Uma Longa Viagem escrita por jingger5


Capítulo 1
Capítulo único




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— Aqui está! - A bruxa do carrinho de chá estendeu a Tortinha de Abóbora.

Mas, antes que eu conseguisse pegá-la, uma mão feminina cortou o ar à minha frente, tomando o doce da vendedora.

Se fosse qualquer outro estudante eu teria me irritado, mas a pessoa, em especial, era Rose Weasley.

Apanhadora da Grifinória, segunda melhor aluna de Hogwarts (eu era o primeiro, e mesmo que ela não concordasse, nós dois sabíamos disso). Rose era minha rival, minha oponente, minha inimiga, uma Weasley.

E eu era apaixonado por ela desde o primeiro ano.

Então, quanto ela se afastou olhando por cima do ombro apenas o suficiente para que eu a visse dar uma mordida generosa na Tortinha de Abóbora, a única coisa que fui capaz de fazer foi sorrir.

(Mas aquilo teria volta, afinal, ela havia acabado de roubar a minha comida).

— Quando vai admitir que gosta dela? - Albus surgiu repentinamente do meu lado. (Talvez eu tenha dado um gritinho de susto. Talvez).

— Hã... Nunca?

— Qual é a pior coisa que pode acontecer? Ela dizer que não gosta de você? - Anthony perguntou, se colocando na minha frente.

Sério, dá onde que esses dois surgiram?

— É, o não você já tem, agora só falta buscar a humilhação!

— Não tá ajudando Al - Anthony o fuzilou com o olhar - E ela não vai dizer isso.

— Como pode ter certeza? Eu não sou você, as garotas não se jogam aos meus pés! Ela provavelmente vai rir da minha cara. Na real, nós nem devemos ficar juntos, não daria certo - Dei de ombros - Não existe um universo em que eu e Rose Weasley seríamos um casal.

— Com certeza não com essa atitude. - Albus passou um braço ao redor dos meus ombros - Mas, para a sua sorte, você tem amigos que vão te ajudar!

— Por favor não - Choraminguei. Só de imaginar Albus Potter bancando o cupido eu já sentia calafrios.

— Sim! - Anthony exclamou, claramente empolgado com a persperctiva de me torturar - Mas primeiro, vamos achar uma cabine.

— Eu sei de uma perfeita.

· · ·

— Garotas! Será que podemos ficar aqui? É que todas as outras cabines já estão ocupadas... - Albus entrou sem esperar uma resposta.

— Hã... Claro - Rose tirou os olhos dele e fixou-os em mim, possivelmente se perguntando em que merda eu estava pensando.

Não posso julgá-la. Me fiz essa mesma pergunta.

Eu estava meticulosamente calculando o melhor lugar para sentar quando o Anthony me empurrou (nada discretamente) no assento vago ao lado da Rose.

— Licença - Al pegou as pernas da irmã e as jogou para fora do banco.

A disposição acabou ficando: Eu, Rose e Dominique em um banco; Albus, Lílian e Anthony no outro.

— Então... - Anthony tentou quebrar o silêncio.

— Então...? - Dominique olhou para ele, confusa.

A situação estava tão desconfortável que eu cogitei a ideia de simplesmente levantar e sair.

Estava prestes a pôr meu plano de fuga em prática quando o Al decidiu se pronunciar:
— Credo, até parece que não nos conhecemos!

— É que geralmente você só vêm falar comigo quando quer alguma coisa - Lílian cruzou os braços e encarou o irmão com um olhar de reprovação.

— Não posso só querer passar um tempo com minhas primas favoritas?

— Não - Responderam as três, em uníssono.

— Nossa, me sinto ofendido - Ele pousou a mão no peito dramaticamente por um segundo antes de abandonar o fingimento - Tá, eu quero uma coisa sim.

— Sabia - Rose murmurou enquanto revirava os olhos.

Eu já vira ela fazer aquela expressão milhares de vezes antes (geralmente para mim) e, em todas, era absolutamente encantador.

Foi difícil desviar o olhar e, quando finalmente consegui, me arrependi de tê-lo feito ao encontrar o Albus sorrindo maliciosamente para mim.

