A Garota dos Meus Sonhos escrita por Foster


Capítulo 1
01. Um começo


Notas iniciais do capítulo

Olá! E aqui estamos com mais uma história do maravilhoso Junho Scorose! Você pode conferir mais no Tumblr (https://junhoscorose.tumblr.com/)
Não poderia começar as notas sem lembrar dele e agradecer pela oportunidade de participar desse projeto que está enchendo de amor o mês de junho e o Nyah! Foi idealizado pela maravilhosa Ariele (Miss A), então vamos enaltecê-la ♥
Não vou me estender muito aqui, mas espero que gostem!
Vejo vocês nas notas finais!

EDIT: demorei, mas montei uma playlist! Segue o link: https://open.spotify.com/playlist/5WApc53CnzwWmZ5l3u2u3H



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01. UM COMEÇO

...

Ok, vamos lá. 

Criar novo documento. Ok… Documento sem nome parece suficientemente bom para o que estou tentando escrever, porque eu não faço ideia do que vai sair. Vou deixar assim por agora. 

Gostava mais quando tinha minha máquina de escrever, mas Albus fez questão de acidentalmente quebra-la. É claro que sei que foi proposital. Ele sempre odiou o barulho. 

Uma história - feita de livre e espontânea pressão - por Scorpius Malfoy.

Espera. A fonte está certa? Arial 11... O padrão não é Arial 12?

Ok, segundo mais ou menos doze sites, o padrão normal é Arial 12 ou Times New Roman 12. Acho que vou precisar de um sorteio para escolher qual fonte é melhor.

Ok, segundo o sorteador online Arial ganhou. Mas sorteadores online são confiáveis? Melhor refazer. Ok. Arial será. E 12, claro.

Wow, fica ridiculamente grande. Vou voltar pro 11 e antes de entregar o arquivo volto pro 12. Cadê meu post-it? Preciso me lembrar de… 

Mudar a fonte”

Hm, talvez seja melhor especificar.

"E encontrar um bom site de regras de formatação"

Perfeito. Onde colo? Se deixar na tela vai me atrapalhar. Hm, vou colar em cima da pasta. Porcaria de post-it que não cola direito. Eu deveria notificar a papelaria da esquina que os novos post-its são uma porcaria. Melhor anotar.

“Mia, esse post-it é uma porcaria”. Ironicamente o post-it que escrevi isso está colando direito.  

É sério que Albus resolveu fazer pipoca, agora? Não dá para deixar a janela aberta com esse frio então o cheiro vai ficar na casa toda. Preciso limpar esse microondas quando acabar ou toda a comida vai ter cheiro de pipoca de bacon por semanas. 

Sinceramente, Albus tinha um péssimo gosto para comida.

Limpar microondas urgentemente

Ok, a técnica que meu professor indicou é sentar na cadeira e... escrever. Diz ele que funciona. Mas prefiro mil vezes fazer um roteiro bem arquitetado antes de sequer arriscar.

Mas já que a proposta é justamente me arriscar, por que não?

Era uma noite fria de outono. Londres estava particularmente silenciosa, o que era…

Mas que merda de começo. Vamos lá.

Londres estava particularmente silenciosa em uma usual noite gelada de outono. 

Qual noite eu deveria tomar como referência? Quero dizer, ontem foi muito frio, chegou até a chuviscar. Mas anteontem o dia estava bem agradável.

Hm, meu teclado está meio sujo. O maldito do Albus andou usando o computador pra jogar e tenho certeza que comeu ao mesmo tempo. Ele sabe que eu odeio quando ele come mexendo no computador por conta de sua mão furada. Tem migalha de bolo de chocolate em todo lugar! 

Cadê a porcaria do álcool? Ele por acaso cheirou? Tem só metade! E eu sei que não está assim porque ele faz o favor de usá-lo todos os dias. Já falei para deixar o frasco fechado para não evaporar. Teria que rever algumas regras da casa pela milésima vez.

“Reunião da casa urgente

E o pano de limpeza, então? Uma desgraça. E pela cor, ele derrubou mais do que bolo no computador. Isso estava passando dos limites. 

Meu Deus, o que ele fez?! Até a tela está engordurada. Cacilda. Albus Potter não tinha a menor noção de convivência mesmo após três anos morando juntos. Como ele podia ser tão nojento? O que a senhora Jones iria pensar de nós?

