Summer Camp escrita por Tahii


Capítulo 6
O Bilhete da Sexta Série


Notas iniciais do capítulo

OIEE! Tudo bem por aí, pessoal? ☼

Ninguém deu muito crédito para o Scorpius no capítulo passado, né? Coitado, ainda bem que o nosso lentinho não amarelou rs

Obrigada por todo o carinho de vocês! Tem sido divertido escrever essa história e conversar com vocês ♥ ♥ ♥

Espero que gostem do capítulo!

♫ https://www.youtube.com/playlist?list=PLm_bv0SbG68XNTpfBnyZmnSH0YnK58AcX



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792367/chapter/6

[16 DE JULHO, QUINTA-FEIRA]

07:45 AM

— Por que saímos antes dos outros? — acelerando os passos para chegar ao meu lado, Madson tinha uma sobrancelha ruiva arqueada e um olhar curioso. 

— Porque todos já estavam prontos, e eu estou morrendo de fome, para ser sincero.

Prontos? — seu tom de voz atingiu um grau mais agudo. — Travers foi o único que escovou os dentes, e o Wilson não tinha se vestido ainda quando você quis sair.

— Mas olhe para eles — parei de andar e me virei para trás, tendo a perfeita vista de quatorze sonserinos me acompanhando. Sorri para Madson, que franziu o cenho. — Estão todos prontos agora. Vai me dizer que acha ruim não pegar fila pro café da manhã? 

— Você tem um bom ponto — ela ponderou com a cabeça, suspirando ao ver as portas abertas do refeitório. — Só que está estranho hoje. 

— Eu? 

— Sim. 

— Por quê? — deu ombros. — Você não deve ter acordado direito ainda, Mad. 

— E você parece mais acordado do que o normal. 

Madson provava ser, a cada dia, uma boa observadora; sua maior habilidade era conseguir dar uma resposta certa para as baboseiras dos meninos antes mesmo deles abrirem a boca. E, naquela manhã semi-nublada, ela não poderia estar mais certa: parecia que eu tinha tomado algumas xícaras de café antes de sequer me levantar, talvez por isso mesmo acordei parecendo ter levado um susto. 

Quando abri os olhos de repente, o corpo inteiro tomado por uma corrente gelada, uma súbita dor fez meu braço inteiro repuxar. Eu estava deitado na estreita cama de Rose, com ela sobre o meu braço, virada para a parede, roncando. Mesmo um pouco desorientado, senti várias coisas: o cheiro do cabelo, a perna enroscada na minha, o corpo muito próximo, o descer e subir da respiração compassada. Quase conseguia escutar o meu próprio coração escandalosamente disparado. 

Respirei bem fundo e, com o máximo de delicadeza, consegui me desvencilhar, lentamente levantando da beirada de onde eu quase caía, rapidamente correndo até o banheiro para surtar. Tranquei a porta, escorei na pequena pia marrom e fiquei um bom tempo me encarando no espelho, incredulamente feliz, tentando lembrar do que tinha acontecido depois de eu ter ido até a cama dela. 

— Nós nunca nos beijamos duas vezes — ressaltei, assistindo seu rosto se contorcer numa careta que dizia claramente: fala sério! — Na verdade, nós nunca nos beijamos, praticamente. 

— Muito relevante, Malfoy — riu, passando os dedos nos olhos. — Mais alguma observação?

Assenti, inclinando meu rosto sobre o dela para beijá-la. 

Ela não pareceu nem um pouco surpresa. Como sempre, sorriu, o típico sorriso irônico de aura vencedora, antes de corresponder e me puxar para o colchão, entre suas pernas. Meu corpo inteiro tremia conforme sentia suas mãos na minha nuca, nas costas, os beijos no pescoço quando ficávamos ofegantes demais, as mordidas nos lábios e — pelos óculos redondos de Alvo! — poder tocá-la, realmente tocá-la e não apenas nos ombros, me fez incendiar por inteiro. Depois que a urgência de matar a vontade passou, tudo foi se acalmando, até que ficamos deitados lado a lado num abraço, com as pernas entrelaçadas, eu podendo mexer nas pontas do cabelo dela até que dormíssemos devido ao dia exaustivo. 