— Na verdade, não sou eu quem quer uma coisa...

Tentei transmitir algo como "PELO AMOR DE MERLIN NÃO FAÇA ISSO!" na conversa silenciosa que travamos antes dele quebrar nossa troca de olhares.

— Lilizinha - Ele se virou para a irmã - O Anthony tem algo a dizer para você.

— Tem?

— Tenho?

— Tem sim - Ele abriu um sorriso tão doce que chegou a me dar medo - Por que não vão lá fora conversar?

— Ah... Ah! Certo! - Anthony piscou algumas vezes antes de se levantar, pegar a mão da Lílian e a conduzir para o corredor do trem.

Voltei o olhar para o Al, que estava com uma expressão de satisfação no rosto.

Franzi a testa. O que tinha acabado de acontecer? O Anthony gostava da Lílian? Pensando bem, eles formariam um casal fofo...

Eu fiquei tão perdido em pensamentos que não tive nem tempo de reagir quando o Albus agarrou a Dominique pelo braço e os dois correram para fora da cabine, trancando a porta.

Tão sutil.

Sinceramente, não fiquei tão surpreso, acho que parte de mim já esperava por aquilo.

E a outra parte queria que aquilo acontececesse.

Então, no fundo, fiquei feliz de estar trancado em uma cabine com Rose Weasley.

Ela, por outro lado, não parecia compartilhar do mesmo sentimento que eu.

— Mas que... - Rose se levantou em um salto e foi até a porta - Al! Isso não tem graça! - Ela se voltou novamente para os assentos - As varinhas! As... O maldito levou as varinhas.

Claro.

Ela puxou a maçaneta várias vezes e, quando viu que isso não resultaria em nada, começou a esmurrar o vidro enquanto gritava:
— EI, ALGUÉM? ESTAMOS TRANCADOS!

— Tavez não tenha sido uma boa decisão escolher uma cabine no último vagão do trem - Murmurei.

Rose parou o que estava fazendo e direcionou sua atenção em mim, como se só então tivesse notado minha presença.

— O que está fazendo parado aí? Me ajuda!

— Hã... Certo - Fui para o lado dela sem saber direito o que fazer (Eu não via como mais uma pessoa gritando e batendo no vidro iria ser de grande ajuda).

Ela me olhou cheia de expectativa.

— Está trancada - Falei, maneando a cabeça em direção à porta.

Toda a expectativa no olhar dela deu lugar à raiva.

— Ah sério? Se você não falasse eu nunca adivinharia! - Rose lançou os braços para o alto e se pôs a andar de um lado para o outro no pequeno cubículo em que nos encontrávamos.

— Sabe, não tem muito o que possamos fazer nessa situação, o melhor é manter a calma e...

— Você está adorando isso, não está? - Ela parou abruptamente e se virou para mim - Na verdade, acho que a ideia foi sua!

— O que? - Perguntei, incrédulo - Como pode achar que eu faria isso?

— É a vingança perfeita! Quero dizer, o que pensariam se nos vissem nessa situação? Seria um desastre.

— Por que seria um desastre? - Tentei manter a voz indiferente, mas aquela afirmação foi como levar um soco no estômago.

— Você sabe - Ela fez gestos vagos com as mãos, em uma tentativa falha de se explicar - Você é Scorpius Malfoy, você é...

— Eu sou o que?

— Irritante! E convencido, e... - Ele franziu a testa tentando encontrar o melhor xingamento - loiro demais.

Ergui uma sobrancelha diante do insulto. Como ela ousava criticar o meu cabelo?

— Você também é ruiva demais! - Me senti ridiculamente infantil, mas não consegui evitar - E petulante, e atrevida...

— Você é mimado, egoísta e tão - Ela deu um passo em minha direção - insuportavelmente inteligente.

— Você fala demais, - Também dei um passo, quase como se estivesse hipnotizado - e tem uma mente estupidamente brilhante.

— O cheiro do seu perfume me enjoa - Outro passo.

— Eu detesto o som da sua voz - Mais um.