“Fazer faxina para facilitar antes da senhora Jones vir aqui limpar”

— O que você tá fazendo? - sua voz me pegou no susto. Suspirei, parando de limpar para encará-lo. Albus estava com um conjunto de moletom furado, tinha os cabelos pretos bagunçados - como sempre, nem sei porque ressaltei isso -, enquanto me olhava tomando leite com achocolatado de canudinho de inox. 

Senti um calafrio. Eu tinha nojo daquele canudo. Albus bebia absolutamente tudo que fosse possível de canudo, mas eu tinha lá minhas dúvidas quanto à higiene daquilo.

Ele pegou a pasta na qual eu estava colando os post-its, lendo-os.

— Limpando a sua sujeira. Existem guardanapos, Albus, para se usar quando a mão está engordurada. Este álcool em gel aqui do lado eu deixo justamente para passar antes de usar o computador. E no mais, nossa mesa não é enfeite para você precisar comer aqui. - resmunguei, voltando a limpar e ele pousou o copo na mesinha com raiva, fazendo respingar um pouco de leite. 

Fiz careta e tratei de limpar na hora. Ele realmente não sabia respeitar coisas básicas como limpeza.

— Eu sei muito bem que nossa mesa não tá ali de enfeite. - seu sorriso me fez querer vomitar. Ele nunca admitia se tinha feito ou não coisas indecentes com a Nina naquela mesa. Um dia eu simplesmente cheguei em casa e ela estava mais bamba do que o normal. E ele acha engraçadíssimo me deixar sem saber o que rolou.

E foi por isso que passei a limpar a mesa toda vez antes de comer e as cadeiras agora possuem assentos encapados por plásticos. 

— Você é inacreditável. 

— E você está enrolando para escrever. - me cutucou, tirando o pano de minha mão. - Não vou falar nada sobre essa sua… Mania de limpeza exagerada. Limpar antes da senhora Jones vir aqui? Ela é nossa diarista por uma razão, Scorpius. Manter tudo limpo. 

— Não é exagerada. É o básico. E que mal há em querer deixar tudo ajeitado? É vergonhoso deixar a casa tão suja para ela. - tentei rebater, mas Al riu da minha cara. 

— Scorpius ‘cê tem uma mania de perfeccionismo e sabe disso. E eu te aceito assim, cara. Faço pra te irritar mesmo. Mas ‘cê precisa focar no seu trabalho. 

— Eu estaria focado agora se você não tivesse deixado tudo uma nojeira. - retorqui a contragosto. Não era como se eu estivesse fugindo do trabalho.

— Você ficou quinze minutos ajeitando espaçamento e fonte que eu vi. E escrevendo isso aqui.

Ok, isso era parcialmente verdade. Mas eu não poderia simplesmente sair escrevendo, porque era impossível. Sinceramente “escrever não requer inspiração, mas sim suor” é algo um pouco problemático. Vou escrever o que sem inspiração? 

— Depois de limpar, ia achar outra coisa pra fazer, como organizar pastas pela milésima vez. Se pipocar uma notificação de e-mail, ‘cê não vai resistir e vai precisar ler. Te conheço. Já vi essa história umas cinco mil vezes. Depois seu agente liga aí desesperado pra te achar. 

— Você é um exagerado, Albus. Uma hipérbole irritante e ambulante. - ele riu abertamente de mim e eu quis matá-lo. Não literalmente, claro. Mas não me importaria que ele sumisse por alguns dias para me deixar em paz um pouco. Talvez fosse interessante ligar para a Senhora Potter e contar que ele pegou outra DP, dessa vez em direito penal. 

— Scorpius, você é tão certinho que dói. 

Torci o nariz para aquela afirmação, não pelo peso dela, mas pela construção frasal também. Albus tinha uma mania irritante de falar “cê” e “você” às vezes, o que indicava que ele sabia que “você” era o correto e até tinha o hábito de usar, mas preferia ser irritante ao abreviar. E todas as vezes que ele utilizava “você” geralmente envolviam algum tipo de ênfase que me deixavam irritado. 

Mas, em partes - algumas partes mesmo — ele estava certo. Eu infelizmente tinha o hábito de… Procrastinar até demais. Eu costumava ter o controle da situação de praticamente tudo, menos da minha escrita. 

Meu último lançamento tinha sido há um ano e foi um verdadeiro sucesso. Não foi fácil, mas dediquei meses para a escrita, praticamente sem parar, sendo que os primeiros foram completamente voltados para organização de um roteiro base. Era um romance policial e minha ansiedade estava me atacando por não terminá-lo. Foi quando resolvi fazer uma espécie de maratona de um mês para finalizá-lo, que foi o pior período da minha vida.