Talvez, e só talvez, ela ganhou, de novo, a competição implícita que construímos ao longo dos anos: quem iria não aguentar... Primeiro? 

Eu acho que ela gosta de você, Scorp — Alvo sempre dizia na maioria das vezes em que conversávamos sobre sua prima. Essa conversa aconteceu após o acampamento de verão, dias antes do início da sexta série. — Os assuntos nos almoços de sábado giram em torno do que você tem feito, e ela me usa de desculpa para falar sobre isso. Meu tio Jorge sempre zoa ela, porque todo mundo percebe. E se ela te beijou...

Ela não me beijou.

Se ela encostou a boca dela em você, ela te beijou.

Mas foi na bochecha.

E daí? Nenhuma menina nunca me beijou. Tirando minha mãe, lógico — deu ombros, me estendendo a latinha de coca-cola recém aberta. — Se você não tem certeza, pergunta pra ela.

Perguntar o quê?

Rose, você gosta de mim? 

Não tenho coragem.

Você é um bunda mole, Scorpius — bufou, balançando a cabeça.  

E se eu escrever um bilhete? 

Bilhete? — ele ponderou por alguns instantes. — Hm, parece uma boa ideia. Mas aí você vai entregar pra ela?

Não, né. Tenho que deixar no meio de um caderno ou alguma coisa assim…

Já sei! Agora que vamos ter armários, por que você não deixa no dela? Eu posso colocar lá pra você, se quiser. Provavelmente vamos juntos no primeiro dia. Então, eu vou com ela, vejo o número, peço pra ir no banheiro em alguma aula e deixo lá dentro.

Essa foi a primeira vez que eu perdi. 

Na época, eu gostava muito de conversar com Rose, ir na casa de seu primo e encontrá-la por lá, ouvir suas histórias e dizer que ela parecia uma cenoura; não aguentei ficar na inércia, ter o privilégio da dúvida se ela gostava ou não de mim. Nunca tive uma resposta desse bilhete; então, junto com o fato dela nunca ter falado sobre o assunto e fingido que nada aconteceu, decidi ter um pouco de dignidade e superar. Eu poderia gostar de outra pessoa... De preferência, alguém que gostasse de mim de volta.

Estávamos na oitava série quando eu perdi de novo e, diga-se de passagem, foi uma perda que durou até o primeiro colegial. Saiu um boato de que Rose e o idiota do Brian Wood tinham se beijado. Se era mentira ou verdade, eu nunca soube, mas eles começaram a namorar anos mais tarde.

Wood? — revirei os olhos para Alvo, que estava encostado no meu armário, de braços cruzados. — Como isso é possível?

Eu sei lá — deu ombros. — Só estou te contando o que a minha irmã disse. Parece que até meu tio Ron já conheceu ele.

Sua prima deve ter algum problema.

Nada impediu, porém, que voltássemos a nos aproximar através de um grande mecanismo social denominado implicância. Dividir a mesma escola, sala, monitoria e amigo — Alvo, no caso —, não facilitou as coisas. Antes do segundo colegial, porém, ela e o Wood terminaram. Rose andava muito impaciente, o que não colaborava para aguentar o cara, que era um poço de babaquice. 

Embora ela já estivesse com dois pontos na nossa competição, eu marquei o meu primeiro quando comecei um relacionamento, no meio do primeiro colegial, com Karen Nott. Terminamos há alguns meses, inclusive, e esse era o motivo pelo qual meu celular ficaria desligado durante o acampamento inteiro. Ela estava enchendo o meu saco, e meus amigos também.

É, você superou mesmo a Rose — Alvo comentou no dia em que contei sobre o meu namoro. — Não existe pessoa que ela detesta mais nessa escola do que a Karen.

Pensei que eu estivesse liderando o ranking.

Você lidera outro ranking — ele sorriu, negando com a cabeça. — Tenho certeza que ela gosta de você.

