Cruel escrita por LadyVênus


Capítulo 1
Vizinhança


Notas iniciais do capítulo

Pequenas dicas para facilitar a sua experiência:
?” A história vai e volta no tempo.
?” Edward não expressa preferencia pelo sexo do bebê, saiba que não é um erro ele chamar as vezes de filho ou filha.
?” Bella parece sempre ter algo faltando em sua história, mas isso é culpa do Edward.
?” Há portas que serão deixadas em aberto e esse é o propósito.



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Eu nunca pensei em ter filhos.

Nem meu pai foi um pai de verdade. Dar presentes, dinheiro, uma mensagem a cada aniversário ou final de ano, isso é tudo que um pai pode fazer?

Minha mãe tentou ser os dois. Até que ela casou de novo, Carlisle sim estava preparado para ser um pai. Mas já era tarde, eu não deixei me enganar. Ainda mais quando Jasper e Rosalie nasceram. Duas crianças biológicas dele. Pra quê ser pai de quem você nem tem o sangue?

Então, comigo aos dezoito, meus irmãos completando oito anos, finalmente pude sair de casa. Apesar de poder dar uma de playboy, mimado e privilegiado, eu fui atrás do meu. Trabalhei um tempo como mecânico, depois quis pescar, foi aí que eu descobri que poderia trabalhar num restaurante e logo passei a ser garçom por lá. Faculdade era perda de tempo, eu sabia.

Já tinha guardado dinheiro, até que finalmente ganhei na loteria. Trinta e dois mil dólares. Era pra ser alguns milhões, mas eu tive que dividir com algumas dezenas de pessoas. Aluguei um apartamento, o melhor que pude, sem exagerar, eu fechei a mão e não me fiz de doido indo atrás de pagar só por dez noites num hotel de luxo. Nem tentador era.

Agora, com vinte e seis anos, sem nenhuma perspectiva de vida, eu resolvi que ter filhos não era nada lógico pra mim. Pequenas miniaturas minhas? Não, obrigado. Mas... bem, eu tinha uma a caminho. Há sete meses atrás, descobri que Bella está grávida. Ela estava feliz, apesar dos problemas de saúde, ela conseguiu gestar uma criança e era a meta de vida dela. Eu logo avisei que não queria fazer parte daquilo, ela nem prestou atenção, eu disse a ela que não queria ser pai, e ela continua me ignorando. Ela vai ser uma mãe ótima, eu, apesar de vir um meu a caminho, nunca vou ser um pai.

A conheci quando a mãe dela precisou de um mecânico, lá no meu primeiro trabalho mesmo, você lembra, tem que lembrar, acabei de contar. Ela tinha quinze anos, sua mãe comentou durante o sermão que estava dando e eu só ria ao escuta-la brigando e gritando e, ainda tinha meus dezoito anos, e apesar dos hormônios adolescentes, eu era controlado. Até quando se tratava dela. Pelo menos foi o que pensei.

Eu tinha sujado a camisa mais cedo naquele dia e a mãe dela fez uma careta quando me viu daquele jeito. Depois, no sofá da "recepção" onde ela estava sentada. Mexia em um jogo, num aparelho que nem consegui nomear, revirava os olhos enquanto a mãe falava algo sobre compras para o jantar.

— Isabella, você já não está velha demais para esse tipo de brincadeira infantil, não? - Ela folheava uma revista de peças para carro e parou para colocar as duas mãos na cintura e bater o pé para a filha.

— Sim mamãe, velha o suficiente para farrear também. - Ela encostou no sofá e revirou os olhos.

— Mas você tem quinze anos garota! Pare de querer permissão pra assistir esses shows cheios de maconheiros.

— Sim mamãe, eu vou lá e cheirar tanto que meu nariz vai cair. – Ela fez um movimento com o dedo indicador no nariz, como se ajudasse o resto de pó a subir.

— Olha a boca garota, tu vai é pra igreja! – A mão bateu com a revista na perna dela.

Solto uma risadinha. A garota me encara por um instante antes de esticar um sorriso preguiçoso e sua face colorir um pouco de vermelho. Eu sabia que se quisesse, eu conseguiria um encontro com ela, mas... quinze anos, a mãe dela tinha razão em não achar que ela era madura o suficiente. Não daria certo e não seria legal. Logo meu chefe terminou com o carro da mãe dela e elas partem.

Alguns anos mais tarde, quando já estava pescando e vendendo meus peixes para restaurantes chiques, eu estava no meu barco e vi, na outra ponta da ilha engolida pela água, um cara bigodudo pescando ao lado de uma garota. Eles sorriam e ela fisgou um peixe até. Percebi que era a mesma garota de anos atrás. Eu era bom demais com rostos, mas sabia que algo nela estava mudado. Olhei mais pra baixo. Os peitos tinham aumentado e ela estava mais redondinha.

A última vez que a vi, foi decisivo. Eu já trabalhava no restaurante a quase quatro anos. Eu já tinha meus casinhos, mas não confiava muito em relacionamentos. Então eu "dormia", acordava no dia seguinte já pronto para me despedir e pronto. Esse não é o ciclo da vida? Nascer, crescer, brincar de reproduzir e morrer? Não? Parece que sim, hein.

Atendi uma mesa, nela estavam Bella e os pais. A senhora do carro que eu consertei e o senhor, policial, devo ressaltar – graças ao distintivo pendurado em seu pescoço com uma correntinha- era o mesmo homem que encontrei pescando a algum tempo. Os servi e notei os olhares que ela me dava. Hoje eu sei que ela também me reconhecia. Ela até me achou numa rede social. Eu tinha, mas nunca postava fotos minhas ou de mim, servia mais pra ver as postagens e matar o tempo. Mas meus irmãos tinham centenas de seguidores e sempre que eu os visitava eu descobria que ia parar em alguma história ou um post entre milhares.

Entre uma mesa e outra, e entre sair e entrar da cozinha acabei sendo puxado pela mão até uma parte afastada onde a lâmpada tinha queimado. A segui, pois ela parecia apressada. Vai que estava passando mal ou sei lá, eu só arranjava desculpas para ficar perto dela. Eu mal podia me entender.

