A Criada Francesa escrita por Claen
Após um rápido deleite ao vislumbrar aquelas faces completamente perdidas, Holmes se levantou e foi até a porta principal. Ele a abriu e em seguida uma mulher entrou. Era nítido que ninguém sabia de quem se tratava, com exceção de Gilbert Renard, que pareceu reconhecê-la.
— Eu quero lhes apresentar a Srta. Corine Bennet. – disse Holmes.
— O senhor conseguiu mesmo encontrá-la. – surpreendeu-se Gilbert Renard.
— Sim, M. Renard. Ela não estava mais no endereço que me forneceu, mas lá fui informado sobre seu paradeiro atual. Muito obrigado pela ajuda. – agradeceu meu colega.
— E quem é ela, Holmes? – perguntei tão confuso quanto os demais, interrompendo-o novamente.
— A última peça do quebra-cabeça. A pessoa a quem não demos a devida atenção em toda essa história. – respondeu Holmes, um pouco decepcionado consigo mesmo. – A Srta. Bennet é a amiga que Juliette conheceu na “casa” dos Armstrongs e com quem a Madame Renard conversou quando esteve por aqui procurando pela filha.
— Ah, sim! O Sr. Renard nos falou sobre ela. Já havia me esquecido. – respondi, já me lembrando de quem se tratava.
— Eu também, Watson, mas depois de passar a noite toda em claro em busca de um detalhe que pudéssemos ter deixado escapar, percebi que a Srta. Bennet era esse detalhe e por isso saí correndo para falar com o Monsieur Renard e perguntar se ele tinha alguma ideia de onde eu poderia encontrá-la. Ele me forneceu o endereço do estabelecimento dos Armstrongs, mas ela já não estava mais lá. Por sorte, uma das outras moças sabia seu endereço atual e segui para lá o mais rápido que consegui, e logo que cheguei, vi que aquela havia sido a minha melhor decisão em todo esse caso, e que se tivéssemos feito isso desde o início, teríamos poupado vários dias de investigação.
— E por quê? – inquiri, ainda mais curioso.
— Por causa dele. – respondeu Holmes, se virando para a moça recém-chegada. No mesmo instante, um garotinho tímido saiu de trás da saia da mulher. Assim que o viram, Gilbert Renard e Ethan Hyde se levantaram surpresos.
— Eu lhes apresento Jules Bennet, ou melhor Jules Renard Hyde. – disse Holmes, exultante.
— Não pode ser! – esbravejou Violet Hyde ao ver o garotinho.
— Pode ser, e é! Este é o seu neto, a senhora querendo ou não. – respondeu Holmes em tom desafiador.
— Ele não pode estar vivo! – gritou ela, enquanto se levantava e seguia em direção ao menino de forma ameaçadora, até ser detida por Holmes, que a segurou antes que ela conseguisse se aproximar da pobre criança assustada, que tinha voltado a se esconder atrás da Srta. Bennet.
— Não, senhora! A senhora não vai encostar um dedo sequer neste menino! Acho que já está na hora de você fazer alguma coisa, não é mesmo Gregson? – disse Holmes, fazendo com que o policial acordasse do quase transe em que se encontrava depois de ouvir sobre tantos atos inacreditáveis cometidos por uma das mulheres mais ricas e importantes de toda a Inglaterra.
— S-sim, tem razão, Holmes. – respondeu ele se levantando e assumindo a posição de Holmes. Ele a segurou e algemou seus pulsos.
— Violet Hyde, a senhora está presa pelo assassinato de Juliette Renard, ocultação de cadáver, coerção, e das tentativas de assassinato, do Detetive Inspetor Gregory Lestrade e de Jules Renard Hyde.
— Espere só mais um pouco, Gregson. Acho que poderemos aumentar um pouco mais a lista de acusações. Talvez acrescentar mais um assassinato...
— Tem mais ainda? – perguntou o agente da Scotland Yard, já entregando a prisioneira aos cuidados dos dois policiais que antes estavam do lado de fora da casa, mas que agora estavam também na sala de estar, e seguravam a dama da alta sociedade pelos braços.
— Sente-se, Inspetor. Ainda temos algumas coisas interessantes para contar. – confirmou Holmes, já convencendo o policial a voltar a ocupar seu assento no sofá.
