com tanta sede, que sequer deu atenção a isso.

            — Está ficando bonito! — Annelise comentou. — Você é bem jeitoso. Tenho certeza de que ficará ótimo. — Ela afirmou. De fato, estava ficando muito bem-feito.

            — Obrigado! Acredito que logo mais ele estará em perfeito estado. Quem sabe até possamos realizar o nosso casamento nele. — O rapaz comentou, parecendo não ter percebido o que disse. Todavia, Annelise percebeu perfeitamente o que foi dito. Pois, ela corou bruscamente, esboçando um semblante espantado.

            — O nosso o quê, Lysandre? — Ela perguntou, sentindo o coração acelerar. Ele tinha mesmo dito aquilo?! Estaria imaginando coisas?! Estava cada vez mais ansiosa, enquanto esperava pela resposta dele.

            Ao se dar conta do que havia dito, fora a vez de Lysandre corar enquanto parecia nervoso. Não sabia o que fazer naquele momento. — Eu... — Ele balbuciou. Era como se tivesse entrado em colapso. — Bem... Mais para frente! Digo, no futuro, entende? Se você quiser, é claro. Mas sem pressa! Quando você estiver pronta. Digo! Quando nós estivermos prontos! Nossa, está calor aqui! — Ele não conseguia coordenar as palavras, que escapavam de sua boca. A vergonha o fazia perder o rumo até mesmo de seus pensamentos.

            Annelise continuava vermelha como um pimentão, parecendo tão atrapalhada quanto o namorado. Aquilo a havia deixado desestabilizada por completo. — Eu... Eu vou preparar o almoço. Quando estiver pronto, venho lhe chamar. — A garota utilizou isso como desculpa, para esconder a vergonha que sentia.

            — Ótimo! Nos vemos mais tarde! — Lysandre afirmou, no ápice de seu constrangimento, enquanto assistia Annelise sair quase correndo dali. O rapaz levou a mão a testa, dando um tapa leve. — Parabéns, Lysandre! Você conseguiu assustar a moça! — Ele disse consigo, quando Annelise já tinha voltado para o interior da casa.

            Ela, por sua vez, tão logo entrou na cozinha, fechou a porta, apoiando as costas sobre ela. A garota ofegava, sentindo o coração bater em uma velocidade espantosa. Parecia ter corrido uma maratona. — Ótimo, Annelise! Você tinha que fazer aquela cara de espanto, né? Agora o Lysandre nunca mais vai tocar no assunto! — Praguejou consigo. Sentia ter estragado tudo, ao se assustar e sair correndo dali.


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