Doce Amor escrita por BellaMC


Capítulo 1
Capítulo Único




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As gotas se acumulavam na janela do meu apartamento e a cidade lá embaixo começava a acordar, enquanto me preparava para mais um dia de trabalho. Ser confeiteiro sempre foi um sonho, apesar de contrariar os planos de meu pai, que queria que eu assumisse a empresa da família. As confeitarias Cullen’s dominavam todo os EUA e meu nome havia superado o legado no qual nasci, porém, apesar da força do meu sobrenome, conseguia me manter no anonimato. Meu rosto não era muito divulgado e eu apreciava isso, tendo recusado diversas propostas para começar uma linha de produtos com ele, deixo isso para Buddy Valastro. Quero apenas confeitar.

Normalmente meu dia de trabalho se resumia ao escritório, para resolver as papeladas burocráticas, e a cozinha que havia no edifício onde eu gerenciava todas as lojas. No entanto, hoje seria um pouco diferente, uma das lojas estava tendo alguns problemas que exigiam minha presença, então aproveitei que os negócios estavam mais calmos e tirei o dia para auxiliar o gerente. Aquela era uma loja muito especial para mim, era a primeira confeitaria que abri nos EUA, Carlisle se recusou a me ajudar e por isso, fiquei meses trabalhando em um restaurante para juntar dinheiro para o aluguel da loja, sem ter a mínima ideia se aquilo funcionaria ou não.

— Bom dia, senhor Edward. – o porteiro cumprimentou quando passei pelo hall do prédio em direção ao carro que já me aguardava na porta.

— Bom dia, Christopher! Como estão as crianças? – questionei rapidamente.

— Muito bem senhor, tenha um bom dia! – acenou com a mão no chapéu e retribui.

            Alguns anos atrás abri mão de dirigir quando percebi que poderia usar o tempo no carro para responder alguns e-mails e resolver questões que não exigiam minha presença física ou alguma conversa. Era uma otimização do meu tempo, para que não precisasse abrir mão dos meus momentos de descanso para gerenciar a minha empresa. A chuva ainda caía suavemente e a cidade estava levemente nublada trazendo aquele conforto que somente um dia chuvoso traria.

— Eddie! – Emmett gritou quando entrei em seu escritório na confeitaria, me fazendo revirar os olhos para seu apelido estúpido.

— Ei idiota, não consegue fazer isso funcionar sem mim? – debochei, com uma suave risada cortando meu peito.

            Emmett é meu irmão e quando a confeitaria cresceu ao ponto de virar uma empresa, bem como uma marca, precisei me afastar da administração direta da loja para que pudesse fazer o meu sonho crescer. Ele foi a única pessoa de confiança que pude pensar para entregar a minha primeira confeitaria e assim como eu, Emmett não tinha grandes ambições e intenções para empresa da família, por isso não pensou duas vezes em aceitar meu convite.

Já faz dez anos que meu irmão se tornou o gerente dessa loja, além de ocupar um grande cargo diretivo na empresa como um todo. No entanto, ele prefere a vida no comércio a ficar preso em uma sala corporativa. Infelizmente, não tenho essa mesma escolha.

— Até parece... – Emmett bufou com uma pequena risada.

— Então eu estou aqui por que? – Emmett havia dito que precisava de mim urgentemente para lidar com algumas questões importantes.

— Nosso cardápio está ficando ultrapassado e como sei que a vida de empresário está te consumindo aos poucos, te chamei para passar o dia na cozinha inventando algo novo! – meu irmão se levantou e se apoiou na borda da mesa com os braços cruzados, enquanto ostentava um sorriso convencido.

— Você tem noção de como precisei reorganizar minha agenda para vir aqui hoje achando que era algo realmente importante? – exasperei, levantando da cadeira e passando a mão no cabelo para tentar conter minha frustração.

Uma parte de mim sabia que eu estava menosprezando o que realmente fez a Cullen’s ficar conhecida mundialmente, a confeitaria, mas a parte burocrática, que vinha junto com a obrigação de guiar uma empresa, eram muito maiores do que imaginava quando comecei tudo isso. Era frustrante saber que outras pessoas percebiam minha negligência, era como um grande soco no meu ego... No fundo estava grato por Emmett ter armado toda essa situação, só era difícil aceitar.

— Exatamente por isso que te chamei, Edward! Você vive ao redor dessa agenda, precisa viver, meu irmão! Fazer o que ama. – seu tom era complacente e eu conseguia reconhecer o seu gesto.

— Você tem razão. – soltei um suspiro pesado, passando a mão de novo em meu cabelo. 

— Um pouco de animação não mataria ninguém, parece que estou te torturando. – Emmett debochou e apenas mostrei o dedo do meio, ouvindo sua risada enquanto eu saía de seu escritório.

            No caminho até a cozinha consegui tirar um pequeno momento para apreciar a loja. Nossa marca era o uso de tons avermelhados e um ambiente que trouxesse a nostalgia de uma casa de vó, então os móveis por toda loja possuíam uma aura vintage, o chão era todo quadriculado como nos anos 50 e os doces eram expostos em pequenos pedestais dentro de um refrigerador, projetado especialmente para combinar com toda estética da loja.

            Minha irmã Alice havia sido responsável por criar o marketing visual da Cullen’s e exatamente por conta desse dom, ela é a grande herdeira da empresa da família. Junto com a identidade visual da marca, foram incluídas as roupas dos vendedores. Todos aqueles que possuíam algum tipo de contato com os clientes, trajavam roupas clássicas: as mulheres com saias rodadas e blusa de botões brancas e um avental vermelho, enquanto os homens usavam roupas sociais brancas com suspensórios também vermelhos.

            A fachada possuía toldos listrados em branco e vermelho, com a grande logo da confeitaria. Cada detalhe de todas elas havia sido muito bem pensado, desde a decoração com suas toalhas de mesa xadrez vermelho e branco, até a forma retrô que o nome Cullen’s foi escrito.  Sempre soube que queria trazer uma sensação de lar para as lojas, porque foi na cozinha da minha avó que a confeitaria se tornou uma paixão e sentia que precisava compartilhar esse sentimento com todos que entrassem na minha loja.

            Quando finalmente cheguei na cozinha percebi que alguns funcionários me encaravam perplexos e me senti ligeiramente constrangido. Alguns nem me conheciam. Assim que comecei essa loja específica, meus funcionários eram minha família, porém agora com mais funcionários e lojas espalhados por todo país, era complicado manter essa relação. Ainda assim, a ideia de que aquelas pessoas trabalhavam para mim e eu nem mesmo sabia seus nomes, me incomodava.

— Então... – comecei, juntando as mãos – Hoje iremos manter as produções normais da confeitaria, mas precisarei da ajuda de alguns de vocês para inovarmos um pouco. Acho que isso será bom até para vocês, que devem estar enjoados das mesmas receitas. – brinquei e consegui quebrar o clima estranho que estava no ar.

— O senhor tem alguma ideia em mente? – Um rapaz se aproximou da minha área de trabalho.

— Na verdade, não... – cocei a cabeça, rindo sem graça – Qual o seu nome? – questionei ao perceber que ele não tinha crachá.

— Seth. – acenou com a cabeça e eu fiz o mesmo – Alguns clientes tem dado sugestões para usarmos mais frutas nas receitas... – comentou.

— Rapaz, você me ajudou muito! – sorri, batendo em suas costas levemente – Está ocupado agora? Pode ser meu auxiliar? – questionei e ele prontamente se pôs ao meu lado.

            O verão estava próximo e a ideia de uma sobremesa refrescante se formou na minha cabeça. Seria uma combinação de maracujá e manga dentro de uma casca de chocolate branco fina, com uma geleia de laranja por cima e como a apresentação foi o que fez a Cullen’s se destacar, haveriam algumas flores comestíveis no topo. Criar uma sobremesa para o cardápio era algo um pouco complexo, porque precisaríamos garantir que os passos não fossem muito longos e trabalhosos, uma vez que haveria uma rotatividade ao longo do dia.