Sua certeza nunca foi muito certa, Potter.

Mas eu sinto isso. Ela não namoraria o Wood se não fosse apenas para esfregar no seu nariz alguma coisa. Ele não tem nada a ver com ela.

Esfregar o quê?

Sei lá. Você deve ter feito ou falado alguma coisa errada.

Aceite o fato de que ela não gosta de mim. Fim.

Se o namoro foi ou não uma provocação, eu nunca soube; se eu falei algo muito errado, também nunca soube. O maior erro da minha vida parecia ser — segundo as análises com Alvo — o bilhete na sexta série. Como não dava para voltar atrás, seguíamos em frente com dois pontos para ela e um para mim.

Na noite passada, porém, ela marcou o terceiro ponto, e foi a melhor perda que eu sofri. Não parecia relevante contabilizar as vezes em que eu fracassei na tarefa de esconder meu precipício enquanto eu tinha a oportunidade de beijá-la, sentir a tão sonhada boca e o corpo que tanto desejei. Eu não conseguia lembrar de nenhuma conversa que tivemos, apenas dos grandes olhos verdes me encarando antes de nos beijarmos de novo, como se fosse a única chance das nossas vidas.

Dentro do banheiro, tudo isso parecia, além de dramático, uma tragédia. Eu tinha perdido, de novo, e isso não significava nada além do óbvio: era o nosso jogo, e ela não ficaria comigo ou algo do tipo. Por isso, nossas únicas palavras durante a manhã foram “bom dia” enquanto eu pegava uma troca de roupa e ela enrolava para se levantar. Saí vazado da cabana dos monitores para pegar as crianças e arrastá-las para o refeitório quinze minutos mais cedo, dando um fim às possibilidades de ter que encarar Rose e saber que, de novo, eu não seria correspondido em nada do que sentia.

— Você vai ficar com a gente? — os olhos de Hilliard brilharam ao ver a bandeja que eu segurava enquanto tomava posse do lugar vago entre Madson e Travers.

— Você nunca senta com a gente — ela disse.

— Posso ir sentar com os outros, se vocês quiserem.

— Não! Cala a boca, Madson — Hilliard grunhiu, fazendo-a revirar os olhos. 

— Ouvi dizer que hoje à noite vai ter filme, é verdade? — Wilson, o dentuço, perguntou. Maneei a cabeça, dando as primeiras mordidas no sanduíche de presunto e queijo. — Vai ser de terror?

— Provavelmente não — os meninos soltaram um muxoxo. 

— Tomara que não seja comédia romântica — todos concordaram com Hilliard. — Elas nem são tão engraçadas assim, e a moça sempre fica com o cara bonitinho. 

— Acho que vamos assistir Os Smurfs — falei despretensiosamente, de cabeça baixa, mas sorri quando começaram a reclamar, indignados. — Ou preferem Divertidamente?

— Por favor, fala que você tá zoando — Madson contorceu o rosto numa careta. — Não aguento mais assistir essas coisas. 

— E o que você quer assistir? 

— Qualquer coisa mais interessante — deu ombros. Uma conversa relacionada aos filmes escondidos da Netflix começou, e eu vi a oportunidade perfeita para me alienar no papo. 

Alguns minutos mais tarde, as demais crianças chegaram para tomar café da manhã. Alice passou por mim, desejando um bom dia, mas não se arriscou a perguntar o que eu fazia ali; Roxanne organizava os baderneiros da grifinória, e Rose entrou no refeitório se alongando, o rosto amassado de sono, fingindo ouvir o que duas garotas lhe contavam. Tentei focar no discurso de Hilliard sobre seus filmes favoritos e, quando todos da sonserina já tinham comido, fomos para o marco-zero. 

Os planos de Hooch para o dia eram tranquilos, perigosamente tranquilos. A sonserina e a grifinória iriam para a quadra numa competição de queimada, e a lufa-lufa e a corvinal executariam a pior ideia do século: remo no Lago de Esmeralda. Só de pensar, um medo assolava meu estômago; alguns outros funcionários do acampamento nos ajudariam, visto que faltava metade da monitoria ideal e eram muitas crianças fazendo coisas letais, e Baldrick nos deixaria sozinhos com nossas casas para ajudar no lago. 