Eu não tinha certeza para onde a história iria, apesar de ter praticamente tudo encaminhado, então escrevi o que já tinha, só parando para fazer algumas consultas pontuais a respeito de crimes e suas resoluções. Quase tive um ataque ao ter o insight enquanto estava dormindo, o que fez Albus me olhar torto por uma semana inteira por ter saído gritando pela casa. Um mês e muitos fios de cabelos a menos depois - com ameaças constantes de expulsão pelo Potter - eu terminei o meu rascunho. 

Mas revisá-lo foi outra história. 

Perdi todas as minhas férias de verão nesse percurso, mas tinha que terminar logo antes que o curso exigisse ainda mais de mim. Afinal, estudar Literatura em Oxford era um sonho que acabou se tornando um pesadelo. Eu não conseguia acompanhar no mesmo ritmo, o que fez com que eu tivesse muitos atritos com professores, ainda mais quando estava no meio do meu processo criativo, que me deixava absorto demais para prestar atenção em qualquer coisa.

Eu não era ruim nas atividades, mas meus professores não gostavam muito que eu fosse disperso em suas aulas e incrivelmente bom no restante. Nem mesmo eu gostava disso, pois sentia que a qualquer momento um deles iria me reprovar simplesmente porque não fazia sentido eu estar ali.

Eu me sentia uma fraude.

Somente o senhor Davies me deu algum tipo de crédito positivo e agia com cautela comigo nas aulas. Era como se ele me entendesse e me visse como eu realmente era. Não à toa era meu agente e foi o responsável por conseguir que “Assalto na Rua Quatro” virasse um pequeno hit graças ao seu excelente perfil de comunicólogo e contatos com marketeiros incríveis. Minha escrita era somente mediana

A questão é que ele confiava em mim, mas no meio de tanta produção de contos soltos da mesma temática, que também fizeram sucesso e tinham acabado de lançar em uma pequena coletânea, ele me propôs o pior dos desafios.

Escrever um romance. Uma história de amor.   

É óbvio que eu surtei. Meu livro e meus contos eram puramente policiais e o mais perto que cheguei de descrever um relacionamento romântico em meus trabalhos acadêmicos envolveu algo totalmente platônico ou em relação a algum objeto ou coisa. Isso quando não terminava de maneira trágica. 

Mas pensar em escrever cenas românticas… Isso era inconcebível. Eu não era exatamente… Experiente. 

Estudei em uma escola só para garotos, sou filho único e sempre tive amigos homens. Quando entrei na faculdade o mundo de garotas disponíveis foi assustador. Eu tinha zero experiência de namoro. O mais perto que cheguei de um romance - e mesmo assim ficou muito longe disso - foi com a prima de meu melhor amigo do colégio, Anthony Zabini. 

Clementine Zabini era estonteante e não poupou investidas das vezes que fui visitá-lo e ela estava por lá. Em uma das vezes ela me abordou e em algumas outras também, mas não havia muita conversa e sentimento muito menos. 

Foram beijos bem agradáveis, apesar dela ter ficado irritada com minha inexperiência e ter passado a se divertir enquanto me fazia perguntas sobre coisas que eu obviamente respondia que não tinha feito. 

Nunca mais a vi. E serviu para eu constatar que talvez as pessoas superestimassem os beijos. Confirmei essa teoria quando, na festa de lançamento do meu livro, uma fã me agarrou perto do banheiro. Não sei se foi o choque em ela ter me agarrado justamente após ter saído do banheiro e grudar as mãos no meu rosto - eu sequer sabia de elas estavam de fato limpas, o que me fez não conseguir aproveitar o beijo em nada - ou se fora sua língua que mais parecia uma broca tentando invadir minha boca. Foi um pouco traumatizante.

Os beijos bêbados que recebi em uma das festas malucas que Albus organizou - obviamente não em nosso apartamento, até porque era alugado e as taxas de manutenção eram altíssimas, e também a primeira e última que eu fui -  não me deram melhores perspectivas sobre eles serem de fato serem bons. Eram quentes e coisa e tal, mas não me davam frios na barriga ou coisa do tipo. Eram só toques de lábios.

