Absinto escrita por madwolve


Capítulo 6
Mar y Montaña




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Já era um novo dia e Rosalia acabou por acordar com os raios de sol que entravam pela janela, era muito cedo e ela se culpou mentalmente por não ter lembrando de fechar aquelas cortinas. Não notou nenhum barulho pela casa então presumiu que Shura ainda estava dormindo, em sua cabeça já que ele bebia tanto, deveria mesmo dormir até tarde.

Ela desceu as escadas com alguma dificuldade e ainda bem que não se pode morrer com o próprio veneno. Assim que venceu o último degrau, avistou Shura tomando seu café calmamente, apreciando o nascer do sol e o jardim encostado no batente da porta.

— Deveria ter me chamado, eu te ajudaria a descer as escadas.

Agora que Shura tinha notado sua presença, ele prontamente já estava colocando outra xícara na mesa para ela, junto de café e alguns pães.

— Bom dia pra você também.

Rosa aceitou o convite mudo para tomar café junto dele e se sentou com um pouco de dificuldade.

— Bom dia, Rosa.

Tomaram o café sem muitas palavras, estava silencioso até demais para o gosto da Rosalia. Apesar de saber que Shura era assim mesmo a maior parte do tempo, hoje ele estava diferente, e ela sabia que alguma coisa estava incomodando aquele homem, e iria descobrir o que era com toda a certeza.

— Aconteceu alguma coisa, querido?

Depois de um longo suspiro, Shura se retirou da cozinha deixando a mulher confusa e sem respostas para trás. Não demorou muito para que ele voltasse com uma sacola escura e a colocasse sobre a mesa.

— Desculpa te preocupar é só que...isto é seu. Eu não tinha certeza se era a hora certa pra te mostrar, mas aí está.

Shura agora ao invés de se sentar do outro lado da mesa, onde estava anteriormente,  decidiu sentar-se ao lado dela. Era como se ele quisesse protegê-la de abrir o pacote, e talvez ele estivesse certo em fazer isto.

Assim que a mulher abriu aquele embrulho, viu que dentro havia uma caixa de metal suja e um pouco pesada, junto de uma colher de absinto.

A colher que ela usava para servir o absinto.

Rosalia por um instante pegou a colher na mão e a olhou com carinho mas logo a colocou na mesa, sua atenção era toda daquela caixa.

Os policiais fizeram a busca no local e só acharam isto nos escombros. Como eu era a pessoa mais próxima de você que eles tinham contato, acabaram trazendo pra mim. Eu posso guardar de novo, se você quiser.

Shura estava preocupado, não gostava de ver aqueles olhos verdes tristes e cheios d’água como estavam agora. Não sabia o que podia fazer para mudar aquilo, e em uma tentativa vaga de consolar aquela mulher, ele colocou sua mão sobre o ombro dela gentilmente.

— Não, obrigada por me mostrar. Esta caixa é muito importante e eu achei que tinha sido perdida.

Dito isto ela abriu a caixa, quase achou que não iria abrir por estar danificada, mas abriu sem problemas. Dentro havia vários documentos como a escritura do bar, documentos pessoais e algumas poucas economias.

Agora ela já havia espalhado os papéis pela mesa para olhar melhor, mas o que mais chamou a atenção de Shura foi o diploma de gastronomia.

— Eu não sabia que você é formada em gastronomia.

— Tem muita coisa sobre mim que você não sabe.— Agora Rosalia já não parecia tão triste, para a alegria de Shura.

— Você é de Girona?

Shura estava surpreso com a informação, havia achado uma foto dela com o que pareciam ser os pais em uma casa simples e atrás um endereço da cidade de Girona, Espanha.

— Sim, meus pais moram lá até hoje. Eu me mudei para cá pensando em estudar e abrir um restaurante, mas assim que me formei eu percebi que queria ficar atrás do balcão e não na cozinha.

Ela ficou tão absorvida em seus papéis e memórias que nem notou o silêncio que se formou no local. Havia uma certa apreensão vinda do homem ao seu lado, não estava entendendo o motivo daquilo então decidiu ir mais a fundo nesse assunto.

— Querido, tem mais alguma coisa que eu não sei ou não vi?

— Não é nada, deixa pra lá. — Shura parecia ainda mais incomodado agora que ela havia notado.

— Se eu puder fazer algo para ajudar, me fale.

— Bem...você poderia cozinhar mar y montaña, por favor?

Quando Rosalia entendeu que todo aquele nervosismo era apenas para pedir que cozinhasse ela não pode deixar de rir, o que deixou Shura ainda mais nervoso e constrangido.

— Tudo bem, querido, desde que você me ajude eu posso cozinhar.

— Sério? — Shura mal acreditava que iria comer seu prato preferido, nem se lembrava da última vez que havia comido.

Sério! Aqui, uma lista do que você precisa comprar. Quando voltar, começamos a preparar este almoço.