— Mas... mas como pode ser isso? – perguntou Ethan Hyde, visivelmente emocionado.
Gilbert Renard apenas olhava incrédulo e também emocionado para o garotinho que continuava escondido atrás da mulher.
— No instante em que vi o menino, não tive dúvidas. – disse Holmes. – Venha, Srta. Bennet, venha se sentar. Você também Jules, não tenha medo.
Assim que o menino se aproximou de nós, eu entendi o que Holmes queria dizer. Eu não conhecia Juliette Renard, nem mesmo por retrato, mas pude ver traços do irmão da moça no menino, como o formato das sobrancelhas, os cabelos negros, mas a sua característica mais marcante vinha de Ethan Hyde: a heterocromia. O garotinho também tinha os olhos de cores diferentes, um verde e um azul.
— Olá, Jules. Sente-se aqui. – convidei, tentando baixar sua guarda.
Corine Bennet se sentou ao lado de Holmes e o menino junto à mãe, ou pelo menos, àquela que ele acreditava ser sua mãe, e que o havia criado com carinho desde o seu nascimento.
— Como isso pode ser possível, M. Holmes? – perguntou também Gilbert Renard, bastante emocionado.
— O senhor ainda era praticamente uma criança, não muito mais velho do que o Jules, quando conheceu a Srta. Bennet, junto de sua mãe, mas garanto que se lembra que ela tinha um bebê na época. O senhor mesmo nos disse isso quando nos contou sua história.
— S-sim, é verdade. Ela nos disse que ele era filho dela, mas que não sabia quem era o pai...
— Perdoe-me, por favor. – disse Corine Bennet pela primeira vez. – Eu não queria ter mentido, mas eu tive medo.
— Aquele parecia ser um detalhe irrelevante, – prosseguiu Holmes. – por isso não dei importância, mas quando comecei a cogitar a possibilidade de haver um motivo mais profundo para que a Sra. Hyde desejasse a morte de Juliette, pensei que talvez pudesse ser por causa de um neto bastardo. Aquela era uma possibilidade bastante plausível, e se havia alguém que poderia me confirmar essa hipótese, esse alguém seria a melhor amiga de Juliette, a Srta. Bennet. No entanto, nem foi preciso perguntar, pois quando cheguei em sua casa, fui justamente recepcionado pelo garoto e na mesma hora entendi tudo.
“Ela não teve como negar o obvio, como vocês podem ver por si próprios. Entendi que a criança pequena que tinham visto em seus braços, da qual ela afirmava não saber quem era o pai, na verdade era o filho de Juliette, que havia sido salvo por ninguém mais, ninguém menos, do que o Sr. Vincent.”
— Por isso ele desapareceu também? – perguntei, agora já começando a entender tudo.
— Exatamente. A Sra. Hyde aproveitou que o jardineiro tinha acabado de se tornar seu cúmplice involuntário, e deixou o serviço sujo para ele, enquanto foi para a empresa socializar na festa dos funcionários, agindo como se nada tivesse acontecido. No entanto, ela cometeu um erro crucial: ela não confirmou se Juliette estava mesmo morta antes de deixar a casa.
“Quando o Sr. Vincent a levou para fora, Juliette ainda estava viva. O veneno usado certamente era mortal, mas devia possuir propriedades abortivas e fez com que a moça entrasse em trabalho de parto. Juliette acabou dando à luz ao bebê prematuramente e antes de morrer pediu ao Sr. Vincent que levasse a criança para a amiga. Apesar de estar assustado, o jardineiro cumpriu as duas ordens que tinha recebido naquela noite: enterrar Juliette no jardim e levar o bebê até a Srta.Bennet. Ele a conhecia, porque como já foi dito, Juliette era a única que o tratava com carinho nesse lugar, e às vezes o levava junto quando ia fazer compras ou passeava com ele nos seus dias de folga, quando ela ia visitar a amiga.”
— Eu sinto muito por não ter contado a verdade antes, mas acho que esse segredo já ficou guardado por tempo demais e chegou a hora de vocês saberem de tudo. – disse Corine Bennet, finalmente decidida a esclarecer a situação de uma vez por todas.
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