Portanto, escrever sobre romance me parecia muito errado. Não que eu vivenciasse os mistérios para poder escrever sobre, mas coisas relacionadas ao coração me pareciam quase que incompreensíveis. 

Sair do meu trabalho de meio período na papelaria - aquela da esquina que eu reclamei da qualidade dos post-its - e pular no escuro para lançar o livro foi uma loucura. Algo que eu jamais pensaria em cometer - exceto se fosse por livre e espontânea pressão, que foi exatamente o que aconteceu. Eu amava ler livros de mistério e até tinha certa confiança sobre o que estava fazendo, mas mesmo assim quase enlouqueci na revisão. Não parecia ser suficiente bom. Só… Mediano. Eu sinceramente não entendia o sucesso.

Imagina se eu realmente seguisse a vontade do senhor Davies e escrevesse um romance? Mamãe e papai poderiam começar a tratar do meu enterro já. Eu não entendia absolutamente nada do assunto e meus pais não eram o melhor exemplo do mundo. Era raro vê-los demonstrando afeto. 

Eu não sei se aquilo daria certo, mas de qualquer forma eu só decidi definitivamente arriscar pois Mia me garantiu que faria o senhor Matthews me recontratar caso fosse necessário. E eu tinha certeza de que precisaria.

 

 

A minha tentativa de sentar e escrever foi totalmente fracassada, pois não era isso que me guiava. Não estava dando certo. Estava errado. Tudo parecia… Travado. Eu precisava achar algum jeito eficiente. Ou alguma inspiração.  

— Scorpius, você é um escritor detalhista e primoroso. - meu professor, o senhor Davies, falava quando fui recorrer a ele no final da aula. - Sabe que é preciso tirar inspiração de algum lugar. Não me diga que não consegue pensar em alguma vez que teve algum relacionamento mais intenso? 

Corei um pouco, escancarando minha pouca experiência - de beijos em duas garotas - e ele me olhou sob o óculos de meia lua. 

— Ou talvez em que teve algum sentimento por alguém.

Dei de ombros, entregando-lhe alguns de meus trabalhos passados que tinham algo a ver com romance, como ele solicitou no e-mail de vinte linhas que enviei para ele ontem depois do sermão de Albus - que por sinal não abaixou a tampa da privada de novo

Ele percorria os olhos pelo texto do trabalho que desenvolvi em cima do crush enorme que tive pela empregada do Anthony. Ela deveria ter quase quarenta anos e não era lá muito charmosa, mas era extremamente simpática. Eu tinha vergonha de ir até lá justamente por não conseguir encará-la nos olhos sabendo todos os sentimentos inapropriados que eu tinha em relação à ela. 

Não foi um tópico muito confortável de se discutir na sessão de terapia que precisei frequentar desde quando meu pai adoeceu, mas a senhorita Scamander era extremamente atenciosa e disse que era perfeitamente normal eu desenvolver a ideia de um sentimento pela figura feminina mais próxima à mim fora minha mãe.

Não preciso comentar que também desenvolvi uma paixão pela senhorita Scamander, que de bom grado me transferiu para seu colega de trabalho senhor Longbottom, que atendia próximo à Oxford. De qualquer forma eu precisaria de uma transferência quando a faculdade começasse e estava tudo correndo maravilhosamente bem até Albus resolver que seria interessante namorar a filha do meu terapeuta. 

Estava cada vez mais difícil me abrir com ele a respeito, pois eu tinha medo de soltar que sua filha e Albus estavam me tirando o sono por não falarem a verdade sobre fazer sexo em todos os lugares inadequados da casa. Com isso, já fazia dois meses que eu não citava o nome de Albus e estava realmente difícil digerir e ressignificar suas ações, como eu fazia antes. Isso me fazia sentir falta da senhorita Scamander.

Joshua Davies me encarava com surpresa após ler os resumos dos plots e as anotações de outros professores meus.

— Scorpius, você pode não acreditar no que vou lhe dizer, mas… Isso é incrivelmente bom. E acho que você tem um forte potencial para romances, só precisa explorar isso melhor e… De uma maneira menos dramática, talvez. 

— Não sei como poderia fazer isso. Nem mesmo a história dos meus pais é romântica e muito menos comum, o senhor sabe. - falei um pouco mais baixo. Não porque não queria que alguém ouvisse, mas porque era difícil falar sobre essas coisas em geral. 

