Inesperado escrita por LC_Pena


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez foram 2.500 palavras, agora estou até achando muito tranquilo esses desafios, se querem saber!



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Não havia sido tão difícil assim, nas primeiras semanas pós batalha final, seus pais haviam se trancando em seus aposentos pessoais, recebendo as refeições diretamente dos elfos, deixando Malfoy Manor afogada no mais completo silêncio.

Draco havia ficado com a casa toda para si, com todos os seus fantasmas e rincões cheios de histórias agourentas.

O herdeiro daquele montão de pedras, quadros e artefatos de origem duvidosa mandou que os elfos domésticos jogassem tudo que havia chegado com a mudança do Lorde das Trevas e seu séquito, no gramado do jardim oeste.

O sonserino estava se sentindo particularmente dramático, então colocou fogo em tudo. A fogueira tinha aproximadamente dois metros de diâmetro e as labaredas alcançavam quase a altura total da casa.

Aquele incêndio controlado era reconfortante de algum modo, como se realmente estivesse limpando o lugar de todo o mal feito naquelas paredes nos últimos anos. Uma chuva forte havia lavado as últimas cinzas do jardim e como um aviso de algo bom, fez um belo dia naquela primavera de 1998.

Um mês depois, nas vésperas de seu aniversário, o rapaz – agora ex-comensal da morte para todos que o conheciam – resolveu que precisava usar algo ainda mais intenso do que o fogo para apagar o mal que havia em si mesmo:

Então Draco Malfoy pisou pela primeira vez em um estabelecimento puramente trouxa.

***

Draco respirou o ar renovado do lado de fora da mansão, parecia que havia sido ontem que tudo acontecera: a batalha de Hogwarts, o isolamento, a vergonha... Bem, depois de um ano desde que apagara da face da Terra todas as lembranças físicas dos seus tempos de comensal da morte, o sonserino se sentia muito mais otimista com seu futuro.

Foi até a biblioteca familiar e pegou um dos livros que havia começado a ler antes da guerra, antes de qualquer coisa parecer realmente séria e demandar toda sua atenção e até mesmo a sua alma...

Ok, estava se pondo dramático de novo.

Resolveu que o melhor era se afastar um pouco da mansão. Draco caminhou para mais longe do centro da propriedade, revendo paisagens que pareciam saídas de suas memórias de infância, lugares que mal reconhecia depois de ter passado tantos anos em Hogwarts, intercalados por verões de aventuras sociais e então meses de isolamento “voluntário” ...

Draco Malfoy havia sido uma criança solitária, então o arroio que desaguava em um pequeno lago de cisnes tinha feito parte da sua fase como pirata, o jardim de helicônias havia sido o exército que enfrentara na sua própria guerra dos 100 anos – que havia durado duas semanas inteiras! – e o banco de ferro era a guilhotina onde decapitara os mais temíveis vilões de suas aventuras.

Continuou caminhando até que as histórias rocambolescas de sua infância rarearam, sobrando apenas alguns poucos momentos de sobriedade que se lembrava com inquietação. O jovem de 18 anos havia chegado ao limite do que era adequado ir com o coração cheio de inocência e esperança.

Tinha chegado ao cemitério dos Malfoy.

Ali era, talvez, a única parte da propriedade onde as influências de cada uma das personalidades marcantes da família foram levadas em consideração. Malfoy Manor sofrera várias modificações, todas sobre a égide do nome – sem rosto, sem créditos – com exceção dali.

Uma tia avó distante havia escolhido um túmulo simples, reto e negro, com apenas um nome em ouro gravado na pedra fria. Outro ancestral havia sido mais dramático, acrescentando um anjo se lamentando sobre sua lápide.

Um dos mais imponentes e cruéis lordes Malfoy, segundo relatos da própria história familiar, havia escolhido a estátua de uma criatura que se assemelhava muito a um dementador, embora Draco acreditasse que ninguém teria tamanho mau gosto... Se inclinou para o túmulo, franzido o cenho, na tentativa de ler o primeiro nome do seu ancestral sombrio.

