Capítulo 5

Bella passou toda a semana pensando no encontro com Renée. Pediu á Charlie um encontro social, em um lugar público e cheio, e que ele não a deixasse sozinha. Ele concordou, parecendo um pouco confuso, mas não fez perguntas, o que a deixou grata.

Edward disse-lhe que tentasse se distrair, e por seu incentivo ela acabou aceitando sair em grupo com os colegas da escola. Os olhos de Mike brilharam quando finalmente aceitou um de seus convites, coisa que ela ignorou. Uma ida até Portland para ver um filme. Apenas isso. Sr. Newton não fez objeções quando ela lhe pediu uma folga; o movimento estava tão baixo que os dois passavam a tarde toda sentados ou limpando coisas que já estavam limpas.

Ficou combinado que Mike levaria os garotos e Jéssica levaria as garotas. Bella levou sua picape em casa e subiu para trocar de roupa. Ainda tinha um tempinho.

— Você vai usar esse tênis? Ele está rasgado. – Edward comentou enquanto ela se arrumava no quarto.

— Não é um encontro para que eu tenha que me arrumar.

— Se fosse por causa disso. Você lembra que mora em Forks? – Ele replicou – A chuvosa e molhada Forks? Não faça isso com suas pobres meias.

— Não enche. Isso foi ideia sua.

— Você tem que sair às vezes, vai acabar mofando aqui dentro.

— Eu gosto daqui – Bella o lembrou – É mais tranquilo do que Phoenix. É pequeno e calmo e é tudo o que eu preciso para ter um pouco de paz.

— Olha, não vamos discutir o fato de Forks ser tão interessante quanto uma ervilha – Ele levantou da cama e caminhou até ficar frente a frente com ela, perto do espelho – Existe outros lugares, se você se permitir sair e conhecer.

— Estou bem aqui, obrigada.

— Ok, você vai mofar aqui. Qualquer dia Charlie vai chegar e te encontrar verde e cheia de pelinhos.

Ele não se incomodou em desviar do pente que ela jogou. O objeto apenas o atravessou e foi parar em baixo da cama. Edward lhe mostrou a língua.

— Por que você quer tanto que eu saia de Forks? – Ela resmungou – É pequeno e frio, mas eu me sinto bem.

— Eu sei. Seu mini mundo faz você se sentir segura – Edward cravou aqueles olhos verdes nos dela – A questão é: Você se prende aqui porque tem medo de encarar o que tem lá fora. E não venha usando a desculpa do trabalho e da escola – Ele alertou quando ela abriu para protestar – Você vai se formar em oito meses. E não, não vai trabalhar naquela loja até o fim dos seus dias...

A buzina de Jéssica o interrompeu. Bella sorriu em vitória e ganhou uma careta de resposta.

— Você não vai fugir de mim depois – Ele avisou.

— Eu vou chamar um exorcista para você, isso sim.

— Boa sorte – Edward debochou – E tomara que suas meias fiquem muito, muito molhadas! – Ele gritou quando ela já estava no andar de baixo.

Bella apenas riu e saiu, correndo até o carro branco. Teve o azar de se sentar ao lado de Lauren, que a encarou de cima, e tinha certeza que o sentimento em seus olhos era nojo. De todos os colegas da escola, era Lauren de quem menos gostava. No ano anterior seus horários de educação física acabaram batendo; Bella, péssima em esportes, acabou por derrubá-la no chão durante o basquete, e depois conseguiu a proeza de acertar Lauren com a bola de vôlei bem no rosto. Pediu desculpas várias vezes, mas Lauren, que já não gostava dela por seu comportamento "estranho", passou a olhá-la como se Bella fosse um inseto asqueroso. A maior parte dos olhares feios e das piadinhas vinha dela e de suas amigas mais próximas.

Bella se encolheu no banco, tentando não encostar-se a ela, e se preparou para ouvir alfinetadas durante todo o passeio. Ao menos teria Ângela para conversar.

Não estava chovendo em Portland, felizmente. Os dois grupos se encontraram no cinema e debateram um pouco sobre qual filme assistir até decidirem por um de terror. Já dentro da sala, Mike veio rapidamente para seu lado. Bella se esquivou e deu um jeito de colocar Jéssica, que tinha uma paixonite por ele, sentada entre ambos. Mike não pareceu muito feliz com isso, coisa que ela não deu muita atenção.

O filme não foi realmente interessante, daqueles feitos mais para dar susto. Depois de viver a vida toda vendo espíritos reais, demônios cenográficos não assustavam Bella. Quando acabou, resolveram ir comer na lanchonete do outro lado da calçada. Era um daqueles lugares grandes, com piso xadrez e bancos estofados. Eles se amontoaram em uma das maiores mesas, encostada na enorme janela de vidro.

Bella achou, enquanto comia seu hambúrguer, que o passeio até estava indo bem. Não estava se atentando muito as conversas, preferindo olhar o céu escuro através da janela. Estava bem, até a voz desagradável de Lauren chegar aos seus ouvidos:

— É claro que, em comportamentos estranhos, a Bella entende.

Ela olhou para Lauren, que lhe devolveu um sorrisinho falso. Bella podia ver o desprezo em seus olhos muito bem. Não soube responder. Não estava esperando um ataque tão direto. O silêncio se fez na mesa, com todos olhando-a.

— Quer dizer, você é um pouco esquisitinha – Lauren continuou – Você ás vezes fala com as paredes.

— Eu já vi também – uma outra garota, amiga de Lauren, cujo nome Bella nunca tinha feito questão de memorizar, se pronunciou – Como se falasse com alguém que não está lá.

— Você fica olhando para o nada – O veneno na voz de Lauren estava mais forte – Você é esquizofrênica ou algo assim? Você age como uma.

— Lauren! – Ângela a repreendeu.

— O quê? Vocês todos tem essa dúvida também!

Bella sentia o rosto muito quente. Todos estavam embaraçados, ela podia ver, mas também curiosos por sua resposta. Hesitou por um momento, sem saber o que dizer.

— Se for... É-é uma doença, certo? – Mike falou incerto – Tipo, nada perigoso, certo? Nada que seja sua culpa.

— Não é contagioso, eu acho... – Jéssica comentou.

— Dá pra controlar com remédio...

— Você vê alienígenas?

Eles começaram a falar entre si, especulando coisas cada vez mais absurdas, mas a estranheza e o medo em seus olhos entregavam o que realmente sentiam. Aquilo foi o bastante para Bella saber que não podia falar nada. Eles não entenderiam. Se confirmasse que via coisas, seria muito pior. O sorriso de Lauren estava maior, mais debochado. Bella não podia acreditar; a noite estava indo tão bem, por que Lauren tinha que estragar tudo? Não era possível que tamanha birra fosse por alguns acidentes nas aulas. Ela devolveu o hambúrguer ao prato, sem vontade de comer mais.

— Vamos lá, Bella – Lauren falou – Nós sabemos que tem alguma coisa. Se você tem vergonha de ser doente...

— Não sou doente! – Bella ouviu a si mesma dizer, a voz muito aguda.

— Aposto que é! E aposto que foi por isso que sua mãe te abandonou!

— Ei!

— Lauren!

Bella se levantou e saiu dali. Ouviu Ângela chamando-a, mas não voltou. Foi para fora da lanchonete com passos rápidos. Uma garoa fina começava a cair enquanto ela andava pelas ruas de Portland. Não tinha nenhum rumo especifico, apenas queria se afastar o máximo possível dos colegas.