— Olá, olá. - Ela suspirou me encarando na pouca luz.

— Oi... er, deseja algo?

— Sim. - Ela me encarou com um pouco mais de atenção. Parecia pensar no que ainda responderia.

— Sim?

— Você se lembra de mim. – Ela colocou o indicador sobre o meu peito.

— Isso não foi uma pergunta. – Eu sorri um pouco.

— Lembra? – Ela ergueu as sobrancelhas, um sinal claro da sua perspicácia.

— Você tinha quinze anos... – comecei.

— Você trabalhava na oficina mais próxima à minha casa. – Ela brincou com o botão da minha camisa branca.

— Hum.... Que legal te conhecer, mas eu... - mal tive tempo de ver o que acontecia, só sentir. Ela me beijou, um selinho longo e que aumentou um pouco logo depois e que terminou cedo demais.

— Eu realmente tenho que trabalhar. - Ela assentiu e encostou nossos lábios mais uma vez antes de voltar para o seu lugar.

Depois, ela me passou o número dela. Bella saiu sorridente do restaurante e eu fiquei tão tentado a ver no que isso daria que eu passei a mandar mensagens.

Meu erro.

Me apaixonei por ela.

Outro erro.

Eu cedi aos encantos de Bella Swan e nós engravidamos.

Eu não sei se foi essa noite, eu não sou muito ligado nessas de período fértil, era intimo demais, mais íntimo que entrar e sair, entrar e sair, entrar e sair... é você entendeu onde isso acontecia. Eu poderia dizer que Bella e eu estávamos no auge da paixão, um pouco felizes com todo aquele vinho, mas não culpei o vinho, eu só poderia culpar ela com toda a sua sensualidade natural e, é claro, me culpava por estar tão excitado que a camisinha nem aguentou. Basta só uma vez!

Estávamos no sofá do apartamento dela, há uns bons quilômetros de onde marcamos de nos encontrar. Mas ela estava bem cansada e pediu que eu a encontrasse em casa, já que era o único lugar que tínhamos para "dormirmos" juntos. E não, eu ainda não confiava o bastante para leva-la a minha casa. E se não tivesse mais volta?

Ela me recebeu com uma camisola verde e um pouco longa, um robe preto e por cima, já aberto. Me beijou e foi pegar um pouco de chocolate quente, ela sempre tinha essa mania, desde o dia em que contei a ela que é uma das coisas que mais gosto de beber e comer e cheirar. Depois resolvi acompanhá-la no vinho. Ela voltou a me beijar. Já largando a taça na mesa de centro. Me levantei um pouco e encontrei o preservativo no bolso e deixei perto da mesinha do telefone que estava ao lado da cabeça dela. Bella puxou a minha bermuda para baixo e me tirava a blusa. Não consegui fazer o mesmo por ela, pois só levantei aquela camisola fina e apreciei a visão de seus seios, estavam bem diante dos meus olhos e eu não pude me fazer de rogado. Lambi seus mamilos, os mordi e os maltratei um pouco. Sua pele alva foi ficando mais vermelha. Eu não lembrava da experiência com qualquer outra mulher naquele momento, mas duvidava que as outras vezes foram tão prazerosas quanto a que eu teria com a pessoa a minha frente. Rasguei a calcinha dela e minha mãos alcançaram seus quadris.

Com uma falta de qualquer padrão pornô, nós dois estávamos atrapalhados. Ela tirou o robe e jogou para trás do sofá e depois só baixou a alça da camisola e deixando só a barriga coberta por ela. Já eu, nem consegui tirar as meias. Voltei a beijar seus lábios, me encaixei em sua entrada e impulsionei para dentro. Nada seria tão pleno e.... certo. Os quadris se movimentavam contra os meus. O som dos nossos corpos se chocando enchiam aquela sala, parcialmente escura. Os gemidos foram abafados por beijos, e tinha certeza que eu levaria as marcas deixadas por um longo tempo. Sugo a carne de seu pescoço. Beijo seu ombro e é como se eu soubesse que não faríamos isso de novo por um tempo. Precisava prolongar um pouco mais.

Viro ela e a deixo deitada sobre a barriga. Sua bunda fica arrebitada e uma perna fica para o lado de fora do sofá e a outra fica dobrada ao lado do seu quadril. Enterro meu pau em sua boceta, agora mais apertada, e ela enterra a cabeça no estofado. Às vezes eu paro e ela continua os movimentos, empurrando e puxando sob mim e o cheiro de sexo preenche o cômodo. Nós dois estamos suados e eu não êxito antes de puxar, sem machucar, os cabelos de Bella, a deixando de quatro e depois encostando suas costas em meu peito. Assim, minha mão puxa seus mamilos entre os dedos e provoco sua vagina para que os dois cheguem ao ápice.

Depois de saciados. Ela ficou sobre mim, ainda no sofá, era um pouco desconfortável, mas éramos obrigados a ficar mais próximos. Sua cabeça sobre o meu peito, o nariz raspando meu pescoço. Olhei para o teto e respirei fundo. Ela passou o dedo sobre uma cicatriz não muito antiga que estava perto do meu ombro esquerdo.

— O que foi isso?

— Cruela.

— Quem? – Ela riu.

— Se o demônio habita a terra, a forma dele é felina. Cruela é um dos filhotes desse demônio e eu queria muito devolver ela para o inferno.

— Credo. Ela não pode ser tão ruim assim, Edward.

— Ela sobe no meu telhado e fica cantando desafinada por lá, junto com o que parecem ser sessenta e nove outros demônios, tudo isso enquanto fazem mais gatos mirins por lá.

— Parece que essa gata matou alguém da família.

— É quase isso. – Ela riu e abre a minha mão, que eu nem percebi que estavam apertadas. Entrelaça os nossos dedos. – Tome mais cuidado. Carregue um spray com água no bolso.

— Água benta? Boa ideia. – Ela riu da piada. Se bem que não seria uma má ideia.