— Por que não busca inspiração em outras histórias? Comece a prestar atenção ao seu redor e anote alguns aspectos. Faça exatamente como quando escreve um mistério. Trace perfis psicológicos, discorra sobre alguns momentos soltos… O romance, assim como o mistério, é tecido nos detalhes. Se apaixonar é tão desafiador quanto resolver um crime. 

Eu não tinha certeza quanto à última fala de meu professor, mas tentaria anotar o que eu percebia. 

 

...

 

Comecei por Albus e Nina, que tomavam café na cantina. 

Mão no queixo. Olhar abobado. Corpos inclinados um para o outro. Toques exagerados. Toques com as mãos sujas meladas de açúcar. 

Ok, estava perdendo o foco, mas como Albus pôde limpar o canto da boca dela de chantilly e não se incomodar com isso? Ah sim, porque ele era o Albus. A minha surpresa foi quando ela riu e passou um pouco de chantilly na bochecha dele para em seguida dar um beijinho. 

Meu Deus. 

— Olha só se não é nosso escritor favorito! - foi Nina quem disse, sorrindo e mostrando os dentes perfeitamente alinhados. Ela era extremamente parecida com o pai em geral. Cabelos castanhos, olhos verdes e um rosto comprido. O sorriso era tão semelhante que me causava estranheza sempre. 

— Tá mais pra enrolador de primeira. - Albus me provocou, bebendo da mesma xícara que Nina. Alarguei a gola do meu suéter, um pouco sufocado com tanta falta de higiene. 

— O que está fazendo? - ela perguntou quando me sentei a algumas cadeiras de distância de Albus. 

— Anotando coisas sobre vocês. Preciso escrever um romance.

— Que coisa fofa! - ela sorriu para Al, segurando sua mão. Ele apenas riu pelo nariz, me encarando com diversão. - Pode fazer perguntas, se quiser. Vamos adorar responder.

— Hm, ok. - me ajeitei, pegando alguns guardanapos da mesa e aplicando álcool em gel, limpando o local que eu colocaria meu caderno.

— E lá vamos nós. - preciso dizer que foi Albus que disse isso?

— Pare de ser implicante. - Nina retrucou, voltando a me olhar com um sorriso amável. - O que quer saber?

— O que você viu nele? - perguntei genuinamente quando notei que Al soltou um arroto enorme enquanto navegava no celular. Ele só me olhou quando Nina começou a gargalhar, e parecia ligeiramente irritado. 

— Scorpius, você é ótimo. Acredita que eu também não sei? - ela comentou dando os ombros e Al se ajeitou na cadeira, guardando o celular.

— Como assim, não sabe? - seu tom de voz era de uma indignação verdadeira. 

— Acho que, sinceramente falando, não achei que fôssemos passar de três ficadas.

— Nina?! - Albus estava tão chocado quanto eu, mas eu pelo menos estava achando tudo divertido.

— Albus, você é brincalhão demais. Nunca leva as coisas muito à sério. É algo admirável, mas ao mesmo tempo preocupante. 

Ela estava certa. Eu queria ter 1% da despreocupação do Albus. Para ele tudo estava sempre tranquilo. Era raro ele se irritar.

— É verdade. - afirmou com um sorriso. Não disse? Despreocupado. - Mas o que mais você viu em mim? -  ele parecia genuinamente curioso. 

— Você é dedicado ao que gosta e sempre deixa as balas de goma roxas e vermelhas para mim. E eu sei o quanto você gosta delas. - ok, isso foi um motivo realmente sem noção. Mas pareceu suficientemente bom pro Albus, porque ele a beijou. 

— E você, Albus? - perguntei quando eles pararam de trocar germes e me encararam. 

— Obviamente que a primeira coisa que notei nela foi a beleza. Mas o que realmente eu vi nela foi a sinceridade e a bondade. - ele sorriu abertamente, encarando a provavelmente-namorada depois desse discurso todo. - Nina não se importou em me deixar usar o banheiro primeiro quando voltamos daquele restaurante mexicano xexelento. 

Foi a pior noite que passei naquele apartamento. Precisei sair para tomar ar ou eu morreria com o cheiro. Estava nojento. 

— Hm, certo. Balas de goma e… Ida ao banheiro. Esses são motivos de verdade? - questionei olhando minhas anotações. Quando ergui os olhos Nina me olhava divertida. 

— Não é a coisa em si. É o momento em que você percebe.

— Percebe o que? - questionei. O amor não fazia sentido nenhum.