Não é necessário dizer que a sonserina levou uma surra da grifinória na queimada. Roxanne era uma boa monitora e, mais do que isso, uma boa torcedora; gritava incentivos morais, digamos assim, para os leõezinhos. Já eu, apenas via a derradeira dos garotos. A equipe do bolo do dragão teve um desempenho péssimo, o último que restou foi Jones, que acabou com os óculos quebrados. Faturamos apenas uma partida, graças às garotas e, em especial, Rebecca, que queimou grifinório por grifinório e nos levou para a final, onde perdemos; o sonho da Taça das Casas parecia bem distante de nós. O lado bom foram os quinze esperançosos pontos acrescentados ao nosso placar, o lado ruim foram os quase cento e poucos pontos que a grifinória conseguiu. No almoço, eles estavam saltitantes. 

Graças à enrascada no lago, só eu e Roxanne estávamos no refeitório, e eu pude me sentar na mesa da monitoria; uma escolha bem errada, diga-se de passagem.

— E aí? — ela perguntou assim que eu ocupei o lugar em sua frente. — O que rolou ontem?

Desculpe?  — meu pai sempre me disse que a minha maior habilidade era me fazer de sonso, pareceu algo ótimo nesse momento. 

— Qual é, Scorpius! Vai me dizer que não teve nenhum beijinho na fogueira?

— Não teve nenhum beijinho na fogueira — era a verdade, mas não suficientemente convincente para que ela acreditasse. — Foi você mesma que mandou o Hilliard lá.

— Ah, é verdade — riu, assentindo com a cabeça. — Eu tinha acabado de me resolver com a Kira, aí ouvi alguém bater na porta e dei de cara com uma criança prestes a vomitar perguntando onde estava o monitor dele. Antes que me julgue, eu falei para irmos para a Ala Hospitalar, mas ele queria você

— E teve — dei ombros. — Fiquei na cabana dele até ele dormir. Nunca vi alguém arrotar tanto. 

— Pelo menos não vomitou — fez uma careta, repugnando a ideia. — Ele atrapalhou vocês, então?

— Digamos que sim. 

— Mas e depois?

— Depois o quê?

— Não rolou nada?

— Por que está tão interessada? — apoiei meu queixo na mão e sorri para ela. — Não conseguiu tirar nada da sua prima?

— Tem algo para tirar? — suspirei, me rendendo à risada com ela. — Fala sério, ela está super dando em cima de você. Se vocês ainda não ficaram é porque você é um completo imbecil. 

— Obrigado pela parte que me toca, Roxanne — ela me deu um chute por debaixo da mesa. — Ficamos. Feliz?

— Satisfeita. E você?

— Também — era uma meia verdade, claro. — Podemos falar de como o tempo está nublado hoje? 

Consegui desviar do assunto, o que me deixou mais tranquilo para a terrível missão de levá-los para o Lago de Esmeralda. Fomos até a frente das cabanas para todos colocarem os coletes e receber as sutis instruções de Baldrick sobre tudo o que era proibido e redobrar a atenção dos pestinhas. Roxanne parecia tão animada quanto eu; mas não foi tão ruim ir para uma parte mais aberta do lago e ver todos trabalhando em equipe para remar foi satisfatório, embora meus braços pareciam ter sido moídos quando tudo acabou. 

Um vento gelado balançava as árvores quando entrei na cabana dos monitores. Tirar o colete e pensar na possibilidade de tomar um banho foi o auge da tarde; a única coisa que atrapalhou todo o meu plano de paz foi encontrar Rose depois de sair do banheiro. Ela estava no quarto, deitada na cama, digitando no celular como se estivesse irritada; pelas sobrancelhas arqueadas, talvez fosse a realidade. Não demorou um minuto para que ela me encarasse com aqueles olhos verdes brilhantes, mas quando seus lábios começaram a formar o típico sorriso irônico, dissipando a aura nervosa, foi como se meu coração tivesse sido colocado numa batedeira. 