No fundo da minha mente, eu sabia, não daria certo. Mas sempre existiu o "e se" e foi ele que me meteu aqui. Mas bem, Bella ainda era dona de si, não morava mais com os pais e sem saber onde eu morava, pois eu fazia questão de nunca a trazer aqui, ela se tornou minha vizinha. Foi uma surpresa quando ela me pediu ajuda para levar parte de suas coisas para o novo apartamento. Eu a ajudei e guiei o carro do pai dela até o meu prédio.

— Vai morar aqui? - Olhei ao redor e vi que Cruela rebolava até a escadaria. A peste iria receber Bella em sua nova casa.

— Sim, adorei o valor, tão acessível. E é mais próximo ao hospital. - Ela sorriu e saiu do carro. Sai também e o porteiro acenou ora mim. - Já conhece o meu porteiro?

— Ele é o meu porteiro também. - Sussurro. Mas ela ouviu.

— Não brinca! - Ela riu e subiu a escadaria e acariciou Cruela. A gata se fez de santa e aceitou o carinho dela. - Vem vizinho! - Ela me chamou e entrou no prédio.

Éramos separados por uma parede. Ela fazia questão de sempre me dar uma cópia da ultrassonografia, não queria meu dinheiro para as vitaminas e, eu estava incomodado com isso. Como pode?

E tem agora a Cruela. Eu chamo ela assim, e o já que ninguém parece ser dono dela, vou continuar chamando. Ela é uma gata preta, de olhos amarelos e, pra uma gata de rua, incrivelmente gorda, o que era bom, a gordura dela ia ajudar no frio. Nunca tive intenção de criar. Isso é, qualquer coisa ou pessoa. Você me entende? Não quero vínculos. Isso destrói a gente. Cruela é assim. Ela é uma gata solitária. Ganha comida de uma menina de sete ou nove anos do outro lado da rua, e a mesma toma anti-histamínico antes de dar comida a gata mal-agradecida. Ela só não tem um lar pois na maioria dos apartamentos não é permitido. No meu pode. Basta eu querer. Mas não quero.

Cruela é agressiva. Cachorro nenhum puxa briga com ela. Ela as vezes visita o meu telhado e lá começa a putaria. Ela me odeia. Nunca fui violento, nem mesmo ela fez brotar isso em mim. Já Bella, a maldita da gata ama ela. Eu entendo o sentimento. Mas a minha cabeça, a de cima, não. Ela só não foi adotada por minha vizinha pois ela tem medo de que a nossa filha se sinta mal com a bola de pelos.

Lembro um dos dias em que o trio Bella, Edward e Cruela se juntou para mais um dia de conversas na escada que dá acesso à recepção. Fazíamos isso quase toda manhã, algumas vezes a tarde e raramente a noite. Dependia muito dos turnos. Nesse dia foi a tarde. Ela chegou cansada e carregava uma pasta azul. Quando me viu, parecia que ia desmaiar. Cruela apareceu e miou. Foi um barulho rouco e a bicha parecia até mais preocupada com a minha vizinha.

— Precisamos conversar.

Duas palavrinhas que dependendo muito do tom, podem te fazer passar mal, ou quase isso. Me levantei e a gata até parou pra assistir, mas Bella frustrou os planos dela quando me puxou pela mão e me levou para dentro.

— Eu fiz um exame. - Sentei no sofá e ela ficou em pé. Continuou a falar. - Estava enjoada, tonta, cansada, sonolenta e...

— E? – "Seu imbecil"

— Atrasada.

— O que isso quer dizer? – "Você sabe o que isso quer dizer, só não quer acreditar! "

— Estou grávida. - Ela tirou os exames e eu só os peguei nas mãos, mas nem me dei o trabalho de ler. - E eu sei que você tem aversão a isso.

— Eu só não acho que isso se encaixa na minha vida.

— E sua vida não vai mudar Edward, não vai precisar.

— O que você quer dizer...?

— Eu vou ser mãe, mas você não precisa ser pai. – Dizendo isso, ela saiu dali. Sua porta não bateu com força.

Bem, eu não sou um filho da puta. Eu fiz o filho, devo cuidar. Então, enquanto Bella acha que não faço nada, eu estou guardando mais dinheiro. Eu trabalho bem pra caramba. Nunca tive vontade de beber até cair, fugir para as drogas ou recorrer a violência. Então é, eu guardo até ter mais do que o suficiente para que a menina tenha no mínimo, um pai como o meu.

Puta merda.

Não foi um pensamento legal.

Mas em resumo, é isso.

Eu sou igual ao meu pai.

Droga!

.

.

.

Estava fazendo um frio de lascar e ela não tinha saído de casa hoje. Eu também não. Eu buscava me manter longe, porém, alerta. De vez em quando colocava a orelha perto da parede e tentava escutar seus passos pela casa. Hoje foi pouca coisa. É quase meia noite e ela acabou de ligar a televisão. Ela nunca dorme tão tarde. Na verdade, ela dorme muito. Perguntei a ela sobre esse sono todo e ela disse que a bebê faz isso com ela.

Certa vez, escutei ela com aquela kalimba que ela sempre toca antes de finalmente cair no sono. Às vezes, chego do trabalho e já posso escutar. Perguntei pra ela numa noite quando estava estressado. Eu conseguia visualizar a cena como se fosse hoje, mas foi a dois meses atrás.

— Oi, estou atrapalhando? - Ela me deu um sorriso amarelo e eu fiz uma cara que eu queria muito que demonstrasse todo o meu incômodo com o instrumento musical dela. - Estou.

— Bella, toda noite você toca esse troço.

— Mas é por...

— Não importa o motivo filha, eu quero dormir e você não me deixa com esse barulho de merda. Já não basta a Cruela e aquela voz de cu?

— Ah é? - Ela ficou vermelha. Girou em seus pés e eu notei a barriga dela. Já com quatro meses e se fazendo presente. Ela pegou a kalimba e jogou em minha direção.

Sim. Ela ficou puta por eu ter desconsiderado seus talentos.

Comparar com a Cruela foi...cruel.

A kalimba se espatifou na parede e ela me empurrou da porta dela e depois a trancou. Escutei ela xingar toda a minha geração passada e rogar praga até que eu não tivesse mais nenhum dente.