— Que você percebe que está perdidamente apaixonado pela pessoa. - Albus completou, beijando a com-toda-certeza-agora-namorada. 

 

 

— Você quer saber o quê? - Mia estava arrumando uma estante no alto e se segurava na escada, me encarando com um sorriso.

Eu odiava aquela escada, então, quando trabalhei na papelaria, ela sempre subia no meu lugar. Eu estava ficando nervoso com ela simplesmente pairando lá em cima ao invés de terminar o serviço logo.

— Eu já lhe disse. Agora desce logo daí. - praticamente implorei. Ela revirou os olhos, ainda rindo, e desceu, pulando na minha frente enquanto ajeitava os cabelos loiros.  

Mia na verdade era Dominique Weasley, prima de Albus. Ela cursava Literatura também, porém era alguns anos mais nova que eu. Mia também precisava trabalhar para ajudar nas despesas e foi assim que nos conhecemos. Foi uma surpresa e tanto quando ela soube que eu morava com Albus. A partir de então Mia passou a frequentar mais o apartamento. E se mostrou uma excelente amiga. Melhor que Albus em muitos momentos, inclusive, o que me fez recorrer à ela.

— Por que o interesse em relacionamentos de repente, Scorpius? Está de olho em alguém? - por mais que ela estivesse me provocando, eu sabia que o interesse dela era genuíno. 

Dominique, ou Mia, como preferia, era assim. Dedicada aos amigos e ao namorado secreto, que ela não contava o nome nem por um decreto.  

— Isso é culpa do senhor Davies. Preciso mergulhar mais no romance ao invés do mistério. 

— Mas vai continuar escrevendo mistério também, não vai? Scorpius, estou lucrando horrores com seus autógrafos! Alguns primos meus estão vidrados na sua escrita. E eu sou sua fã número um, também. - ela riu, enquanto pegava uma caixa para levar ao depósito. 

— Bem, teoricamente minha mãe é minha fã número um.

— Certo, certo. Eu sou a número dois então. 

— Na verdade... - ela me interrompeu colocando a caixa com uma força um pouco desnecessária no chão e me encarando.

— Ok, senhor-super-literal. Qual fã sou sua, então?

— A número cinco. - respondi prontamente. Ela me encarou por alguns minutos, mas ao invés de ralhar ela riu. 

— Ok, vou me contentar com meu posto nada especial então. Mas sério, meus irmãos e meus primos adoram seus livros.

— Albus não me falou nada. - comentei envergonhado. 

— Porque ele é um chato. E ele fica ocupado demais no telefone durante as reuniões de família. Como a Longbottom atura ele? 

— Eu sinceramente não sei. - e era a mais pura verdade. Apesar da teoria toda das balinhas roxas e vermelhas e da ida ao banheiro, eu não entendia porque estavam juntos. Mas eram até que adoráveis juntos. 

— Sobre seu questionamento… Acho que o amor não tem muita explicação, sabe. Está nos detalhes. E nem sempre eles fazem sentido pra quem vê de fora. É uma explicação plausível pra Albus conseguir sustentar um namoro. - ela riu, organizando o estoque. - Quando percebi já estava apaixonada por… Bem, pelo meu namorado. Levaram alguns encontros, admito. Não consegui me envolver de cara. Mas a cada conversa eu me surpreendia com alguma coisa e, bem, estava apaixonada. 

— Não é algo súbito… - murmurrei enquanto anotava, mas Dominique negou com a cabeça.

— Não necessariamente. Eu acredito em amor à primeira vista. Quero dizer, é claro que o amor vai muito além disso. Mas meus pais se apaixonaram assim e estão juntos até hoje. Você aprende a gostar da pessoa nos detalhes depois, porque já está mega encantado e tudo o mais. 

— Mas isso seria mais uma atração do que amor de verdade. - ponderei e ela deu de ombros.

— Atração, amor… Não dá pra saber qual vem primeiro nesses casos. O amor é uma caixinha de surpresas, diferente para cada um. Não tem uma fórmula. Para mim, é como um grito no vácuo. Você não o ouve, mas não pode negar que ele aconteceu, que ele existiu, ou que está ali. É também como estar flutuando. É… É assim que sinto meu coração. Leve o suficiente, como se estivesse flutuando, mas ao mesmo tempo cheio, por ter tanto amor. - ela sorriu, mas eu só conseguia prestar atenção em tentar anotar tudo. 

— Acho que já sei quem chamar quando eu desistir dessa loucura de escrever um romance. - comentei quando coloquei o último pingo em um “i”. 