— Odeio quando me faz rir com suas piadas ruins - Estávamos a um palmo de distância agora.

— Seu malditos olhos... - Cruzei a distância que nos separava, e agora ficamos tão perto um do outro que nossas respirações se misturavam - Eu poderia me perder na imensidão deles.

— E eu poderia beijar a droga dos seus lábios - O olhar dela percorreu meu corpo como uma descarga de energia - Mas eu não deveria...

Sorri, encostando levemente minha testa na dela.

— Eu também não - Então tomei seu rosto nas mãos e a beijei.

Foi um beijo quente e apaixonado que, para minha surpresa, Rose correspondeu.

Ela passou lentamente as mãos pelos meus ombros e entrelaçou-as em meus cabelos enquanto explorávamos cada canto da boca um do outro.

Só nos soltamos quando o ar começou a faltar em nossos pulmões.

— Merlin, o que foi que fizemos? - Ela sussurrou, se afastando rapidamente e passando a mão pelos curtos cabelos ruivos.

— Acho que acabamos de nos beijar - Respondi com um sorriso apreensivo.

— O que os outros vão pensar? O que nossos pais vão pensar? - Ela desabou no assento - E sabe qual é o pior?

Me sentei, cauteloso, do lado dela.

Eu não tinha certeza se queria ouvir a resposta, então apenas assenti com a cabeça, incentivando ela a continuar.

— O pior - Ela olhou fundo nos meus olhos, e sorriu - é que eu não me arrependo nem um pouco!

Soltei a respiração que eu nem sabia que estava prendendo.

— Merlin Rose! Eu estava quase surtando aqui!

Rose riu, não, ela gargalhou.

— Você tinha que ter visto a sua cara!

— Ha ha, muito engraçado - Eu tentei, mas não consegui impedir meus lábios de se repuxarem em um sorriso - Você me paga.

Comecei a distribuir beijos pela pele suave de seu pescoço, a fazendo se contorcer toda.

— Ai para! Para! Para! Para! - Ela me empurrou com carinho, ainda rindo.

Ficamos nos encarando, ofegantes, por alguns instantes antes dela deitar a cabeça no meu ombro.

— O que vamos fazer agora?

— Bem, como o cavalheiro que sou, eu ia te convidar para um encontro.

— Awn, eu adoraria! - Ela entrelaçou nossas mãos - Mas minha família planejou uma viagem para Aspen nessas férias.

— Parece divertido - Comentei, encostando minha cabeça na dela.

— Diz isso porque não é você quem vai passar três meses no mesmo hotel que o Albus.

— Tadinho, ele não é tão ruim assim.

— Sabe que eu vou bater nele quando sairmos daqui, não sabe?

— Eu vou adorar ver isso!

Ela soltou uma risada abafada.

— Se importa se eu dormir um pouco? - Ela perguntou - Seu ombro é tão confortável...

— Nem um pouco - Dei um beijo no topo da sua cabeça - Durma bem, Rose.

Não demorou muito para que eu caísse no sono também.

· · ·

— Hora de acordar, pombinhos! Já chegamos na estação.

Me espreguicei no assento e abri os olhos com certa relutância, piscando para acostumá-los com a claridade.

Albus estava encostado na porta, sorrindo como um vitorioso.

Olhei para a Rose, ela já estava acordada e sorriu preguiçosamente para mim antes de fuzilar o Al com o olhar.

— Você tem cinco segundos para correr.

— Eu... O que? - O sorriso em seu rosto deu lugar à uma expressão confusa.

— Cinco, quatro, três, dois... - Ela se levantou em um salto e saiu em disparada atrás dele.

Segui eles até a porta do trem, onde a Rose se deteve.

Ela se virou e me deu um selinho rápido.

— Vejo você ano que vêm. Me escreve! - Então ela saltou.

E eu fiquei ali, observando até seus cabelos ruivos sumirem em meio a multidão, sem conseguir tirar o sorriso bobo do rosto.

Eu tive a sensação de que, em algum lugar do universo, uma peça havia se encaixado.

E agora tudo estava certo.


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Notas finais do capítulo

Esse One-shot faz parte do projeto Junho Scorose