Um pio sinistro soou por entre as lápides, se juntando ao farfalhar das folhas das árvores que se entremeavam por todo o cemitério. O rapaz se arrepiou com o prenúncio de mau agouro, mas ao se virar para o local de onde o som veio, se deparou, não com um corvo, como pensara a princípio, mas sim com uma deslumbrante ave, que só poderia ser...

— De onde diabos você veio? — O sonserino perguntou entre o fascinado e o irritado, porque a última vez que havia visto uma fênix viva, tinha sido ao lado de um homem cujo rosto jamais esqueceria. A fênix se empoleirou no topo de um ossatário terrível, com mais de uma dezena de caveiras elficas empilhadas de uma maneira macabra.

— O que está fazendo aqui? — Draco tentou novamente, curioso o suficiente para não enxotar a criatura mágica, que podia ser ou não, a mesma que pertencera ao falecido diretor de Hogwarts, de quem não queria lembrar.

Obviamente a fênix não lhe deu nenhuma resposta em palavras, mas deixou cair um envelope verde folha no chão escuro do cemitério Malfoy. Draco abaixou-se para pegar o que deveria ser uma carta, se levantando a tempo apenas de um último vislumbre das penas escarlates e douradas da ave majestosa.

Focou sua atenção novamente no envelope que tinha em mãos, sem remetente ou destinatário – embora imaginasse que o segundo só podia ser ele mesmo – ficando surpreso ao constatar que se tratava de um convite. Não qualquer convite:

Os Tonks convidam à todos os bruxinhos e bruxinhas para o I Campeonato de futebol de Teddy, em celebração ao seu aniversário!

Quando? 10 de abril, às 15h

Onde? Na casa do vovô e da vovó Tonks!

Aguardamos você com muita alegria! Até breve!

P.s.: Você deve vir com sua própria camisa de futebol.

— Mas que diabos...

***

— Mas que diabos!

Draco não podia acreditar que estava mesmo fazendo aquilo!

Tinha tido a oportunidade de desistir daquela ideia estúpida quando sua mãe o perguntou aonde iria após o almoço e antes disso, quando ela o questionara sobre seu súbito interesse em sua tia traidora do sangue.

A atenção de Narcisa Malfoy logo voltou a outros assuntos menos melancólicos. A verdade é que nenhum dos seus pais demonstravam interesse o suficiente por qualquer coisa que realmente importasse, então estava claro que Draco podia tomar suas próprias decisões, frutos de suas próprias reflexões solitárias.

Mas naquele dia 10 de abril de 1999, o rapaz teve certeza que havia cometido o primeiro erro grotesco em muitos, muitos meses: havia aparatado em frente ao chalé dos Tonks duas horas antes da festa de aniversário do único neto do casal, apenas porque era muito covarde para realmente comparecer a uma festa como aquela.

E igualmente covarde para ignorar o convite inesperado, principalmente agora que estava disposto a ser um homem melhor. Céus, ser supostamente melhor era um trabalho infernal!

Sopesou se deveria bater ou não na porta, mas antes que pudesse apenas deixar o pequeno presente para o primo, então fugir feito a doninha que sempre o acusaram de ser, Andrômeda Tonks tomou a decisão por ele.

— Não fique aí parado como uma estátua na minha porta! — A mulher falou sem realmente cumprimentá-lo, pois parecia que estava no meio de uma crise doméstica. — Bem, já que se deu ao trabalho de chegar tão cedo, não se importará de nos ajudar um pouco, verdade? Draco, certo? Cissa não se deu ao trabalho de nos apresentar formalmente e eu devo ter visto seu nome em um ou outro jornal, mas você sabe, essas coisas...

A mulher continuou falando, sua voz sumindo no que deveria ser a cozinha do chalé aconchegante. Draco deu apenas um passo tímido para dentro da casa, intimidado pela loucura do que só poderia ser sua tia e pelas centenas de bandeirolas com brasões penduradas nas vigas do teto.

Definitivamente ir ali tinha sido um grande erro.

Draco ainda estava em dúvida se seria muito ruim, dentro de sua recém adquirida cortesia com pessoas em geral, sair de fininho e nunca mais voltar em nenhum lugar perto daquela vizinhança, mas novamente foi mais lento do que a senhora Tonks.

