Broken escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Will you breathe through me?




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“Rest now, your heart

It's all right

We're all right

Although you're gone

I'll be here to hold you

I've got you”



Sentia o tremor. Aquele de um grande nervoso quando se esconde algo até mesmo de si. Aquele tremor que vê do âmago ferido e castigado, que reverbera no corpo todo como uma chicotada faz doer não só as costas lanhadas e marcadas. Visceral, doloroso.

O peito subia e descia conforme o ar fazia esforço para encontrar seus pulmões. O caminho ocupado pelo grito que não rompeu, a névoa densa e escura a lhe cobrir parcialmente as vistas, o torpor do momento como se a dor fosse tão grande que anestesiava a própria dor. 

A vista estava embaçada, ele achava que sim mas não sabia o porquê, não até piscar e sentir as lágrimas escorrerem por seu rosto, algumas chegando à boca, outras ao queixo e dali alçando uma queda derradeira. Puxou o ar, cansado, ferido, quebrado. 

Sentiu-se fraco, não mais capaz de sustentar o corpo sobre as pernas, caindo de joelhos no chão enquanto a mão seguia ao peito, amassando a veste, puxando para que o ar pudesse enfim encontrar seu lugar certo. 

Estava preso. 

Presos em meio às roupas que usava como um escudo intangível, como proteção de seu medo, de sua agonia, de seu desespero. As roupas que agora protegiam-no, aprisionavam-o ao impedi-lo de puxar o ar de maneira satisfatória. Ao menos, era o que sua mente cansada e triste o obrigava a pensar. Um foco breve em qualquer coisa que não a constatação de que seu tio havia conseguido mais uma vez. 

Peça a peça naquele jogo, e Laurent perderia tudo o mais que considerava importante. 

Nicaise era importante.

Jovem, com um futuro ardiloso e brilhante pela frente. Seria… 

Se ele o tivesse resgatado.

Se ele o tivesse tirado das garras do regente.

Se ele tivesse mudado o destino de Nicaise como mudara o seu ao crescer e envelhecer. 

Nicaise sequer tivera a chance de não ser mais graciosamente desejado por seu corpo jovem e ainda sequer completamente formado. 

Quebrado. Era assim que se sentia ao ver que, aquele mesmo poderia ter sido o seu destino. Talvez o fosse ainda. Acabar, não apenas nas mãos do regente, como ser descartado por ele. Faltava para si apenas o descarte. 

Chorou.

Não era gracioso, não era silencioso nem comedido. Era doloroso, angustiante. Os movimentos de um corpo que se recusa a aceitar o choque pelo baque, a perda. Ainda agarrava-se às vestes, num ato automático de puxar as camadas de tecido para respirar fundo e quem sabe, desembaçar a visão encoberta por lágrimas de uma real tristeza. 

E em meio a tudo aquilo, viu-o ali. Parado, silencioso, obstruindo qualquer passagem e qualquer um que tentasse entrar ali e encontrá-lo assim, de joelhos no chão, chorando e com a dor da perda de parte de si, porque Nicaise era isso. A inocência que também perdera, o corpo jovem castigado pelas vontades de homens que deveriam, ao menos, saber se portar com uma criança. Por uma segunda vez ele perdeu a si mesmo, sua infância, sua vida nas mãos do regente, do tio. Daquele que deveria ser família, nunca abusador. 

A mãe, o pai, o irmão. Aquele que via como um reflexo de si em meio aos corredores do castelo, infelizmente em meio aos lençóis do regente. 

Apoiou a testa no chão, pouco importando-se com sua submissão a dor. Era tamanha para suportar com sua pose absoluta. O grito queimava-lhe a garganta em busca de liberdade. Negou-se. Engoliu em seco, talvez empurrado pelas lágrimas. Com a ajuda daquela mão firme em seu ombro que sequer o tocava. Mas a presença de Damen ali era isso, um apoio, uma mão no ombro de alguém no momento em que se diz: “você vai passar por isso, vai superar”. 

Era, na verdade, uma morte a mais para colocar na sua lista de culpas e arrependimentos. Uma falha.

Mas quando se pôs de pé, quando apoiou as mãos no chão, quando engoliu o choro, quando fraquejou até quase cair de novo. Quando passou o dorso das mãos no rosto marcado por lágrimas, quando jogou os cabelos para trás e direcionou a Damen um olhar frio de mármore, embora quebrado por dentro, estraçalhado em tantos e tantos pedacinhos, mantinha a fachada de frieza que fazia com que todos pensassem que ele nada mais era que um príncipe de pedra, como a estátua de Auguste agora era em algum lugar, como os antepassados “endurecidos” pelo tempo. 

Apertou os brincos, um esmero que pouco lhe cabia, que mais lhe feria que acalentava. Era a promessa velada de uma vingança, uma retaliação. Uma forma de salvar, ao menos a imagem de Nicaise, o que fora, o que poderia ter sido se envelhecesse ao seu lado como um irmão que lhe fora tirado. 

Ao sair dali, não havia um sinal sequer de sua perda de controle, de sua dor, sofrimento. Era o príncipe de pedra que se tornaria rei.


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