— Por que está me evitando? — deixou o celular ao seu lado, pendeu a cabeça, ansiando pela minha resposta. Engoli a seco, usando toda a minha força de vontade para não desviar de seus olhos e conseguir dizer algo convincente. 

— Não estou te evitando. 

Não? — ergueu as sobrancelhas, levantou da cama e veio em minha direção, ficando bem na minha frente. O rosto estava um pouco avermelhado, o rabo de cavalo desmanchando, a boca entreaberta. Já era, Scorpius!, ouvi meu diabinho interno comemorar numa risada. Certo como sempre. Porém, não foi o suficiente para eu me convencer de ficar ali. 

— Não — quase que nem eu ouvi minha voz. — Eu tenho que… Que…. Que ir arrumar as coisas… O Baldrick pediu antes de… A gente se vê mais tarde. 

O professor Baldrick realmente tinha pedido para que eu e Roxanne começássemos a adiantar as coisas para o filme, e eu nunca me senti tão grato por ter coisas para fazer nesse acampamento, nem tanto medo de cair nas garras de Rose ao fim da noite. Nas garras mortíferas, no caso. Quando saí do quarto, ela não ficou com uma das expressões mais calmas, o que revirou meu estômago durante as horas seguintes, comprometendo um bom tanto do meu jantar. 

Eu e Roxanne arrumamos o telão no pátio, cobrimos com tapetes e almofadas de todos os tamanhos possíveis, tendo, depois, ajuda de uma Alice feliz da vida e uma Rose flamejante de raiva contida. Durante o jantar, me vi na obrigação de sentar para comer com os outros meninos da sonserina, e prometi para as garotas que ficaria com elas para assistir o filme. Hooch pediu para que eu ajudasse as cozinheiras com as pipocas enquanto as Weasley e Alice organizavam as crianças do lado de fora. Assistimos O Pestinha e O Lar das Crianças Peculiares, e o horário de dormir se estendeu para as onze horas, quando tivemos que trabalhar em dobro para guardar as iluminações extras e tudo que tínhamos colocado para fora. Visto que as noites são extremamente quentes, poderíamos ter deixado para guardar no dia seguinte, mas o vento suspeito que balançava as árvores fez com que Hooch enlouquecesse com a possibilidade de chover e molhar todas aquelas tranqueiras. 

Passava da meia noite quando chegamos na cabana dos monitores e despencamos na sala. Tinha sido um longo dia, cheio de perigos e gritaria. Roxanne foi a primeira a pegar o celular para conversar um pouco com Kira, Alice bocejava sem parar numa poltrona, eu estava de olhos fechados sentindo minhas têmporas latejarem, e Rose… Bom… Rose estava me encarando como se fosse me matar. Embora a minha vontade fosse de ficar quieto, me vi ligeiramente impaciente. Ela estava agindo como sempre, ficando brava por algum motivo estúpido e me crucificando por isso. 

— O que foi, Weasley? — abri os olhos num suspiro cansado. 

— Você é um idiota. 

— Poderia me dizer o motivo do elogio dessa vez?

O motivo? — riu. Um péssimo sinal. — Você está agindo como se estivesse na sexta série.

— Saiba que eu não sou o único.

— Ah, não… — Roxanne murmurou, pondo uma almofada no rosto. — Por favor, não briguem agora. Está tudo tão tranquilo. 

— A única coisa que você sabe fazer — ela apontou o dedo na minha direção, com o cenho franzido — é fingir que nada aconteceu. 

— Eu? Tem certeza que sou eu quem finge que nada aconteceu? — me endireitei no sofá, incrédulo. 

— Nós nos beijamos ontem, Malfoy, e você não teve coragem de olhar na minha cara hoje.

— E o que eu estou fazendo agora além de encarar você e a sua vontade de me matar por algum motivo estúpido?

— Você me evitou o dia inteiro!

— Eu já disse que não fiquei te evitando. A culpa não é minha se todas as atividades foram com a grifinória, ou se o Baldrick ficou me dando coisas pra fazer.