— Essa sobremesa será parte daquelas que vocês deixam os passos prontos durante a manhã e ao longo do dia apenas fazem a montagem. – anunciei a Seth, enquanto colocava as flores, montando a apresentação final.

— Para não gastar muito tempo nela. – Seth comentou baixinho e acenei.

Quando terminei de colocar as flores como eu queria, parei para admirar a minha criação. Como o chocolate branco havia sido temperado com muito cuidado, ele reluzia, parecendo pérola, e a calda de laranja caía perfeitamente nas bordas dando o contraste com o branco. As flores cor-de-rosa traziam o frescor que eu procurava para compor o visual da sobremesa. Tudo nela gritava verão, desde os sabores até as cores e suspirei aliviado, havia gasto pouco mais de cinco horas pensando, elaborando e montando, mas consegui o resultado perfeito.

— Quem gostaria de provar? – questionei alto e todos na cozinha se animaram.

Cortei alguns pequenos pedaços, uma vez que era uma sobremesa individual, e foi possível que todos conseguissem provar. Aqueles suspiros de aprovação e de contentamento garantiram a confiança que eu precisava para colocá-la no cardápio de todas as confeitarias. Enquanto os funcionários comiam, comecei a anotar todos os ingredientes, passo a passo e o modo de preparo da nova receita, para que pudesse ser enviado para as outras lojas.

            Estava a caminho do escritório de Emmett quando vi uma comoção no salão e alguns funcionários correram para lá. Senti a preocupação dominar meu corpo e ideias absurdas passavam pela minha cabeça, como assalto ou até mesmo algum atentado terrorista. Minha pulsação estava acelerada e meu coração batia pesado enquanto eu dava os últimos passos até a área principal.

— Puta merda! – escutei uma voz feminina xingar com dor – Me desculpem por essa zona. – murmurou entre os dentes.

— O que está acontecendo aqui? – questionei agitado, abrindo espaço entre os clientes e me aproximando de uma atendente.

— A bolsa dessa moça estourou! – murmurou, auxiliando outra garçonete, que acalmava a cliente.

            A moça parecia estar... Muito grávida. Talvez isso significasse que não era um parto prematuro, o que me tranquilizou um pouco. Seus cabelos eram castanhos e caiam sobre seus ombros e não pude deixar de notar que seus traços eram muito bonitos, porém, nesse momento encontravam-se contorcidos de dor. Consegui ter um vislumbre de seus olhos quando ela os abriu por um breve momento e eles eram castanhos, no tom de um chocolate temperado perfeitamente. Senti-me sem graça por estar comparando os olhos dela com comida, mas essa era a minha referência de beleza.

— A quanto tempo ela está assim? – o chão já não havia sinais de sujeira ou líquidos, e por mais que acreditasse na eficiência dos meus funcionários, não imaginava que eles eram rápidos assim.

— Uns 40 minutos... – comentou a funcionária, Jéssica, após checar o grande relógio que ficava em uma das paredes – Já ligamos para ambulância várias vezes e nenhum sinal de ajuda... – sua voz parecia um pouco desesperada.

— Tem algum problema... Ela ficar todo esse tempo aqui? – questionei, constrangido pela minha incapacidade de entender o corpo feminino.

— As contrações parecem estar muito próximas. – retrucou e acho que meu rosto entregou meu desconhecimento sobre o assunto – Ela pode ter o bebê aqui, senhor. – explicou.

            Senti meu desespero aumentar e duvidava muito que existisse alguém capacitado para realizar um parto dentro da loja, principalmente porque com toda situação acontecendo, alguns clientes foram se dissipando. Da minha incapacidade eu tinha certeza e não conseguia nem mensurar o perigo que estaria colocando aquele bebê ao deixá-lo nascer no meio de um ambiente não esterilizado. Sabia que precisava fazer alguma coisa e comecei a olhar para os lados  desesperado, tentando achar alguma solução.

— Vou levá-la ao hospital. – anunciei, surpreendendo até a mim mesmo pela minha impulsividade.

— O que está acontecendo aqui? – escutei a voz de Emmett romper pelo cômodo, mas não tinha tempo para explicar pra ele.

— Prazer, meu nome é Edward e estou te levando para o hospital. – falei para a moça que me olhava atônita, enquanto a pegava no colo. Pelo menos ela não foi contra— Vocês, por favor, expliquem  para ele. – apontei para as funcionárias que acenaram rapidamente.

            A moça dos olhos castanhos parecia estar em estado de choque enquanto eu corria com ela nos braços em direção ao meu motorista, que prontamente abriu a porta do carro para mim e o ligou. Ela parecia tentar conter os gritos de dor e depois de coloca-la da maneira mais confortável possível no banco, mandei Laurent correr para o hospital mais perto. Naquele momento eu não estava me preocupando se ela tinha plano de saúde ou não, eu mesmo pagaria o parto se fosse necessário.

— Isabella. – escutei a doce e dolorida voz falar, chamando minha atenção – Me chamo Isabella... – forçou um pequeno sorriso e retribui, com um amplo.

— É um prazer senhorita Isabella e... – acenei pra barriga e ela deu uma suave risada em meio a dor.

— Anthony. – respondeu acariciando sua barriga. Pela primeira vez consegui de fato olhar para a protuberância. – E me chame só de Bella. – completou entre dentes

            No mesmo momento que Isa... Bella contorceu seu rosto, sua barriga tencionou inteira, tornando-se uma grande bola dura. Senti os pelos do meu corpo arrepiarem ao imaginar a dor que ela estava sentindo e ela deveria estar aumentando, porque agora Isabella já não conseguia conter os grunhidos e apertava com força o assento do carro, fazendo com que seus dedos ficassem brancos nas juntas. O desespero começou de fato a tomar conta de mim, ao vê-la naquela situação, e ao mesmo tempo em que queria gritar para Laurent ir mais rápido com o carro, era como se eu estivesse em uma espécie de transe, que não permitia que as palavras saíssem da minha boca.  Meus olhos estavam fixados na barriga dela. E se o bebê nascer dentro do carro? É bem pior que na confeitaria porque... EU teria que fazer o parto.

            Eu não tinha a mínima capacidade de fazer esse parto e se tentasse fazer algo, tinha certeza que acabaria fazendo uma merda muito grande e Bella nunca me perdoaria. Já estava preparado para gritar com Laurent quando senti o carro parando e soltei um suspiro aliviado. Me obriguei a reagir logo e antes mesmo que meu motorista parasse com o carro totalmente, eu já estava abrindo a porta e correndo para pegar Bella no colo. Ela passou as mãos no meu pescoço e encostou a cabeça em meu peito parecendo exausta. Involuntariamente beijei sua testa e sai correndo para dentro da emergência.

— Preciso de ajuda! – gritei, entrando na emergência e logo uma enfermeira chegou próximo a mim. – Ela está em trabalho de parto. – informei, sentindo Bella tensionar em meus braços.

— A quanto tempo? – questionou a enfermeira, enquanto outra se aproximava com a cadeira de rodas.

— A bolsa estourou a mais ou menos uma hora... – informei, com pouca exatidão.

— Vamos interná-la e fazer alguns exames, ok? – declarou, se aproximando e logo começou a conversar em termos médicos com a outra enfermeira, me deixando perdido. Bella apertava a testa contra meu peito – Acho melhor levarmos ela para o quarto no seu colo mesmo, não queremos deixá-la mais desconfortável. Vamos papai! – sorriu carinhosamente para mim, enquanto orientava que levassem a cadeira de rodas de volta.