Peguei o instrumento e levei pra casa. Entrei num site e comprei um novo. Mandei até personalizar. O dela parecia muito frágil mesmo, por isso quebrou tão rápido. Tinha uma loja na cidade e no fim do outro dia já estaria pronto. Paguei um pouco mais pela pressa.

No dia seguinte, quando cheguei do trabalho, escutei ela batendo com o martelo na parede. Ela costumava fazer estardalhaço pela casa quando entrava em um excesso de raiva, a maioria era por minha culpa, mesmo que não tivesse feito nada demais. Sorri com a atitude infantil, mas logo me preocupei. E se ela batesse com ele na barriga?

Levei o substituto debaixo do braço e aguardei ela me atender. Bella aparece na porta e está um pouco suada. Está brava e linda também. Sua barriga está a mostra com o top que ela usa evidenciando a não tão pequena elevação ali. Senti vontade de tocar a pele ali.

— Estou atrapalhando? - Ela perguntou calma demais.

— Na verdade, está. - Seus olhos poderiam me matar agora. - Aqui, não que me mate antes que eu veja meu filho. - Estendo a sacola com a caixa.

Ela abre quando entra e já está no sofá. Quando percebe o que é, ela pula no lugar. Um sorriso brilhante surge e vejo que seus olhos ficaram marejados. O que foi que eu fiz? Ela odiou?

— Obrigada Edward! - Bella me abraçou e senti todas as suas curvas. A barriga maior contra mim me deixa um pouco perplexo. Aquele tamanho era normal? Fiquei com medo de perguntar, vai que ela me bate.

— Me desculpe por falar mal do seu talento.

— Não é bem talento ainda. - Ela deu de ombros. - Estou aprendendo. Talvez a bebê goste e queira aprender mais tarde. - Ela acaricia a barriga. - Na verdade, eu acho que ela até já gosta. Veja.

Ela levantou a blusa e eu suspirei baixinho ao ver a pele dali de novo, dessa vez mais esticada. Ela posicionou as mãos na kalimba e projetou alguns sons. A barriga ondulou um pouco, tão imperceptível se ela não me avisasse para olhar, bem perto das costelas, foi leve, mas eu notei.

— Você não sabe... tem que sentir. - Dizendo isso, ela guiou minha mão para a sua barriga. - Ela está aqui desse lado. Adora atacar meus órgãos. Espere quando ela crescer mais um pouco.

Voltou a tocar, não tão bem quanto as pessoas nos vídeos que eu vi na internet, mas é como ela diz, está aprendendo. Sorri e deslizei mais um pouco a mão por ali. Ela estava mais concentrada nas notas e em mostrar a quão agitada ficava a menina em seu ventre.

Depois daquele dia, até passei a tentar aprender a tocar aquele instrumento. Éramos agora dois desafinados. A bebê se agitava cada vez que escutava, eu chegava a sentir dó da pequena criança, sofrendo nas mãos de pais nada talentosos. Apesar de saber que eu era um pouco mais habilidoso que ela.

Visto outra blusa e recoloco o moletom. Abro a porta de entrada e sigo até a dela. Algo muito esquisito está acontecendo. Bato pela primeira vez e o som da televisão ainda está alto. Bato mais uma vez e dessa vez ela abaixa o volume. Bato mais uma vez e agora escuto ela se mover devagar. Paredes finas demais, essa é a vantagem. A desvantagem é o frio. Às vezes só a calefação não é o suficiente.

Ela abre a porta. Está toda empacotada. Sinto o cheiro de chocolate quente e olho para baixo, ela veste meias grossas. Menos mal, mas vou ter que comprar um aquecedor portátil para mim e para ela. Ela abre mais a porta e eu entro. Depois que fecha, ficamos nos olhando por um tempo. Puxo o ar e ela passa por mim e vai direto para a cozinha.

— Quer chocolate? Acabei de preparar.

— Claro. - Eu gosto muito de chocolate. Talvez essa predileção tenha sido um dos fatores que me fizeram gostar dela. A cor dos cabelos, mogno no sol, mas estamos em Forks, a maioria das vezes, ele é denso como chocolate. Os olhos têm essa cor também e quando nós dois chegamos aos finalmente, eu a vi nua, afinal, não estávamos no século retrasado - apesar de parecer muito, a pele em contraste com aquela cor me deixava cada vez mais deslumbrado.

— Pega. - Ela me entregou o copo e se sentou ao redor da mesa.

— Como vai você? Não estava bem para ir ao trabalho?

— Não. Eu sinto muita dor quando fico muito tempo em pé, e você sabe, ser enfermeira não é fácil. Agora uma enfermeira grávida? Triplica duas vezes. Resolvi tirar a licença e só volto depois que ela tiver seus seis meses. - Ela acariciou a barriga.

Bella fez enfermagem. Duh. Ela está preparada para a chegada da menina. Ela nem deu nome ainda, e apesar de querer muito dar palpite, eu não o faço. Minha mãe às vezes sai com ela e Rosalie. Jasper eu acho, também tem esse amor platônico por Bella, mas sei que respeita a mãe da sobrinha. Fiquei até aliviado quando ele apareceu com uma namoradinha nova.

Apesar de falar sobre o apartamento como se ele fosse um moquifo, sei que é exagero. É bem situado, tem três andares e cerca de quatro apartamentos por andar. O aluguel é razoavelmente barato, temos assistência do dono, câmeras nos corredores e porta automática na entrada, eu acho bem sofisticado. Um porteiro engraçado e outro muito sábio, pra não chamar de fofoqueiro. Uma síndica que sempre põe ordem quando é dia de reunião de condomínio. Não demoram meia hora, mas você não esquece nada do que é dito por lá.

— Quer que eu faça algo pra você? Percebi que não saiu o dia todo.

— Eu fiquei um pouco indisposta e passei o dia escapando do frio. Dormi um pouco também. Mas agora fiquei sem sono. Mas já que se ofereceu, pode levar meu lixo para fora. Eu não quero sair, não acho que vou ser tão rápida antes de morrer congelada.