Rosalia terminou de escrever a lista e entregou a Shura, assim que a recebeu o cavaleiro saiu o mais rápido que pôde para comprar o camarão, o frango e todos os temperos e legumes que ela havia pedido. Como prometido, assim que voltou ela começou a cozinhar junto com ele limpando os camarões, os pedaços de frangos, descansando e tudo mais.

Shura agora parecia uma criança ansiosa esperando o almoço sentado à mesa, enquanto Rosalia finalizava o prato e assim que ela terminou, o cavaleiro trouxe a panela à mesa para que pudessem comer. Não que Rosalia achasse que o prato não estava bom, ela era uma ótima cozinheira e sabia disso, mas quando viu Shura comendo como se fosse chorar de alegria ela quase se assustou com aquela reação.

Obviamente ela não sabia mas apesar de Shura cozinhar bem ele não tinha muito ânimo de ficar na cozinha sozinho. O máximo que a vontade lhe permitia fazer era tortilla de batatas e no fundo ele sentia muita falta da comida de sua terra natal.

Almoçaram e não sobrou nem um mísero pedaço para a janta, graças a Shura.

Como prometido, o cavaleiro levou Rosalia para comprar algumas roupas depois do almoço, a tarefa não foi simples já que a mulher protestava a todo momento.  Ela sempre repetia que poderia comprar as próprias roupas, que não precisava do apoio constante de Shura e que ela poderia andar sozinha, a verdade era que ela precisava de tudo aquilo no momento mas não estava aceitando muito bem.

Cumpriram a ardua missão de comprar algumas roupas e voltar para casa. Com o dia agitado Shura nem notou que já era sexta-feira e quando percebeu seus três amigos estavam entrando em sua casa, como sempre sem bater, sem pedir e sem perguntar.

Ninguém esqueceu de Rosália.

Afrodite trouxe mais algumas flores para ela, enquanto Kanon veio com alguns livros e Máscara da Morte trouxe uma torta.

Ninguém imaginaria que o Cavaleiro de Câncer tivesse um paladar doce, mas ele tinha, e obviamente não era ele quem tinha feito a sobremesa e sim Fatma. Logo já estavam todos no jardim, pegando alguma bebida e preparando as cartas.

Shura estava inquieto, não que Rosalia não conhecesse todos ali, ou como se já não tivesse visto todos eles bêbados ou desmaiados, mas e se eles fizessem alguma coisa que a assustasse? E se ela percebesse que na verdade ele era só um beberrão com poucos amigos? Agora lá estava ele parado na cozinha, olhando pela janela e pensando em como poderia contornar uma possível situação, que nem sabia se iria acontecer.

Estava começando a ficar paranoico, voltou a si só quando sentiu uma mão pequena com dedos finos tocando seu ombro, só poderia ser Rosalia.

— Você parece ter bons amigos. — Rosalia melhorava mais a cada dia, tinha até recuperado aquela voz calma e doce que Shura se lembrava bem.

— Os melhores que eu poderia ter. Às vezes dão um pouco de trabalho mas gosto deles mesmo assim.

— Eu sei bem como vocês dão trabalho juntos. Já que estamos felizes, que tal uma dose de Absinto?

— Hoje não, obrigado! Não estou no clima pra beber mas eu aceito um suco.

Tinha ouvido direito? Shura não ia beber e por vontade própria? Isto sim era algo novo para Rosalia.

— Ora, ora, o ilustre Cavaleiro de Capricórnio não vai beber?

— Você só gosta de testar a minha paciência.

— Talvez.

Mais uma vez os dois riram como bons amigos que eram.

Rosalia estava realmente orgulhosa de Shura não estar bebendo mais como antes e não só ela mas Afrodite também, já acompanhava os dois a uma certa distância, estava feliz pelo amigo ter parado com toda aquela tristeza e auto destruição sem sentido.

Foi uma noite normal e agradável entre amigos, quando se define que normal é Máscara da Morte correndo atrás de Kanon para matá-lo por ter roubado de novo no jogo.

Essa leveza não duraria muito mais tempo.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Ufa! Quase não sai hoje hahaha

Para os curiosos: Mar y Montanã é um prato típico de Girona/Espanha, vai camarão, frango e mais um monte de legumes (ao meu ver é quase uma sopa, ou feijoada diferente? Não sei bem descrever haha). Eu deixei o nome em sublinhado, como é em outra língua, se ficar ruim vcs me avisam que a gente volta como estava e finge que nada aconteceu. ♥

E agora? Mais uma vez, quem leu desabrochar tem algum palpite de quanto tempo dura a tranquilidade? xD

Aliais, eu to reescrevendo ela também, pra ficar mais arrumadinha, quem não leu ainda da uma passadinha lá, se esta gostando desta fic com certeza vai amar Desabrochar. :)

Até logo, queridos ♥



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