            Enquanto eu caminhava atrás dela comecei a repetir a frase na minha cabeça, ela havia me chamado de papai? Então a ficha caiu, puta merda! Elas pensavam que eu era o pai de Anthony e no meu transe, não consegui desmentir a situação. No entanto, se isso era a garantia de que eu conseguiria deixar Bella confortavelmente instalada antes de ligar para o real pai do seu bebê, valia a pena sustentar a mentira por algum tempo.

            Isabella respirava pesado, mas seu corpo já estava relaxado em meus braços e saber que ela não estava com tanta dor me trouxe uma sensação de paz, enquanto caminhava pelos corredores. Mesmo estando grávida, ela era leve nos meus braços, o que gerou uma pequena dúvida. Será ela estava com o peso saudável para alguém que estava tão longe na gravidez? Me sentia estranho por estar me preocupando com alguém que mal conheço, mas acho que a adrenalina de toda a situação havia mexido com meu senso de normalidade. 

 Finalmente chegamos em um quarto e fui instruído a colocar Bella na maca. Dei alguns passos, me afastando, e me permiti analisar toda aquela insanidade de longe. Algumas enfermeiras lotavam o quarto, enquanto conectavam Bella a uma quantidade quase infinita de cabos, que estava ligados a mais uma infinidade de máquinas.

Ellen seria a enfermeira que ficaria responsável por auxiliar o parto e enquanto furava Bella com todos aqueles acessos, ela nos explicava qual era função de cada uma das máquinas. Uma iria nos mostrar as contrações e o tempo entre elas, e outra mostraria os batimentos cardíacos de Anthony. Eles eram monitorado por um... Cinto? Acho que essa é a melhor maneira de descrever o que estava ao redor da barriga de Bella.

— Não está muito rápido? – questionei, apontando para a tela com os batimentos, que passavam de 100 bpm.

— Não, os corações dos bebês são muito mais rápidos que os nossos. – respondeu, como se fosse uma informação que eu já deveria saber. Decidi me calar antes que desconfiassem da pequena mentira e me colocassem para fora.

            Havia um relógio que marcava que já estávamos ali a mais de uma hora, somente enchendo Bella de aparelhos e fazendo algumas checagens que imaginei ser o procedimento padrão. Na mesma parede, um quadro branco pendurado continha em letras garrafais “Meta de hoje: ter um bebê!”. Aquilo parecia tão bobo e ao mesmo tempo tão reconfortante, funcionava quase como um pequeno lembrete de que não importa o que aconteça, no final tudo valeria a pena. Acabei sorrindo involuntariamente olhando para aquilo.

            O quarto era amplo perto do que eu imaginava ser um quarto de maternidade e além da maca, haviam diversos aparelhos. Um sofá cama no canto oposto, uma pequena mesinha para refeições e havia também uma porta fechada, que imaginei ser o banheiro. Encostada em um canto havia uma... bola de pilates? Fiquei encarando aquele item que não parecia pertencer ao cenário, tentando entender se alguém havia esquecido a bola ali ou... Sinceramente, se esse fosse o caso, eu já não tinha certeza de que esse era o melhor local para Anthony nascer. Que tipo de lugar esquece uma bola de pilates em um quarto? Será que usam esse lugar para treinos da equipe?

— Bem, papais... – a enfermeira me tirou de meus devaneios sobre a bola, puxando minha atenção total para ela. – O médico já vem, para sabermos de quantos centímetros você está, ok? E, a senhora vai querer anestesia? – questionou, olhando para Bella. Alguém passa por isso sem anestesia?

— Sim… Vou querer. – Bella deu um sorriso fraco e sua doce voz refletia todo seu cansaço – Muito obrigada. – agradeceu, antes da enfermeira sair do quarto, e eu repeti o ato.

— Então... – comecei sem graça – Acho que agora você está bem instalada. – comentei, sem saber o que falar.

— Acho que sim. – deu uma risada melodiosa e senti minha espinha arrepiar, fazendo-me franzir a testar ao tentar entender aquilo. – Muito obrigada por isso Edward, você foi um anjo no dia de hoje. – sorriu apertando minha mão que ainda segurava a sua.

— Qualquer um faria o mesmo. – respondi sem graça, desviando meu olhar rapidamente, sem saber o que fazer com seu elogio.

— Te garanto que poucos fariam o mesmo. – contestou suavemente, se ajeitando na maca e tirando a mão da minha – Acho que você não precisa mais ficar aqui. – ela desviou o olhar do meu e percebi que provavelmente Bella só queria o marido naquele momento e eu estava atrapalhando.

— Claro, claro... Você quer que eu ligue para o seu namorado? – questionei, após verificar que não havia aliança de casamento na sua mão esquerda. – Posso avisá-lo... – tentei sorrir educadamente e a vi franzir o cenho levemente.

— Não tem namorado ou pai do bebê. – suspirou pesadamente.

— Ok… Você quer que eu ligue para alguém? – questionei.

— Não precisa. Eu me viro Edward, muito obrigada por tudo. – sorriu colocando a mão de volta na minha e apertando gentilmente.

— Tem certeza? – insisti, porque a ideia de deixá-la naquele hospital sozinha me parecia muito absurda. Ela estava tendo um bebê e não teria com quem compartilhar a situação.

— Tenho, muito obrigada – agradeceu novamente e acenei com a cabeça.

            Não consegui me conter e abaixei para beijar sua testa novamente. Quando me afastei tive a impressão de que haviam algumas lágrimas em seus olhos. Me despedi mais uma vez e sai do quarto. O caminho para a porta parecia mais simples agora do que a algum tempo atrás. Acho que a ideia de ter Bella com dor em meus braços me deixou atordoado o suficiente para achar que os corredores do hospital eram longos demais. Mesmo depois de toda aquela loucura, parecia que a adrenalina ainda tomava conta do meu corpo.

            Meus pensamentos migraram para Bella, que passaria por toda aquela situação sozinha. Toda a dor, a espera... Ela iria apertar a mão de quem quando sentisse dor? Parei no meio do corredor quando minha ficha caiu. Ela estaria realmente sozinha durante tudo aquilo e eu não gostava da maneira como esse pensamento me fazia sentir. Depois de todos aquele minutos de tensão que passamos, não conseguia deixá-la sozinha e simplesmente seguir com a minha vida. Sem pensar muito, dei meia volta e comecei a refazer o caminho para o quarto decidido a oferecer minha companhia e se ela recusasse, eu iria embora. Eu precisava ao menos tentar. Quando cheguei na porta, fiquei encarando-a por um momento, até decidir o que fazer e acabei achando melhor bater antes de entrar. Escutei apenas um fraco “Pode entrar”, ela deve estar com dor de novo.

Bella? – chamei, colocando só a cabeça pra dentro e quando ela tentou se erguer, me senti sem chão ao vê-la com lágrimas nos olhos e o rosto inchado.

            Sem pensar muito, adentrei o quarto e sentei na maca ao seu lado. Puxei ela para os meus braços, deixando-a chorar e sentia suas mãos segurando minha blusa firmemente, enquanto eu esfregava suas costas, querendo desesperadamente confortá-la. Minha mãe sempre me ensinou que devemos ajudar aqueles que precisam da gente, seja financeiramente ou emocionalmente. A sensação que dominava em mim era muito mais que a de educação, era quase uma necessidade de proteção. Eu precisava ter certeza que ela estava bem e vê-la naquela vulnerabilidade havia me quebrado. Bella estava prestes a dar a luz e não deveria estar chorando de forma tão sofrida.

— Você está bem? Está com dor? – questionei,  porém me toquei que as lágrimas poderiam ser algo mais sério.

— Não, não... Está tudo bem.— respondeu, começando a se afastar e esfregando as mãos no rosto tentando enxugar as lágrimas.

— Não está tudo bem, você está chorando. – declarei o óbvio, fazendo-a olhar pra mim – Bella, você tem certeza de que quer ficar sozinha? Não consigo me sentir bem te deixando aqui sem ninguém. – disse, olhando dentro dos olhos dela.