— Tudo bem. Já está ensacado? - Ela assente. Pego o saco preto perto da pia e deixo perto da porta. - Preciso pegar meu sapato, ir só de meias é pedir uma pneumonia.

— Sim, você vai acabar adoecendo. Não queremos isso, certo? - Ela beijou a minha bochecha. Sorri com o gesto. - Ah, e com certeza vai ter chocolate em dobro pra você quando voltar.

Já agasalhado. Levei o lixo dela e o meu, que percebi que estava atrasado também e desci as escadas torcendo para que o calor dos movimentos me ajudasse a aguentar o frio. Olhei ao redor e tentei encontrar alguém na rua. Não tinha, nem mesmo os bichos. Todos intocados e eu tenho certeza que tinham lembrado de colocar o lixo do lado de fora. Torcia muito para que os mendigos que de vez em quando notava na rua, estivessem também abrigados.

Você com certeza acha que eu sou a pessoa mais fria do mundo só por não querer colocar mais gente no mundo. Você tem vinte e cinco por cento de razão. Mas veja bem, eu me preocupo com as fatalidades sofridas e causadas por humanos. Só não penso muito nisso como se fosse mérito, não fiz nada mais que a minha obrigação.

Passei pelo beco e estranhei que Cruela não estivesse em sua casa improvisada. Com os lençóis velhos para esquentá-la bem. Escutei então seus miados. Era fácil diferenciar o som dos gatos normais e daquela diaba de gata. Ela era mais rouca, pois eu sabia que apesar de não parecer, Cruela tem mais de dez anos, então é uma idosa. Enxuta, mas ainda assim, bem velha.

Caminhei e segui o som. Perto da lixeira. Coloco o lixo no lugar e me aproximo dela. Está numa caixa menor, o odor está forte e eu me preparo para pegar Cruela de lá, concluindo que um gato maior apareceu e a atacou. Ela me percebe. Seus grandes olhos estão, ao meu ver, assustados. Acendo a lanterna do celular e o que vejo na caixa me deixa apavorado.

Um bebê.

Cruela está em cima de um bebê, e é quase difícil ver alguma coisa do corpinho dele pois ela cobre a maior parte. Não se passa nem um minuto direito para que eu reaja. Agarro a caixa e levo os dois para dentro de casa. Respirando irregularmente, aperto o botão do elevador e subo analisando se o bebê está vivo. Ele está. Até suspira com o movimento. Quando o elevador se abre, nem penso direito e vou direto para a porta de Bella. Na verdade, inconscientemente fiz a coisa mais sensata. Ela é enfermeira.

— Oi, já está conge.... O que tem aí? - Ela pergunta ao perceber a caixa. Me olha e algo em mim diz que nada vai bem no meu rosto.

— Eu... a Cruela tem um bebê.

— Como? Edward, eu não sou veterinária.

— Não Bella, um bebê humano. Veja. - Ela se aproximou da caixa que eu coloco em cima da mesa. Puxo Cruela para os meus braços depois de jogar uma manta por cima dela, acho que Bella não vai reclamar.

— Deus. - Ela acaricia a barriga de novo. - Quem pode ter feito isso com você pequeno? - Ela treme um pouco antes de pegar o pequeno garotinho nos braços. Coloco Cruela num canto perto da calefação. Volto meu olhar para Bella e o bebê, ele se encaixa no peito dela e eu já achei outra manta, uma mais grossa, e coloco por cima dos dois.

— Ele está bem? - Pergunto um pouco agitado. Ela tem lágrimas nos olhos. - Oh meu Deus querida, não chore, sei que é chocante, mas ele precisa de ajuda. - Ela assente depois que eu seco as lágrimas que escorreram.

— Ele está quente. Respira bem, e quem o deixou o agasalhou um pouco, mas..., mas não o suficiente. - Sua voz treme. Acaricio seu cabelo e ela puxa uma respiração mais funda.

— Vou chamar a ambulância. - Digo depois que o bebê se agita e começa a acordar.

— Sim, eu acho que... vou precisar também. - Ela se senta e o bebê acorda completamente. Ele suga a mãozinha. - Ele tem fome.

— Está agitada demais.

— Edward... não, estou bem.

— Não está não, vem. - Posiciono meus braços em torno da cintura dela e do corpinho dele. Ela relaxa um pouco contra as almofadas.

— Vou fazer a chamada. Está melhor?

— Sim, pode ligar. - Ela acariciou o bebê nos braços. Enquanto falo com o atendente, Bella tira algo da gaveta ao lado do sofá, e depois coloca um termômetro nele, ela sorri e manda avisar que a temperatura dele está normal - Trinta e seis graus.

Eles recomendam darmos um banho nele. Bella pede que eu ligue o chuveiro e deixe ele esquentando. Diz que vai evitar um choque térmico. Ela então tira a roupinha dele e eu já dei todas as informações para o hospital, agora é esperar os paramédicos. Bella pede ajuda para levantar. Pede que eu coloque a banheira lilás que já tem para a bebê e um sabonete no guarda-roupas branco destinado para a menininha.

— Ele é bem cuidado, Edward. Seja quem for seus responsáveis, eles cuidam desse pequeno. - Ela me entrega o bebê nu. - Pode segurar? Minha barriga vai atrapalhar e não vou conseguir segurar ele num braço só.

Eu respiro fundo. Ela posiciona ele no meu braço, de barriga para baixo. Ela pega a água já morna e começa o banho. O pequeno resmunga e suspira, ele chora um pouco e fico assustado, será que o machuquei? Sabia que devia ter prestado atenção quando os gêmeos nasceram, mas não culpe um cara não lembrar de muita coisa de quando tinha oito anos. Ela sorri e o ensaboa, tendo o cuidado de sempre, como ela vai murmurando, com as orelhas e o nariz. As dobrinhas do corpinho dele brilham com o sabão. Por um segundo, imagino que ele é meu e dela. A fantasia não dura muito. Logo ele está enrolado de novo, agora em uma toalha e ela o leva para o quarto.

