Já era fim de tarde e ambos estavam voltando de suas respectivas aulas, o trabalho que Tanjirou tinha como representante de classe acabava ocupando bastante de seu tempo, o que demandava certo trabalho e esforço, não era incomum ver as marcas de cansaço perdidas em meio ao sorriso dócil e as feições gentis devido a isso.

Para Muichirou, as coisas eram um pouco diferentes, já que ele fazia parte do clube de música. Normalmente, os ensaios não iriam demandar tanto de seu tempo, isso se ele não fosse um dos principais responsáveis pela parte melódica da “banda” da qual participava. “The Hashiras” era um grupo reconhecido pela escola e havia começado como um trabalho do clube para uma arrecadação beneficente, cujo toda a escola estava participando. 

Todo o talento mostrado por tais não foi ignorado e o pequeno “show” feito dentro do solo estudantil rendeu uma boa quantidade de dinheiro, o que incentivou mais pessoas a ajudarem o clube já quase em fase de fechamento pela baixa quantidade de membros, a crescer.

Atualmente, eles eram bastante populares e havia até algumas disputas e discussões para que novos membros pudessem entrar, então acabava que apenas os mais qualificados paravam ali dentro.

No fim das contas, Tokitou acabou como tecladista em meio à uma tentativa descrente de tentar fazer parte do tão famoso clube. Tal foi a surpresa ao verem um novato do primeiro ano conseguir entrar para banda com um cargo ativo, era considerado por muitos como um tipo de prodígio.

Logo as primeiras gotas começaram a cair do céu, elas inicialmente vinham suaves e sem muita pretensão, mas não demoraram muito para que sua intensidade crescesse. As correntes de ar rugiam fortes e cheio de uma friagem bastante gélida, sentia que suas mãos congelariam a qualquer instante, assim como qualquer parte exposta de seu corpo.

— Droga… — Kamado sussurrou — Esqueci de trazer meu guarda-chuva. Ei, Toki, você trouxe o seu?

— Putz, o meu tá quebrado. — Disse, mas não parecia nenhum pouco incomodado com a água banhando-lhe o corpo ou com os ventos lhe abraçando.

— Fudeu, a gente vai ter que correr pra casa agora se não quisermos pegar uma gripe. — Falou, um tanto preocupado. Não demorou para pegar na mão do mais baixo e apertar o passo, mas…

— Ei, Tan, você se importa da gente ficar aqui mais um pouco? Eu acho que ainda não quero voltar pra casa. — Seu tom tinha um toque suave de melancolia mal disfarçada, como se não pudesse evitar tal sentimento.

O ruivo suspirou, como se entendesse um pouco do sentimento que assolava o peito do outro. Foi em um dia como esse onde Muichirou pode aprender o que era a verdadeira solidão, já que foi em um acidente de carro no meio de uma volta para casa onde ele perdeu sua família.

Diferente de Tanjirou, que também havia perdido parte de seus parentes em um acidente, sendo o seu um terrível incêndio, Tokitou não havia sido adotado por uma família e sim tinha uma espécie de emancipação. Talvez, por isso, o mais novo não permitia outros chegarem perto de si, isso se Kamado não fosse o único que realmente tinha conseguido tal feito, junto à sua pequena irmã, Nezuko.

— Podemos até dançar na chuva, se quiser. — Direcionou um pequeno e acolhedor sorriso à Muichirou, embora tenha soltado um pequeno riso nasal junto à isso.

— Você é realmente estranho às vezes. — Devolveu o sorriso, assim como a breve risada para aquele que preenchia seu coração machucado de amor e carinho. — Mas acho que não vou recusar.

Em meio a chuva, alguns beijos estalados foram ouvidos por ninguém, enquanto passos desajeitados vinham junto e com isso um misto gostoso entre felicidade e satisfação. Acho que se perguntassem a Tokito sobre isso, ele diria que poderia ficar para sempre preso dentro desse momento, com um amor juvenil e dançando na chuva, como se não houvesse amanhã.