— Você tem certeza que não tem problema em ficar? – sua voz era quase um sussurro. – Quando você saiu, percebi que não quero ficar aqui sozinha. – admitiu, encostando a cabeça no travesseiro e fechando os olhos, parecendo incrivelmente envergonhada com a confissão.

— Não vou a lugar nenhum se você me quiser aqui. – afirmei esperando-a abrir os olhos e quando o fez, havia um alívio ali.

            Isabella aparentava ser uma mulher muito forte e isso era claro, uma vez que tudo indicava que ela havia passado por toda essa gravidez sozinha. Porém, até mesmo eu que não tinha a mínima noção do que era uma gestação e muito menos um parto, sabia que aquele era um momento delicado e, independente das circunstâncias, era uma mulher trazendo um ser humano ao mundo.  Isso era muito... Acho que não consigo achar palavras pra descrever. 

Bella e Anthony precisavam de alguém nesse momento e não sei que jogada louca do destino me fez ser essa pessoa. Para ser sincero, eu não me importava nem um pouco com isso, na verdade, gostava de estar ali por eles.

— Aquelas mulheres ali fora acham que sou o pai desse rapazinho… Que tipo de pai eu seria se te deixasse sozinha? – brinquei, tentando quebrar o clima e fui recepcionado com uma bela gargalhada.

— Um péssimo pai, com certeza! – Bella entrou na brincadeira e respirei aliviado por não ter sido muito invasivo.

— Não podemos permitir isso, acho que vou ter que ficar aqui até o final. – completei, ouvindo a gargalhar antes de soltar um gemido de dor.

            Antes que pudéssemos continuar nossa brincadeira, uma batida soou no quarto e logo Ellen entrou com o médico, para que pudessem checar Bella. Apesar de toda loucura que tivemos para chegar ao hospital, ela estava apenas com cinco centímetros de dilatação. Eu não fazia muita ideia do que aquela merda significava, mas sabia que precisava chegar aos dez centímetros e isso poderia levar alguns minutos ou horas. Enquanto continuavam com a avaliação, que parecia muito íntima para que eu ficasse ali assistindo, aproveitei e saí para mandar uma mensagem para Emmett.

            Em uma situação comum, jamais daria satisfações ao o meu irmão, mas levando em conta que sai correndo da confeitaria com uma mulher em trabalho de parto no colo e agora estava fingindo ser o pai do bebê dela, achei que seria prudente avisar que estava vivo e bem. Digitei rapidamente, o situando da situação e avisando que depois explicaria tudo. Naquele momento não fazia sentido gastar tempo explicando ponto por ponto, quando nem ao menos eu estava totalmente ciente do que estava acontecendo. A única certeza que tinha é que estaria ao lado da Bella enquanto ela precisasse de mim.

— Papai? – Ellen me chamou da porta e rapidamente voltei, me aproximando da cama. Estava me sentindo, surpreendentemente, confortável com meu falso título de pai. – É a hora da anestesia, acho que sua mulher precisará de você. – e sorriu amavelmente. Desviei o olhar para Bella, arregalando os olhos com a menção do nosso status de relacionamento, mas ela tinha um sorriso divertido no rosto. Vamos continuar com esse teatro.

Claro. O que preciso fazer? – questionei, me colocando ao lado de Bella e afagando suas costas. A ouvi suspirar de alívio, talvez aquilo aliviasse um pouco da dor dela e me senti orgulhoso por estar fazendo algo de útil.

            A enfermeira começou a dar as instruções e prestei atenção o máximo possível. O meu desespero para entender tudo corretamente era tanto, que sentia vontade de pegar um caderno e anotar cada detalhe, para garantir que os passos estavam perfeitos, assim como em uma receita. 

Bella se sentou com os pés para fora da cama, abraçando um travesseiro, com o queixo encostado nele. Eu me posicionei de joelhos na sua frente, de modo que nossos olhos se encontrassem. Ela parecia nervosa e eu murmurava o máximo de palavras reconfortantes possíveis. Havia um anseio muito grande dentro de mim, de fazê-la se sentir bem, então estava dando o meu máximo para tornar aquela a melhor experiência da sua vida, até que eu vi o médico se aproximando com uma agulha absurdamente grande. Senti meu próprio corpo tensionar quando a enfermeira começou a abrir a parte de trás do roupão hospitalar que Bella usava.

— Isabella, agora preciso que você se incline e não se mova para que eu possa colocar a anestesia na sua espinha. – o médico instruiu. Puta merda, ele realmente vai enfiar isso na coluna dela. Bella apenas acenou e era totalmente compreensível sua reação. 

Eu me sentia levemente nauseado ao imaginar aquele troço entrando lentamente na espinha dela e comecei a repetir mentalmente que não poderia desmaiar, precisava me manter firme. A cada palavra do médico, eu sentia meu corpo se arrepiar. Ellen havia explicado rapidamente que a anestesia ajudaria com as contrações, tornaria a dor mais suportável e o processo menos difícil para o corpo dela. 

Não posso dizer que entendi muita coisa, eram muitos termos médicos, mas saber que Bella sentiria menos dor enquanto esperava o momento de Anthony chegar ao mundo, era o suficiente para mim. Enquanto o médico injetava a anestesia, segurei firme a mão da Bella, que escapava do abraço do travesseiro. Aquela não era a situação mais agradável do mundo.

— Prontinho. – Doutor Demetri anunciou, se levantando e tirando as luvas – Agora vamos monitorar esse rapazinho até a hora dele decidir vir ao mundo. Por enquanto tudo parece estar seguindo um ritmo muito bom, não vejo necessidade de aplicarmos medicação para aumentar o ritmo da dilatação, ok? Descansem e se preparem para o grande momento das suas vidas! – havia uma sensação de alívio inexplicável dominando meu corpo. Anthony estava bem. 

— Foi tão ruim quanto parece? – questionei depois que ficamos sozinhos no quarto.

— Acho que pior. – Bella riu, jogando a cabeça no travesseiro – Mas parece que uma puta pressão foi tirada dos meus quadris, então valeu a pena. – deu de ombros, se ajustando para ficar parcialmente deitada.

— Você parece cansada, não quer dormir um pouco? – questionei, me acomodando em uma poltrona que havia perto da cama.

— Na verdade, não estou com sono... – agora havia um sorriso fácil brincando em seus lábios e era praticamente impossível não notar a sua beleza. – Já que vamos ficar aqui algum tempo, me conte sobre você... Edward Cullen. – seu sorriso se ampliou ao dizer meu nome.

— Você sabe quem eu sou. – constatei levemente chocado, eram poucas pessoas que de fato sabiam quem eu era. Quero dizer, que de fato conheciam meu rosto. É muito fácil passar despercebido quando você não está estampado em diversas propagandas.

— Eu sou apaixonada pelos seus doces, já li algumas das poucas entrevistas que você deu. – explicou, se mexendo para que ficasse deitada de lado, me olhando, mas a posição não durou muito e sua expressão de desconforto entregou que Anthony era o culpado.

— Você não é uma stalker, não é? – brinquei, me mudando para sentar na ponta da cama, próximo aos seus pés para que ela conseguisse me olhar enquanto conversávamos.

— Droga, você me descobriu! – Bella bateu a mão na testa, me fazendo gargalhar.

            Estar perto dela era uma experiência única. Era algo leve e ao mesmo tempo, caloroso. Sua energia era inexplicável e seu sorriso poderia tornar um dia de merda no melhor dia da sua vida. Tudo nela era viciante, da sua voz até seu sorriso e fazia com que eu desejasse passar mais tempo conhecendo-a ou simplesmente ouvindo sua risada. Era até mesmo difícil  resumir em palavras todas as mistas sensações que dominavam meu ser. Uma conexão que não cabe explicações.

