Os olhos de sua mãe escrita por Oluap Odranoel


Capítulo 1
Capítulo 1




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—Não era para ser assim, Tiago. Muitas vezes o universo nos trás as mais variadas injustiças e dores, mas se você não estivesse aqui, também estaria morto, junto de Líllian.

Tiago Potter encarou Alvo Dumbledore, os olhos marejados de lágrimas, o cabelo bagunçado. Não era para ser assim, murmurava repetitivamente Tiago.

Líllian Potter estava morta. Voldemort, aquele desgraçado, a matara. Tiago não conseguia pensar em outra coisa que não fosse eu deveria ter estado lá. Embora em algum nível subconsciente Tiago soubesse que não haveria o que fazer contra o Lorde das Trevas se ele estivesse lá, ele sentia que não era justo que ele estivesse vivo e Líllian não. Ele deveria estar lá, afinal, era Tiago Potter. Era seu esposo. Ele havia prometido...

Dumbledore o encarava de volta, e Tiago foi possesso por ódio pelo bruxo. Se Dumbledore houvesse se tornado o fiel do segredo tudo estaria bem, tudo se daria nos conformes. Mas não, Dumbledore recomendara que Tiago recorresse aos seus amigos. Ele recorreu a Sirius, a Pettigrew, a Lupin. E, é claro, Pettigrew havia o traído. E agora estava morto. Se Sirius houvesse aceitado o posto de fiel do segredo tudo também seria diferente, é claro.

—Talvez haja algo que possamos fazer, professor Dumbledore... Talvez se usássemos um vira tempo...

—Não é tão simples, Tiago. Iríamos ter de conseguir um vira tempo com o ministério, o que pode demorar meses. Além disso, nunca vi um vira tempo que volte mais que algumas horas.

Sem uma digna resposta para as palavras de Dumbledore, Tiago sentiu as lágrimas escorregarem por sua face. Percebeu que não havia o que fazer ali, no escritório do diretor de Hogwarts. Virou-se para sair, mas antes que alcançasse a porta ouviu a voz rouca de Dumbledore.

—Eu sinto muito, Tiago.

Tiago tornou o rosto para Dumbledore, a fim de encará-lo. Havia lágrimas despontando por trás dos óculos de meia lua, embaçando a visão do diretor. Os dois bruxos se encararam, Tiago assentiu distante e saiu do escritório.

Uma figura de roupas pretas se movia rapidamente, subindo as escadas que Tiago descia. Um olhar breve lhe mostrou Severo Snape, o rosto contorcido em uma careta de dor e sofrimento que Tiago nunca havia visto antes.

—Potter. – Murmurou Snape, e a cara de dor quase desapareceu.

—Snape.

Um momento se passou enquanto os dois bruxos, adversários indissolúveis, se encararam. Culpa pareceu atravessar o olhar de Snape, e o bruxo falou:

—Sinto muito, Tiago. Muito mesmo.

Tiago tinha vontade de gritar. Berrar com Snape, berrar com Dumbledore, berrar com o mundo. Snape era um comensal e Tiago sabia disso, logo, não havia outro sentimento além do ódio que lhe parecesse suportável tendo em vista que Snape era um assecla de Voldemort. Ele queria esganar Voldemort, cortar o monstro em pedacinhos e pisotear os pedaços restantes e depois entregar os restos aos cachorros.

—Obrigado, Ran- Severo. Ela te considerava bastante. – mais grunhiu do que falou Tiago.

E então Tiago entendeu. Snape sempre parecera ter uma quedinha por Líllian, sempre parecera demasiado desesperado em estar com a garota, em afastá-la dele. Ele sempre imaginara que fosse por causa da amizade entre ambos, mas, agora, ele percebia que havia algo mais. Talvez, em algum momento, até houvesse sido retribuído o sentimento. Entretanto, ao invés do tradicional desprezo ligado à Snape, Tiago sentiu empatia pelo rapaz a sua frente. Afinal, se ele tinha um sentimento parecido com o de Tiago por Líllian, a dor deveria ser incomensurável. Assim sendo, Tiago estendeu a mão.

Snape pareceu oscilar por um momento, os olhos cada vez mais próximos de liberarem lágrimas, e, então, apertou a mão de Tiago. Se cinco anos antes dissessem que Tiago Potter e Severo Snape estariam apertando as mãos com as lágrimas escorrendo por suas faces aos garotos em algum futuro distante, eles jamais acreditariam. Entretanto, como Snape e Tiago logo entenderam, a morte tem poder. Ela nos muda, nos molda. O nosso inevitável destino nos aterroriza, motiva e define.

Tiago se dirigiu à saída da escola e logo Desaparatou para a casa de Petúnia e Válter Dursley. Tiago o havia deixado ali enquanto ia até Hogwarts, e precisava pegar de volta o filho. Ele teria rido se ainda houvesse alguma esperança de rir um dia: os Dursley estavam terrivelmente indecisos em estarem aterrorizados pela presença de um bruxo ou suficientemente sensibilizados pela morte de Líllian. Petúnia parecia até triste, embora fosse possível notar algo como contentamento no fundo de sua alma. Tiago encarou o filho na cestinha, a dor o consumindo.

—Você tem os olhos da sua mãe, filho...

E neles ele acharia consolo.

Nos olhos de sua mulher.

Nos olhos de seu filho.

Nos olhos de Líllian.


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