— Você não tomou café na mesa com a gente. 

— Porque queria ficar de olho no Hilliard!

— Você não falou comigo de manhã.

— Nunca falamos nada de manhã além de bom dia.

— Você é um babaca — cruzou os braços, bufando. Foi a minha vez de dar risada, negando com a cabeça. — Ou talvez eu seja uma tonta, né? É a única explicação para eu ficar me rastejando por voc-

Rastejando? Desde quando você rasteja por alguma coisa além do seu próprio ego, Weasley? Seja sincera. 

— Qual é o seu problema? — ela ergueu o tom, abrindo os braços e ficando, gradativamente, mais vermelha. — Não. De verdade! Qual é a porra do seu problema?

— Hm… — maneei a cabeça, fingindo pensar. — Você?  

— Eu? O que eu fiz pra você não gostar de mim?

Como é? Você só pode estar zoando com a minha cara, Weasley. 

— Não estou zoando. Estou te fazendo uma pergunta séria! O que eu te fiz pra você não gostar de mim?

— Mas quem disse que eu não gosto de você?

— Olha a forma que você age! 

— Que eu ajo? Francamente… Eu esperava mais de você.

— Esperava mais o quê?

Ponderei, por alguns instantes, o que deveria dizer. 

Nunca pensei ter a chance de colocar as cartas na mesa e, provavelmente, eu nunca o faria se dependesse exclusivamente de mim. Mas, naquele momento, vendo a fúria encarnada na garota pela qual eu sempre nutri sentimentos não-correspondidos por vários anos, não consegui fazer de conta que a forma que ela estava agindo não me incomodava, até mesmo porque ela não era mais uma pré-adolescente. 

— Eu esperava que você pudesse ser sincera o suficiente para dizer na minha cara o que sente, ou simplesmente ter respondido o meu bilhete. 

— Que bilhete, Malfoy?

— Tá vendo como você é? — revirei os olhos. — Você precisa o tempo todo reafirmar esse seu ego inflado, sair como vencedora nessa competição ridícula que a gente criou. 

— Do que você está falando? — bufei. Pior do que ver seus instintos assassinos quando eu a irritava, era ter de lidar com o seu cinismo. 

— Estou falando do bilhete que eu te mandei no começo da sexta série perguntando se você gostava de mim, estou falando do bilhete que você não respondeu e fingiu não ter recebido.

— Você deve ter levado uma bolada na cabeça, só pode ser. Quer ir na Ala Hospitalar?

— Não, eu não levei bolada na cabeça. Eu gostava de você na época. Na verdade, eu fui superar a queda que eu tinha por você só no primeiro colegial. Mas você deu a mínima pra isso em algum momento? Não! A única coisa relevante na sua vidinha foi o idiota do Wood e agora está nervosinha porque, sim, fiquei te evitando o dia todo e evitaria até o fim do acampamento porque eu não preciso que você continue esfregando na minha cara que eu sou o trouxa dessa história. 

— Você gostava de mim na sexta série? — gargalhou. — Não se faça de alecrim dourado do campo, Malfoy, por favor. Eu gostava de você na sexta série, eu beijei você no acampamento, e foi você quem nunca mais olhou na minha cara. Porque é isso que você faz, você foge.

— Eu mandei a porra de um bilhete pra você, Weasley, e eu nunca tive uma resposta. Você queria o quê? Que eu ficasse lambendo seus pés pelo resto da vida?

— Essa desculpa de bilhete é a coisa mais ridícula que eu já ouvi, Malfoy, sério. Eu nunca recebi bilhete nenhum. A única coisa que eu recebi foi a sua indiferença

— Não é uma desculpa. Eu mandei o bilhete — grunhi, passando a mão no rosto, completamente irritado.  

— Acho que não mandou, porque eu nunca recebi. 

— Foi o Alvo quem deixou no seu armário, no primeiro dia de aula da sexta série. 

— Não, não deixou, porque eu nunca recebi. 