— Acho que estou em desvantagem aqui. – declarei, cruzando os braços e recebendo um cenho franzido, por parte da Bella. – Você, aparentemente, é um dos poucos seres humanos que me conhece. Enquanto eu… Não faço a mínima ideia de quem você é. – pontuei e novamente o sorriso brincou em seus lábios. Viciante. – Se apresente.

— Bem... Meu nome é Isabella Swan, tenho vinte e sete anos, estou tendo um bebê e estou sozinha no mundo. – deu de ombros, como se aquela última informação não fosse importante.

— Como assim sozinha? – questionei, visivelmente interessado na vida dela.

— Meus pais morreram há alguns anos, em um acidente de carro, desde então tem sido eu comigo mesma. – sua expressão era triste, mas sua voz continuava firme ao me contar aquilo, então conclui que ela já estava bem resolvida com a situação.

— E o pai do Anthony? – perguntei com cuidado, morrendo de medo de ter ultrapassado uma linha que me faria ser jogado para fora do quarto em poucos minutos.

— Ele não está na situação. – suspirou pesado, deitando a cabeça e olhando para o teto. Antes que minha boca entregasse toda minha curiosidade, ela continuou a contar. – Nós estávamos em um relacionamento há algum tempo, e quando eu descobri a gravidez... Digamos que a reação dele não foi a esperada para uma pessoa que vai ser pai. Resumindo, ele sumiu e alguns dias depois chegaram os documentos abdicando da paternidade. – dessa vez sua voz estava trêmula e a dor era perceptível nas suas palavras.

— Você sente falta dele. – comentei, sem pensar muito, e comecei a me xingar mentalmente por isso. Ela definitivamente iria me expulsar daquele quarto.

— Na verdade, não. – respondeu, me deixando totalmente perplexo. – Essa situação é muito fodida e me machuca, não porque sinto falta dele, eu nem ao menos o amava, mas porque sei que meu filho vai crescer sem um pai. Me dói saber que Anthony foi rejeitado antes mesmo de o conhecerem. – suas lágrimas começaram a acumular em seus olhos e novamente me senti na obrigação de abraçá-la, confortá-la e tirar aquela dor dela.

            Era um pouco complicado me posicionar no abraço, com todos aqueles fios presos em sua mão, mas ainda assim demos um jeito e apertei-a suavemente. Sua cabeça se recostou no meu peito e não haviam palavras sendo ditas, não havia necessidade. Todo aquele momento era puramente emocional, uma conexão que eu não queria que fosse quebrada. Eu sabia que uma vez que Anthony chegasse, não haveria motivos para continuar ao lado da Bella... Irracionalmente, comecei a desejar que esse parto durasse mais horas que o esperado. Eu só... Não queria ir embora.

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 - Depois disso aqui vou te levar para comer alguma coisa decente. – comentei casualmente, encarando o picolé na mão de Bella.

— Até que é gostoso... – ela deu de ombros, dando mais uma mordida.

— Quando você usa “até” para descrever algo, posso te dar certeza de que não é nada gostoso. – retruquei e ela gargalhou concordando.

— Devo admitir que não é um doce da Cullen’s, mas preciso me contentar com isso aqui. – levantou o picolé com uma careta.

            Já estávamos com oito horas de trabalho de parto, Bella havia dormido pouco depois da anestesia, uma vez que agora ela já não sentia mais as contrações, e nós só administrávamos pela máquina. Aproveitei esse tempo para entrar em contato e situar Emmett novamente, que me apoiou na decisão de ficar no hospital como acompanhante e se divertiu desnecessariamente com a confusão da paternidade. Eu estava gostando demais do título para me preocupar com as provocações do meu irmão. Após desligar o telefone, aproveitei para ficar admirando-a e era surreal que ela estava na minha vida a apenas nove horas quando parecia, na verdade, uma vida inteira. No entanto, aquela angústia dentro de mim crescia cada vez que pensava no momento em que teria que ir embora, sinceramente eu só queria levar os dois para minha casa e nunca me afastar.

            O sono dela foi interrompido quando chegaram para checar sua dilatação mais uma vez e quando constataram que ela estava com sete centímetros, decidiram que ela deveria entrar em uma porra de uma dieta líquida, para caso fosse necessário fazer uma cesariana de emergência. Só de pensar nisso senti um leve desespero, porque com o mínimo que aprendi sobre um parto hoje, sei que uma cirurgia não é um bom sinal e não conseguia pensar na hipótese de termos alguma dificuldade para trazer Anthony ao mundo. 

Por conta dessa dieta horrorosa, Bella agora comia o seu terceiro picolé, totalmente sem sabor, e posso confirmar isso porque ela me fez experimentar essa coisa horrorosa. Depois disso tudo vou fazer um picolé para que ela saiba o que é um doce de verdade.

— Com certeza isso não é um doce da Cullen’s. — enrruguei o rosto e a ouvi gargalhar. – Acho que vou inventar um picolé especial para você. – falei sem pensar e uma vez que as palavras estavam foras da minha boca, senti todo meu rosto esquentar de vergonha.

— Eu não me incomodaria. – piscou, com um sorriso nos lábios e me senti hipnotizado por um momento. – Inclusive, como uma consumidora viciada pelos seus doces, acho que você deveria inventar uns novos, estou começando a enjoar. – provocou.

            Sabia que Bella estava brincando, mas era um ponto delicado para mim porque eu sabia que aquilo era verdade. Há algum tempo, estava negligenciando a confeitaria em razão da parte burocrática. O tempo que eu gastava lidando com papéis, fornecedores e outros empresários praticamente consomem grande parte do meu tempo e mesmo ordenando construir uma cozinha no prédio, de onde eu administrava tudo, não adiantou de muita coisa. Continuei sem inovar em todos os cardápios e deixei os doces antigos fazerem o árduo trabalho de manter a reputação da empresa.

— Realmente preciso inovar... – murmurei sem graça, encarando as máquinas que contavam as contrações dela e os batimentos de Anthony.

— Falei alguma coisa de errado? – Bella questionou, se ajustando na cama e continuei olhando para as contrações, mesmo sabendo que ela já não sentia desconforto algum.

— É só que... Sei que estou negligenciando os doces e sinto falta de inovar. – confessei, sentindo um peso sair das minhas costas. – Inclusive, vocês dois apareceram na minha vida no meio de uma nova receita. – brinquei, mesmo sabendo que já estava com tudo pronto quando Bella apareceu.

— Nós pedimos desculpas, meu caro senhor. – Bella brincou, acariciando a barriga suavemente – Mas Edward, sua confeitaria é incrível, seus doces são maravilhosos e o mundo todo conhece seu sobrenome, não se cobre tanto. – esticou a mão para mim e eu depositei um beijo tomando cuidado com todos os acessos que tinham em seu braço.

— Chega de conversa pesada. – cortei, não querendo perturbá-la com meus problemas. – Você não me contou com o que você trabalha. – declarei e ela me deu um olhar debochado.

— Achei que você nunca perguntaria! Pensei que seu ego não fosse deixar. – brincou e não consegui conter a gargalhada que se formou em meu peito e dei uma leve beliscada na palma da sua mão fazendo-a rir junto comigo – Bem, eu tenho uma cafeteria e livraria. É um espaço para que as pessoas possam comprar seus livros e ficarem por lá mesmo, relaxando. – Bella contava do seu trabalho com tanto orgulho, que me deixou fascinado. Era muito óbvio que o que ela fazia era uma das suas paixões. – Você deveria ir lá um dia. – havia uma incerteza em sua voz e ela mordia o lábio nervosamente. Precisei me conter para não gritar de felicidade, porque ela também não queria que isso acabasse aqui.

Com certeza irei! – respondi olhando em seus olhos – Até porque, preciso ir ver meu filho. – cutuquei sua barriga e ela gargalhou.

