Insônia escrita por Thalita Moraes


Capítulo 1
Sem Sono




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791999/chapter/1

Se tinha uma coisa que Cintilante não tinha era insônia. Ela sempre conseguiu dormir tranquilamente, apesar de sempre dormir tarde. Mas quando dormia, era sempre como uma pedra. Era difícil de acordá-la. Mas obviamente, aquela noite era uma exceção.

Cintilante tinha trazido para casa não apenas uma espada mágica mas também um soldado da Horda, sua mãe não tinha ficado muito feliz com tudo isso. Na hora, Cintilante achou que tinha sido uma ideia boa, mas agora, minutos antes de dormir, ela percebeu que não tinha sido realmente uma boa ideia. E se Adora não era tão confiável quanto ela achou que fosse? E se Adora usasse aquele poder e se virasse contra eles? E se Adora fosse na verdade um espião da Horda para descobrir todos os seus segredos?

Cintilante riu daqueles pensamentos, ela tinha demorado para aceitar que Adora na verdade não passava de apenas uma menina querida e ingênua que estava do lado errado por engano. Afinal de tudo, ela tinha sido a escolhida pela espada. Ela era uma princesa. Ela podia confiar em Adora.

Uma coisa que Cintilante não conseguiria fazer naquele ponto era dormir. Ela já estava rolando na cama fazia alguns bons minutos se não horas. Cintilante ficou tanto tempo presa em seus pensamentos que sabia que não conseguiria dormir tão cedo. Então, resolveu levantar-se para comer alguma coisa, beber um chá ou algo assim para conseguir dormir. Ela precisava descansar.

Cintilante entrou na cozinha, pegou um copo de água e quase derramou no chão de susto ao ver alguém encolhido num canto escuro. Seu coração parou por um segundo e quase que o copo de vidro foi ao chão acordando mais alguém. Ela colocou o copo d’água em cima da mesa e foi até a figura, achando ela muito parecida com alguém que ela conhecia.

Era Adora. Cintilante se afastou um pouco, com medo de que ela fosse fazer alguma coisa contra ela, mas ao analisar um pouco melhor, percebeu que a amiga estava roncando levemente, com a respiração pesada e profunda. Ela estava sentada, debaixo da pia, as portas do gabinete meio abertas, abraçada nos seus joelhos, a cabeça apoiada no vão, dormindo.

A primeira coisa que passou na cabeça de Cintilante foi, porque? E então, percebeu. Ela era um soldado da Horda. Ela tinha sido um soldado até então, até Cintilante a salvar. Era claro que ela poderia até sair da Horda, mas a Horda não ia sair dela tão cedo. Sentiu um peso no coração e quis chorar por Adora. Cintilante abriu as portas do armário, Adora percebeu o movimento e, assustada, imediatamente acordou e seu instinto foi socar o rosto de quem fosse. Cintilante caiu para trás, sentada na bunda, com a mão no nariz. Adora ainda estava meio dormindo, encolhida mais ainda, sem conseguir identificar quem era. Ela estava sem ar.

— Sombria? — Adora perguntou, e ao perceber que ela não tinha ficado brava, tentou de novo. — Catra?

— Tenta de novo. — Cintilante disse com a voz levemente nasalada, apertando o nariz, tentando identificar se ela tinha quebrado.

Adora esfregou os olhos e um pouco mais calma, percebeu onde realmente estava. Ali não era a Zona do Medo.

— Cintilante? — Ela perguntou e Cintilante não disse nada, apenas confirmou com a cabeça. Adora saiu do armário sem dificuldade mas olhando ao redor com cuidado, ainda sem ter certeza dos seus arredores. Ela tinha medo de que aquilo tudo era apenas um sonho. — Ah, meu Deus, me desculpa. Eu achei que você fosse…

— Eu percebi. — Cintilante disse e então finalmente tirou a mão do nariz quando percebeu que não tinha quebrado. Estava sangrando um pouco. — Você tem uma boa direita.

Adora sorriu de leve mas continuou preocupada com a amiga. Ela se levantou e levou Cintilante à pia para lavar o nariz que tinha parado de sangrar já. Mas o impacto ainda doía.

— O que você estava fazendo aqui na cozinha? — Cintilante perguntou, e Adora ficou envergonhada de dizer a verdade. — Você tem problemas para dormir?

— Um pouco. — Adora disse e então com o nariz limpo, porém ainda doendo um pouco, Cintilante estava quase como estava antes. — É que… Eu não sei. Sei lá. É meu primeiro dia aqui, então eu ainda não me acostumei com o fato de que eu não estou mais na Zona do Medo.

— O que é que eles faziam com você lá? — Cintilante perguntou, um pouco atordoada ainda com a reação de Adora e a amiga olhou para baixo. Ela não ia responder aquela pergunta.

— Eu vou voltar para o quarto. — Adora disse, com uma respiração um pouco mais pesada, tentando evitar de parecer amedrontada. Ela odiava dormir sozinha.

— Não, não vai. — Cintilante disse e Adora voltou. Parecia que ela estava chamando para… — Se você quiser, você pode dormir comigo no quarto. Talvez possa te ajudar um pouco. — E também ajudaria a acalmar Cintilante, já que o motivo de não estar conseguindo dormir era justamente a Adora. Manter o olho nela, principalmente depois disso, seria bom.