— Para um escritor você não muito criativo a respeito de romances, não é? - ela cruzou os braços, rindo, e eu senti a vergonha preencher meu rosto. - Por que não lê ou assiste algumas coisas?

Sobre ler romances, sinceramente, eu só considerava que os autores tinham uma boa inspiração de verdade. Para mim escrita é isso, inspiração. E alguns tinham mais aptidão para um tipo de gênero do que outros. Ou eram muito sortudos em conseguirem viver amores tão intensos como os descritos - o que eu duvidava. 

Eu já havia lido de Shakeaspeare e Austen à John Green e Nicholas Sparks, tudo em prol das aulas de Literatura, mas assistir mesmo nunca tinha assistido nada. Sempre passava longe da sala quando minha mãe estava assistindo a algum filme água com açúcar qualquer. Minhas influências cinematográficas nessa área se resumiam aos diálogos amorosos pouco críveis de Star Wars ou os extremamente pautados em sedução dos filmes de mistério, espionagem e ação. 

Então resolvi seguir o que Dominique me recomendou, procurei listas dos melhores e maiores filmes de romance de todos os tempos. Mas por onde começar? 

 

 

10 coisas que odeio em você. - Nina falou prontamente quando questionei ela em um intervalo de tempo que Albus fora ao banheiro, ou seja, ela não estava ocupada com a boca dele. 

— Me parece um título meio… Tosco. - comentei franzindo o cenho e Nina gargalhou.

— Para um estudante de Literatura, me admira que você não tenha ouvido falar que A Megera Domada teve inúmeras adaptações, incluindo essa.

É claro. Lembro-me vagamente da aula. 

Procurei meu caderno do primeiro ano, enquanto Nina me observava e Al saía do banheiro, deixando um cheiro nada agradável no ar. Pelo visto o spray que eu havia comprado também era de enfeite. 

Encontrei a matéria em questão. Minha anotação no canto da página, logo ao lado do nome do filme juvenil adaptado da obra:

Título tosco”.

— Bem, sou um homem de palavra. - mostrei a anotação para os dois, que riram. 

— Isso é tão Scorpius, que não estou nada surpreso. 

— Comece por ele, Scorp. É um filme legal. - Nina garantiu e, para minha surpresa, Al concordou. Todo mundo conhecia esse filme menos eu? 

E foi assim que eu entrei em um limbo de romances e comédias românticas juvenis. Todas mostravam situações que meu eu de quinze anos jamais ousou viver, e de certa forma senti como se eu tivesse perdido muita coisa. 

Quando parei para respirar um pouco, percebi que, em um curto espaço de tempo, eu já havia assistido As Patricinhas de Beverly Hills — adaptado de um excelente livro da Austen -, as adaptações dos livros do John Green - e novamente achei Cidades de Papel muito melhor que A Culpa é das Estrelas, o que já era minha opinião quando li os livros obrigatoriamente, Ela é Demais — notei que é uma espécie de fissura de alguns filmes em realizarem uma transformação na garota que consiste basicamente em retirar os óculos - , Show de Vizinha — entrei em um território mais puxado para o besteirol, mas tudo bem - Juno— um dos meus favoritos até então -, Nunca Fui Beijada— particularmente me solidarizei com a protagonista, pois sei a agonia que é ser tão inexperiente enquanto todos à sua volta parecem dominar tudo -  e, por fim, Ruby Sparks, que conversava comigo mais do que eu gostaria, já que o protagonista também estava com dificuldades de escrita, com a diferença de que, do nada, a garota de suas histórias tomava vida. 

Como se isso fosse possível.  

A maratona dos últimos dias havia deixado saturado, mas acima de tudo sonolento, de forma que, antes mesmo que Ruby tivesse se instalado completamente no apartamento de Calvin, eu caí no cochilo, sem sequer me importar que o sofá não estava com a capa de cobertura. 

— Scorpius?


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Notas finais do capítulo

O nervosismo bateu em minha porta e ficou, socorro!
Quem amou Al e Nina? Quem quer guardar o Scorpius em um potinho? Eu, eu!
A próxima atualização deve sair na segunda feira :) Espero que tenham gostado e quero saber se já possuem alguma teoria hihi
Beijos ♥
p.s: me sigam no Twitter @caroolfoster que talvez eu poste alguns spoilers ou só informações sobre futuras atualizações mesmo haha