            A conversa entrou em um ritmo leve, falamos sobre onde ela fez faculdade, como decidi abrir a confeitaria, Bella me contou onde morava, descrevendo cada pedaço do seu apartamento e como ela se sentia orgulhosa de ter conseguido tudo que tem hoje, enquanto eu gastei um bom tempo contando sobre minha família. 

Quando atingimos dez horas de parto, eu já sentia todas as forças do meu corpo sendo drenadas, nem ao menos tentava manter a postura mais e me joguei no sofá que tinha ao lado da maca. Bella estava de olhos fechados com a mão na barriga e as contrações estavam cada vez mais próximas uma da outra na máquina, então sabíamos que faltava pouco para Anthony chegar.

— Edward... – Bella me chamou com a voz tensa e pulei do sofá, chegando perto da maca – Eu acho que chegou a hora. – declarou. Fiquei encarando-a sem reação, meus pés não se mexiam, meu cérebro não funcionava, minha boca estava seca, minhas olhos não piscavam e juro que meu sangue parou de correr. – Edward, vai nascer! – Bella falou entre dentes, me tirando do transe.

            No momento em que voltei a funcionar normalmente, apertei o botão para acionar as enfermeiras e corri para porta para chamá-las pelo corredor também. Eu que não vou ficar esperando a boa vontade delas de aparecerem. Então, o quarto virou um pequeno caos, de novo. Começaram a ajustar a maca para que a Bella tivesse ângulo para empurrar, já estou entendendo tudo de parto, colocaram umas coisas muito estranhas na ponta da cama e ouvi Ellen pedir para que ela colocasse os pés lá. Me senti levemente constrangido ao vê-la exposta daquele jeito e desviei meu olhar.. Bella ostentava o mais belo sorriso do mundo, ela sabia quem iria chegar e que esse rapazinho seria o ser humano mais importante da sua vida. Permiti-me ser rodeado pela alegria dela e deixei o nervosismo e o pânico esvaírem um pouco do meu corpo, afinal, Anthony está chegando.

Preparados? – o médico, doutor Demetri, questionou ao adentrar o quarto já todo equipado para realizar o parto.

— Acho que sim... – murmurei levemente nervoso, fazendo todos no ambiente rirem. Foda-se o que eu disse sobre manter a calma.

— Mais do que preparada. – Bella declarou com força e com o sorriso ainda em seus lábios.           

O parto em si não era nada do que eu esperava e conforme Ellen explicou, Bella precisou colocar os pés naquelas coisas estranhas, fazendo com que sua barriga ficasse meio que presa entre as pernas e o peito. Aquela posição começou a me preocupar sobre machucar Anthony, mas quando ela começou a empurrar de fato, eu entendi a função daquilo tudo. Depois das primeiras empurradas, nós mudamos um pouco a posição, eu fiquei de um lado segurando uma perna dela enquanto Ellen segurava a outra.

— Puta merda, como dói! – Bella gritou na pequena pausa entre cada empurrada.

— Falta só mais um pouco. – tentei acalmá-la, acariciando seu cabelo que estava levemente úmido de suor. – A gente já vai conhecer o Anthony! – lembrei-a sorrindo, e ela retribuiu, respirando fundo para empurrar mais.

            Depois de mais uns minutos daquele ciclo de empurrar e descansar, eu já estava angustiado com a demora, preocupado que algo estivesse fora do normal. Eu precisava ver o rosto do Anthony e saber que ele estava bem. Quando já estava prestes a expor minhas preocupações, em um empurrão, que deixou o rosto e o corpo da Bella todo vermelho, um estridente som foi ouvido no quarto. Depois de mais de onze horas de parto, Anthony chegou ao mundo. A enfermeira o colocou no peito de Bella e começou a limpá-lo com uma toalha, enquanto ele gritava seu descontentamento por ter sido retirado do útero.

— Papai, quer cortar o cordão umbilical? – o médico questionou e na mesma hora encarei a Bella, com medo de ser uma linha que eu não deveria ultrapassar.

            Bella imediatamente entendeu meu medo, me deu um aceno de cabeça e um olhar encorajador, para que eu fizesse o que o médico ofereceu. Meu coração parecia começar a bater cada vez mais rápido enquanto eu me aproximava da beira da maca e pegava a tesoura em minhas mãos. Eu estava realmente fazendo isso! Era uma sensação inexplicável, quase como um orgulho e ao mesmo tempo algo novo que não sabia descrever. Tentei segurar a tesoura com o máximo de firmeza que conseguia, mas sentia meu corpo tremer levemente e quando cortei onde o médico havia me mostrado… Entendi o que era aquilo dentro de mim. Era amor.

Por mais bizarro que isso seja, em apenas onze horas, eu amava Anthony e não me importava como tinha parado naquele hospital, o que importava é que eu estava ali, com eles.

            Anthony era um bebê enorme e segundo as enfermeiras, ele pesava surpreendentes quatro quilos, media 55 centímetros, sua pele era branca como a da Bella, apesar de um pouco avermelhada, provavelmente porque ele acabou de sair de nove meses dentro de uma barriga e havia alguns fiapos de cabelo loiro em sua minúscula cabeça... Ele era o bebê mais lindo que eu já tinha visto. Na primeira hora depois do seu nascimento, após todas as medições, ele ficou dentro da blusa de Bella e escutei alguém falar que isso era para que ele sentisse o calor da mãe. Quando isso aconteceu, me senti como um intruso na situação e antes que eu pudesse sair do quarto, Bella estendeu a mão e pediu para sentar ao seu lado. Assim ficamos, admirando aquele pequeno ser humano.

— Ele é perfeito. – Bella murmurou, acariciando o rosto tranquilo de Anthony que agora ressonava em seu peito.

— Ele é o bebê mais bonito que já vi. – confessei sem conseguir tirar os olhos dele.

— Você não faz o tipo que vê muitos bebês. – ela riu levemente, me encarando com os olhos semicerrados.

— Talvez você tenha razão, mas ele ainda é o bebê mais bonito que eu já vi. – admiti e ela encostou a cabeça em mim. Naquele momento, nada mais importava para mim, somente ter eles dois em meus braços.

            Desviei meus olhos deles por um segundo e sorri ao ver que o quadro que continha o objetivo de “ter um bebê” agora ostentava um check  ao lado. Nós cumprimos nossa meta do dia e enquanto analisava o quarto mais uma vez, meus olhos caíram naquela bizarra bola de pilates que estava ali. Eu ainda não havia descoberto a função dela e sentia meus neurônios queimarem um a um cada minuto que gastava tentando procurar uma função para aquilo.

— É para aliviar as contrações... – Bella comentou, me encarando e um pequeno sorriso nos lábios.

— O quê? – questionei atordoado, voltando meu olhar para ela.

— A bola. – respondeu apontando para o canto do quarto – Algumas mulheres usam para aliviar as contrações. – explicou, me dando a sensação de ter sido pego no pulo.

— Eu já sabia. – retruquei, tentando encerrar a conversa e ganhei uma maravilhosa gargalhada.. Não consegui conter meu sorriso ao ouvir aquele som, menos ainda quando ela encostou a cabeça em mim.

...

            Já era madrugada quando me despedi de Bella para ir para minha casa. Precisou de muita insistência dela para que eu saísse dali, minha vontade era de admirar os dois durante toda a noite, mas ela insistiu que eu precisava de pelo menos um banho e duas horas de sono. Meu maior medo em deixá-los era que eu não conseguisse mais voltar ou quando chegasse ao hospital mais tarde, eles não estariam mais ali. Porém, com absurda sensibilidade, Bella parecia sentir isso e bastou um “Estaremos esperando por você.”, para me convencer a ir.