— Aqui, segura ele para mim. — A mulher lhe entregou um menininho sorridente, ainda de pijamas de gnomos, embora já fosse muito tarde para ainda ser sua roupa de dormir. — Estava tentando fazer Teddy tirar uma soneca antes da festa, mas ele está muito animado, seja o que Merlin quiser então!

Draco segurou a criaturinha de cabelos azuis como se estivesse segurando um pacote de bombas de bostas extremamente volátil, o que fez o garotinho inclinar a cabeça, lhe oferecendo um sorriso ainda mais babado.

— O que eu devo fazer com ele? — Tinha sido suas exatas primeiras palavras dirigidas a sua tia na vida, mas ela não parecia se importar, ocupada como estava, ainda tinha tanto o que arrumar...

— Mantenha ele vivo, só fique... Fiquem onde eu possa vê-los, até que... Ah, Ted! Que bom que chegou! Draco, esse é Ted, meu marido. Ted, Draco Malfoy, meu sobrinho de quem te falei. — A mulher apontou de um para o outro, fazendo o mínimo de apresentação possível.

Draco estava na dúvida se aquela era alguma estratégia doida de conter qualquer constrangimento com a desconfortável – inexistente, na verdade – relação familiar dos Tonks-Malfoy com mais constrangimento e desconforto ou se era apenas loucura da sua tia, mas fosse o que fosse, estava funcionando:

Nunca havia se sentido mais deslocado em toda sua existência, mas ainda assim continuava ali, firme e forte!

— Prazer em conhecê-lo, Draco. — O homem o cumprimentou com simpatia, colocando um bolo maior do que o aniversariante animado – agora ao menos mais seguro nos braços do primo – na mesa de jantar, perto da entrada da casa. — Seja bem-vindo ao chalé dos Tonks! Posso guardar sua capa?

— Não acho que haja uma camisa de futebol por baixo dessa capa bonita, então por que não leva Draco para escolher um uniforme para ele entre suas camisas, querido? — Andrômeda sugeriu, ganhando uma careta sofrida do marido. Aquelas camisas da Premier League eram itens de uma coleção! — Não, Draco, continue com Teddy, ainda estou ocupada.

Draco havia tentado devolver a criança – ou diabrete da Cornualha, não estava bem certo – para a mulher discretamente, mas ele estava começando a notar algumas semelhanças entre sua mãe e sua tia: ambas eram muito eficientes em conseguir o que queriam dele com dissimulação.

— Venha comigo, garoto. Não, não, continue com Teddy, vou precisar das minhas mãos livres para... Você sabe. — Ted Tonks não era tão dissimulado quanto a esposa, mas o resultado era o mesmo: Draco permanecia com o menino encapetado no colo.

— Para de chutar, seu pestinha! — O sonserino sussurrou tentando proteger seu estômago, ao mesmo tempo que tirava sua orelha esquerda das mãos gordinhas de Teddy. O menino lhe dirigiu um riso babado. — Devia ter comprado uma mini jaula para você!

— O que disse, rapaz? — Tonks perguntou distraído, analisando sua coleção dentro de um pequeno armário no final do corredor.

— Disse que não precisa se dar ao trabalho, eu só vim...

— Sua camisa precisa ser com manga comprida, não é? Por causa da sua... — O homem gesticulou estranhamente para o braço, fazendo Draco o encarar ultrajado, mesmo que sem razão.

De certa forma aquilo era até atencioso da parte dele, certo? Se preocupar com sua antiga marca negra e tudo mais... O sonserino decidiu que não se ofenderia. Dessa vez.

— Pode ser de manga curta mesmo, está tudo bem.

E realmente estava.

***

O campeonato-festa de 1 ano de Teddy havia começado e estava a todo vapor, com mais membros dos aurores e da Ordem da fênix do que no dia do julgamento de seu pai, mas Draco fingia calma como ninguém. Agora estava apenas calculando o quanto mais daquela tortura teria que aguentar para...