Lá, ela acha um pacote de fraldas. Ela o seca, cada dobrinha sendo bem tratada, o bebê está chorando agora. Bella treme de novo. Coloca creme para assaduras, talco e fecha a fralda. Depois coloca um macacão branco, que serviu direitinho e se senta perto dos travesseiros. Ele agora berra.

— Deve estar com fome. - Ela chora de novo. - Me diz o que está errado, não minta.

— Eu já produzo leite, ou algo perto disso. Mas não posso...

— Como não...

— Já perdi um bebê antes. Essa gravidez tem um pouco de risco graças ao aborto espontâneo. Eu poderia colocar ela em risco.... Não vê? Isso é tão cruel.

— Eu…. Não me contou antes por achar que não me importo, não é? - Seus olhos me olharam arrependidos. Beijei sua bochecha com carinho. Deixa-la preocupada só a deixaria doente. E ela tinha um pouco de razão. - Calma Bella. - Me sento ao lado dela. A abraço parcialmente. - Tudo bem-querida, logo esse rapaz vai ganhar seu alimento. - O pequeno garoto estava só soluçando agora. Depois resolveria minhas coisas com ela.

— Pode segurar ele? - Ela perguntou. Estava ansioso por isso. E eu tinha olhado como ela segurava, mais atentamente dessa vez e estava pronto para embalar o sono do pequeno garotinho. - Edward, será que alguém realmente está procurando por ele?

— É claro que está. - Olho para o pequeno chorão. - Não se preocupe, vamos achar sua mamãe e sua fonte de alimento. Não chore mais. E como o esperado, já que ele não é obrigado a me entender, ele chorou um pouco mais alto.

Cruela apareceu no quarto. Ela se aproximou de mim e pulou na cama. Se esfregou no meu braço e ronronou. Se espreguiça e deita ao meu lado. Ela se estica e fecha os olhos. Bella sorri e acho que a relação entre ela e a não tão demoníaca gata se estreitaria ainda mais.

— Quem diria que a valentona do bairro tem coração? - Pergunto rindo. Os olhos amarelos da Valak, digo, Cruela, me encaram um pouco. Tenho certeza que o chip tradutor dela captou minha mensagem, mas ela ignorou e deitou de novo, a cabeça mais próxima da perna do menino que ela salvou.

— Quem imaginaria? - Ela pergunta e me olha intensamente. Sei que não fala de Cruela.

— As coisas mudam.

Quase quinze minutos depois, os paramédicos chegam. O frio foi aumentando ainda mais. Nós dois acabamos por segui-los para o hospital. Deixamos Cruela trancada na casa, mas ela nem iria "reclamar". Tinha água, comida e calor. E eu evitaria minhas piadas sobre o inferno onde ela morava antes. Bella se acalmou mais quando confirmaram que o neném não tinha sequela alguma do frio. A sensação de alivio foi subindo e, no táxi, abraçados para nos aquecer, senti as bem-vindas ondulações do meu pequeno bebê. Eu posso não gostar de pensar em gerar, mas já que estamos aqui, prestes a ver o rostinho da pequena garotinha, então é, vai ser assim, eu vou ser babão, pelo menos em pensamentos. Bella deitou a cabeça no meu ombro e toda aquela roupa para aquecê-la a fazia parecer uma bolinha. Ri sozinho disso.

Nós aguardamos notícia do bebê e alguns colegas dela apareciam ás vezes para conversar e ela contava brevemente como estava a gravidez e os motivos de estar ali. Mais tarde, os policiais apareceram. Eu dei meu breve depoimento e Bella também, não muito tempo depois, descobrimos as raízes do bebê Denali.

Jared Denali.

Filho de Eleazar e Carmem Denali.

Pais amorosos e que tinham uma pequena intriga com a prima de Carmem. Ao que parece, Irina era obcecada por Eleazar e não era a favor do casamento da prima, entrou em colapso quando soube de Jared, o sequestrou e o deixou para morrer enquanto mantinha Carmem presa em um apartamento a quase cinco quilômetros do meu apartamento. O resto é história e eu não estava muito preocupado, desde que a louca desalmada ficasse presa.

Uma mulher de cabelos pretos e curtos entrou no hospital com o rosto inchado e banhado em lágrimas. Tinha uma tala envolvendo a mão e foi amparada por um homem alto e de cabelos também pretos. Um casal alto e, claramente, eram os pais de Jared. Os cabelos do menino eram tão escuros quanto os da mãe. Eles seguiram para a recepção e os policiais faziam a escolta.

— Jared Denali, meu bebê, ele veio para cá... – a mulher começou.

— Senhora Denali, estávamos aguardando. – O médico, Garret Emerson, saudou. Fomos apresentados mais cedo. E foi ele quem mediu a pressão de Bella, mas já estava controlada. – Seu filho está bem, não tem sequela nenhuma, vai ficar sendo monitorado por essa noite e a pediatra de plantão está cuidando dele neste momento. Ele foi aquecido a tempo.

— É a doutora Kate? A pediatra? – Bella perguntou um pouco alto. Todos olharam para ela, o médico assentiu. - Amém. - Ela ficou ainda mais aliviada. - É que o residente dela é meio… idiota. - Ela sussurrou no meu pescoço depois.

— Estou aguardando ela dar o ok, mas enquanto esperamos, deixe eu os apresentar. Essa é a enfermeira Isabella Swan, seu namorado Edward Cullen e os dois salvaram o pequeno Jared. - Eu deveria ficar um pouco estático e me assustar com os títulos que nos deram, mas não.

— Oh meu Deus, eu não sei como agradecer a bondade de vocês. – Ela levou a mão aos olhos para enxugá-los.

— Vocês, literalmente, salvaram as nossas vidas. – Eleazar falou com a voz muito embargada.

Bella acariciou a barriga e Carmem soluçou e sorriu. Depois as duas se abraçaram e elas choravam. Um show de hormônios, susto, emoção e compaixão. Eu apertei brevemente a mão de Eleazar e ele volta o olhar para a esposa. E eu volto a olhar para a minha... namorada, como Emerson disse. Ela passa a mão na barriga avantajada de novo.