            Após um bom banho e algumas horas de sono, decidi fazer uma coisa antes que eu voltasse ao hospital. Iria cumprir o que falei para Bella e montaria uma sobremesa para compensar as horas que ela precisou aguentar com aquele picolé horroroso do hospital. Eu queria que ela tivesse uma experiência nova e não iria simplesmente fazer algo que já existia. Havia uma receita martelando na minha cabeça e eu precisava colocá-la em prática, especialmente para ela. Enquanto eu fazia todos os passos para dar “vida” ao meu conceito, meus pensamentos viajavam para as duas pessoas que em vinte e quatro horas, mudaram tudo para mim. Bella e Anthony eram as únicas coisas que eu pensava, desde o momento que saí do hospital. Só pensava em voltar para eles o mais rápido possível e nunca mais os tiraria da minha vida.

— Posso entrar? – questionei, colocando a cabeça dentro do quarto com a minha criação escondida atrás das costas.

— Óbvio. – Bella respondeu, com um leve revirar de olhos. – Você parece um ser humano de novo! – brincou ao ver minha aparência limpa, mas um olhar questionador assumiu seu rosto quando viu minha mão atrás das costas. – O que você está escondendo? – questionou, se inclinando para o lado para tentar ver.

— Eu falei que compensaria aqueles picolés horríveis... – comecei, me aproximando da cama e puxando a bandeja de refeição para pairar sobre Bella. – Aqui está, especialmente para você. – coloquei o doce em cima da bandeja, deixando-a olhar.

— Meu Deus, Edward! Não precisava! – havia um choque em seu rosto enquanto abria a embalagem e um “O” perfeito se formou em seus lábios quando viu o que estava em sua frente.

            Eu havia criado um bolo com camadas internas feitas de morango, amendoim e chocolate.  Os três sabores de picolé que ela tomou ontem, com uma massa branca com pequenos pedaços de nozes e complementado com apenas um lado de macaron de morango no topo. Para finalizar a decoração, havia um coração de chocolate escrito “Mãe do Anthony” e algumas frutas vermelhas para dar acidez para a sobremesa e quebrar o doce. Cada detalhe havia sido pensando nela, desde os sabores de ontem até a massa, que ela me contou ser sua favorita. O macaron era do seu sabor preferido. Queria que ela se sentisse especial e por isso ela merecia sua sobremesa especial.

— Experimenta! – instiguei, entregando-a uma colher que havia trazido junto.

— Edward, eu não acredito que você fez isso para mim! – declarou, com os olhos cheios de lágrimas, intercalando o olhar entre mim e o doce.

— Você merece Bella! Porra, você colocou um ser humano no mundo! O mínimo que eu poderia fazer era uma sobremesa. – exclamei, fazendo-a dar uma risadinha secando as lágrimas.

            Depois do primeiro gemido de satisfação que saiu da boca de Bella ao provar sua sobremesa, senti aquele orgulho que me dominava toda vez que alguém provava algo meu. Naquele momento, eu não me importava muito com isso, queria apenas pegar o meu pequeno ser humano favorito nos braços, então caminhei calmamente até o berço onde Anthony ressonava tranquilamente com sua roupa verde minúscula, um gorro maior que sua cabeça e luvas cobrindo suas mãos. Sua expressão era serena, totalmente diferente da sua agitação pós-parto, ele parecia ainda mais perfeito e não resisti em pegá-lo no colo.

            O ato de tê-lo em meus braços agora era bem mais fácil, nada comparado a tensão que senti quando Bella ofereceu para que eu o segurasse pela primeira vez. Parecia que eu iria explodir de tensão quando ela o posicionou corretamente nos meus braços e tinha medo até mesmo de respirar e acabar machucando-o. Agora não, era quase como instintivo e talvez isso se deva ao fato de que usei cada minuto que pude para segurá-lo quando Bella não estava o fazendo. Anthony se mexeu ajustando-se no novo local do seu sono, mas não acordou e eu encostei meu nariz em sua pequena cabecinha, sentindo o seu cheiro de bebê.

— Ele vai querer ficar só no seu colo... – Bella brincou, olhando-nos juntos.

— Isso é ruim? – questionei, com um sorriso torto que ela retribuiu.

— Você não vai estar o tempo todo com ele. – lembrou, levantando a sobrancelha.

— Talvez eu queira ficar o tempo todo com vocês. ­– retruquei, fazendo-a corar e desviar o olhar.

            Antes que Bella pudesse responder minha provocação, Ellen entrou no quarto com o médico e eles começaram a fazer alguns testes em Anthony e Bella. Mesmo sabendo que eles estão visivelmente bem, havia uma grande preocupação dentro de mim: se havia algo que não era notável, por exemplo. Tudo passou quando doutor Demetri informou que ambos estavam perfeitos e receberiam alta amanhã pela manhã. Meu coração bateu acelerado com essa informação... À partir do momento em que eles saíssem daquele hospital, será que ainda manteríamos nossa conexão? O pensamento era inquietante dentro de mim, porque queria Bella e Anthony na minha vida por prazo indeterminado, mas não sabia como dizer isso sem assustá-la ou parecer algum tipo de maníaco.

— Então... Amanhã vamos embora. – Bella comentou nervosa, agora com Anthony em seu colo mamando.

— Parece que sim. – confirmei, olhando para o chão, sem saber o que dizer.

— Edward... – Bella chamou e levantei meu olhar, encontrando um par de olhos castanhos apreensivos. – Você... Promete não esquecer de nós dois? – questionou, tensa.

— Bella... – comecei, sem saber como colocar em palavras as coisas que passavam na minha cabeça.

— Esquece o que eu falei. – ela me impediu de continuar, fechando os olhos e virando o rosto. – Acho que foram esses hormônios estúpidos falando! – balançou a cabeça apreensivamente.

— Bella. – repeti, fazendo uma pausa até que ela me encarasse. – Eu jamais esqueceria vocês dois, mas... – meu coração batia acelerado e eu senti o ar pesado em meus pulmões enquanto me preparava pra expressar meus desejos. – Eu não quero vocês fora da minha vida. Merda, eu preciso de vocês. – admiti, passando a mão nos meus cabelos, me sentindo absurdamente exposto e quando finalmente criei coragem para olhá-la, Bella estava com o mais belo dos sorrisos.

— Eu também não quero você fora das nossas vidas. – declarou, fazendo meu coração expandir em meu peito e como se quisesse confirmar o dito pela mãe, Anthony tirou a boca dos seios da Bella e deu um leve arroto, fazendo-nos cair na risada.

            Nada importava naquele momento, eu teria os dois na minha vida e somente isso importava. Todos os meus medos e angústias pareciam ir embora, como se tivessem sido lavados do meu corpo. Sentei ao lado da Bella na cama e passei meus braços ao seu redor, deixando-a descansar a cabeça no meu ombro e aproveitando aquele momento. Não sei dizer como acabei aqui, se foi obra do destino, de Deus ou de outra entidade divina, a única coisa que me importava é que eu estava ali.

9 meses depois

            Anthony balbuciava em sua cadeirinha enquanto brincava com um dos seus brinquedos do carro. Ele agora tinha o mesmo tempo fora da barriga do que dentro dela, e era o bebê mais incrível do mundo! Talvez eu seja suspeito para falar sobre isso, mas Anthony era a criança mais cativante e não importava o local, uma vez que ele chegava, todos o admiravam e se encantavam pelos seus sorrisos banguelas. Desde o dia de seu nascimento e aquela loucura toda, que colocou ele e Bella na minha vida, não houve um dia sequer em que não estive ao seu lado. Quando estava com três meses, meu status de relacionamento mudou para namorando e nunca me senti tão foda por ter uma namorada, como me sentia com Bella. Quando ele completou cinco meses, nós três fomos morar juntos.