— Pode ser. Talvez seja bom. — Adora disse, sorrindo levemente. As duas foram então para o quarto e Cintilante esqueceu-se completamente do copo d’água que tinha sido deixado em cima da mesa da cozinha.

Levando Adora para a cama com um teletransporte, porque era tarde demais para arrumar camas novas para colocar no chão, as duas se arrumaram confortavelmente e ficaram deitadas, sem saber se elas estavam procurando assunto para conversar ou se deixavam naquele clima desconfortável até dormir.

— Você tem insônia? — Adora perguntou primeiro, olhando diretamente para o teto.

— Não. — Cintilante disse. Era verdade, ela dormia como um anjo. Mas aquela noite… Aquela noite era diferente. — Você tem?

Adora não precisou responder, seu suspiro profundo disse por ela.

— Geralmente, quando eu não consigo dormir, eu pulo para a cama da Catra e ficamos cochichando até uma de nós cair no sono. Geralmente, ela primeiro. — Adora disse, como se isso não acontecesse há anos, quando na verdade tinha sido dois dias atrás. Parecia duas vidas atrás. Ela sentia falta de Catra.

— Vocês parecem ser muito próximas.

— Nós eramos. — Adora completou. Ela suspirou novamente. — Com esse negócio da espada…

— Eu entendo. — Cintilante disse. A aprovação de sua mãe para Cintilante era a espada de Adora. Pressão, responsabilidade, e necessidade de tentar fazer tudo certo.

Silêncio dominou o quarto novamente. Passou-se bastante tempo e Adora se arrumou duas vezes na cama, começando a ficar um pouco nervosa.

— Eu sei que você não vai me responder. — Cintilante disse, chamando a atenção de Adora. Ela não se virou para encarar Cintilante. — Se você não quiser me responder, não tem problema. Mas… Era muito difícil lá na Horda? Porque… Antes de você identificar quem eu era, você me chamou de Sombria. Ela com certeza era um peso enorme para você, não era?

— Ela não é um peso. — Adora defendeu, não sabendo exatamente porque. Ela não gostava de Sombria, não gostava de ter que defender ela, sabia que ela não era a melhor pessoa do mundo, não era uma boa mãe. Mas Adora ainda sentia a necessidade de defender a pessoa que tinha a criado. Vendo a forma como Cintilante tinha crescido, por mais que ela fosse uma princesa, botava em cheque tudo que Adora sabia sobre sua relação com a Sombria.

— Me desculpa. Eu não quis…

— Não é isso. — Suspirou de novo e virou-se para encarar Cintilante pela primeira vez na noite depois que a socou. — É que… Eu não conheço mais nada além daquilo, sabe. Eu cresci lá dentro. O que você acharia estranho e… ruim, é o meu normal.

— Você sabe que não precisa mais ser assim.

— Mas não é tão fácil assim mudar. — Adora respondeu rápido demais. — Me desculpa, mas é difícil mudar algo que se tornou algo seu. É como se fosse parte da sua personalidade. O que aconteceu essa noite, vai voltar a acontecer. Eu não posso te dizer com certeza de que eu não vou atacar você no meio da noite novamente enquanto eu estou meio adormecida. Nós tínhamos que estar preparadas para tudo. Eu não sei se esse é o melhor lugar pra mim.

— Eu vou te ajudar. — Cintilante disse e colocou uma mão por cima da mão de Adora. — Eu não sei como ainda. Eu não sei como que eu posso te ajudar. Mas eu quero. Não só porque você é a Shera. Mas porque você merece.

Adora sorriu e fechou os olhos, sentindo-se um pouco mais aliviada.

— Obrigada, Cintilante.

— De nada.

As duas fecharam os olhos, se preparando para dormir novamente. Talvez fosse a preocupação que não estava fazendo nenhuma das duas dormirem, talvez fosse a conversa ou talvez fosse o cansaço, mas elas estavam finalmente começando a ficar com sono e chegar perto de dormir de novo.

Essa vez, a primeira noite de Adora em Lua Clara, não seria a única vez que Adora precisaria de intervenção. Cintilante sabia disso. Mas ela não se importava em ajudar uma amiga que realmente precisava de ajuda. As vezes que Cintilante teve que buscar por Adora em lugares escuros e apertados ou que tivera de acordar Adora no meio da noite por causa do pesadelo que estava tendo começaram a diminuir. Um pouco. Não completamente.

Durante o dia, Adora parecia normal. Durante a noite, ela sempre dependia de Cintilante para conseguir dormir bem e tranquilamente. Porque, depois de um tempo, as noites com Cintilante se tornaram rotina. Dividir a cama com Cintilante era apenas o começo de uma vida nova em Lua Clara.

Se Cintilante conseguiu substituir o papel de Catra na vida de Adora, ela não sabia. E nem queria. Mas naquele momento, aquelas noites escondidas eram o suficiente para as duas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu fiquei com vontade de tentar um Glimmadora e isso foi o que saiu. Gostou? O que você mais gostou da história? Quer mais?
Se vocês gostarem, posso colocar mais interações fofinhas entre as duas. xD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Insônia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.