— Querida, venha se sentar. – Eu a puxo para as cadeiras e as duas acabam sentando lado a lado. Isso não dura muito, a médica nos chama e lá encontramos Jared comendo com a ajuda de uma enfermeira. O pequeno menino está vermelho de tanto chorar.

O reencontro é emocionante. Sou grato por ter a chance de ver isso. A bolinha ao meu lado funga e me abraça pela cintura. Carmem segura seu filho, ele respira fundo e procura o seio dela. Eu e Bella os deixamos em seu momento feliz. Depois, Eleazar aparece e se despede de nós dois. Eu puxo a coisinha sonolenta e vamos para casa, mas não antes de dizer quem realmente salvou o garoto dele.

— Uma gata? – Ele meio gritou, meio riu.

— Sim, ela é um demôn... ai Bella. – Ela me dá um cutucão.

— Ela é uma gata excêntrica. Nós meio que somos vizinhos dela, ela manteve seu filho aquecido. Tenho certeza que ele ativou o instinto materno nela. – A última frase dela me fez repensar. E me comparar aos instintos de Cruela.

Instinto?

Paterno?

— E como é o nome dela?

— Cruela. – Nós dois respondemos. Eleazar riu.

— Como dos 101 Dálmatas?

— Tá mais como 101 demônios, mas serve. – Desviei de outra cutucada.

— Ela não é tão ruim.

— Ela é pior. Mas... – olhei para a cara ranzinza da minha...namorada.

— Mas? – Eleazar continuava rindo. Se meu filho sequestrado voltasse para casa são e salvo eu viveria com a boca arreganhada em sorrisos também. Não faria?

— Ela se arriscou para salvá-lo. Morreria de frio por ele. – Digo sério. "Vai ver o espirito maligno deva ter saído daquele corpo". - Bem, vou levar essas duas pra casa.

— Uma menina então? Meus parabéns, Carmem e eu tentaremos uma em alguns anos. - Ele olhou pela janela da porta, espiava a esposa.

— Sim, é o que a Bella diz, eu não vejo mais do que uma imagem chuviscada. - Eu ri sozinho. Eu realmente não sabia como ler aquela imagem.

— Aqui, coloque seu telefone e o seu também Bella. Carmem com certeza vai querer manter contato, quem sabe Jared e sua filha não se tornem amigos? E é claro, Cruela vai ganhar ração e veterinário vitalício, faço questão de mimá-la.

— Com certeza! - Ela pulou um pouco e digitou os números. Amigos no futuro? Minha filha e aquele garoto bonito? Hum. Não sei. - Edward. - Ela me chama e passa o celular. Eu digito os números. Aquele bebê pode até ser amigo da minha filha, mas eu vou moldar direitinho essa amizade.

Nos despedimos, Eleazar ficou de premiar Cruela em breve. Saímos de lá e Bella bocejou alto.

— Você disse mais cedo que estava sem sono.

— Nada melhor que um pouco de adrenalina, um resgate e amigos novos para me cansar. - Ela encostou a cabeça no meu ombro e cochilou até em casa.

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.

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— Mas eu não entendo essa demora toda. - Os gritos de Bella aumentaram. - Me explica de novo o motivo de eu não estar lá dentro.

— Se você está nervoso aqui, acredite, lá dentro seria ainda mais. - Eleazar comenta e embala Jared para o sono.

A maior nevasca da história caiu. Justamente no dia em que Bella fez xixi no sofá. Calma, xixi não, era um líquido que fica na bolsa onde o bebê fica. É, isso. Estávamos comemorando o batizado do nosso afilhado. Jared sempre visitava Cruela e ela sempre parecia saber que ele estava vindo. Passava o dia tomando banho de língua e se comportava como uma gatinha bem criada. Bizarro. Eu tinha mais medo dela assim.

Outro grito.

Meu Deus.

Os paramédicos não moveram ela de casa, estava frio demais. Olhei para a gorda Cruela, nem mesmo aquela gordura toda esquentaria Bella e minha filha. Uma pena. Queria que elas estivessem no hospital.

Não escutei mais nenhum barulho.

E isso tinha mais de dez minutos.

Eu preferia os gritos.

E escutei um.

Acompanhado de um choro de bebê.

— Parabéns cara! - Eleazar apertou meu ombro e sorriu.

Olhei ao redor e vi minha família reunida. Rosalie dormindo ao lado de Jasper, que estava conversando baixo com a namorada, Alice. Os pais de Bella, que praticamente se enfiaram na neve para chegar aqui, estavam conversando perto da janela. Ela estava brava que não pôde entrar para ver o parto. Já minha mãe, é ela quem está lá com Bella. E ela quem abriu a porta do meu apartamento e me olha sorridente agora.

— Nasceu minha neta! - Ela sorriu mais e eu me aproximei rápido dela. Procurando as respostas. - Elas estão bem, vim te buscar, você pode acompanhá-la até o hospital.

— Ficou tudo muito silencioso, aconteceu algo?

— Querido, a bebê tinha o cordão enrolado envolta do pescoço, fizeram uma cesárea de emergência e… - me agitei. - Estão bem. Veja com seus próprios olhos. - Saímos para o corredor onde eles carregavam uma maca. A bebê estava nos braços de Carlisle. Nunca estive mais agradecido de ter um médico na família.

— Pode segurar ela, Edward. - Ele me passou o embrulho brilhante. Tudo para protegê-la do frio. A pequena garotinha de cabelos castanhos, que não pesava quase nada, continuou em seu sono. Desviei o olhar para Bella na maca.

— Ela está bem, vamos logo para o hospital, vai ficar menos agitado por lá.

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— Ela dorme muito.

— Sim.

— É bom?

—Dormir sempre é bom.

— Será que ela não está doente.

— Não. Bebês dormem o tempo todo.

— Queria ser um bebê.

— Mas você é.

— Verdade, até mamar eu faço.

— Sendo assim então eu sou um bebê também.

— Você é uma caixinha de surpresas, Isabella Swan. - Eu a puxo pela mão e a levo para o quarto. Deitamos na cama e ela se aconchega em meus braços.