            Anthony é o meu filho e não me importava o que dizia seu DNA. Quando chegou o momento de Bella registrá-lo, o campo ficou em branco por apenas um mês, até que, sem precisarmos conversar muito, entendemos que Anthony era um Cullen e meu nome foi colocado em sua certidão de nascimento. Anthony Edward Swan-Cullen. Esse é o nome do meu filho e como os dados de cartórios são públicos, para evitar qualquer situação midiática, soltei uma nota brevemente falando que estava feliz em anunciar o nascimento do meu filho, sem entrar em detalhes. 

Agradeci silenciosamente aos astros de Hollywood que tornaram esconder uma gravidez algo normal. Já com minha família, foi algo... Diferente. Quando apareci com um filho, todos ficaram chocados e minha mãe parecia pronta para me deserdar por ter escondido seu neto, mas uma vez que toda história foi contada, todos entenderam e não demorou muito para se apaixonarem por Anthony. Até mesmo Carlisle, meu pai, caiu nos encantos do neto e Bella.

Estávamos à caminho da livraria de Bella e como eu passava a maior parte do dia no escritório resolvendo coisas meramente burocráticas, era possível levar Anthony comigo para que ela conseguisse atender melhor seus clientes, sem se preocupar com o nosso pequeno. 

Sempre que eu consigo, tento fazer uma surpresa para Bella e por isso estávamos a caminho de encontrá-la, com uma nova sobremesa em minhas mãos. Estar com Isabella foi ótimo para a Cullen’s, a felicidade que eu sentia estando com ela era inexplicável, então sempre que podia, gastava horas criando novas receitas inspiradas nela e em Anthony. Isso resultou em um cardápio especial e totalmente inédito no verão, fazendo com que as lojas ao redor de todo país ficassem lotadas com pessoas em busca dos doces inspirados nas minhas pessoas favoritas.

— E ai, garotão? Preparado para ver a mamãe? – questionei Anthony, que se agitou na cadeirinha com a simples menção de sua mãe. – Também estou com saudades dela! – sorri para o meu pequeno, enquanto Laurent estacionava o carro.

            Uma vez que consegui segurar Anthony só com um braço, nunca mais usei o bebê conforto para andar com ele e gostava de ostentar meu filho, assumo. Assim que estacionamos na frente da livraria, tirei-o da cadeirinha e o peguei em meus braços, entrando no local. Anthony era estranhamente parecido comigo, mesmo que não tivéssemos nenhuma ligação genética. Seus cabelos loiros lembravam os meus quando tinha a mesma idade e seus olhos claros faziam a semelhança entre nós parecer maior. Eu gostava de provocar a Bella dizendo que ela definitivamente tinha “um tipo”, mas na verdade, me sentia feliz para porra por isso. Não que nossa semelhança fosse essencial para mim, mas não queria ninguém questionando a minha paternidade, independente da cor do cabelo, dos olhos, da pele... Eu sou o pai de Anthony, sou eu que acordo de madrugada, troco fralda, dou banho... E  jamais admitiria alguém questionando isso.

— Olha só, se não são meus garotos! – Bella exclamou quando nós entramos na livraria.

— Sentimos saudades, né Anthony? – questionei ele, que se agitou em meu colo.

— Eu também estava com saudade de vocês! – Bella sorriu, se inclinando para me dar um beijo e roubou Anthony para o seu colo.

— Trouxe uma surpresa! – declarei, levantando a embalagem de doce na minha mão.

— Eu ficaria desapontada se você não tivesse trazido. – brincou, caminhando em direção ao seu escritório e como bom gado que sou, fui atrás.

            A livraria de Bella era muito maior do que imaginei no dia que estávamos no hospital, ela ocupava metade de um quarteirão e tinha todos os tipos de livros imagináveis. Havia uma área destinada a funcionar como um sebo, para quem não pudesse pagasse o valor cheio dos livros e haviam diversos locais de descansos espalhados, desde mesas até puffs. Cada leitor poderia escolher o de sua preferência, havia uma pequena cafeteria, que estava sempre lotada. e logo no início, fizemos uma parceria. Eu era o responsável pela receita dos muffins que abasteciam sua livraria e devo dizer, eles são um grande sucesso.

— Você deveria disfarçar um pouco... – Bella comentou enquanto passávamos pela cafeteria – Toda vez que vem aqui, fica admirando as pessoas comendo seus muffins... – brincou e eu senti meu rosto esquentar por ter sido pego no flagra.

— Eu estava admirando sua livraria! – menti, fazendo-a rir.

— Estou pensando em expandir. – Bella comentou, quando já estávamos no seu escritório e ela colocou Anthony no cercadinho que tinha para ele. – A loja ao lado foi colocada a venda e as pessoas estão começando a reclamar da falta de espaço para sentar. – seu olhar era ansioso e ela mastigava os lábios esperando minha opinião.

— Se você quer fazer isso, vamos fazer isso! – encorajei, me aproximando dela e colocando seu cabelo atrás da orelha. – Só quero te ver feliz e sei a alegria que a livraria te traz, então... Vamos ampliar até o final do quarteirão se for preciso! – terminei, arrancando um sorriso dela e me inclinando para beijá-la.

Beijar Bella é sempre uma sensação de outro mundo, seus lábios são macios e doces, o seu cheiro de morangos me deixava inebriado e esse é o motivo de termos tantas sobremesas com essa fruta nas lojas Cullen’s. Sua mão no meu cabelo é capaz de me tirar da terra e sentir sua pele macia, mesmo que só nos braços, ainda me desnorteava depois de todos esses meses juntos.

— Então vamos expandir! – Bella gritou após nosso beijo, fazendo Anthony acompanhar sua felicidade com um grito, nos fazendo rir dele. – Acho que vou provar minha nova sobremesa. – piscou, se afastando de mim e abrindo a embalagem.

                                Assim como no hospital quando Anthony nasceu, enquanto Bella saboreava sua sobremesa, peguei meu pequeno homem em meus braços e deixei seu cheiro infantil tirar todas as preocupações que um dia o escritório me deu. A diferença é que agora Anthony me abraçava de volta, descansando seu pequeno rostinho no meu ombro e mexendo seus minúsculos dedos no meu rosto. Seu amor por mim e por Bella era a coisa mais pura que já vivenciei na minha vida e seus carinhos eram sua forma de demonstrar a importância que tínhamos para ele.

Sabendo disso, eu daria meu mundo inteiro por esse garotinho. Sem que percebesse, Bella se aproximou, se colocando em nosso abraço e passei meu braço pelo seu ombro. Ali, com as duas pessoas mais importantes para mim nos meus braços, percebi que minha vida é incrível. Alguma coisa me fez estar na Cullen’s no dia em que a bolsa de Bella estourou e acabou colocando-a na minha vida também. Todos os segundos, minutos, horas e dias eu agradecia ao que quer que seja que tenha nos unido, porque eu não sou capaz de imaginar minha vida sem eles. Depositei um beijo na testa de Bella e apertei Anthony nos meus braços mais forte, sentindo o amor tomar conta de mim. Obrigado.


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Notas finais do capítulo

Oi oi gente, olha eu aqui com uma one totalmente diferente de qualquer coisa que eu já escrevi. Quando vi o Projeto no twitter, quis participar pra me desafiar e confesso que gastei vários dias pensando no plot dessa história e agora estou totalmente apaixonada por ele kkkk'.

A ideia central era trazer um Edward que não tem noção nenhuma de parto, mas que o destino o colocou ali e ele daria ao máximo de si para tornar o momento o mais inesquecível possível para Bella e eu devo dizer que estou seriamente apaixonada por esse Edward. Ele é leve e ansioso na medida perfeita para mim.

Como eu estou morrendo de amores por esses três personagens, talvez eu escreva uma short fic, por isso tem algumas pontas soltas bem sutis, pra se eu decidir continuar, poder trabalhá-las.

Espero de coração que vocês se apaixonem por esse Edward, essa Bella e o pequeno Anthony assim como eu me apaixonei.

Kisses & Bites,
BellaMC



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