Sentindo minha cabeça prestes a explodir de dor, assenti. Uma voz dizia para eu deixar isso quieto, porque ela nunca teria culhões para resolver isso, muito menos por ser tão insignificante e de tempos atrás; contudo, o diabinho parecia estar me injetando uma sede de… Reconhecimento

Por isso fui até o quarto, abri a gaveta do criado mudo, liguei o celular e, instantes depois, disquei o número da única pessoa capaz de esclarecer a história: Alvo Severo Potter. 

— O que está fazendo? — Rose perguntou, bufando. Antes de proferir mais alguma baboseira, a voz do Potter falou mais alto.

Oi, gatinho. Eu sabia que você não ia aguentar de saudades, meu neném. 

— Alvo, eu e a sua prima estamos tendo uma discussão e eu queria pedir para você falar pra ela que ela está sendo ridícula 

Vocês não tinham virado amigos?

— Não — talvez eu tenha sido um pouco mais incisivo do que deveria, porque vi sua boca formar um biquinho adorável que mostrava o quão puta da vida ela estava. 

— O único ridículo é você, Malfoy, inventando essa história de bilhete para encobrir o fato de ser um covarde. 

— Eu não estou inventando. Alvo, fala pra ela o que a gente fez depois do fim do acampamento.

Mas falar em detalhes? Tipo… 

— É.

Até a parte dos senti-

— Pode falar tudo exatamente como foi — estiquei o celular para ela, que tomou da minha mão enfurecidamente. 

Estou com medo de vocês. Tá bom. Hm… Todos presentes sabem que a Rose deu um beijinho na bochecha do Scorpius no fim do acampamento, né? 

— Caralho, vocês estão brigando por um beijo na bochecha! — Roxanne começou a dar risada, desacreditada. — Meu pai amado. 

Pois é. A Alice tá aí também? 

— Infelizmente — ela murmurou. — Eu vi suas mensagens, mas não tive tempo de responder ainda. 

— Tudo bem, gatinha, eu entendo. 

— Alvo, eu não estou afim de ouvir essa baboseira — a Weasley respirou fundo, me olhando séria. 

Presta atenção, Rosinha. Depois do acampamento, eu disse pro Scorpius que você gostava dele, por isso deu aquele beijinho, só que ele não acreditou. Então eu sugeri que ele perguntasse pra você, mas como faltava coragem-

— Como sempre — interrompendo-o, ela sorriu.

—... Ele resolveu escrever um bilhete e eu coloquei no seu armário no primeiro dia de aula daquele ano. Foi numa aula do Binns, pedi para ir no banheiro e deixei lá. 

— Nunca encontrei bilhete algum.

Isso não significa que eu não entreguei, ou que ele não mandou. Aí depois disso o Scorpius ficou muito na bad porque você nunca respondeu e não tocava no assunto. Eu falo com propriedade porque eu que tinha que ouvir as ladainhas. E, cá entre nós, foi mancada, né

— Você deve ter colocado num armário errado.

Lógico que não. Lembra que nós fomos juntos naquele dia? Sua mãe passou lá em casa, nós conversamos em frente ao seu armário. Eu até anotei o número na minha mão. 341

— 341?

Sim.

— Alvo, desde que começamos a ter armário até hoje, o meu número é 314. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Quando vamos pegar o Alvo para dar uns petelecos na cabeça dele? Scrr!! Todo mundo conseguiu entender a treta? Perceberam o lado da Rose também? O que acham que o Scorpius vai sentir agora? Hihihi, quero ver quem acerta o que está escrito na placa neon da mente do nosso lentinho depois dessa!!

" [...] dando um fim às possibilidades de ter que encarar Rose e saber que, de novo, eu não seria correspondido em nada do que sentia " → eu acho que essa frase explica tudo. As primeiras experiências amorosas são bem marcantes, né? rs

Faltam apenas 02 capítulos para a história acabar. Na verdade, 01, porque o último é menorzinho, nem conta direito kkkkkkkkkkkkkkkkk Amanhã tem capítulo novo!

Me contem o que acharam ♥

Um grande beijo pra vocês ♥ ♥ ♥