— Nunca imaginaria você como um Citizen. Blues talvez, mas o Manchester? Nah... — Harry Potter havia se aproximado sorrateiramente, o que já era naturalmente estranho para sua persona mui famosa, mas estar falando com seu arqui-inimigo dos tempos de escola? Duplamente estranho. — Me refiro a camisa que está usando... Manchester City, certo?

O grifinório havia interpretado sua expressão esquisita como sendo uma ignorância sobre os times de futebol ingleses, o que, de fato, não deixava de ser verdade. Draco olhou para a camisa azul clara que estava usando, então encarou Potter com uma sobrancelha levantada.

— Achei que o time se chamava Eidos. — Draco respondeu hermeticamente, apenas porque não fazia ideia do que mais poderia dizer à Harry “herói do mundo bruxo” Potter. Era uma situação bastante desconfortável para ambos, claro estava.

— Não, esse seria o patrocinador, o nome do time é Manchester City.

— Só tem o nome Eidos, então... — Draco se justificou, mesmo Potter não tendo usado um tom acusatório.

Merlin, havia tentado prever sua volta ao “mundo dos vivos”, mas nunca teria se imaginado tentando entabular uma conversa amigável com ninguém menos do que Harry “Não posso mais chamar - por motivos óbvios - de Testa Rachada" Potter!

— Eu sei... É meio estranho, mas é assim mesmo no mundo trouxa. — O auror em treinamento acrescentou, trocando o peso de um pé para o outro. Harry apontou para o braço do sonserino com o nariz. — Mas mudando de assunto, bela tatuagem trouxa... O que significa?

Draco piscou confuso para o rapaz de óculos redondos e cabelos bagunçados ao seu lado, então olhou para sua tatuagem de traços delicados, com um sombreamento azulado. Respondeu ainda olhando para a tatuagem que tomava agora todo o seu antebraço.

— É o meu patrono...

— Seu patrono é um dragão? — Harry perguntou genuinamente surpreso, porque era uma criatura bastante impressionante para se ter como representação de sua magia.

— É o que eu gostaria que fosse, mas nunca consegui executar um Especto Patronum corpóreo... — Draco explicou, então cruzou os braços, tapando a tatuagem trouxa que havia usado para esconder um passado que não queria mais que lhe assombrasse. — É um feitiço estúpido, de todo modo. Quero dizer, quantos dementadores ainda existem por aí, afinal?

— Olha, por experiência própria, eu diria que há mais deles do que o necessário. — Harry informou divertido, então completou. — Um já é uma multidão, se me perguntar.

— Se bem me lembro, você é um grande ímã para dementadores, então, perto de você, estou suficientemente seguro apenas com a minha tatuagem, muito obrigado.

— Talvez você devesse começar a fazer memórias felizes mais fortes, não acha? — Harry sugeriu, antes de capturar o afilhado, que era um corredor precoce, embora não fosse lá muito bom com as palavras, no alto de seu um ano de idade. — Ouvi dizer que ajuda com o patrono.

Draco sorriu sarcasticamente para as costas do futuro auror se afastando para o centro do campinho de futebol improvisado. Óbvio que memórias felizes ajudavam, o feitiço era todo sobre isso, afinal de contas!

Sugestão descabida ou não, alguns meses depois, quando a fênix – que provavelmente não era a do velho Dumbledore, não podia ser  – lhe entregou uma foto sua tirada em uma de suas muitas visitas a Teddy – uma em que estava desmaiado de cansaço ao lado de um Teddy igualmente adormecido – Draco soube que, se tentasse executar agora um Especto Patronum corpóreo, era bem capaz de conseguir seu tão sonhado dragão.


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Notas finais do capítulo

Dessa vez eu coloquei os elementos várias vezes, que eu não quero que meus pontinhos sejam descontados! Teve pesquisa sobre cemitérios, sobre a camisa do Manchester City na temporada de 1999, meu bem... E olha o simbolismo dessa tatuagem, cara: só algo puramente feliz para encobrir uma marca negra!

Só me resta questionar: quem mandou a fênix nas duas vezes para Draquinho?

Bjuxxx



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