— Você ama a minha ousadia.

— Sim, ajuda bastante a levantar.

— Levantar o quê?

— Levantar o quê? Larga de ser safada.

— Você quer mesmo que eu faça isso? - Ela acaricia meu pau sobre a calça. Tiro sua mão dali.

— Duas semanas e eu mostro que gosto demais das suas safadezas. Mas por enquanto….

— Eu já disse que sou um bebê.

— Fica meio estranho quando se tem um bebê no quarto ao lado.

—Verdade. - Ela me dá um tapa no peito. - Respeite sua filha.

Eu sorrio e a puxo para um beijo.

Intitulei esse como um beijo apaixonado.

— Eu respeito.

Cruela passa pelo corredor. E diferente do que eu pensava antes, ela não parece uma alma vagando por ali. Ela vai direto para o quarto de Ellie.

Elena Swan Cullen. Ellie. Tipo a Ellie Goulding mesmo, que é a cantora favorita de Bella.

— Casa comigo. - Eu aproximo o rosto dela do meu. - Aceita.

— Não.

— Eu amo você.

— Eu sei.

— Então aceita.

— Não.

— Me diz, me dá uma boa razão…

— A quase quatro meses, nós não estávamos aqui, assim.

— Eu sou um bom ator.

— Ainda não sabe se quer casar comigo. Não quero que faça isso só por achar que tem uma dívida comigo. - Suspiro e respiro fundo em seu pescoço.

— Eu tinha medo. - Sussurro ali. - Eu apreciava ficar ao seu lado, ainda aprecio, mas eu me permitir viver longe de amor, eu só pensava que o que ganhava era caridade. Então…

— Então? - Ela me afastou e me olhou nos olhos.

— Então eu percebi que você é péssima na kalimba. E que já Ellie passou parte da pequena vida dela desejando chocolate. Lembra que eu tive que enfrentar aquela chuva toda só pra achar bolo para o seu desejo, no terceiro mês?

— Lembro. Mas me admira muito você lembrar.

— Sim. Eu lembro. Eu me privei de muitas coisas nessa vida. Mas eu não quero e não posso me privar de você Bella, nem da Ellie.

— Ellie é sua também.

— Mas e você? É minha.

— Eu sou de ninguém.

— Prazer, meu novo nome é Ninguém. - Eu a puxei para mais um beijo. Ela não conseguiu prender a risada. - Casa comigo?

— Se eu aceitar, quando vai ser esse casamento?

— Quando e onde você quiser. - Responde e ela brinca com os botões da minha camisa.

— Ano que vem.

— Oi?

— Eu caso com você, mas você tem 365 dias para provar que realmente quer isso.

— Consigo em menos tempo. Sem ter que sequestrar você. - Ela acaricia o meu pescoço.

— Eu amo você Edward, mesmo que você minta para mim. E mesmo que tenha péssimas referências de filmes.

— Eu menti? Quando?

— Eu sou melhor com a Kalimba do que você, admita.

— Já que você me ama apesar das mentiras, vou deixar você acreditar que sim. - Ela me deu um beliscão e eu só não a enchi de cócegas pois olhei para a porta e notei a gata me olhando.

Medo de ir na cozinha a noite e encontrar ela me olhando. Teria pesadelos.

— Vai dormir no seu apartamento? - Ela me pergunta. Ela sempre pergunta. Por mais que eu praticamente more aqui desde os seis meses de gestação da Ellie.

— Não. - Eu sempre respondia o mesmo.

— Realmente, você é um pai preocupado.

— E um cara apaixonado. - Ela corou e sorriu. Cruela pulou na cama e se encostou nas pernas de Bella. - Tem certeza que ela volta se dermos ela para Eleazar? - Começo a sussurrar a próxima frase. - Eu posso colocar ela num saco e…

— Ela volta, Edward.

— É.

— Dá uma chance, ela protege a Ellie também.

— Espero que ela nunca tenha que fazer algo além de zelar o sono dela.

— Nem me fale. Não aguentaria se minha bebê ficasse sozinha lá fora. - Ela franziu a testa. Já eu fechei os olhos. Não queria repetir aquilo.

— Nem eu. - Apertei Bella mais uma vez e sai da cama.

— Pra onde vai?

— Checar Ellie. - Digo já na porta.

— Me espera, eu também vou.

Sorri e entrei no quarto ao lado. Ellie ainda dormia, Cruela se deitou no tapete próximo ao berço. Como se fosse a guardiã de bebês. E talvez, toda a nossa trajetória tenha sido toda escrita assim. Eu fingindo que não me importava, mas sempre monitorando. Disfarçando com um pouco de provocações. Cruela e eu éramos parecidos. Se não amar era pecado, então eu nunca fui esse tipo de pecador, eu agora sabia.

Saindo do meu inferno pessoal e encontrando a redenção ao salvar Jared, agora meu afilhado, e amando incondicionalmente Bella. E eu sabia que teria que superar mais ainda esse trauma de amar e ser amado e ser um homem melhor, um pai melhor, um filho melhor, um irmão melhor, um futuro marido melhor. Por todas elas. Bella, Ellie e até Cruela.

— Edward pare de cutucar Ellie, ela tem que dormir.

— Mas eu quero pegar ela no colo.

— Eu preparo um chocolate pra você matar o tempo.

— Vou aceitar sua proposta. - Era chocolate meu filho!

Ela riu e eu deixei o quarto, dando mais uma olhada no berço e outra em Cruela. Seus olhos brilhavam na escuridão. Se ela falasse, com certeza seria: " Vai lá mané, eu protejo ela melhor do que você." E eu acreditaria. Afinal, ela tinha poderes, eu tenho certeza.

— Edward!

— Já vou! - Fechei a porta.


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Notas finais do capítulo

Em 2015, a gata Marsha salvou a vida de um bebê abandonado na entrada de um prédio na Rússia. Marsha entrou na caixa onde a criança havia sido deixada e a manteve aquecida por horas. Pessoas que moram na região encontraram o bicho enrolado ao bebê depois de ouvi-lo chorar. Na ocasião, a temperatura estava abaixo de zero.



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