É estranho presenciar o sofrimento alheio.

Ele está bem ali. A um passo ou dois.

Ele chora por algum motivo desconhecido.

E você chora por um bem familiar.

Ele se isola em um quarto vazio.

E você quer derrubar as portas.

Ele se cala, inquieto em sua própria mente.

E você só gostaria de ouvi-lo gritar a plenos pulmões.

Ele se encolhe no canto da parede em dores.

E você o olha. Distante. Impotente. Despreparado.

Você toca-lhe o ombro, o puxa para cima e o esmaga contra o peito.

Mas ele não para.

Você fala como um rei ao discursar.

Mas ele não te escuta.

Apenas permanece ali. No meio do caminho.

Talvez, você devesse ir embora.

Mas você não pode.

Você não vai.

Ele te afasta. E você volta.

Você sempre volta. Você sempre irá voltar.

Porque as dores estão no seu corpo.

O choro entalado em sua garganta.

Seu quarto tão escuro quanto o dele.

A sensação não é mais de estranhamento.

Ela é viva sob sua pele. Pulsante em suas veias.

Ela é sua. Não por direito, mas por apropriação.

Você está perto. Muito perto.

Você está lá. Na linha de frente. Pronto para dividir as balas.

O sofrimento não parece mais alheio.

Ele é um vizinho querido que lhe visita toda vez que ela chora.